Apresentação

No ano de 1979 foi inaugurado no Seminário Adventista de Teologia o Centro de Pesquisa Ellen G. White para divulgar e estimular a leitura dos escritos de Ellen G. White, entre os estudantes de Teologia.

No correr dos anos os depositários dos escritos de E. G. White em Washington responderam centenas de questões que inquietam alguns das nossas igrejas aqui no Brasil. Por esta razão a diretoria do C. P. E. G. W. decidiu publicar em português os panfletos que apresentam o resultado desta criteriosa pesquisa e apresentá-lo à Igreja Adventista no Brasil.

Todos os lançamentos da série O Espírito de Profecia e a Igreja Remanescente contém o material compilado sistematicamente pelo White State de Washington, órgão da Conferência Geral que se preocupa em preservar e difundir os escritos de E. G. White entre os adventistas do mundo todo.

O nosso desejo ao darmos ao público tal material é fazer com que as preciosas orientações dadas por Deus à igreja Remanescente através do ministério de E. G. White, sejam mais conhecidos e observados pela Igreja Adventista no Brasil.

        Os Editores
C. P. E. G. W.  do Seminário Adventista de Teologia.


Ellen White e o uso de fontes não-inspiradas

Robert W. Olson
White Estate

Washington, D. C.
10 de Abril de 1980

Os adventistas do sétimo dia creem que Ellen G. White foi uma verdadeira profetisa de Deus, enviada para guiar e aconselhar a Igreja nestes últimos dias. Um dos princípios fundamentais mantidos pela igreja é o de que “o dom do Espírito de Profecia é um dos sinais distintivos da igreja remanescente”, e “este dom foi manifestado na vida e no ministério de Ellen G. White” (SDA Church Manual, Revised 1976, p. 37).

Em função da grande consideração que os adventistas têm por sua profeta, é natural que estejam profundamente interessados em todas as fases da obra dela. Este artigo trata da questão do uso que Ellen White fez de fontes não-inspiradas na composição de suas próprias obras. Especificamente, consideraremos os seguintes pontos:

A) Até que ponto Ellen White valeu-se de empréstimos literários?

B) Como e por que fez ela empréstimo de outros autores?

C) Será que o empréstimo literário era considerado uma falta de ética em seus dias?

D) Será que esses empréstimos diminuem, em qualquer grau, sua reivindicação quanto a ser inspirada?

A. A Extensão do Empréstimo Literário de Ellen White

A dívida de Ellen White para com outros autores é muito reconhecida pelos adventistas do sétimo dia. Em 1951, F. D. Nichol publicou “Ellen White and Her Critics”, obra na qual foram devotadas 65 páginas à discussão da questão do plágio (p. 403-467).

O Grande Conflito

Nichol cita D. M. Canrigth que, já em 1867, começou a escrever contra as doutrinas da Igreja Adventista do Sétimo Dia e contra a Ellen White, especialmente. Neste caso, Canright publicou o seguinte comentário crítico a respeito da obra de Ellen White:

Ela frequentemente copia, sem mencionar o autor e sem dar indícios de que seja uma citação, frases e até mesmo parágrafos inteiros, quase palavra por palavra, de outros autores. (Compare ‘O Grande Conflito’, p. 96 com ‘História da Reforma’, por D`Aubigne, p. 41[1]). Isto ela faz página após página. D`Aubigne também era inspirado?” (Citado por F. D. Nichol, p. 417)

“O Grande Conflito” provavelmente contém mais material emprestado que qualquer outro livro de Ellen White. Nichol coloca a porcentagem em 12%, mas inclui apenas declarações colocadas entre aspas na edição de 1911 (Nichol, p. 420).

Em adição ao material entre aspas, há também muita paráfrase [2] de outros autores, onde não é possível usar aspas. Por exemplo, no relato da história de João Huss, Ellen White segue bem de perto o livro “História do Protestantismo” de James A. Wylie, mas sua dependência de Wylie nem sempre pode ser indicada por aspas.

É difícil medir, em porcentagens, sua dívida para com autores adventistas tais como Urias Smith, J. N. Andrews, e seu próprio esposo. Por exemplo, ela usou bastante dos escritos de Smith para o capítulo sobre a Revolução Francesa, mas, novamente, esta dependência não pode ser indicada pelo uso de aspas. (Ver Ron Graybill, “Como Ellen White escolheu e usou fontes históricas?” Spectrum, summer, 1972, pp. 49-53)

A extensão exata dos empréstimos de Ellen White no “Grande Conflito” não é conhecida, mas, provavelmente, muitas das seções que tratam da história da igreja contêm material nesta categoria.

Sketches From The Life of Paul [3]

Segundo F. D. Nichol, 15,4% do livro “Sketches From de Life of Paul” é paráfrase do tipo direto, aproximado ou livre, da obras de F. W. Farrar e Conybeare e Howson versam sobre Paulo (Ver Nichol, p. 424-425). H. O. Olson, que fez uma comparação de “Sketches From de Life of Paul” com o livro de Conybeare e Howson, declara haver encontrado 63 passagens no “Sketches” de Ellen White que “aparentemente citam de uma a 59 palavras cada” de Conybeare e Howson.

Olson explica:

“Eu utilizei a palavra ‘aparentemente’ com bastante cautela, porque quando uma ou duas palavras são as mesmas, é impossível dizer definitivamente que elas são citadas. Por exemplo, em uma dessa    passagens, a única palavra usada em comum por ambos é ‘inconstante’. […] O total de palavras que podem ter sido citadas nestas 63 passagens é de 694.” (Arquivo de Documentos do Patrimônio White #51M)

Estas 694 palavras dariam por volta de duas páginas e meia de citações “diretas” de Conybeare e Howson no livro de 334 páginas de Ellen White.

O Desejado de Todas as Nações

Estudos realizados por Raymond Cottrell e Walter Specht demonstraram que Ellen White tomou emprestado aproximadamente 2,6% de suas palavras no “Desejado” do livro “A Vida de Cristo” de William Hanna. (Ver estudo de Cottrell, “A Relação Literária entre O Desejado de Todas as Nações de Ellen G. White e A Vida de Cristo de William Hanna”, p. 9). Contudo, tanto W. C. White quanto Marian Davis mencionam outros livros, sobre a vida de Cristo, usados por Ellen White. É também evidente que ela fez empréstimos de algumas obras não mencionadas por W. C. White ou Marian Davis, tais como “O Grande Mestre” de John Harris. Não se compilou uma lista completa destas obras, mas Ellen White parece ter lido extensivamente, um fato surpreendente, em vista das constantes demandas sobre seu tempo livre feitas tanto por líderes como por membros da igreja.

Outros Livros de Ellen White

Os empréstimos literários de Ellen White não foram limitados aos três livros discutidos acima (SLP, GC, DTN), mas exemplos deste tipo de dependência parecem não ser tão frequentes em seus outros livros. Alguns exemplos serão suficiente. Baseei-me em Walter Rea, ao salientar os seguintes paralelos entre Ellen White e a edição de 1842 do livro de John Harris, “O Grande Mestre“.

 

John Harris, O Grande Mestre, p. 32 e 51 Seu nome deveria ser para eles senha, insígnia, o princípio de sua piedade, o laço de sua união, o fim de suas ações, a autoridade para sua conduta, e a fonte de seu sucesso. Nada deveria ser reconhecido ou recebido em Seu reino que não trouxesse a inscrição de Seu nome;Ele poderia ter proferido uma única sentença, que, ao fornecer a chave de muitos mistérios, e possibilitar um vislumbre de arcanos nunca dantes conhecidos, teria reunido e concentrado ao redor de seus a diligente reflexão de cada geração sucessiva até o fim dos tempos… Ele não desprezou a repetição de verdades antigas a familiares, contanto que sua menção delas servisse a seu grande propósito; pois, embora se propusesse a erigir um segundo templo de verdade, cuja glória eclipsaria o esplendor do primeiro, ele planejou apropriar-se de quaisquer dos materiais antigos que ainda estivesse à disposição. Verdades, que o lapso de tempo tinha visto deslocadas e desligadas de sua verdadeira posição, como se diz terem as estrelas se afastado de seus trilhos originais, ele as tornou a chamar e as estabeleceu novamente, e princípios que haviam desvanecido, desaparecido e sendo perdidos, como se diz que as estrelas vieram a se extinguir, ele as reacendeu e recolocou no céu, e lhes ordenou permanecerem firmes para todo o sempre. Atos dos Apóstolos, p. 28 O nome de Cristo devia ser a senha, a insígnia, o laço de união, a autoridade para sua norma de conduta, e a fonte de seu sucesso. Nada deveria ser reconhecido em Seu reino que não trouxesse Seu nome e inscrição. Fundamentos da Educação Cristã, p. 237. Poderia haver desvendado mistérios que patriarcas e profetas almejavam para perscrutar, que a curiosidade humana desejara ansiosamente compreender… Jesus não recusa repartir antigas verdades familiares, pois era o Autor dessas verdades. Ele era a glória do templo. Separou do erro verdades que haviam sido perdidas de vista, que tinham sido desvirtuadas e mal empregadas e que foram desligadas de sua posição correta; apresentando-as como preciosas joias em seu próprio fulgor, tornou a colocá-las em seu devido engaste, e ordenou que permanecessem firmes para todo o sempre.
Harris, p. 61Puxando o véu que encobria Sua glória de nossos olhos, Ele é mostrado em Seu alto e santo lugar, não em um estado de silêncio e solidão, mas circundado por miríades e milhares de milhares de seres santos, felizes, e cada um deles esperando por cumprir-Lhe as ordens; não em um estado de inatividade e indiferença moral, mas em um estado de ativa comunicação com todas as partes de Seus vastos domínios,…Harris, p. 71Cristo veio para demolir toda parede de separação, e abrir todos os compartimentos do templo da criação, para que cada adorador pudesse ter igual e livre acesso ao Deus do templo.Harris, p. 80Ele ergueu o véu da eternidade passada, reportou-lhe os pensamentos através dos séculos incontáveis antes que o mundo surgisse, em direção ao inimaginável e terrível lugar onde habita Deus, -assegurando-lhes que nunca houve um período em que ele não estava lá;… Harris, p. 107O Pai demonstra Seu infinito amor a Cristo, recebendo e dando as boas vindas aos amigos de Cristo como a seus próprios amigos. Ele se comprometeu a fazer isso, e está tão complacentemente deleitoso em Cristo, – tão completamente satisfeito com a expiação que ele efetuou, – sente-se tão indizivelmente glorificado pela encarnação e vida, a morte e mediação de Cristo, por tudo que ele fez pela honra do governo divino e a salvação do homem, – que, se assim posso dizê-lo, Ele abriu o coração e o Céu para todos os amigos de Cristo.Harris, p. 147Desejam outras bênçãos; mas isto, que trariam consigo todas as bênçãos, que é oferecido em abundância correspondente à sua infinita plenitude – uma abundância, da qual a capacidade do recipiente será o único limite, – …vem mais copiosamente que as influências oferecidas pelo Espírito Santo, e nos reprova com a sequidão espiritual da igreja. Ciência do Bom Viver, p. 417A Bíblia nos mostra Deus em Seu alto e santo lugar, não em um estado de inatividade, não em silêncio e solidão, mas circundado por miríades e milhares e milhares de seres santos, todos esperando por fazer a Sua vontade. Por meio desses mensageiros Ele está em ativa comunicação com todas as partes de Seu domínio.Parábolas de Jesus, p. 386Cristo veio para demolir toda parede de separação e abrir todos os compartimentos do templo a fim de que toda alma possa ter livre acesso a Deus.Evangelismo, p. 615Cristo reporta a mente através dos séculos incontáveis. Afirma-nos que nunca houve tempo em que Ele não estivesse em íntima comunhão com o eterno Deus.Testimonies, v. 6, p. 364E o Pai demonstra Seu infinito amor por Cristo, que pagou nosso resgate com Seu sangue, recebendo e dando as boas vindas aos amigos de Cristo como seus amigos. Ele está satisfeito com a expiação efetuada. Ele é glorificado pela encarnação, a vida, morte, e mediação de Seu filho.Mas a igreja de Cristo, débil e defeituosa como possa ser, é este o único objeto na Terra ao qual Ele dispensa Seu supremo cuidado. Conselhos aos Professores, p. 322Desejam outras bênçãos; mas aquilo que Deus está mais desejosos de dar do que um pai deseja oferecer boas dádivas a seus filhos; aquilo que é abundantemente oferecido, e que, se recebido, traria consigo todas as outras bênçãos. Tes. para Minis. e Obreiros Evang., p. 15Testifico a meus irmãos, e irmãs que a igreja de Cristo, débil e defeituosa como possa ser, é o único objeto na Terra ao qual Ele dispensa supremo cuidado.

Ao examinar estes e outros paralelos, descubro que as palavras de Ellen White são sempre um aperfeiçoamento daquelas do autor de quem ela as extraiu. F. D. Nichol cita o poeta, que justificou tal uso das obras de outros, nestas linhas:

“Embora o dito seja antigo e frequentemente expressado, pertence, afinal, ao que melhor o exprime“. (Ellen G. White and Her Critics, p. 405)

Dificilmente pode-se chamar Ellen White de “copista” uma vez que ela, quase invariavelmente, reescreve, reestrutura as frases e aperfeiçoa o texto do autor original, quando, de fato, faz uso dos escritos de outra pessoa.

B. Como e Por Que Ellen White fez Empréstimos Literários

Há duas razões principais pelas quais Ellen White fez empréstimos de outros escritores. Primeiro, porque sempre buscava a fraseologia mais bela e a linguagem mais perfeita e acurada. Deus não ditou Suas mensagens aos profetas da Bíblia, palavra por palavra. A escolha das palavras, frases e orações era, em grande parte, responsabilidade deles. O Espírito Santo guiava os profetas na seleção do que escrever, mas eles tinham de escrever essas mensagens em sua própria linguagem. O mesmo ocorreu com Ellen White. Falando acerca de si mesma, ela declarou: “Embora eu seja tão dependente do Espírito do Senhor para escrever minhas ideias quanto para recebê-las, todavia, as palavras que emprego, em descrever o que vi, são minhas”. Review and Herald, 8 de outubro de 1867.

A educação escolar formal de Ellen White terminou quando ela tinha apenas nove anos de idade. Ao longo de toda sua vida, ela ressentiu profundamente o fato de que não era uma pessoa “erudita”, e não ter tido as mesmas vantagens desfrutadas por outros, em matéria de educação. Num esforço para compensar essa carência, ela lia muito, e, especialmente, obras relacionadas à Bíblia e à história da igreja. Em sua leitura, sempre procurava frases escolhidas para ajudá-la a melhor se expressar na composição de seus próprios artigos e livros. Parece nunca ter chegado ao ponto de sentir-se completamente satisfeita com sua habilidade como escritora. Com cerca de sessenta anos de idade, comentou:

“Oh, quão inábil, quão incapaz sou ao expressar as coisas que me ardem na alma, em referência à missão de Cristo. […] Não sei como falar, ou traçar com a pena, o amplo assunto do sacrifício expiatório. Não sei como apresentar os assuntos no vivo poder em que eles se colocam diante de mim. Tremo com medo de depreciar o grande plano de salvação pelo uso de palavras de inferior qualidade.”   Carta 40, 1892.

“Não passo de uma escritora pobre, e não posso pela pena ou pela voz expressar os grandes e profundos mistérios de Deus“.  Carta 67, 1894.

Durante sua vida Ellen White escreveu um total estimado de 25.000.000 de palavras em suas cartas, manuscritos, artigos e livros. Frequentemente, em seus anos mais produtivos, ela escrevia uma média de 4.500 palavras (18 páginas) por dia. Com tais demandas de energia não é de surpreender que sempre estivesse de sobreaviso, à procura de ajuda literária apropriada.

No que diz respeito ao “Desejado de Todas as Nações”, especialmente, W. C. White declara: “Antes de se devotar a escrever sobre a Vida de Cristo, e, até certo ponto, durante o tempo em que estava escrevendo, ela leu as obras de Hanna, Fleetwood, Farrar e Geikie. Jamais fiquei sabendo que ela tenha lido Edersheim. Ocasionalmente ela se referiu a Andrews, especialmente no que se trata de cronologia . […] Muitas vezes, ao ler o material de Hanna, Farrar ou Fleetwood, ela se deparava com a descrição de uma cena que lhe havia sido vividamente apresentada, porém esquecida, e que ela era capaz de descrever em mais detalhes do que havia lido. […] Ela considerava tanto um prazer quanto uma conveniência e economia de tempo usar, integral ou parcialmente, a linguagem deles, ao apresentar coisas que ela sabia por meio da revelação, e que desejava transmitir a seus leitores”. Carta de W. C. White a L. E. Froom, 8 de Janeiro de 1928.

Uma comparação do “Desejado de Todas as Nações” com as várias obras sobre a vida de Cristo, disponíveis em seus dias, mostra que ela fez extrações, em maior ou menor grau, não apenas dos escritos dos autores mencionados acima por W. C. White, mas também de March, Harris e outros.

Tendo reconhecido esta dependência de outros, deveria também ser salientado, para fazer justiça a Ellen White, que ela, pessoalmente, possuía dons literários excepcionais, os quais cultivou e desenvolveu como poucos outros o têm feito. Podemos ter uma ideia quanto a sua habilidade em expressar-se, pelo que foi descrito num artigo publicado no Jornal de Battle Creek em 5 de outubro de 1887. O evento era uma palestra sobre temperança que, logo após regressar de uma estadia de dois anos na Europa, apresentou aos moradores da cidade onde residira anteriormente. O repórter declarou:

 “Esta senhora apresentou a sua audiência um discurso muito eloquente, que foi ouvido com marcante interesse e atenção. Seu discurso foi entremeado com fatos instrutivos que ela reuniu em sua recente visita a outras terras, e ficou demonstrado que esta talentosa senhora possui, além de suas muitas outras qualidades raras, uma  grande  capacidade de observação atenta e cuidadosa, e uma notável memória para lembrar detalhes. Isto, juntamente com sua distinta pronúncia e capacidade de revestir suas idéias com uma linguagem escolhida, bela e apropriada, tornaram seu discurso um dos melhores já apresentadas por qualquer mulher em nossa cidade. Que ela possa dentro em breve favorecer nossa comunidade com outro  discurso, é o sincero desejo de todos os que estiveram presentes ontem à noite; e, se ela o fizer, haverá uma grande audiência.” Citado na Review and Herald, em 11 de outubro de 1987, p. 640.

Uma segunda razão pela qual Ellen White, às vezes, usava as obras de outros escritores é que confiava nessas autoridades para informações históricas e geográficas não reveladas a ela em visão. Em sua introdução ao livro “O Grande Conflito” ela fala sobre os “fatos” históricos que apresentava. Não alegava que esses fatos lhe haviam todos sido revelados em visão. Ela diz, por exemplo: “Em 1816 foi fundada a Sociedade Bíblica Americana” (GC, p. 285). Não há razão alguma para crer que este fato foi revelado a ela em visão. Com respeito ao uso que fez de historiadores e de vários autores adventistas,  declara: “Em alguns casos em que algum historiador agrupou os fatos de tal modo a proporcionar, de modo breve, uma visão abrangente do assunto, ou resumiu convenientemente os pormenores, suas palavras foram citadas textualmente; nalguns outros casos, porém, não se deu crédito, especificamente, visto que as citações não são feitas com o propósito de citar aquele escritor com autoridade, mas porque sua declaração provê uma apresentação pronta e convincente do assunto. Ao narrar a experiência e perspectivas dos que levam adiante a obra da Reforma em nosso próprio tempo, fez-se uso semelhante de suas obras publicadas”.  — GC, p. 13.

Não apenas ao escrever O Grande Conflito, mas também na preparação de outros livros, incluindo o Desejado de Todas as Nações, Ellen White dependeu de outros escritores para certo material que apresentasse os fatos. W. C. White declara:

“Os grandes eventos ocorridos na vida de nosso Senhor foram apresentados a ela em cenas panorâmicas, como também o foram as outras porções do Grande Conflito. Em um pequeno número dessas cenas, a cronologia e a geografia foram claramente apresentadas, mas, na maior parte da revelação, as cenas momentâneas que  eram extraordinariamente vívidas e as conversações e controvérsias que ela ouviu e foi capaz  de  relatar, não eram marcadas geográfica ou cronologicamente; coube a ela estudar a Bíblia, a história e os escritos de homens que haviam apresentado a vida de nosso Senhor para obter a conexão cronológica e geográfica”. Carta de W. C. White a L. E. Froom, 8 de Janeiro de 1928.

Marian Davis, a principal assistente literária de Ellen White na década de 1890, declara que a cronologia de eventos no “Desejado de Todas as Nações” segue a cronologia encontrada no livro “A Vida de Nosso Senhor” escrito por Samuel Andrews (Marian Davis a C. H. Jones, 23 de novembro de 1896, no livro de cartas de W. C. White, 10-a, p. 17a.).

William S. Peterson afirmou que Ellen White não emprestava apenas a linguagem refinada e informações históricas de outros autores, mas também as ideias. Ele menciona que Ellen White emprestou, não somente as palavras de Calvis Stowe, mas também suas ideias, ao escrever o manuscrito 24, 1886, agora publicado em Mensagens Escolhidas, livro 1, p. 19-21. (Ver Spectrum, Autumn, 1971, p. 73-84). Quando David Neff era ainda um estudante do Seminário, em 1973, respondeu à asserção de Peterson com um artigo de 29 páginas, cuidadosamente pesquisado, no qual ele compara e contrasta Stowe e Ellen White, linha por linha e palavra por palavra. De acordo com Neff:

“Temos evidências de que ela escreveu a maioria das ideias que são comuns a ela e ao Dr. Stowe em uma um momento anterior à composição desse manuscrito. De fato, algumas dessas referências antedatam qualquer conhecimento que fosse possível de ela ter acerca da existência do livro do Dr. Stowe. Além do material teológico comum, há vários pontos nos quais os dois doutores divergem ou possuem ênfases distintamente diferentes. Estas são de importância suficiente para concluirmos que, ao escrever o manuscrito 24 de 1886, Ellen White não estava ‘se apropriando das ideias de outro homem’.” — “A Pretensa Dependência Literária e Teológica de Ellen White para com Calvin Stowe”, p. 25.

As descobertas de Neff apoiam completamente a posição de Ellen White de que seus conceitos e ideias básicos provinham, não de fontes humanas, mas de Deus. Ela declara: “Não escrevo nenhum artigo, expressando meramente minhas próprias ideias. Eles são o que Deus me tem exposto em visão – os preciosos raios de luz refulgindo do trono. Isto é verdade quanto aos artigos de nossas revistas e aos muitos volumes de meus livros” –. 1 ME, p. 29.

Note algumas das similaridades e diferenças entre Ellen White e Stowe:

C. E. Stowe, Origem e História dos Livros da Bíblia, p. 20“Não são as palavras da Bíblia que foram inspiradas, não são os pensamentos da Bíblia que foram inspirados; os homens que escreveram a Bíblia é que o foram. A inspiração não atua nas palavras do homem, ou em seus pensamentos, mas do próprio homem; de forma que ele, por sua própria espontaneidade, sob o impulso do Espírito Santo, concebe certos pensamentos”. Mensagens Escolhidas, V. 1, p. 21“Não são as palavras da Bíblia que são inspiradas, mas os homens é que o foram. A inspiração não atua nas palavras do homem ou em suas expressões, mas no próprio homem que, sob influência do Espírito Santo, é possuído de pensamentos”.

Stowe disse que “os pensamentos da Bíblia” não foram inspirados. Ellen White omitiu esta frase. Stowe disse que o profeta concebia seus pensamentos “por sua própria espontaneidade”, outra frase omitida por Ellen White. Ela também mudou a expressão “concebe” por “é possuído” de pensamentos – mudança de um verbo na ativa para outro na passiva. Ela se vale de Stowe por sua fraseologia sucinta, mas rejeita a compreensão do mesmo sobre como a inspiração funciona.

Ellen White parece ter-se valido dos escritos de outros autores por vezes conscientemente, outras vezes, contudo, inconscientemente. Onde uma passagem mais longa de outro escritor aparece em suas obras podemos estar perfeitamente certos de que ela tinha o livro diante de si ao escrever. Não obstante, frases notáveis retiradas de outros autores aparecem ocasionalmente em seus sermões onde ela não tinha livros para consultar. Era seu costume pregar sem anotações de qualquer tipo. Aparentemente tinham essas joias de pensamento ficado tão profundamente impressas em sua mente quando ela as leu, que se tornaram parte de seu próprio vocabulário. Por exemplo, num sermão que Ellen White pregou em uma escola bíblica em 6 de fevereiro de 1890, ela declarou:

“Ele (Satanás) lançou sua obra infernal exatamente entre nós e nossa esperança, nossa força e nosso conforto, para que não O víssemos, para que ele pudesse eclipsar a Jesus, e não O discerníssemos, e o que Ele era para nós, e o que faria por nós e o que seria para nós – para que ele lançasse sua sombra escura e tenebrosa entre nós e nosso Salvador”.– Manuscrito 10, 1890, p.4.

Nessa advertência quanto aos ardis de Satanás, Ellen White estava, é provável que inconscientemente, ecoando as palavras que John Harris escreveu, a respeito de Satanás:

“Colocando-se entre Deus e o homem, ele procurou interceptar cada raio de luz do céu, e lançar sua terrível sombra através da Terra; a tenebrosidade de sua presença caiu, como uma mortalha, sobre a esperança humana, envolvendo-nos em trevas que podiam ser sentidas”.–O Grande Mestre, ed. 1836, p.134.

Um dia antes, ou seja, 5 de Fevereiro de 1890, Ellen White falou das “credenciais divinas” que como um povo devemos apresentar ao mundo, uma frase que pode ter refletido Harris, o qual escreveu que Cristo estava circundado de “credenciais divinas” (O Grande Mestre, ed. 1838, p. 69).

Aparentemente, parte do uso da linguagem de outros por Ellen White deve ser atribuída à sua memória incomumente perspicaz e retentiva.

C. A Ética Quanto aos Empréstimos Literários do Século XIX

Aparentemente ninguém, mesmo dentre o quadro de secretários de Ellen White, questionou a correção de seu uso de obras de outros autores antes de meados da década de 1880. Quando, nessa época, ela foi criticada por esta prática, ela a princípio desconsiderou a crítica, provavelmente sentindo como John Wesley, que uma série de menções dos autores e obras interferiria no desenvolvimento da mensagem que estava sendo exposta. W. C. White explica a atitude dela:

 “Em muitos de seus manuscritos, ao virem de suas mãos, eram usadas aspas. Em outros casos não eram usadas; e seu hábito de usar partes de sentenças encontradas nos escritos de outros e completar com uma parte de sua própria composição não era baseado em qualquer             plano definido, nem era questionado por seus copistas e redatores até por volta de 1885 e daí por diante”.

“Quando os críticos salientaram essa característica de sua obra como razão para questionar o dom que a havia habilitado a escrever, pouca atenção deu  ela  a  isto.  Posteriormente, quando houve reclamação de que isto era uma injustiça a outros editores  e  escritores, ela fez uma decidida mudança – uma mudança com a qual você está familiarizado”. W. C. White para L. E. Froom, 8 de Janeiro, 1928.

Quando Esboços da Vida de Paulo e O Grande Conflito  foram publicados ela foi aconselhada a deixar fora as aspas, e assim fez ela. Mas posteriormente, quando lhe foi apresentado o fato de que isto era considerado injusto para com as pessoas  de  quem  ela  havia  citado, ela disse que eles certamente deviam ser mencionados”.

“Em seu desejo de obter a melhor descrição possível para o benefício de seus leitores, ela se descuidou da importância daquilo que tem sido o tema de severas críticas”. W. C. White para . C. Stevens, 25 de Julho de 1909, copiador de cartas de W. C. White ¹ 129.

Quanto à correção do ato de copiar de outros, parece que esta era uma prática comum nos séculos XVIII e XIX. John Wesley (1703-1791) declarou francamente qual era sua atitude com relação ao uso de obras alheias:

“Tive uma dúvida comigo por algum tempo, se eu não devia incluir a cada anotação que eu recebia deles o nome do autor de quem era tirada; especialmente considerando que eu havia transcrito algumas, e resumido muitas outras, quase nas palavras do autor. Mas depois de consideração ulterior, resolvi não mencionar nenhum, para que nada desviasse a mente do leitor de manter-se atento ao ponto de vista exposto, e receber o que era dito apenas de acordo com o próprio valor intrínseco daquilo”. — “Notas Explicativas sobre o Novo Testamento”, prefácio, citado por F. D. Nichol, Ellen G. White and Her Critics, p. 406.

Outro comentarista bíblico nota que o empréstimo tem de há muito sido uma prática comum entre escritores na área teológica:

“Todos os comentaristas extraíram extensamente dos escritos dos pais da igreja, especialmente de Sto. Agostinho; e a maioria deles fez propriedade pública de Patrick, Lowth e Whitby. Poole exauriu os escritores do Hall e outros; Scott e Benson enriqueceram suas páginas            abundantemente de Henry; Gill traduziu o espírito “Sinopse” de Poole, mas geralmente cita autoridades de onde extraiu; Adam Clarke e Davidson valeram-se muito de todos os melhore críticos, embora o primeiro nem sempre mencione seu vínculo com eles, e o último nunca o faça; uma confissão honesta de que ele pretende não ser mais que um compilador”. Ingram Cobbin, citado por F. D. Nichol, E. G. White and Her Critics, p. 406.

Ao defender o uso de outras fontes por João o Revelador, Preston e Hanson declaram:

“Na realidade, é claro que todo grande escritor tem materiais e fontes que ele usa ( Ésquilo e Shakespeare são admiráveis exemplos). A pergunta importante  não  é  ‘Que  fontes  ele  usa?’ mas ‘Que uso faz delas?’. de fato, uma vez  que  tenhamos  alguma idéia da técnica  de  João,  o modo magistral no qual ele adapta e comina suas várias fontes, isso nos fará restar mais e não menos atenção àquilo que ele usa essas fontes para expressar”. O Apocalipse de São João, o Teólogo, p. 93.

Conybeare e Howson citaram de outros autores sem mencioná-los ou usar aspas (Veja Nichol, pp. 424-5). D. M. Canright, que em 1887 condenou a Sra. White por esta prática, ele próprio citou extensivamente em uma publicação sua de 1878, sem nenhuma referência no prefácio ou em qualquer outro lugar no livro de que estivesse fazendo isso (Veja Nichol, p. 408).

Ellen White não fez nenhuma tentativa de esconder seu empréstimo literário. Ela chamou mesmo atenção especial para a obra de Conybeare e Howson no mesmo ano em que estava retirando excertos dela. Em apoio a um anúncio do livro Signs of  the Times de 22 de Fevereiro de 1883, ela escreveu: “A Vida de São Paulo, de Conybeare e Howson, considero como um livro de grande mérito, e um livro de rara utilidade a cuidadoso estudante da história do Novo Testamento” (ST Feb. 22, 1883 p. 96). Quatro meses mais tarde, em Junho de 1883 seu próprio volume sobre Paulo foi publicado. Ela deveria saber que a relação entre Sketches from the Life of Paul e o livro de Conybeare e Howson logo se tornaria aparente para seus leitores, mas isto obviamente não era preocupação para ela.

Ela também recomendou a História da Reforma de D’Aubgne, do qual ela citou extensivamente, como um presente ideal de Natal (RH 26-12-1882).

Raymond Cottrell declara que quando ele estava trabalhando no SDA Bible Comentary (Comentário Bíblico Adventista), ele teve ocasião de comparar, uns com os outros, trinta comentários sobre I Coríntios. Para sua surpresa ele descobriu que muitos desse respeitados comentaristas tinham “copiado significativas quantidades de material, uns dos outros, sem mencionar a fonte de uma só vez”. Cottrell concluiu que a “ética literária do século XIX, mesmo entre os melhores escritores, aprovava, ou pelo menos não questionava seriamente, empréstimos literários liberais se a menção do autor”. (“A Relação Literária entre o Desejado de Todas as Nações, de Ellen G. White, e a Vida de Cristo, de William Hanna”, p. 6).

Desde que Ellen White viveu a maior parte de sua vida no século XIX, não é de admirar que ela conduzisse a maioria de suas atividades literárias de acordo com os padrões literários do século XIX.

D. Originalidade, Revelação e Inspiração

Os empréstimos literários de Ellen White diminuem em qualquer grau sua reivindicação de inspiração? Esta é uma questão vital. Algumas das coisas que ela escreveu não foram originárias dela. Nem foram fornecidas de maneira sobrenatural por revelação divina. Isto significa que alguns dos seus escritos não foram inspirados? Em outras palavras, originalidade é um teste para se verificar a inspiração? E o fato da revelação vir através de visões é um teste de inspiração?

Primeiramente, algumas definições: Por “originalidade” queremos dizer que o profeta foi a primeira pessoa a dizer algo. Por “revelação” queremos dizer que o profeta recebeu sua informação numa visão, um sonho, ou alguma outra fonte sobrenatural. Por “inspiração” queremos dizer que o profeta escreveu sob a direta guia e controle do Espírito santo.

Nas Escrituras encontramos muitos exemplos que indicam que o que o profeta escrevia não necessitava ser original, nem era preciso que proviesse de revelação especial para ser inspirado.

O apóstolo Paulo escreveu aos Coríntios “As más conversações corrompem os bons costumes” (I Cor. 15: 33). Este é um verso do poeta grego Menander, que viveu três século antes de Cristo (Veja 6 BC, p. 808). Paulo não faz menção de Menander como sendo o autor e nem sequer sugere que seja uma citação. O provérbio não era original de Paulo e é uma pressuposição razoável que o Senhor não revelasse de maneira sobrenatural a Paulo o que Menander havia dito, e não obstante aceitamos I Cor 15:33 como plenamente inspirado. Não era inspirado antes de Paulo tê-lo dito, mas quando ele colocou este verso em sua carta aos Coríntios, ele tornou-se uma parte do cânon da Escritura.

Em Tito 1: 12 e Atos 17: 28 Paulo cita Epimênides de Creta, que, seis séculos antes de Cristo escreveu: “Eles formaram para Ti um túmulo, ó santo e Elevado – os cretenses sempre mentirosos, bestas malignas, Ventres ociosos! Mas Tu não estás mortos: Vives e permaneces para sempre; Pois em Ti vivemos e nos movemos e existimos”. Citado em 6 BC, p. 354.

Em At. 17:28 Paulo faz citação de ainda um terceiro poeta, o Aratus grego, que anteriormente tinha composto o verso “Pois também dele somos geração”. (Veja 6 BC, p. 154).

Paulo citou tanto os escritos de Epimênides quanto de Aratus, e hoje reconhecemos estas citações como parte da inspirada Palavra de Deus.

Judas escreveu vários versos que são praticamente idênticos a uma passagem num livro pseudográfico que, sabe-se, esteve em circulação no século anterior a Cristo.   I Enoc. 1:9 reza o seguinte:

“E eis! Ele vem com dez mil de Seus santos para executar julgamento sobre todos, e para destruir todos os ímpios; e para condenar toda carne por todas as obras ímpias que eles impiamente cometeram, e por todas as coisas más que pecadores ímpios falaram contra Ele”. Citado em 7 BC, p. 708.

Não questionamos a inspiração de Judas 14, 15 muito embora alguém tenha escrito isto ante de Judas tê-lo feito. Judas 9 é também aparentemente extraído de uma fonte não canônica mas antiga (Veja 7 BC, p. 706).

Cristo nos deu a regra áurea (MT. 7: 12), mas o Rabi Hillel, que viveu uma geração antes, já havia escrito: “O que é detestável para ti, não o faças a teu vizinho; esta é toda a Lei, enquanto o resto é comentário a respeito disto”. (citado em 5 BC, p. 356). As ideias, e mesmo algumas das palavras da oração do Senhor, podem ser encontradas em orações rituais judaicas anteriores, conhecidas como Ha-Kaddish (Veja 5 BC, p. 346).

Lucas fez investigações consideráveis antes de escrever seu evangelho. El diz: “Visto que muitos houve que empreenderam uma narração coordenada dos fatos que entre nós se realizaram, Igualmente a mim me pareceu bem, depois de acurada investigação de tudo desde sua origem, dar-te por escrito, excelentíssimo Teófilo, uma exposição em ordem para que tenhas plena certeza das verdades em que foste instruído”. — Lc. 1: 1, 3, 4.

Lucas não adquiriu suas informações através de visões ou sonhos, mas através de sua própria pesquisa. No entanto, ao passo que o manteria no evangelho de Lucas não foi dado por revelação divina, não por isso deixou de ser escrito sob a inspiração divina. Ele não escreveu para dizer a seus leitores algo novo, mas para assegurar-lhes o que era verdade — “para que tenhas plena certeza das verdades em que foste instruído”. O que Lucas escreveu não era original, mas era fidedigno. (Veja 5 BC, p. 699 sobre Lucas 1:2 ). Deus guiou Lucas no uso das fontes corretas.

Uma das fontes de Lucas foi um registro genealógico dos ancestrais de Cristo. Em Lucas 3: 23-27 há uma série de nomes que não se encontram em nenhuma outra parte de Bíblia. Sem dúvida que Lucas encontro esses nomes fielmente preservados nos arquivos do templo. De I Cron. 9: 1 depreendemos que os judeus tinham por prática esse tipo de manutenção dos registros.

Moisés escreveu: “Darás vida por vida, olho por olho, mão por mão, pé por pé” (Deut. 19: 21), contudo, mesmo antes disso encontramos no Código de Hamurabi: “Se um cidadão destruir o olho do filho de outro cidadão, seu olho será destruído. … Se um cidadão faz com que caia o dente de outro cidadão, far-se-á com que seu dente também caia”. Outras similaridades entre Moisés e o código de Hamurabi são dadas no Comentário Bíblico Adventista, Vol. 1, pp. 616-619. Claramente, originalidade não é um teste de inspiração.

A resposta, então, à nossa pergunta – Os empréstimos literários de Ellen White diminuem, em qualquer grau, sua reivindicação de inspiração? — é NÃO. Isto é, a resposta é não a menos que insistamos em usar um padrão para os profetas da Bíblia, e outro padrão diferente para Ellen White. Se foi próprio para os profetas bíblicos usar, por vezes, fontes não-inspiradas, dificilmente podemos censurar Ellen White por seguir-lhes o exemplo.

Em um discurso feito ao corpo discente em Angwin, Califórnia, em 18 de Junho de 1935, W. C. White declarou, em parte:

“Nos seus escritos concernentes aos eventos da História antiga moderna, e especialmente a história da Reforma do século XVI, ela fez citações de historiadores. Estas eram em geral postas entre aspas, mas sem que fizesse menção específica aos historiadores dos quais haviam sido extraídas. Onde o historiador declarava o que ela desejava apresentar, mas em linguagem extensa demais para seu uso, ela parafraseava a declaração, usando algumas das palavras do livro e algumas de suas próprias palavras. Dessa forma, ela era capaz de apresentar declarações enfáticas e compreensíveis de forma concisa.

Pode-se fazer a pergunta: “As descrições de cenas e eventos copiados de outros autores podem achar lugar nos escritos inspirados de um mensageiro de Deus?”

Descobrimos que os escritores da Bíblia não apenas copiaram de crônicas históricas, mas às vezes usaram a linguagem exata de outros escritores bíblicos, sem fazerem menção aos mesmos. E, semelhantemente, se nos escritos de alguém hoje, que dá abundante evidência de ser um mensageiro escolhido de Deus, encontramos frases ou declarações de outros escritores, por que seria isto ocasião de debate mais do que as mesmas circunstâncias quando encontradas nas Escrituras?”– W. C. White – Discurso à Escola Avançada de Bíblia, 1935, pp. 12, 13..


Referência:

[1] A paginação corresponde às edições em inglês.

[2] Ver nota a última página

[3] “Esboço da Vida de Paulo”, ainda não traduzido para o português.