Dr. Alberto Timm
Um dos textos bíblicos mais usados contra a observância do sábado do sétimo dia é Colossenses 2:16 e 17: “Ninguém, pois, vos julgue por causa de comida e bebida, ou dia de festa, ou lua nova, ou sábados [grego sabbátōn], porque tudo isso tem sido sombra das coisas que haviam de vir; porém o corpo é de Cristo.” A maioria dos intérpretes vê a expressão “dia de festa, ou lua nova, ou sábados” como uma progressão anual/mensal/semanal. Por mais difundida que seja essa interpretação, existe também a possibilidade, de acordo com Kenneth A. Strand, de “que Paulo estava usando o recurso literário comum do paralelismo invertido, assim movendo-se das festas anuais às mensais e novamente às anuais”. Além disso, é importante lembrarmos que “Colossesses trata, não com dias em si, mas com cerimônias” (Kenneth A. Strand, “The Sabbath”, em Handbook of Seventh-day Adventist Theology, p. 506).
Existem muitas discussões quanto ao texto do Antigo Testamente de onde poderia ter sido extraído a expressão “dia de festa, ou lua nova, ou sábados”. Comentaristas bíblicos sugerem pelo menos nove diferentes passagens (ver Nm 28-29; 1Cr 23:29-31; 2Cr 2:4; 8:12, 13; 31:3; Ne 10:33; Ez 45:13-17; 46:1-15; Os 2:11). Mas um estudo exegético, linguístico, estrutural, sintático e intertextual de Colossenses 2:16 com esses textos, desenvolvido por Ron du Preez, constatou que o verdadeiro antecedente dessa expressão está em Oséias 2:11, que diz: “Farei cessar todo o seu gozo, as suas Festas de Lua Nova, os seus sábados e todas as suas solenidades”. Enquanto os dias de “festa” (hebraico hag; grego heortē) dizem respeito às “três festas de peregrinação da Páscoa, do Pentecostes e dos Tabernáculos”, os “sábados” (hebraico sǎbbāt; grego sábbata) se referem às três celebrações adicionais das Trombetas, da Expiação e dos Anos Sabáticos. – Ron du Preez, Judging the Sabbath: Discovering What Can’t Be Found in Colossians 2:16 (Berrien Springs, MI: Andrews University Press, 2008), p. 47-94. A tentativa de associar os “sábados” de Colossenses 2:16 com o sábado semanal parece não endossada nem pelo contexto anterior e nem pelo posterior dessa passagem.
O verso 14 afirma: “tendo cancelado o escrito de dívida, que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu-o inteiramente, encravando o na cruz”. Já o verso 17 acrescenta: “porque tudo isso tem sido sombra das coisas que haviam de vir; porém o corpo é de Cristo”. Somente os “sábados” cerimoniais judaicos, instituídos no Sinai (ver Lv 23), podem ser qualificados como “ordenanças” e “sombras” (Cl 2:17). O “sábado” do sétimo dia, instituído na semana da criação (ver Gn 2:2, 3), é de natureza moral e não pode ser qualificado como mera “sombra das coisas que haviam de vir”. Por conseguinte, de acordo com Ron du Preez, “o ‘sábado’ de Colossenses 2:16 deve ser necessariamente entendido como se referindo aos sábados cerimoniais da antiga religião hebraica, e não ao sábado do sétimo dia entesourado explicitamente no Decálogo” (Ibid., p. 89). É evidente, portanto, que o conteúdo de Colossenses 2:16 e 17, geralmente usado para invalidar a santidade do sábado bíblico, não suporta essa tentativa. Como sinal da aliança eterna entre Deus e os seres humanos (cf. Gn 2:2, 3; Is 66:22, 23), o sábado semanal transcende a todas as demais alianças locais, sendo de natureza perpétua e imutável.
Fonte: Revista do Ancião (julho – setembro de 2010)