por James R. Nix
Ainda me lembro de como fiquei surpreso ao ler o relato do julgamento de Israel Damman[1] em Atkinson, Maine, conforme relatado no jornal Piscataquis Farmer de 7 de março de 1845 e reimpresso na revista Spectrum em agosto de 1987.[2] “Do que isso se trata?”, perguntei-me. Não me importei nem um pouco com Israel Damman, quem de fato estava sendo julgado, ou Dorinda Baker, de quem nunca tinha ouvido falar. Minhas perguntas giravam em torno de Ellen Harmon (White) e, em menor grau, Tiago White. O que eles estavam fazendo ali no meio de todo aquele barulho e confusão? E por que Ellen estava deitada no chão durante uma visão? Certamente não foi assim que a imaginei, com base nas imagens que vi em várias de nossas publicações. Algumas de minhas perguntas foram respondidas pelas discussões de diversos historiadores adventistas que se seguiram ao relato da Spectrum.[3] Mas o que ainda me incomodava era uma visão radicalmente diferente da que eu tinha, pelo menos, do início do ministério de Ellen White, e que certamente não se encaixava na minha zona de conforto.
Embora não consiga afirmar que tenha solucionado totalmente qualquer questão que se levante sobre Damman e o que aconteceu em Atkinson, Maine, acredito que hoje tenha uma compreensão muito melhor das circunstâncias que cercam esses acontecimentos tão longínquos. Isso depois de ter passado bastante tempo lendo e relendo o relato do julgamento no jornal, além de ter examinado outras informações sobre a época.
Antes de examinar com detalhes alguns dos pontos levantados no julgamento, deixe-me dar uma breve visão geral sobre a vida de Israel Damman. Nascido em 1811[4] e falecido em 1886,[5] Damman foi um pregador batista livre que se tornou milerita,[6] associando-se brevemente após 1844 com Ellen Harmon e Tiago White no Maine. Mais tarde, Damman foi um ministro cristão do advento.[7] De acordo com Isaac Welcome, Damman é lembrado como “um dos homens mais barulhentos e peculiares”, cuja pregação era “especialmente chamativa por causa dos gritos e pulos”.[8] Em 1838 ele se casou com Lydia Rich[9] e tiveram pelo menos três filhos.[10]
O primeiro contato de Damman com Ellen e Tiago, de que se tem registro, foi em Exeter, Maine, no início de fevereiro de 1845.[11] Ao que parece, com base na visão que Ellen recebeu ali sobre o “noivo”, Damman aceitou os desdobramentos da compreensão sobre a Porta Fechada.[12]
De Exeter, Tiago e Ellen viajaram com Damman para Atkinson.[13] Ali, na noite de sábado, 15 de fevereiro de 1845, em uma reunião realizada na casa de James Ayer Jr.,[14] Damman foi preso. Um jornal relatou o subsequente julgamento e as atividades de vários dos envolvidos naquela noite, incluindo Tiago e Ellen,[15] embora Damman fosse a única pessoa realmente sendo julgada.
Apesar das tentativas de localizar as transcrições originais do tribunal, o único relato encontrado até o momento é de 7 de março de 1845, Piscatacquis Farmer. O repórter afirmou que havia “resumido […] o testemunho”, tendo “omitido […] partes menos importantes, […] mas em nenhum caso [tinha] se esforçado para deturpar” qualquer testemunha.[16]
Damman foi acusado de ser “uma pessoa vagabunda e ociosa, […] perambulando […] pela cidade […] pedindo dinheiro: […] um falastrão comum, ou um brigão, negligenciando sua vocação, ou emprego, desperdiçando seus ganhos, e […] não prove[ndo] para o sustento de si mesmo [ou] da família.”[17] Ao que tudo indica, a reunião de sábado à noite foi barulhenta.[18] O propósito declarado da reunião era para que Ellen Harmon e Dorinda Baker, outra vidente, pudessem compartilhar suas visões.[19]
Apesar de não estarem sendo julgados, as atividades de Ellen, Tiago e Dorinda geraram uma boa discussão, tanto pelas testemunhas de acusação, quanto de defesa.[20] Ao proferir sua defesa, Damman não mencionou nenhum dos três, conforme o resumo no jornal.[21]
Dorinda era conhecida por várias das testemunhas de defesa, embora nenhuma delas conhecessem Ellen anteriormente.[22] Apesar disso, várias atestaram sua crença nas visões de ambas as mulheres.[23] Uma testemunha de acusação parecia particularmente hostil a Ellen, afirmando que ela era chamada de “Imitação de Cristo”, algo negado por todas as testemunhas de defesa que falaram sobre o assunto.[24]
Divergências também ocorreram ao descrever as atitudes de Dorinda naquela noite. Parte do tempo ela esteve num cômodo dos fundos da casa fazendo um “barulho”. Alguns alegaram que homens estavam na sala com ela, inclusive Tiago White, embora tais acusações tenham sido fortemente negadas pelas testemunhas de defesa. Mais tarde, foi confirmado que outras pessoas, e não Tiago, foram para o quarto para ajudar Dorinda durante seu “exercício”.[25] O único acordo entre as testemunhas dizia respeito ao que Ellen fez naquela noite. Todos afirmaram que durante a visão ela ficou deitada no chão silenciosamente, exceto quando se sentou para relatar a visão.[26]
A mensagem principal de Dorinda dirigia-se a um indivíduo que, em sua opinião, pensava mal dela.[27] Em contraste, todos os comentários de Ellen tinham um senso de urgência.[28] Devido à crença do grupo de que Jesus voltaria dentro de alguns dias,[29] foi relatado que Ellen exortou vários a serem batizados naquela noite, em vez de correr o risco de ir para o “inferno”,[30] uma palavra possivelmente usada pelo repórter para resumir os comentários de Ellen, já que em nenhum outro lugar em seus escritos ela usa uma linguagem tão forte.[31] Curiosamente, apesar de estar no meio de todas aquelas atividades extremas e fanáticas naquela noite, nenhuma vez Ellen ou Tiago mostraram estar envolvidos de fato.
É interessante ressaltar os relatos contrastantes dados pelo repórter do jornal e por Ellen White sobre a prisão de Damman naquela noite. O jornal relatou que o xerife pediu reforços duas vezes para retirar Damman da reunião.[32] Em contraste, Ellen White mais tarde lembrou que, apesar do reforço de doze pessoas, o xerife não conseguiu retirar Damman até que o poder de Deus o libertasse.[33] Apesar dessas diferenças não resolvidas, em Spiritual Gifts vol. 2, cinco testemunhas atestaram a exatidão do relato de Ellen White sobre a prisão de Damman.[34] No tribunal, ao que parece, sua condenação acabou sendo anulada.[35]
Logo após o retorno para Portland, Tiago e Ellen, junto com Israel Damman e outros, se encontraram na casa de Stockbridge Howland em Topsham. Ali, Damman estave envolvido com a cura da filha de Howland, Frances, de febre reumática.[36]
A edição de 3 de abril de 1845 do The Morning Watch, um jornal milerita, alertou os adventistas contra “Israel Dammon e John Moody, dois homens casados, e a Srta. DORINDA BAKER”, que viajavam juntos para lugares diferentes “ensinando extravagâncias repugnantes”. Foi feita referência ao fato de que “o julgamento de Dammon no Maine foi noticiado em todos os jornais”.[37]
Mais ou menos na mesma época, Damman foi novamente preso por causa de outras duas reuniões barulhentas realizadas em Garland. Aparentemente, nem Ellen nem Tiago estavam presentes, embora Dorinda tenha sido mencionada em um mandado. No entanto, seu nome não foi incluído na lista para comparecer perante o juiz de paz no dia seguinte.[38]
Mais tarde naquele ano, Ellen e Tiago se encontraram com Damman em Garland. Ellen relembrou que lá ela teve que se opor ao fanatismo de Damman. Como resultado, ele rejeitou os testemunhos dela e se tornou seu “inimigo”. Entre outras coisas, Damman acreditava que Cristo havia retornado e que os mortos haviam ressuscitado espiritualmente.[39] Alega-se que Damman também carregou por anos um ressentimento contra Tiago White por causa de uma carta que ele escreveu a Damman, que este considerou forte demais. A carta seguinte que White enviou também faz parte desse mal-entendido.[40]
A última vez que Ellen e Tiago viajaram com Damman, José Bates também esteve presente. Milagrosamente, o “potro parcialmente domado” que Tiago estava dirigindo ficou totalmente imóvel durante todo o tempo em que Ellen esteve em visão, apesar das várias tentativas de Tiago de fazê-lo andar.[41] A data exata desta história é desconhecida, embora aparentemente tenha sido depois que os White se casaram. Isso parece tarde, no entanto, dados os próprios comentários de Ellen sobre suas interações com Damman.
Em meados da década de 1870, adventistas que guardavam o domingo lançaram vários ataques contra Ellen White. Em um deles, Damman afirmou que numa visão anos antes ela o vira “coroado no reino de Deus”, mas que depois ela o viu “perdido”.[42] Embora reconhecesse tê-lo visto junto com outros no caminho para o reino, Ellen White lembrou-se de tê-los advertido “[para] […] não se tornarem orgulhosos, para que não percam as coroas que tiveram o privilégio de obter.”[43]
Aqui termina minha breve biografia sobre Israel Damman. Examinaremos agora com mais cuidado alguns detalhes envolvendo aquela longínqua noite de sábado em Atkinson, e o julgamento que se seguiu dois dias depois. O contexto daquela noite incluiu o grande desapontamento de 22 de outubro de 1844, quando Cristo não voltou como esperado pelos adventistas mileritas, seguido algumas semanas depois pela primeira visão de Ellen Harmon-White em algum momento de dezembro de 1844. Após compartilhar sua visão com o grupo do advento em Portland,[44] pouco depois – no final de janeiro de 1845, Ellen cavalgou em um trenó aberto com seu cunhado, Samuel Foss, aproximadamente 30 milhas (45 km) até a casa da sua irmã e de seu cunhado em Porland, Maine. Enquanto ali estava, Ellen levou quase duas horas para compartilhar a visão,[45] provavelmente na casa de John Megquier.[46]
De volta a Portland, em poucos dias Ellen estava viajando novamente. Em visão, ela foi instruída a compartilhar o que lhe foi mostrado.[47] A primeira oportunidade que se apresentou foi quando William Jordan e sua irmã convidaram Ellen para viajar com eles para Orrington, no leste do Maine. O Sr. Jordan precisava devolver um cavalo ao seu dono, um jovem pastor adventista chamado Tiago White.[48] Aparentemente, Ellen uniu-se a Tiago e alguns outros que viajaram de Orrington para Garland e depois para Exeter, promovendo reuniões religiosas em cada um desses locais. Como observado anteriormente, Damman morou em Exeter[49] e foi ali que Ellen Harmon e Tiago White o conheceram.[50]
Enquanto estava nessa cidade, Ellen teve sua segunda grande visão. Era sobre o Noivo.[51] Como já mencionado, foi essa visão que trouxe confirmação a Damman, bem como a Tiago e Ellen, em seu crescente entendimento sobre o que havia acontecido em 1844.[52] Foi também em Exeter que Ellen se lembrou de ter precisado denunciar pela primeira vez alguns fanáticos.[53]
Que tipo de fanatismo Ellen e Tiago enfrentaram, não apenas em Exeter, mas também em outras partes do Maine durante os meses que se seguiram? Como este não é um artigo sobre fanatismo per se, não vou digredir muito. Mas, da perspectiva de Ellen, “fanatismo” incluiria não trabalhar, rastejar e engatinhar, familiaridade indevida entre homens e mulheres, mesmerismo, lava-pés mistos entre homens e mulheres, beijar os pés, falsos profetas, tocar em fogões quentes para provar que não seria queimado etc. Várias testemunhas de acusação no julgamento de Damman também incluíram como parte do fanatismo toda a lavagem de pés, o ósculo santo, rebatismo e gritos como parte da adoração.
Visto que o ato de rastejar e engatinhar foi mencionado por várias testemunhas, deixe-me descrevê-los brevemente. Como parte de uma tentativa sincera de seguir as instruções de Cristo de que Seus seguidores deveriam se tornar como criancinhas,[54] após o desapontamento de 22 de outubro, vários adventistas mileritas no Maine, em vez de caminhar, começaram a rastejar por onde quer que fossem. Relatos chegaram até nós de que pouco depois, em 1845, pessoas em Paris, Maine, participaram dessa forma de fanatismo. Cyprian Stevens rastejou na frente de uma diligência cheia de passageiros. Os cavalos ficaram assustados, quase derrubando a carruagem. O motorista ficou tão zangado que “entregou as rédeas a um homem que estava sentado ao lado dele, pulou com o chicote e usou-o com toda a força no irmão Stevens. Um de seus olhos ficou muito inchado e todo o rosto ficou machucado, assim como o corpo”.[55]
Em outra ocasião, um certo irmão Lunt estava rastejando na ponte, nessa mesma vila. “Um homem chamado Townsend agarrou-o pelos cabelos da cabeça, jogou-o por cima do parapeito da ponte, com a intenção de jogá-lo nas rochas em águas profundas.” Ele foi salvo pelo autor da carta, um adolescente na época, que “pegou Townsend pela cauda do casaco, dizendo: Deixe- o em paz, ele tem boa intenção, e não é da sua conta se ele anda ou rasteja”.
Ao visitar Paris no verão de 1845, perguntaram a Ellen se ela achava deveriam rastejar. Ela disse-lhes com toda a certeza que não. Assim que ela parou de falar, um irmão idoso que estava presente disse:
Se o homem foi feito para andar ereto,
E a serpente feita para rastejar,
Por que imitar a coisa odiosa
Que introduziu a queda?[56]
Além de rastejantes, havia também falsos profetas. Deixe-me compartilhar apenas um incidente dessa época sobre a forma prática que Ellen tratou de fazer com que uma falsa profetisa saísse da visão. Muitos anos depois do evento, ela relembrou seu conselho:
Pegue um jarro de água fria, uma boa água fria, e jogue bem na cara dela. Esse é o modo mais rápido de tirá-la disso.
Antes mesmo que a água pudesse ser trazida, a profetisa[57] havia saído da visão![58]
A pergunta que surge naturalmente é: por que Ellen e Tiago estariam tentando ministrar a pessoas com visões tão estranhas e fanáticas? O fato é que estes foram os únicos entre os antigos mileritas que ainda colocavam qualquer validade na data de 22 de outubro de 1844.[59] Além disso, seria somente algum tempo depois, em 1845, que Deus realmente enviou Ellen a determinado lugar para se opor ao fanatismo.[60]
De Exeter, o grupo mudou-se para Atkinson, onde a reunião e subsequente prisão de Israel Damman ocorreu no final da noite de sábado ou no início da manhã de domingo, 15/16 de fevereiro de 1845.
Nesse ponto, existem várias maneiras de proceder em termos de análise dos eventos daquela noite e do subsequente julgamento. Poderíamos revisar as descrições dos eventos dadas pelos críticos de Ellen White. Com toda a franqueza, existem sites suficientes por aí que já fazem isso, e para mim também seria uma perda de tempo!
Da mesma forma, encontrei um estudo fascinante comparando Ellen Harmon e Dorinda Baker naquela noite, incluindo suas atitudes e visões. Várias testemunhas disseram que aceitaram as visões de ambas as mulheres como provenientes de Deus. No entanto, parece-me haver algumas diferenças muito óbvias entre ambas naquela noite. Eu poderia ser tentado a resumir o que vejo como sendo esses paralelos e diferenças.[61] No entanto, não acho que seja exatamente isso o que se espera de mim nesta apresentação.
Em vez disso, quero apresentar um ponto de vista alternativo sobre os acontecimentos daquela noite em relação a Israel Damman, analisando novamente o que o repórter diz e o que não diz em seu relato do julgamento. É lamentável que a transcrição completa do tribunal não tenha sido encontrada. Sem ela, nunca saberemos ao certo o que realmente foi dito pelas várias testemunhas. Digo isso porque quanto mais se lê e relê o que está escrito no Piscataquis Farmer, mais intrigado e frustrado você fica ao perceber o quanto realmente está faltando. Por exemplo, pelo menos um site de críticos menciona um artigo de William F. Sprague, que cita uma carta escrita por James D. Brown se referindo a James Stuart Holmes, o primeiro advogado no condado de Piscataquis, e o advogado que representou Israel Damman no seu julgamento. De acordo com Brown, no julgamento de Damman, Holmes argumentou “eloquente[mente] […] pela liberdade religiosa e a tolerância, e o direito de cada pessoa de adorar a Deus de acordo com os ditames de sua própria consciência. […]”[62] No relato do jornal sobre o julgamento, não há sequer um único indício de que Holmes tenha feito tal argumentação.
Outro motivo de preocupação relacionada ao relato do jornal sobre o julgamento é que, se minha pouca experiência com repórteres indica o que acontece no mundo do jornalismo, o que lemos nos jornais ou ouvimos no rádio e na televisão é, na melhor das hipóteses, apenas uma aproximação do que realmente aconteceu. Dito isso, não contesto de forma alguma a honestidade ou integridade daquele antigo repórter. Mas vale a pena lembrar o que ele disse em seus comentários iniciais a alguma testemunha que leria seu relato: “Reduzi seu testemunho tanto quanto possível e omiti as partes menos importantes. […] Mas em nenhum caso me esforcei para te deturpar.” Ele continuou, dizendo aos leitores “que muitos dos testemunhos foram respostas a perguntas, e eu omiti as perguntas em todos os casos em que isso poderia ser feito para abreviar o relato. A todos, ofereço-o como um relatório imperfeito e imparcial. Em consequência da minha total inexperiência, sendo apenas um trabalhador […]”, concluiu dizendo que a sua única razão para preparar o relatório foi devido aos inúmeros pedidos que tinha recebido para o fazer.[63]
Relembrar o objetivo real do estudo também pode nos ajudar a entender melhor por que certas perguntas foram feitas e outras aparentemente não. Damman foi preso pela acusação de não trabalhar, correndo o risco de se tornar alguém a quem a cidade deveria sustentar. Dadas as leis do Maine naquela época de que cada cidade era responsável pelos indigentes, alguns dos moradores de Atkinson não queriam correr esse risco com Damman.[64] O fato de tanto as testemunhas de acusação, quanto as de defesa, concordarem que Damman exortou as pessoas a não trabalharem não o ajudou em nada. É verdade, Damman acreditava que o Senhor viria dentro de dias ou semanas, na melhor das hipóteses.[65] Então, em sua opinião, eles já tinham o suficiente para sobreviver até o fim do mundo.[66] De fato, uma testemunha de acusação até testemunhou que Damman havia dito que “se Deus não viesse, todos nós devemos trabalhar juntos”.[67] Mas o tribunal não prestou atenção a esse tipo de detalhe.
Também é preciso lembrar que era Israel Damman quem estava sendo julgado, não Ellen Harmon, Tiago White ou Dorinda Baker. Na verdade, não há evidências de que Ellen, Tiago ou Dorinda estivessem presentes durante o julgamento.
Com esse pano de fundo, vamos começar analisando várias coisas sobre aquela noite. Desde já, reconheço ser um apologista de Ellen White. No entanto, tendo dito isso, penso que há motivo suficiente com base em uma interpretação lógica das evidências disponíveis, de modo que conclusões alternativas possam ser alcançadas sobre várias acusações levantadas contra Ellen White pelos críticos.
Minha primeira observação tem a ver com a impressão geral que se tem, inicialmente, ao ler o relato no jornal, de que tudo naquela noite foi uma total confusão. O leitor adventista de hoje não pode deixar de se perguntar como Ellen e Tiago devem ter se sentido cercados por tanto barulho e comoção. Com toda a franqueza, o que aconteceu naquela noite provavelmente não soou tão estranho para Ellen. Sua família era metodista, às vezes chamados de “metodistas gritantes”. Mais tarde, ela se lembraria de um incidente dessa época que envolveu sua mãe em Portland:
[Certa] tarde, um oficial foi enviado para nos visitar, enquanto alguns de nossos vizinhos abriram as janelas para ouvir o resultado. Papai estava fora trabalhando e mamãe foi até a porta. O oficial disse que havia recebido reclamações de que perturbávamos a paz da vizinhança com orações barulhentas, às vezes, durante a noite, e que ele tinha sido solicitado a cuidar do assunto. Mamãe respondeu que orávamos de manhã e à noite, e às vezes ao meio-dia, e que iríamos continuar a fazê-lo. […] Ele disse que não se opunha à oração e que, se houvesse mais na vizinhança, isso a tornaria melhor. ‘Mas,’ disse ele, ‘eles reclamam das orações à noite.’ Disse que, se alguém da família estivesse doente ou preocupado durante a noite, era nosso costume pedir ajuda a Deus, e encontrávamos alívio. Ela mencionou nosso vizinho ao lado que consumia bebidas fortes. Sua voz era frequentemente ouvida amaldiçoando e blasfemando contra Deus. Por que os vizinhos não mandaram você até ele, para acalmar a confusão que ele causa na vizinhança? Ele serve ao seu mestre, nós servimos ao SENHOR nosso DEUS. Suas maldições e blasfêmias parecem não perturbar os vizinhos, enquanto que a oração os incomoda muito. ‘Bem’, disse o oficial, ‘o que devo dizer que você fará?’ Minha mãe respondeu: ‘Sirva a Deus, sejam quais forem as consequências’. O oficial saiu e não fomos mais incomodados naquele quarteirão.[68]
Enfatizar relatos sobre o barulho daquela noite obviamente favoreceu os opositores de Damman. E, segundo todos os relatos, parece que foi uma reunião barulhenta,[69] embora pelo menos uma testemunha tenha declarado que a maioria dos cultos que ele frequentava eram mais barulhentos do que o de Damman naquele sábado à noite![70]
Algo facilmente esquecido é que aparentemente não era barulhento o tempo todo. A testemunha de acusação, Dr. William C. Crosby, testemunhou: Às vezes, todos falavam ao mesmo tempo, saudando o mais alto que podiam. […] Após o cessar do barulho, Dammon se levantou e sua postura ficou mais coerente[71] (grifo nosso).
Outra testemunha de acusação testemunhou que, com todos sentados no chão, encostados uns nos outros, “não parecia uma reunião religiosa”. No entanto, sob interrogatório, essa mesma testemunha admitiu que não viu “nada parecido com licenciosidade – havia exortação e oração […]”.[72]
E Loton Lambert, de longe a mais hostil das testemunhas de acusação, testemunhou,
Eles estavam cantando quando cheguei – depois de cantar eles se sentaram no chão – Dammon disse que uma irmã tinha uma visão para relatar – uma mulher no chão então relatou sua visão.[73]
Embora Ellen não seja mencionada pelo nome, pelo contexto parece provável que ela seja a pessoa que Lambert estava descrevendo. Outras testemunhas declararam expressamente que a reunião seria realizada naquela noite para que ela pudesse relatar sua visão.[74]
Esse é um dos momentos em que eu queria que existisse um relato mais completo das reuniões. Embora ninguém possa imaginar com base no curto relato que lemos, Ellen pode muito bem ter levado um bom tempo contando sua primeira visão recebida em dezembro do ano anterior. Conforme observado, quando estava em Poland no final de janeiro, ela levou duas horas para relatar sua visão. Agora em Atkinson, se ela acrescentasse alguma coisa a respeito de sua recente visão do Noivo, recebida havia apenas alguns dias em Exeter, talvez tenha falado ainda mais. Tenho consciência de que isso é argumentar com base no silêncio. Mas a razão pela qual ela empreendeu essa viagem foi compartilhar a visão. E pelo menos duas das testemunhas disseram que o propósito daquela reunião era dar a ela a oportunidade de contar a visão.[75]
Ao se considerar a possibilidade de Ellen ter passado um bom tempo – ou algum tempo – naquela noite compartilhando sua primeira visão, então algumas das outras coisas que também aconteceram ali se tornam mais compreensíveis. Ela os teria assegurado que a forte luz do Clamor da Meia-Noite ainda era válida e iluminaria a jornada do povo de Deus, que estava viajando pelo caminho estreito em direção à cidade santa.
Após 1844, relutantemente, aqueles adventistas mileritas terrivelmente desapontados abandonaram a fé de que algo significativo havia acontecido em 22 de outubro. A própria Ellen relembrou que, à época em que recebeu sua primeira visão em dezembro, havia abandonado sua fé no dia 22 de outubro. Foi essa visão que reconfirmou para ela a validade de sua experiência no Clamor da Meia Noite.[76]
Dado esse pano de fundo, agora podemos entender duas declarações pouco claras feitas por testemunhas. A testemunha de acusação, William C. Crosby, declarou: “Depois que a vidente chamou a atenção deles, ela disse que eles tinham duvidado. Seu objetivo parecia ser convencê-los de que não deveriam duvidar”.[77] Da mesma forma, Loton Lambert, a mais hostil das testemunhas de acusação, disse: “A mulher da visão chamou Joel Doore, disse que ele tinha duvidado”.[78]
Visto que não há mais nenhum outro elemento contextual, é possível apenas imaginar qual seria a preocupação de Ellen. Que a dúvida não era sobre a validade da visão parece claro pelas declarações feitas por várias testemunhas, que afirmaram inequivocamente sua crença de que as visões de Ellen provinham de Deus.[79] De fato, o próprio Joel Doore foi um dos que declararam de forma específica sua crença na “genuinidade” das visões de Ellen.[80] Dado que Doore já acreditava no retorno imediato de Cristo, bem como na validade das visões de Ellen, então a possibilidade de sua dúvida se referir à continuidade do significado de 22 de outubro faz todo o sentido. Era por isso que Ellen estava viajando, tentando encorajar as pessoas a manterem sua crença – de que algo realmente havia acontecido em 22 de outubro.
A crença de que Deus ainda estava presente no movimento adventista, juntamente com a convicção de que Cristo ainda viria a qualquer momento, possivelmente explica o senso de urgência para o batismo. Afinal, se houvesse alguma chance de perder a vida eterna, isso certamente não deveria acontecer. Embora não tenhamos nenhum conselho escrito de Ellen White nessa época sobre o rebatismo, ela posteriormente forneceu conselhos a respeito.[81] No entanto, sabemos que Tiago White menciona que ele rebatizou sua esposa,[82] embora as circunstâncias desse evento sejam desconhecidas. Especula-se que foi depois que ambos aceitaram o sábado do sétimo dia em 1846.[83] Embora seja especificamente declarado que Ellen não participou de nenhum dos dois batismos ocorridos naquele sábado à noite em Atkinson,[84] pode ser que seu próprio rebatismo tenha acontecido na mesma época, como um testemunho de sua fé na contínua validade do evento de 22 de outubro. Digo isso porque não tenho conhecimento de nenhum rebatismo registrado na época em que ela e Tiago aceitaram o sábado. Mas, se dermos crédito ao relato do julgamento, ela instou vários a serem batizados naquela noite em Atkinson. Tiago White apenas diz que, quando a rebatizou, foi “no início de sua experiência”.[85] Esse seria o período mais remoto de sua experiência!
Ao ler o relato do repórter sobre o julgamento, você fica impressionado com o número de vezes em que testemunhas disseram que Ellen exortou para que as pessoas não “fossem para o inferno” ou que, se não fossem batizadas naquela noite, iriam “para o inferno”.[86] Como em nenhum outro lugar nos escritos de Ellen White encontramo-la usando linguagem semelhante,[87] é curioso pensar que ela realmente o fez naquela noite. Na verdade, é muito improvável que tenha feito isso, já que nessa época ela não acreditava mais em um inferno de fogo eterno.[88] Fica claro nos registros que nem todos os mileritas acreditavam como ela. E certamente muitas das testemunhas, incluindo, provavelmente, o próprio repórter do jornal, acreditavam em um inferno de fogo eterno. Curiosamente, o repórter cita uma testemunha que disse que ela instou outro homem a não se perder. James Ayer Jr., uma testemunha de defesa, lembrou-se de Ellen dizendo a Joel Doore “que ela estava angustiada por causa dele – estava com medo de que perdesse sua alma”.[89] Dado esse exemplo de palavras mais brandas usadas por Ellen naquela noite, é fácil imaginar como declarações semelhantes de outras testemunhas possam ter sido mal interpretadas pelo repórter, como se ela pensasse que elas iriam direto para o inferno. Provavelmente nunca saberemos com certeza o que Ellen White disse naquela noite, mas suas fortes declarações conforme relatadas no jornal são inconsistentes com tudo o mais que sabemos de sua vida. A preocupação com as pessoas perdendo a alma é muito mais consistente com tudo o mais que sabemos sobre ela.
Outra coisa que impressiona a maioria dos adventistas ao ler pela primeira vez o relato da reunião em Atkinson é que Ellen White foi descrita como estando deitada no chão durante uma visão. Ao menos uma testemunha lembrou que parte do tempo Tiago White estava sentado, segurando a cabeça dela, enquanto ela estava em visão. Quando li esse relato pela primeira vez, achei a descrição da postura de Ellen totalmente oposta ao que eu imaginava. Graças aos artistas que ocasionalmente a retrataram enquanto em visão, eu a imaginava andando pela sala, ou possivelmente em pé segurando uma Bíblia etc. – o que, de fato, ela fazia casualmente quando em visão. Mas certamente não a imaginava sentada em uma cadeira,[90] ou deitada no chão de uma casa,[91] ou na plataforma de uma igreja.[92] No entanto, quanto mais leio, mais percebo que, na maioria das vezes, ela provavelmente estivesse deitada durante a visão. Martha Amadon possivelmente foi a pessoa quem mais presenciou Ellen White em visão além de Tiago White. Filha de John Byington, nosso primeiro presidente da Associação Geral, ela foi a primeira professora primária da igreja adventista. De fato, Amadon lembrou-se especificamente de sua “posição na visão [como] reclinada”.[93]
Outra coisa que presumo impressionar a maioria dos adventistas é o fato de alguns testemunharem que Ellen era chamada de “imitação de Cristo”. Lembro-me de anos atrás, quando li o relato pela primeira vez, embora várias das testemunhas de defesa negassem ter ouvido chamarem-na assim – e tínhamos certeza que isso não era verdade. Foi só depois de tirar um tempo para ler cuidadosamente o relato que percebi que era apenas uma testemunha – Loton Lambert, a mais hostil das testemunhas de acusação – que a alegou ser chamada de “imitação de Cristo”. Como o nome das testemunhas são desconhecidos para o leitor atual, é muito fácil confundi-los sem uma análise cuidadosa. Também é preciso lembrar que Lambert foi a única testemunha a quem James Ayer Jr., dono da casa em que a reunião foi realizada, disse que se ele perturbasse a reunião, teria que ir embora.[94] Fica óbvio, tanto pelo testemunho de Ayers quanto pelo de Lambert, que ele (Lambert) era visto como um perturbador em potencial naquela noite. Na verdade, Lambert até testemunhou que não tinha vindo perturbar a reunião naquela noite.[95] Acho que até Lambert concordaria que seu depoimento como testemunha de acusação possa ser considerado hostil a Damman e aos outros que estavam lá.[96]
Ao ler e reler o relato do julgamento no jornal, me pergunto se, com todo o barulho relatado naquela noite, Lambert possa ter ouvido Damman, ou outra pessoa, referir-se à “visão de Cristo” de Ellen. Ou talvez Lambert pensou que Damman tenha dito que Ellen exortou as pessoas a “imitar a Cristo”.[97] O que estou sugerindo é que Lambert possa sinceramente ter ouvido, de forma equivocada, Ellen ser chamada de “imitação de Cristo”. Obviamente, nunca saberemos o que o levou a dizer aquilo, mas sabemos que todos as outras pessoas citadas, que falaram especificamente sobre o assunto, negaram que Ellen tenha sido chamada de “imitação de Cristo”. Em vez de afirmar que Lambert estava mentindo, como os críticos se apressam a fazer com relação a Ellen White, prefiro pensar que ele entendeu mal o que foi dito.[98]
Antes de passar às considerações sobre a principal diferença entre o relato do jornal e as lembranças de Ellen White – a prisão de Israel Damman – farei um comentário breve sobre algo interessante que aparece no depoimento de quatro das testemunhas de defesa. Refiro-me especificamente ao entendimento das testemunhas sobre a porta fechada. Nessa época, muitos ex-mileritas, inclusive o próprio Guilherme Miller, acreditavam que a porta estava totalmente fechada para a conversão dos pecadores (Miller mudaria de ideia no mês seguinte).[99] Como se sabe, Ellen White negou categoricamente que alguma vez lhe foi mostrado em visão que a porta da graça estivesse totalmente fechada, impedindo assim a conversão de mais pecadores.[100] Os críticos gostam de atacar tais declarações, tentando provar que ela viu uma porta totalmente fechada em visão. Que percepções sobre o assunto, se houver, encontramos no depoimento das testemunhas?
Embora a maioria das testemunhas concordasse que Damman se opunha às demais igrejas, é interessante que várias delas fizeram diferença entre as próprias igrejas e os membros individuais dentro das igrejas. James Ayer, Jr., em cuja casa a reunião foi realizada, declarou sobre Damman: “Ele se referia a membros de igrejas específicos, em vez do todo”.[101] Isley Osborne testificou sobre Damman: “Ele acredita que há bons, maus e indiferentes em todas as igrejas […]”.[102] Joel Doore testificou: “O Pastor Dammon disse que havia pessoas más nas igrejas; mas, na minha compreensão, ele não disse que eram todas.”[103] Jacob Mason reconheceu que “o irmão Dammon disse que as igrejas eram assim descritas – disse que eram mentirosos, malandros etc. No meu entendimento, ele não estava incluindo todos, mas indivíduos específicos.”[104]
Se a compreensão deles sobre a posição de Damman é totalmente verdadeira, não fica claro. Digo isso porque, sob reexame, em duas frases do testemunho de Joel Doore, consta que ele disse: “Ouvi o irmão Dammon pregar que a porta da graça se fechou para os pecadores. O réu disse: ‘Assim eu creio’”.[105] Além disso, o pequeno resumo da autodefesa de Israel Damman afirma: “Ele argumentou que a porta da graça havia se fechado, que os crentes eram poucos; mas que ainda havia muitos e que o fim do mundo chegaria em uma semana”.[106]
Embora seja possível que o próprio Damman realmente acreditasse em uma porta totalmente fechada, várias testemunhas não entenderam que essa era sua posição. E como os dois relatos (Joel Doore Jr. e a autodefesa do Pastor Damman) são muito resumidos, é bem possível que as nuances sobre a porta da graça não ter sido fechada para os que não rejeitaram a luz, provavelmente tenham se perdido, ou ao menos sido mal compreendidas pelo repórter do jornal. O ponto significativo é que no depoimento de todas as testemunhas de defesa que falaram sobre o assunto, nenhuma delas entendeu que Damman cria que a porta da graça estava totalmente fechada. É somente nessas duas declarações muito resumidas que você encontra algo mais sendo sugerido. Ao menos no caso de Joel Doore, ao reexaminarmos sua breve declaração, percebemos que ela contradiz o testemunho anterior mais abrangente sobre o que ele entendia ser a crença de Damman.
Então, para mim, acho significativo que, entre esse grupo, nenhum dos mileritas desapontados tenha dito qualquer coisa indicativa de que acreditassem numa porta da graça totalmente fechada. Dado que Ellen Harmon estava lá para compartilhar sua visão, também parece que nada do que ela disse naquela noite os tenha convencido de que a porta da graça estava totalmente fechada. De fato, ao olhar para o que realmente foi testificado a seu respeito, você a encontra exortando as pessoas a não duvidarem, para serem batizadas naquela noite. Em suma, havia um senso de urgência em suas mensagens que dificilmente seria provável se ela tivesse recebido em visão a informação de que a porta da graça havia se fechado totalmente.
Ou, para ser ainda mais claro, se a primeira visão de Ellen White revelasse uma porta totalmente fechada, como afirmam os críticos, então ela também deve ter entendido mal. Ela não estaria presente naquela reunião de sábado à noite em Atkinson, com pessoas não crentes, se sua visão tivesse revelado uma porta totalmente fechada. É evidente que sua primeira visão não revelou uma porta fechada, o que é exatamente o que ela sempre afirmou.[107]
Podemos extrair uma outra perspectiva interessante do testemunho. Pouco tempo depois desse evento, os críticos de Ellen começaram a fazer um grande estardalhaço ao alegar que Tiago White manipulava suas visões e, a menos que ele estivesse presente, ela não conseguiria ter uma visão (apesar do fato de ele não estar presente no momento da sua primeira visão em dezembro de 1844.) Acho interessante uma declaração feita por Joel Doore sob interrogatório. Ele testemunhou: “Eu não disse a ninguém ontem que era necessário ter alguém na sala com ela para fazê-la entrar em transe”.[108] Como nenhuma das outras testemunhas é citada como tendo abordado o assunto, não sabemos o que pensavam sobre isso. Mas ao menos Doore não acreditava que as visões de Ellen Harmon resultavam da manipulação de outra pessoa.
Agora nos voltaremos para a contradição mais aparente entre as lembranças de Ellen White e o testemunho do xerife, conforme resumido de forma breve no jornal: a prisão de Damman pelo xerife. No seu relato mais completo da prisão, escrito em 1860 em Spiritual Gifts, vol. 2, p. 40-41, ela diz que enquanto falava, dois homens olharam pela janela. Vendo Damman, correram até ele, passando ao seu lado. Ela continuou:
O Espírito do Senhor repousou sobre ele e sua força foi tirada, e ele caiu no chão desamparado. O oficial gritou: ‘Em nome do estado do Maine, prendam este homem’. Dois homens agarraram seus braços e dois, seus pés, e tentaram arrastá-lo para fora da sala. Eles o moveram apenas alguns centímetros e depois sairiam correndo da casa. O poder de DEUS estava naquela sala, e os servos de DEUS, com semblantes iluminados pela Sua glória, não ofereceram resistência. Os esforços para capturar o Pastor D. foram repetidos várias vezes, com o mesmo resultado. Os homens não podiam suportar o poder de DEUS, e foi um alívio para eles sair correndo da casa. O número deles aumentou para doze, mas o Pastor D. ainda foi mantido pelo poder de DEUS por cerca de quarenta minutos, e nem toda a força daqueles homens era capaz de movê-lo do chão, onde jazia indefeso. No mesmo momento, todos nós sentimos que o Pastor D. deveria ir; que DEUS havia manifestado Seu poder para Sua glória. […] e aqueles homens o levantaram com a mesma facilidade com que pegariam uma criança e o levaram para fora.[109]
Em contraste, os relatos do xerife, é claro que resumidos, são muito diferentes:
Quando fui prender o prisioneiro, eles fecharam a porta na minha cara. Ao perceber que ele não sairia da casa, arrombei a porta. Fui até o prisioneiro, peguei-o pela mão e contei-lhe o que estava acontecendo. Várias mulheres pularam sobre ele – ele se agarrou a elas e elas a ele. Tão grande foi a resistência, que eu com três ajudantes não consegui tirá-lo. Permaneci dentro da casa e pedi que ajuda fosse enviada. Depois que eles chegaram, fizemos uma segunda tentativa com o mesmo resultado – novamente solicitei por mais ajudantes – depois que eles chegaram, nós os dominamos e o tiramos sob custódia. Sofremos resistência tanto de homens, como mulheres. Não consigo descrever o lugar – era uma gritaria contínua.[110]
Fica óbvio que são duas descrições muito diferentes do mesmo evento. Eu disse anteriormente em minha palestra que não tenho respostas para cada detalhe do que aconteceu no incidente de Israel Damman. Esta, sem dúvida, é a minha maior contradição não resolvida. Mas tendo admitido isso, vejamos alguns detalhes que possam ser interessantes. Começaremos listando algumas semelhanças entre os dois relatos:
- Ambos concordam que foi apenas Damman quem foi preso naquela noite, e mais ninguém.
- Ambos concordam que inicialmente foram quatro homens que tentaram, sem sucesso, remover Damman.
- Ambos concordam que houve vários esforços para remover Damman. (Ellen White diz que ele não pôde ser movido devido ao poder de Deus; o xerife, porque muitos estavam segurando Damman.)
- Ambos concordam que todo o tempo da prisão levou um tempo considerável (Ellen White diz quarenta minutos; Moulton diz que pediu reforços duas vezes – o que levaria algum tempo para que respondessem naquela era pré-telefone celular).
- Embora por motivos diferentes, ambos concordam que as pessoas do grupo acusado tiveram que deixar a sala no momento da prisão (Ellen White afirmou que foi devido ao poder de Deus, embora se possa supor que, uma vez que ela concorda que os reforços vieram, dado que não havia telefones celulares, ela presumivelmente teria concordado que esses reforços tivessem sido requisitados; o xerife apenas descreve ter que pedir por reforços.)
As aparentes diferenças são, penso eu, bastante claras, mas podem ser resumidas da seguinte forma:
- EGW: “Enquanto eu falava, dois homens olharam pela janela.”; Xerife: “Eles fecharam a porta na minha cara. […] Eu arrombei a porta.” (Uma dissimilaridade, embora não necessariamente uma contradição.)
- EGW: “Dois homens […] tentaram arrastá-lo [Damman] apenas alguns centímetros e depois saíram correndo da casa”; Xerife: “Fui até o prisioneiro, peguei-o pela mão e contei-lhe o que estava acontecendo.”
- EGW: “O poder de Deus estava naquela sala, e os servos de Deus com semblantes iluminados pela Sua glória, não ofereceram resistência.”; Xerife: “Várias mulheres pularam sobre ele [Damman] – ele se agarrou a elas e elas a ele.”
- EGW: “O número deles aumentou para doze, mas o Pastor D. ainda foi mantido pelo poder de DEUS por cerca de quarenta minutos, e nem toda a força daqueles homens era capaz de movê-lo do chão, onde jazia indefeso.”; Xerife: “Tão grande foi a resistência, que não consegui tirá-lo de lá.”
- EGW: “No mesmo momento, todos nós sentimos que o Pastor D. deveria ir; que DEUS havia manifestado Seu poder para Sua glória, e que o nome do SENHOR seria posteriormente glorificado caso ele fosse tirado de nosso meio. E aqueles homens o levantaram com a mesma facilidade com que pegariam uma criança e o levaram para fora.” Xerife: “novamente solicitei por mais ajudantes – depois que eles chegaram, nós os dominamos e o tiramos [Damman] sob custódia.”[111]
Para Ellen White, Deus estava claramente trabalhando de forma sobrenatural durante toda a abordagem. É óbvio, nada que se aproxime mesmo remotamente é descrito pelo policial que o prendeu. É novamente em um momento como esse que seria interessante termos toda a transcrição do tribunal! O xerife foi interrogado pelo advogado de defesa? Nesse caso, nada foi incluído na reportagem do jornal. Como as outras testemunhas viram a prisão de Damman? Nenhum outro comentário sobre a prisão foi incluído em todo o relato publicado. Mesmo que alguém negue qualquer elemento sobrenatural, o fato de que duas vezes o xerife teve que pedir reforços seria, penso eu, mesmo para o leitor casual, motivo suficiente para pensar que na transcrição real do tribunal alguém mais deva ter dito algo sobre a prisão. O relato do xerife não é apenas estranhamente curto, mas, como disse, o que ele descreve é interessante o suficiente para nos fazer pensar se pelo menos uma ou duas outras testemunhas poderiam ter falado sobre a prisão. Claro, há sempre a possibilidade de que, mesmo que algumas das testemunhas quisessem falar sobre o assunto, a menos que solicitado diretamente por um dos advogados, a pessoa poderia ter sido silenciada. Sem a transcrição completa do tribunal, nunca saberemos o depoimento inteiro do xerife, inclusive se ele foi interrogado ou se alguma das outras testemunhas foi solicitada a abordar a questão.
Uma das razões pelas quais não posso deixar de me perguntar se outras testemunhas teriam falado sobre a prisão é que, em meio ao depoimento de uma testemunha, está uma declaração curiosa. No resumo do repórter, nenhum contexto é fornecido. Contudo, ela poderia se referir às circunstâncias que cercam a prisão de Damman? Nunca saberemos com certeza, mas ela nos dá abertura para uma pergunta tentadora. Aqui está a declaração que me intriga, feita pelo diácono James Rowe:
Damman levantou-se do chão e disse, eu vou ficar aqui – e enquanto eu estiver aqui, eles não podem machucar vocês, nem homens nem demônios podem (sic.) lhes machucar.[112]
Essa breve declaração atribuída a Damman por Rowe refere-se a quando Damman e o grupo perceberam que o xerife tinha vindo para prendê-lo? Ou ainda mais diretamente, poderia se referir a quando o xerife diz que arrombou a porta para entrar? Poderia Damman ter feito essa declaração nesse momento? E se assim for, a declaração de Damman reflete que, para ele, algo sobrenatural estava acontecendo naquela noite? Foi mera bravata, ou havia algo mais por trás da declaração, algo que Ellen White também refletiu ao relembrar o momento da prisão? Novamente, é provável que nunca saberemos. Mas é intrigante pensar sobre como a declaração parece não se encaixar com nada presente no testemunho de James Rowe.
Uma coisa, porém, é absolutamente certa: Ellen White nunca vacilou em sua crença de que algo sobrenatural aconteceu na prisão de Damman. Ainda em 1906, em uma entrevista com seu secretário, Clarence Crisler, a Sra. White ainda se lembrava basicamente das mesmas circunstâncias relacionadas à prisão de Damman, conforme havia descrito em 1860.[113]
Eles tentaram pegar esse Damman e não conseguiram. Ele ficou no chão por três quartos de hora. ‘Em nome do estado do Maine, pedimos que prendam este homem.’ Então eles correram e o agarraram, e todos começaram a cantar, ‘Nós deixamos a velha e mística Babilônia para soar o Jubileu.’ Suas mãos escorregavam e eles tinham que tentar de novo. Agora, quando eles se aproximaram dele e começaram a pegá-lo, não queriam minha presença na sala, queriam que eu saísse, diziam que era eu quem o estava segurando. Saí da sala e disse: Pastor Damman, o Senhor quer que você vá com esses homens para o julgamento, e ele o fez. Ele foi ao julgamento.[114]
Em outra entrevista mais ou menos da mesma época, Ellen White relembrou:
Quando eles entraram na casa para levá-lo, ele estava ajoelhado. Eles pegaram suas mãos e pés e tentaram levantá-lo para tirá-lo da sala. Mas não conseguiam. […] Eles o puxavam por alguns passos, mas assim que tiravam as mãos dele, ele deslizava de volta para o mesmo lugar. Tentaram por duas horas retirá-lo da sala, mas sem sucesso. Então todos nós sentimos que seria para a glória de Deus que ele fosse retirado. […] Havia doze homens ao todo que vieram para levá-lo.[115]
Existe alguma maneira de conciliar esses dois relatos? É provável que não totalmente. Como então podemos olhar para eles? Algumas sugestões me vêm à mente.
Primeiro, podemos tentar entender as coisas da possível perspectiva de Ellen White. Mesmo que admitíssemos aos críticos que tudo aconteceu exatamente como disse o xerife, isso significaria necessariamente, como eles costumam alegar, que Ellen White estava mentindo ou tentando acrescentar coisas que não fazem jus à situação? Penso que não. Dado o estado de espírito de Ellen White na época, tendo acabado de passar pela expectativa do retorno de Jesus – o ano mais feliz de sua vida, como ela mesma diz[116] – e ainda posteriormente tendo recebido uma visão de Deus, sem dúvida sua perspectiva sobre os acontecimentos seria muito diferente da do xerife, ou de qualquer outra testemunha.
Por que digo isso? Deixe-me dar apenas alguns exemplos de incidentes que Ellen White relembrou sobre a sua vida antes de 1845. A jovem Ellen foi convertida na campal metodista em Buxton, Maine,[117] provavelmente em 1841. Para ela, aquele evento mudou tudo. Disse:
Durante as reuniões, nuvens e chuva haviam prevalecido na maior parte do tempo, e meus sentimentos estavam em harmonia com o tempo. Agora, o Sol resplandecia brilhante e luminoso, e inundava a Terra de luz e calor. […] Parecia-me que todos deveriam estar em paz com Deus, e animados por Seu Espírito. Todas as coisas sobre as quais meu olhar repousava, parecia terem passado por uma mudança. As árvores eram mais bonitas, e os pássaros cantavam com mais suavidade do que nunca; com seus cânticos pareciam estar louvando o Criador. Eu não tinha desejo nem de falar, por temer que essa felicidade pudesse dissipar-se e eu perdesse a preciosa evidência do amor de Jesus por mim. Enquanto nos aproximávamos de nossa casa, em Portland, passamos por uns homens que trabalhavam na estrada. Eles conversavam sobre assuntos comuns, mas meus ouvidos estavam surdos a tudo, exceto ao louvor de Deus, e suas palavras chegaram a mim como profundos agradecimentos e alegres hosanas. Volvendo-me para minha mãe, perguntei-lhe: “Por que esses homens estão todos louvando a Deus, sendo que não estiveram na reunião campal?” Eu não compreendia ainda por que sugiram lágrimas nos olhos de mamãe. Um terno sorriso aflorou-lhe na face enquanto ouvia minhas simples palavras, que a relembraram de uma experiência semelhante em sua vida.[118]
Da mesma forma, certa vez, quando ela e seu irmão mais velho, Robert, eram jovens mileritas, Ellen lembrou que o rosto de seu irmão se iluminou ao falar.[119] Outros também viram? Não há como saber. Mesmo no relato sobre a prisão de Damman, ela disse que os “semblantes dos servos de DEUS se iluminaram com Sua glória”.[120] Repito, outros naquela noite viram o que ela viu? Como ninguém testemunhou sobre o assunto, ao menos conforme registrado no jornal, nunca saberemos. No entanto, é interessante que muitos anos depois, quando J. N. Andrews foi chamado para ser nosso primeiro missionário oficial, J. O. Corliss também disse que seu rosto estava brilhado com um forte brilho:
Uma reunião campal foi realizada a uma curta distância de Battle Creek, no verão de 1874, pouco antes da partida de nosso primeiro missionário para um campo estrangeiro, e o Pastor Andrews estava presente. Quando se discorreu sobre a expansão da mensagem adventista e foi anunciado que ele logo partiria para a Europa, uma mudança aconteceu na reunião, e o Pastor Andrews, que nunca antes parecera tão solene, imediatamente pareceu mudar de aparência. Seu rosto brilhava com […] forte brilho. […] Eu nunca tinha testemunhado uma visão tão celestial, nem vi nada igual desde aquela época.[121]
Estariam Ellen White ou J. O. Corliss mentindo sobre o que disseram? Não. Alguém mais viu o que eles viram? Nunca saberemos. Mas ver a prisão pelos olhos de Ellen White é uma possibilidade válida. Tudo o que aconteceu naquela noite ela viu de uma perspectiva espiritual.
Outra maneira de enxergar as diferenças entre os dois relatos é não tentar oferecer nenhuma explicação, mas simplesmente reconhecer que ocorrências sobrenaturais são vistas de maneira diferente por crentes e não crentes. A Bíblia oferece numerosos exemplos de eventos que os crentes consideram sobrenaturais, enquanto outros negam a historicidade ou pelo menos oferecem outras explicações. Tudo, desde o relato bíblico da criação até o dilúvio de Noé e a ressurreição de Cristo, sem mencionar todos os milagres menores da Bíblia, são aceitos pela fé pelo crente, mas são minimizados ou negados por outros. Josué e a parada do sol; os muros de Jericó caindo; Ezequias e o relógio de sol que se moveu para trás, Jonas e o grande peixe; e assim por diante – todas essas são histórias que o cristão comprometido aceita como verdadeiras porque o profeta as registrou como fatos, enquanto outros veem os mesmos eventos de maneira totalmente diferente, fornecendo explicações naturalísticas ou negando completamente os relatos.
Mas não são apenas os eventos bíblicos que são interpretados de formas diferentes. Na vida e experiência de Ellen White, me vem à mente o exemplo de um evento histórico que ela viu como sobrenatural, mas nem uma comissão do Congresso, nem testemunhas oculares reais, poderiam explicar totalmente o que realmente o causou. Refiro-me ao fim da primeira grande batalha da Guerra Civil Americana, a Batalha de Manassas. Uma total derrota das forças da União ocorreu na tarde de 21 de julho de 1861. Cerca de duas semanas depois, em 3 de agosto de 1861, em Roosevelt, NY, foi mostrado a Ellen White o motivo dessa derrota.
Tive uma visão da desastrosa batalha de Manassas, Virgínia. […] O exército do sul tinha tudo a seu favor e estava preparado para o terrível combate. O exército do Norte estava se movendo com triunfo, em nada duvidando de sua vitória. Muitos estavam descuidados e marchavam adiante orgulhosamente, como se a vitória já fosse sua. […] Eles não esperavam um combate tão feroz. […] Havia mortos e moribundos de ambas as partes. Norte e Sul sofreram severamente. […] Subitamente, um anjo desceu e agitou a mão. Instantaneamente houve confusão nas fileiras. Parecia aos nortistas que suas tropas estavam batendo em retirada, quando, na realidade, não era assim; começaram, então, uma precipitada fuga. […] O súbito recuo das forças do Norte tem sido um mistério a todos. Eles não sabem que a mão de Deus se fez presente.”[122]
Vejamos primeiro o relato de uma testemunha ocular dos Confederados sobre o que ele viu naquela tarde:
Aconteceu a cena mais extraordinária que já testemunhei. Eu estava olhando para as numerosas linhas bem formadas enquanto avançavam para o ataque, cerca de quinze ou vinte mil pessoas à vista, e por algum motivo virei a cabeça em outra direção por um momento, quando alguém exclamou, apontando para campo de batalha: ‘Olhe! Olhe!’ Eu olhei, e que mudança tinha acontecido em um segundo. Onde aquelas linhas bem vestidas e bem definidas, com espaços demarcados entre elas, estiveram avançando firmemente, todo o campo era um enxame confuso de homens, como abelhas, fugindo o mais rápido que suas pernas podiam, abandonando toda a ordem e organização.”[123]
Hoje, quando as pessoas visitam o campo de batalha, a seguinte descrição é o que você encontra na penúltima placa do passeio a pé:
Ataque às Armas do Capitão Griffin – Recrutas Inexperientes: a 33ª Infantaria da Virginia
Os Virginianos estavam esperando, tensos aqui no limite da mata – sua primeira vez sob bombardeio. Os projéteis da bateria de Rickett explodiram nos galhos acima e abriram caminho no terreno à frente. Quando os dois canhões da União se posicionaram no topo da elevação, a aproximadamente cem metros de distância, o coronel A. C. Cummings deu ordem de ataque. Melhor colocar os homens em movimento, concluiu o coronel, antes que eles entrassem em pânico e antes que os canhões da União pudessem causar mais danos.
Continuando em direção à última placa do passeio pelo campo de batalha, você passa por uma pequena placa, que diz:
Você está prestes a seguir no
caminho dos Confederados.
Se os dois canhões
tivessem virado e usado
a metralha nesse intervalo,
teriam destruído o
regimento. Por algum motivo a
a artilharia não disparou,
como se os Virginianos fossem invisíveis.
Finalmente, você chega ao último sinal descritivo no campo de batalha. Ele afirma:
Saraivada à Queima-Roupa – Erro de um Oficial?
Claramente à vista dos artilheiros, os Confederados se alinharam na cerca e nas árvores em campo aberto. Esses dois canhões e a infantaria de apoio poderiam facilmente ter parado os rebeldes, mas os quatrocentos Virginianos que atacaram foram capazes de disparar uma saraivada de tiros de mosquete tão de perto que praticamente eliminaram os soldados dos canhões da União. As investigações do Congresso não conseguiram esclarecer o mistério: como os Confederados conseguiram chegar tão perto?[124]
E a rota completa, já descrita, começaria em breve. Isso resume muito bem as diferenças: Ellen White disse que foi um anjo que causou toda a confusão; a melhor explicação que o National Park Service pode oferecer é que parecia “como se os virginianos fossem invisíveis”. Em suma, há certos eventos que os crentes verão de uma maneira, apesar das afirmações contrárias dos não crentes.
Seja como for, o relato daquela longa noite em Atkinson continua sendo de interesse para os adventistas. Como disse no início, sem dúvida, nem todas as questões sobre o que realmente aconteceu serão resolvidas. De fato, quase trinta anos depois, Ellen White relembrou o impacto que o fanatismo teve no incipiente movimento adventista:
Reconhecemos, para nossa tristeza, que havia fanatismo no estado do Maine e que esse fanatismo surgiu em diferentes lugares e estados. […] Uma terrível mancha foi lançada sobre a causa de Deus, que se apegaria ao nome dos adventistas como a lepra. Satanás triunfou, pois essa reprovação faria com que muitas almas preciosas temessem ter qualquer ligação com os adventistas.[125]
Mas creio que o Dr. Herbert E. Douglass resumiu bem em seu livro o caso Damman,
A Igreja Adventista do Sétimo Dia começou em meio a pessoas do Segundo Advento que gritavam, rastejavam, abraçavam e alegorizavam? É certo que não. Ninguém em Atkinson guardava o sábado, nem mesmo Ellen Harmon. Ninguém naquela noite entendia o papel de Jesus como Sumo Sacerdote. Ninguém no círculo de Dammon tinha o menor conceito sobre o tema do Grande Conflito e suas implicações. A reunião de Dammon era formada por mileritas desapontados que não haviam abandonado a doutrina bíblica do advento, embora estivessem tateando em meio à névoa teológica. Usando o plano que Ele seguiu desde que nossos primeiros pais deixaram o jardim do Éden […], Deus pacientemente começou com os poucos que não haviam descartado a experiência de 1844. Com muita paciência, Ele conduziu os poucos que queriam ouvir, apesar de seus muitos erros, como a santidade do domingo, a porta totalmente fechada, a convicção de ‘não trabalhar’ e os excessos emocionais na adoração. Sem o ensino e a intervenção orientadora do Espírito de Profecia por meio de Ellen White, claramente o testemunho adventista da década de 1840 teria sido muito diferente.[126]
[1] A grafia varia: Damman, Dammon, or Damon.
[2] Spectrum, vol.17, no. 5, [Aug. 1987], 29-36.
[3] Ibid., 37-50.
[4] Ancestry.Com: “Israel Damon.”
[5] The World’s Crisis, Nov. 24, 1886, 90.
[6] Ibid., Dec. 15, 1886, 102.
[7] Wellcome, Isaac, History of the Second Advent Message and Mission, Doctrine and People, Yarmouth, ME, 1874, p. 350; The World’s Crisis, December 15, 1886, 102.
[8] Wellcome, Ibid.; ver também G. H. Wallace, “Memories of Israel Damman,” The World’s Crisis, January 24, 1904, 14; Ellen G. White to J. N. Loughborough, August 24, 1874, Letter 2, 1874, 7.
[9] Ancestry.Com: “Israel Damon.”
[10] U.S. Federal Census; 1850, Penobscot County, Corinna Township, Maine, 65; U. S. Federal Census, 1860, Piscataquis County, Sangerville, Maine, 929.
[11] Israel Dammon, “Letter from Bro. Dammon,” The Jubilee Standard, June 5, 1844, 104.
[12] Israel Dammon, “Letter from Bro. Dammon,” The Jubilee Standard, June 5, 1844, 104; Ellen G. White to Joseph Bates, July 13, 1847, Letter 3, 1847; Merlin Burt, The Historical Background, Interconnected Development, and Integration of the Doctrines of the Sanctuary, the Sabbath, and Ellen G. White’s Role in Sabbatarian Adventism from 1844 to 1849, Ph.D. diss, Andrews University Seventh-day Adventist Theological Seminary, December 2002, 131.
[13] Burt, Ibid.
[14] “Trial of Elder I. Dammon: Reported for the Piscataquis Farmer,” Piscataquis Farmer [Dover, Maine], March 7, 1845, 1; Ellen G. White, Spiritual Gifts, 1860, 2:40, 41.
[15] “Trial of Elder I. Dammon: Reported for the Piscataquis Farmer,” Piscataquis Farmer, March 7, 1845, 1, 2 (todas as citações ao relato escrito pelo reporter de jornal para o Piscataquis Famer serão de uma reimpressão editorada por Frederick Hoyt, “Trial of I. Dammon Reported for the Piscataquis Farmer,” Spectrum, vol. 17, no. 5 [August 1987], 29-36.) Para essa referência, ver Hoyt 32, testemunho de James Ayer, Jr., início no final da col. 1; “The Horrors of Millerism: Trial of Israel Dammon,” Eastern Argus [Portland], March 13, 1845; “The Fruits of Millerism,” New-York Observer, March 22, 1845, 47.
[16] Hoyt, op cit., 29. Ver comentários de abertura no final da col. 1 e topo da col. 2.
[17] Ibid., ver comentários no final da col. 2 e início da col. 3.
[18] Ibid., 30. Ver testemunho da testemunha de acusação do Dr. William C. Crosby, no topo da col. 2; Ibid., 31. Ver testemunho da testemunha de acusação Dea. James Rowe no meio da col. 2; Ibid., 31. Ver testemunho da testemunha de acusação Joseph Moulton [o cherife] ao final da col. 3; A testemunha de defesa, Joel Doore, relembrou “que não era nem 10% do barulho no sábado à noite, comparado ao barulho que acontece geralmente nas reuniões que eu frequento”. Ibid., 33. Ver testemunho de Joel Doore a cerca de três quintos do fim da col. 2.
[19] Ibid., 30. Ver testemunho da testemunha de acusação Loton Lambert no topo da col 3; Ibid., 32. Ver testemunho de James Ayer Jr., cerca de quatro quintos do fim da col. 2; Ibid., 34. Ver testemunho de Joshua Burnham na metade da col. 2.
[20] Ibid., embora nem sempre em concordância, várias testemunhas de acusação e defesa discutem as atividades de Ellen Harmon, Tiago White e Dorinda Baker ao longo de todo o relato do julgamento.
[21] Ibid., 35. Ver comentários do prisioneiro [Israel Damman] no fim da col. 2 e topo da col. 3.
[22] Ibid., 32. Ver testemunho de James Ayer Jr. sob interrogatório no final da col. 2; .Ibid., 33. Ver testemunho de Jacob Mason cerca de um terço do final da col. 1; Ibid., 34. Ver testemunho de Joshua Burnham no meio da col. 2. Não é surpresa que algumas testemunhas já conheciam Dorinda Baker, mas que nenhuma delas conhecia Ellen Harmon. Atkinson fica a apenas 56 km de Orrington, Maine, onde Dorinda morava, mas fica a 264 km de Portland, Maine, onde Ellen morava.
[23] Ibid., 33. Ver testemunho do interrogatório de Joel Doore no final da col. 2; Ibid., 33. Ver testemunho de George S. Woodbury cerca de quatro quintos do final da col. 3.
[24] Ibid., 30. Ver testemunho da testemunha de acusação Loton Lambert cerca de um terço do final da col. 3; Ibid., 32. Ver testemunho de James Ayer Jr. no final da col. 1 refutando Lambert. Ibid., 32. Ver testemunho do interrogatório de James Ayer Jr. no meio da col. 2; Ibid., 32. Ver também testemunho da testemunha de defesa Isley Osborn no meio da col. 3; Ibid., 34. Ver testemunho da testemunha de defesa John Gallison no meio da col. 1.
[25] Ibid., 30, 31. Ver testemunho de Loton Lambert no final da col. 3 na p. 30 e topo da col. 1 na p. 31; Ibid., 32. Ver testemunho de James Ayer Jr. no topo da col. 2; Ibid., 33. Ver testemunho de Jacob Mason na col. 1; Ibid., 33. Ver testemunho de George S. Woodbury na metade final da col. 3; Ibid., 34. Ver testemunho de Abel S. Boobar iniciando no final da col. 1 e continuando no final da col. 2; Ibid., 34. Ver novo interrogatório de Loton Lambert no final da col. 3; Ibid., 34, 35. Ver testemunho de novo interrogatório de Leonard Downes no final da col. 3 na p. 34 e topo da col. 1 na p. 35; Ibid., 35. Ver testemunho do novo interrogatório de Thomas Proctor no topo da col. 1; Ibid., 35. Ver testemunho do novo interrogatório de Dr. A. S. Bartlett na metade da col. 1; Ibid., 35. Ver testemunho de Levi M. Moore na metade da col. 2; Ibid., 35. Ver testemunho de Joel Doore Jr. na metade da col. 2; Ibid. 35. Ver testemunho de James Boobar na metade inferior da col. 2.
[26] Ibid., 30. Ver vários locais no testemunho de Loton Lambert na col. 3; Ibid., 31. Ver interrogatório de Loton Lambert na metade da col. 1; Ibid., 32. Ver testemunho de Job Moody no final da col. 2; Ibid., 32. Ver testemunho de Isley Osborn na metade da col. 3; Ibid., 33. Ver testemunho de Jacob Mason na metade da col. 1; Ibid., 33. Ver testemunho de Joel Doore no topo da col. 2; Ibid., 34. Ver testemunho de John Gallison cerca de um terço ao final da col. 1.
[27] Ibid., 31. Ver testemunho de Loton Lambert no topo da col. 1; Ibid., 32. Ver testemunho de James Ayer Jr. no topo da col. 3; Ibid., 33. Ver testemunho de Joel Doore na col. 2.
[28] Ibid., 31. Ver testemunho de Loton Lambert em vários locais na col. 1; Ibid., 33. Ver testemunho do interrogatório de Isley Osborn cerca de dois terços ao final da col. 3; ibid., 33. Ver testemunho de George S. Woodbury no final da col. 3; Ibid., 34. Ver testemunho do interrogatório de John Gallison cerca de dois terços ao final da col. 1.
[29] Ibid., 30. Ver testemunho da testemunha de acusação J. W. E. Harvey cerca da segunda metade da col. 1; Ibid., 31. Ver comentário feito por Ebenezer Trundy no topo da col. 3, descrevendo o relato de Damman de que o Sr. Boobar “deveria viver às custas dos que tinham propriedades, e se Deus não viesse, então deveríamos trabalhar todos juntos”.; Ibid., 33. Ver testemunho de George S. Woodbury cerca de três quintos ao final da col. 3; Ibid., 35. Ver testemunho do prisioneiro [Israel Damman] no topo da col. 3.
[30] Ibid., 30. Ver testemunho de Loton Lambert na segunda metade da col. 3; e no final da col. 3; Ibid., 32. Ver testemunho do interrogatório de Isley Osborn na segunda metade da col. 3; Ibid., 33. Ver testemunho de George S. Woodbury no final da col. 3.
[31] “Hell,” The Complete Published Writings of Ellen G. White, ver também Ellen G. White to J. N. Loughborough, August 24, 1874, Letter 2, 1874, 1; e Robert W. Olson to “The White Estate Board of Trustees, White Estate Staff, Research Center Directors,” October 5, 1987, revised, October 21, 1987, 3, 4.
[32] Hoyt, op cit., 31. Ver testemunho de Joseph Moulton [o cherife] na metade da col. 3.
[33] Ellen G. White, Spiritual Gifts, 1860, 2:40, 41; Ellen G. White, “Notes from a Talk with Mrs. E. G. White, Dec. 12, 1906,” EGWE-GC, DF 733-c, 2 (3).
[34] Ellen G. White, Spiritual Gifts, 1860, 2:302.
[35] Israel Dammon, “Letter from Bro. Dammon,” The Jubilee Standard, June 5, 1845, 104.
[36] Ellen G. White, Spiritual Gifts, 1860, 2:42, 43.
[37] “Warning to Adventists,” The Morning Watch, April 3, 1845, 111.
[38] “State vs Damon,” Penobscot County Court Records, April 8, 1845, April 25, 1845, e April 26, 1845. Damon cita que ele esteve no tribunal por cinco vezes. Ver Israel Dammon, “Letter from Bro. Dammon,” The Jubilee Standard, June 5, 1845, 104.
[39] Ellen G. White to J. N. Loughborough, August 24, 1874, Letter 2, 1874, 6, 7, 9.
[40] Defense of Elder James White and Wife. Vindications of their Moral and Christian Character, 1870, 109-111.
[41] J. N. Loughborough, Rise and Progress of the Seventh-day Adventists, Battle Creek, Mich.: General Conference of Seventh-day Adventists, 1892, 129, 130; W. C. White to Mrs. Mabel Workman, July 23, 1937, 1, 2.
[42] Miles Grant, The True Sabbath. Which Day Shall We Keep? An Explanation of Mrs. Ellen G. White’s Visions, Boston: Advent Christian Publication Society, 1874, 70.
[43] Ellen G. White, “Statement Regarding Israel Dammon,” circa 1876, Manuscript 7, 1876.
[44] Ellen G. White, Spiritual Gifts, 1860, 2:35.
[45] Ellen G. White, Life Sketches, 1915, 72; Arthur L. White, Ellen G. White: the Early Years 1827-1862, 65.
[46] Carta de John Megquier citada por Miles Grant em “Visions and Prophecies,” The World’s Crisis, July 1, 1874. O nome de Megquier às vezes é grafado como Megquier, McGuire ou Macguire.
[47] Ellen G. White, Spiritual Gifts, 1860, 2:35.
[48] Arthur L. White, Ellen G. White: the Early Years 1827-1862, 69; Ellen White relembraria depois que essa foi a primeira vez que ela se encontrou com Tiago White. Ver Spiritual Gifts, 1860, 2:38; Life Sketches. Ancestry, Early Life, Christian Experience, and Extensive Labors, of Elder James White, and His Wife, Mrs. Ellen G. White, 1880, 197; Life Sketches, 1915, 73. Contudo, Tiago White se lembra de conhecer Ellen White cerca de dois anos antes quando ele estava em Portland, Maine. Ver Life Sketches, 1880, 126; Arthur L. White, Ibid., 71. Já mais no final da sua vida, em uma entrevista com data de 12 de dezembro de 1906, Ellen White disse: “Fui introduzida a Tiago White na casa dos Pearsons em Portland.” White Estate Document File 733-c.
[49] Frederick Hoyt, ed., “Trial of Elder I Dammon Reported for the Piscataquis Farmer,” Spectrum, vol. 17, no. 5 [Aug. 1987], p. 33, col 1. Ver relatos das testemunhas Abraham Pease e Gardner Farmer.
[50] Israel Dammon, “Letter from Bro. Dammon,” The Jubilee Standard, June 5, 1844, 104.
[51] Burt, op cit., 130; ver também Arthur L. White, op cit., 78.
[52] Israel Dammon, “Letter from Bro. Dammon,” The Jubilee Standard, June 5, 1844, 104; Ellen G. White to Joseph Bates, July 13, 1847, Letter 3, 1847; Burt, op cit., 131.
[53] Ellen G. White, Spiritual Gifts, 1860, 2:39, 40; Arthur L. White, op cit., 77.
[54] Matthew 18:1-6.
[55] M. C. Stowell Crawford, “Extracts from Letter of M S Crawford to WCW,” anexa ao final da sua carta para Ellen G. White, datada de 9 de outubro de 1908, DF 439.
[56] Fragmento de entrevista com Ellen G. White, ca. 1906, DF 733-c.
[57] Provavelmente Dorinda Baker ou Mary Hamlin, ver carta de M. C. Stowell Crawford para Ellen G. White, October 9, 1908, 5, DF 439; ver também Merlin Burt, op cit., 2002, 148.
[58] Parte da entrevista de Ellen White, ca. 1906, 5, DF 733-c.
[59] Herbert E. Douglass, Messenger of the Lord, 1998, 474. Ver metade superior da col. 1.
[60] Embora Ellen White tenha se lembrado especificamente de ter de lidar com alguns fanáticos em Exeter, Maine, no início de fevereiro de 1845 [ver Spiritual Gifts, 1860, 2:39, 40] e novamente algum tempo depois com um pequeno grupo de fanáticos em Claremont, New Hampshire [Ibid., 46-48], parece que foi em Springfield, New Hampshire, que ela recebeu sua primeira visão que instruísse especificamente sobre o prejuízo que o fanatismo estava causando na obra de Deus, e que ela deveria voltar para o Maine a fim de testemunhar contra isso [ver Ellen G. White, Life Sketches Manuscript (não publicado), 126, 127].
[61] Paralelos óbvios incluem:
- Várias testemunhas declararam que a reunião do sábado à noite foi realizada para que tanto Ellen Harmon quanto Dorinda Baker pudessem relatar suas visões [Loton Lambert 30, col. 3; James Ayer, Jr., 32, col. 2; Joshua Burnham, 34, col. 2].
- Várias testemunhas de defesa declararam que as visões de ambas as mulheres eram genuínas [Joel Doore, 33, col. 2; George S. Woodbury, 33, col. 3].
- O conteúdo da mensagem de ambas as mulheres foi descrito por vários dos recipientes como sendo verdadeiro [James Ayer, Jr., 32, col. 2; Joel Doore, 32, col. 2; Isley Osborn, 32, col. 3; Jacob Mason, 33, col. 1; George S. Woodbury, 33, col. 3].
- Ambas as mulheres caíam ao chão quando em visão [Isley Osborn, 32, col. 3].
- Por pelo menos parte da noite, ambas as mulheres estiveram deitadas no chão [James Ayer, Jr., 32, cols. 1 e 2; Joel Doore, 33, col. 2; todas as testemunhas que disseram algo sobre o assunto concordam que Ellen Harmon esteve deitada no chão naquela noite].
Diferenças óbvias incluem:
- Onde as duas mulheres passaram aquela noite. Todos concordam que Ellen esteve deitada no chão, enquanto Dorinda passou parte da noite no quarto dos fundos da casa, embora mais cedo ela também tenha estado deitada no chão.
- As descrições das mulheres enquanto em visão também diferem. Ellen ficou deitada no chão silenciosamente, onde poderia ser observada por todos; Dorinda, por outro lado, esteve parte do tempo em um quarto, onde fez algum tipo de “exercício”.
- Embora diversas testemunhas de defesa tenham declarado crer na veracidade das visões de ambas as mulheres, é apenas quando descrevem especificamente as visões de Ellen White que elas de fato atribuem suas visões a Deus. Admito que esse é um argumento baseado no silêncio, mas eu acho curioso que na realidade ninguém tenha feito alguma observação do tipo ao falar especificamente sobre as visões de Dorinda.
- Ao que parece, Dorinda Baker compartilhou apenas uma mensagem provinda de visão naquela noite. Era destinada a Joel Doore. Por outro lado, reporta-se que Ellen Harmon teve várias. Além disso, o propósito dessas mensagens parece ter sido diferente. É possível perceber uma urgência nas visões de Ellen White que não parece estar presente na única mensagem de Dorinda para Doore. De modo semelhante, ao olhar para o conteúdo das mensagens, todas as de Ellen White envolviam algum aspecto da salvação eterna de um indivíduo. Não foi assim com Dorinda. Ela parecia preocupada porque Doore pensava “mal” dela.
- Embora tenham descrito Dorinda como estando envolvida no fazer barulho e beijos entre sexos, com a única exceção do apelo de Ellen a alguns pelo rebatismo, nenhuma testemunha a descreve como estando envolvida em atitudes fanáticas naquela noite: gritos, rastejar, engatinhar, lava-pés misto, beijar os pés, beijo entre sexos etc.
[62] John Francis Sprague, Sprague’s Journal of Maine History, X, January 1922 to January 1923, 4.
[63] Hoyt, op cit.., 29. See cols. 1 and 2.
[64] Ibid., 32. Ver testemunho de Benjamin Smith, Esq., Selectman of Atkinson, na col. 1.
[65] Ibid., 30, 33, 35. Ver testemunho de J. W. E. Harvey na col. 1 da p.30; George S. Woodbury na col. 3 da p. 33; e de Israel Damman na col. 3 da p. 35. Damman testificou sobre sua crença de que o fim do mundo aconteceria em uma semana.
[66] Ibid., 31, 33, 34. Ver testemunho de Ebenezer Trundy no topo da col. 3 na p. 31; e de George S. Woodbury no fim da col. 3 na p. 33 e topo da col. 1 na p. 34.
[67] Ibid., 31. Ver testemunho de Ebenezer Trundy no topo da col. 3.
[68] Ellen G. White, Spiritual Gifts, 1860, 2:80, 81.
[69] Hoyt, op cit., 31. Ver testemunho de Wm. C. Crosby, no meio da col. 2; e Joseph Moulton, no fim da col. 3.
[70] Ibid., 33. Ver testemunho de Joel Doore cerca de dois terços ao fim da col. 2.
[71] Ibid., 30. Ver testemunho de Wm. C. Crosby cerca de um terço ao fim da col. 2.
[72] Ibid., 30. Ver testemunho de Ebenezer Blethen cerca de um terço à Segunda metade da col. 1.
[73] Ibid., 30. Ver testemunho de Loton Lambert no topo da col. 3.
[74] Ibid., 32, 34. Ver testemunho de James Ayer Jr. próximo ao fim da col. 2 na p. 32. Além disso, embora Dorinda Baker tenha sido mencionada de forma específica por Joshua Burnham, e Ellen não, ainda sim pelo contexto de todas as descrições feitas pelas testemunhas no julgamento, parece provável que Burnham está se referindo a Ellen e não Dorinda no seu testemunho. Ver comentários de Burnham próximo ao meio da p. 34, col. 2.
[75] Ibid.
[76] Ellen G. White, “Suppression and the Shut Door,” Manuscript 4, 1883.
[77] Hoyt, op cit., 31. Ver testemunho de Wm. C. Crosby, novo interrogatório, topo da col. 2.
[78] Ibid., 30. Ver testemunho de Loton Lambert, final da col. 3.
[79] Ibid., 33. Ver testemunho de Jacob Mason cerca de dois terços ao final da col. 1; Ibid., 33. Ver testemunho de Joel Doore cerca de quatro quintos ao final da col. 2; Ibid., 33. Ver testemunho de George S. Woodbury cerca de dois terços ao final da col. 3; Ibid., 34. Ver testemunho de John Gallison, final da col. 1; Ibid., 32. Ver testemunho de Isley Osborn no meio da col. 3;
[80] Ibid., 33. Ver testemunho de Joel Doore, novo interrogatório, ao final da col. 2. Doore foi quem arranjou para que o advogado, J. S. Holmes, representasse Damman no julgamento.
[81] Ver Ellen G. White, Evangelism, 1946, 372-375; Ao que parece, naquela noite em Atkinson, uma das duas garotas batizadas já havia sido batizada anteriormente, mas a outra provavelmente não. Parece que em nenhum desses casos houve vários rebatismos múltiplos, como aconteceu em outros lugares entre alguns ex-mileritas.
[82] James White, Life Incidents, in Connection with the Great Advent Movement, as Illustrated by the Three Angels of Revelation XIV, 1868, 273.
[83] Arthur L. White, Ellen G. White: The Early Years 1827-1862, 1985, 121, 122.
[84] Hoyt, op cit., 31. Ver testemunho da testemunha de acusação Loton Lambert na primeira coluna da col. 1.
[85] James White, Life Incidents, 1868, 273.
[86] Hoyt, op cit., 30. Ver testemunho da testemunha de acusação Loton Lambert na metade da col. 3; Hoyt, Ibid., 32. Ver testemunho da testemunha de defesa Isley Osborn cerca de três quintos ao final da col. 3; Hoyt, Ibid., 33. Ver testemunho de George S. Woodbury cerca de dois terços ao final da col. 3.
[87] “Hell,” The Complete Published Writings of Ellen G. White on CD-ROM; ver também Ellen G. White to J. N. Loughborough, August 24, 1874, Letter 2, 1874, e Robert W. Olson to” The White Estate Board of Trustees, White Estate Staff, Research Center Directors,” October 5, 1987, revised, October 21, 1987, 3, 4.
[88] Douglass, op cit., 474. Ver final da col. 1 e topo da col. 2; ver também Ellen G. White, “The Doctrine of Eternal Punishment,” Life Sketches, 1915, 29, 30; e White, “The Immortality Question,” Ibid., 48-50.
[89] Hoyt, op cit., 32. Ver testemunho de James Ayer, Jr. cerca de um terço ao final da col. 2.
[90] Vision of January 12, 1861, Parkville, MI, Church. Ver Arthur L. White, op. cit., 463; Vision of January 3, 1875, at home in Battle Creek, Michigan. W. C.. White, Review and Herald, February 10, 1983, citado em Arthur L. White, Ellen G. White, the Progressive Years, 1862-1876, 459, 460.
[91] Hoyt, op cit., 30, 31. Ver testemunho de Loton Lambert no topo da col. 3 na p. 30 e meio da col. 1 na p. 31; Ibid., 32. Ver testemunho de Job Moody no final da col. 2; Ibid., 32. Ver testemunho de Isley Osborn no meio da col. 3; Ibid., 33. Ver testemunho de Jacob Mason no meio da col. 1; Ibid., 33. Ver testemunho de Joel Doore no topo da col. 2; Ibid., 34. Ver testemunho de John Gallison cerca de um terço ao fim da col. 1; Rochester, NY, June 26, 1854. Ver também testemunho de D. H. Lamson citado em J. N. Loughborough, The Great Second Advent, 1905, 207.
[92] Vision of June 12, 1868, “Camp Meeting Talks,” Nellie Sisley Boyd, quoted in Arthur L. White, Ellen G. White, the Progressive Years, 1862-1876, 1986, 233, 235.
[93] Martha D. Amadon, Mrs. E. G. White in Vision, undated pamphlet, 1.
[94] Hoyt, op cit., 32. Ver testemunho de James Ayer, Jr. na col. 2 cerca de dois terços ao final.
[95] Ibid., 30. Ver testemunho de Loton Lambert ao final da col. 3.
[96] Há uma possível exceção quanto à alegação de Ellen ser chamada de “imitação de Cristo”. Uma outra testemunha de acusação, Leonard Downes, amigo de Lambert e que estava na reunião com ele, talvez tenha concordado com tal alegação. Não sabemos com certeza, uma vez que o repórter não copiou os comentários de Downes em sua totalidade porque “seu testemunho era uma repetição tão parecida com a fala do Sr. Lamberts que considero sem propósito reproduzi-la.” [Hoyt., op cit., 31. Ver testemunho de Leonard Downes no final da col. 1 e início da col. 2.] Como mencionado, todas as outras testemunhas que falaram sobre o assunto discordaram da afirmação de Lambert. E como Lambert disse diversas outras coisas no seu testemunho, possivelmente nem o próprio Downes concordava com Lambert nesse ponto específico; nós nunca saberemos de fato.
[97] Ainda mais improvável é que Lambert tenha ouvido falar do livro The Imitation of Christ (ca. 1425), de Thoms a Kempis’ (1380-1471), e pensado que Ellen estava sendo chamada assim.
[98] Reconhecidamente, Lambert diz que Damman a chamou de “imitação de Cristo” várias vezes, assim como outras pessoas (Hoyt, Ibid., 31: Ver novo interrogatório de Lambert cerca de dois terços ao fim da col. 1). Dado o fato de que todas as testemunhas de defesa que abordaram o assunto negaram a alegação de Lambert, é possível que ele tenha simplesmente inventado essa afirmação em vez de ter se enganado. Mas prefiro pensar que ele apenas ouviu errado.
[99] Miller mudou sua visão sobre a porta fechada em 8 ou 9 de março de 1845. Ver Burt, op cit., 89.
[100] Ellen G. White to J. N. Loughborough, August 26, 1874, Letter 2, 1874, 1.
[101] Hoyt, op cit., 32. Ver testemunho de James Ayer, Jr. ao final da col. 1.
[102] Ibid., 32. Ver testemunho de Isley Osborne na metade da col. 3.
[103] Ibid., 33. Ver testemunho de Joel Doore no topo da col. 2.
[104] Ibid., 33. Ver testemunho de Jacob Mason na primeira metade da col. 1. Ver também testemunho de Job Moody, Ibid., 32, no final da col. 2. Moody testemunhou: “O irmão Dammon disse em relação às outras igrejas que elas eram bem ímpias; disse que eram corruptas. […]–disse sim que eram ladrões etc. Não tenho certeza, mas acho que ele disse naquela noite que havia exceções.”
[105] Ibid., 35. Ver testemunho de Joel Doore Jr. cerca de um terço ao fim da col. 2.
[106] Ibid., 35. Ver testemunho do prisioneiro [Israel Dammon] no início da col. 3.
[107] Ellen G. White to J. N. Loughborough, August 24, 1874, Letter 2, 1874, 1; ver também Ellen G. White, “Suppression and the Shut Door,” Manuscript 4, 1883, 4.
[108] Hoyt, op. cit., 33. Ver testemunho de Joel Doore ao final da col. 2. Reconhecidamente, no novo interrogatório, Doore se refere tanto a Dorinda Baker quanto Ellen Harmon. No entanto, uma vez que a frase citada se segue imediatamente após seu comentário sobre a “Srta. Hammond” (sic.), é presumível que ele esteja falando sobre ela. Se ele quisesse se referir às duas mulheres, suponho que teria usado “elas” em ves de “ela” na declaração.
[109] Ellen G. White, Spiritual Gifts, 1860, 2:40, 41.
[110] Hoyt, op cit., 32. Ver testemunho de Joseph Moulton na segunda metade da col. 2.
[111] Ellen G. White, ibid.; Hoyt, ibid.
[112] Hoyt, Ibid., 31. Ver testemunho do diácono James Rowe no meio da col. 2.
[113] Ellen G. White, Spiritual Gifts, 1860, 2:40-42.
[114] Ellen G. White, “Portion of narrative related by E.G.W.” 7. DF 733-c.
[115] Ellen G. White, “Notes from a talk with Mrs. E. G. White, Dec. 12, 1906,” 2. DF 733-c.
[116] Ellen G. White, Life Sketches, 1915, 59.
[117] Ellen G. White, Spiritual Gifts, 1860, 2:12.
[118] James White and Ellen G. White, Ancestry, Early Life, Christian Experience, and Extensive Labors, of Elder James White, and His Wife, Mrs. Ellen G. White, 1888, 143, 144.
[119] Ibid., 164; ver também Ellen G. White, unpublished Life Sketches Manuscript, 48.
[120] Ellen G. White, Spiritual Gifts, 1860, 2:40.
[121] J. O. Corliss, “The Message and Its Friends–No. 5,” Review and Herald, September 6, 1923, 7; citado em James R. Nix, Sacrifice and Commitment, 2000, 107, 108.
[122] Ellen G. White, Testimonies for the Church, vol. 1, 266, 267.
[123] W. W. Blackford, War Years with Jeb Stuart, 1946, 32-35.
[124] As frases das placas explicativas do tour a pé no Parque Histórico Nacional de Manassas foram copiadas em uma visita ao campo de batalha em 3 de setembro de 2001.
[125] Ellen G. White to J. N. Loughborough, August 24, 1874, Letter 2, 1874, 2, 7.
[126] Douglass, op cit., 474, 475.