Na página 214 do volume nove de Testemunhos Para Igreja, há uma frase que me deixa intrigado, à luz de muitas outras declarações: ” As pessoas de pele negra não devem insistir em serem colocadas em posição de igualdade com as de pele branca.” Mas a Sra. White diz repetidas vezes que todos somos iguais diante de Deus.

Removida do contexto em que foi empregada, esta declaração parece dizer que Ellen White não considerava “as pessoas de pele negra” iguais aos brancos. Entretanto, outras declarações revelam explicitamente que ela considerava todos iguais. Dentro de seu contexto, essa declaração mostra que a preocupação dela era evangelística, não discriminatória. Note essas declarações sobre igualdade:

Deus não reconhece distinção alguma de nacionalidade, etnia ou classe social. É o Criador de todo homem. Todos os homens são de uma família pela criação, e todos são um pela redenção. (Parábolas de Jesus, p. 386)

O nome do homem de cor é escrito no livro da vida ao lado do nome do homem branco. Todos são um em Cristo. A origem, a posição, a nacionalidade ou a cor não podem elevar ou degradar os homens. (Mensagens Escolhidas, v. 2, p. 488)

Agora note o contexto evangelístico que vem logo depois da declaração que você citou:

O relacionamento entre as duas etnias tem sido um assunto de difícil tratamento. Temo que prossiga sendo um problema causador de dificuldades. Tanto quanto possível, deve ser evitado tudo aquilo que suscite o preconceito das pessoas brancas. Existe o perigo de se fechar a porta, impedindo assim que os obreiros brancos prossigam o seu trabalho em alguns lugares do sul.

Sei que se tentarmos acompanhar as ideias e preferências de alguns dos negros, veremos nosso caminho completamente bloqueado. A obra de proclamação da verdade para este tempo não deve ser atrapalhada por qualquer esforço para nos ajustarmos aos ideais dos negros. Se tentarmos fazer isso, encontraremos barreiras semelhantes a montanhas erguendo-se para impedir a obra que Deus deseja que empreendamos. Se nos movermos com calma e cuidado, agindo da forma como Deus nos indicou, tanto os brancos quanto os negros serão beneficiados por nossa atividade.

Ainda não chegou o tempo de trabalharmos como se não existisse preconceito. Cristo disse: “Portanto, sede prudentes como as serpentes e símplices como as pombas. ” Mateus 10:16. Se perceberem que, ao fazer certas coisas que lhes parecem perfeitamente corretas, vão atrapalhar o avanço da obra de Deus, evitem praticar tais coisas. Nada façam que possa vir a fechar as mentes à recepção da verdade. Existe um mundo a salvar, e nada ganharemos se cortarmos nosso vínculo com aqueles a quem estamos procurando ajudar. Todas as coisas podem ser lícitas, mas nem todas convêm.

O melhor caminho é o da sabedoria. Como colaboradores de Deus, temos de atuar da forma que permita realizarmos o melhor para Ele. Não devemos ir aos extremos. Necessitamos da sabedoria do alto; temos um difícil problema a resolver. Se empreendermos movimentos bruscos agora, grande dano resultará daí. O assunto deve ser apresentado de tal forma que os negros verdadeiramente convertidos se apeguem à verdade em favor de Cristo, recusando-se a renunciar a algum claro princípio da doutrina bíblica porque possam pensar que o melhor de todos os caminhos não seja dedicar-se aos negros. (Testemunhos Para a Igreja, v. 9, p. 214,215, ver também p. 208, 209)

 

 

FAGAL, William. 101 perguntas sobre Ellen White e seus escritos. Tatuí, SP : Casa Publicadora Brasileira, 2013