por George I. Butler
Introdução
Os velhos adventistas de 1844 estão acabando rapidamente. Só um punhadinho permanece entre nós. A grande massa de nosso povo não estão pessoalmente familiarizados com os fatos relacionados à passagem do tempo, o curto período de confusão que se seguiu antes do surgimento da terceira mensagem angélica, e os eventos ligados ao princípio de sua história. Eles sabem pouco quanto ao que ficou conhecido como a “doutrina da porta fechada” ou às causas que levaram a ela. Há agora poucos colaboradores públicos entre nós que estão pessoalmente familiarizados com estes fatos. O Pai Bates, os pastores White e Andrews, e vários outros que trabalharam como oradores públicos já se foram.
Contudo há fatos do mais profundo interesse ligados a esse interessante período, que têm conexão vital com nossa obra presente. Esta mensagem está ligada a toda essa experiência por laços indissolúveis. Se aquela experiência do advento não era de Deus, esta também não o é. Se aquele foi um movimento fanático, este também o deve ser. Mas se aquela primeira mensagem foi verdadeiramente um movimento profético, certamente esta mensagem também o é. Estas mensagens constituem uma única série. Ou juntas permanecem de pé ou juntas caem. Nossos oponentes fazem desesperados esforços para mostrar que alguns grandes erros e equívocos estavam ligados à obra após a passagem do tempo, esperando assim arruinar todo o movimento. Já houve mais tinta gasta neste assunto em seus vãos esforços do que quase em qualquer outro.
Esse período de nossa história sempre será de interesse absorvente para todos os crentes nesta mensagem. A experiência do povo de Deus naquele tempo foi uma das mais probantes que qualquer grupo religioso já passou ao longo dos séculos. Desde criança este autor foi criado em meio à experiência do Advento.
Por estarmos com dez anos de idade por ocasião da passagem do tempo em 1844, lembramo-nos dos eventos dos anos seguintes tão bem quanto de quase qualquer outro em nossa vida. Nesse período da vida as impressões permanecem mais profundamente gravadas na memória. E por termos nos familiarizado com a terceira mensagem angélica quando talvez não houvesse mais de cinqüenta observadores do sábado no mundo, temos tido extenso conhecimento dos fatos ligados ao princípio de sua história.
Após falarmos recentemente sobre estes assuntos na igreja do Tabernáculo, fomos solicitados escrever para a “Review” alguns dos fatos relacionados a este interessante período da história adventista. Esperamos que isto não só seja de interesse para os leitores da “Review”, mas que também aumente a confiança deles na correção de nossa posição, e sirva como defesa quando nossos inimigos tentarem demovê-los da fé nesta sagrada obra. Estamos seguros, por experiência pessoal, que não temos nada a temer de uma minuciosa investigação do princípio da história adventista. Quanto mais minuciosamente ela for investigada, melhor será para a causa; é apenas um conhecimento parcial dos fatos que precisamos temer. Quando compreendemos todos os fatos ligados à “doutrina da porta fechada”, como é chamada, não encontramos nada do qual precisemos nos envergonhar.
Os crentes na breve volta de Cristo foram severa e amargamente desapontados ao não verem o Senhor em 1844. Ficaram por algum tempo confusos. Dúvidas e questionamentos deixaram os verdadeiros crentes dolorosamente perplexos. Alguns, de quem se esperavam coisas melhores, renunciaram a sua fé, e muitos voltaram para o mundo. Foi um tempo de grande provação para eles. Mas quando surgiu a luz da terceira mensagem, voltaram a se orientar e o passado foi esclarecido. É moralmente impossível para aqueles que ficam sabendo destes fatos da experiência do Advento pelo relato de outras pessoas, compreenderem-nos com a mesma intensidade que aqueles que os experimentaram pessoalmente. Podemos crer nas palavras daqueles que nos falam destas coisas, contudo elas não são tão reais como se as tivéssemos visto e tivéssemos sentido as emoções dos que passaram por elas.
Nosso grande perigo como um povo é que não participemos pela fé do espírito adventista manifestado naquele tempo, e que recebamos em seu lugar um espírito mundano, indiferente, descuidado, que permeia o cristianismo.
Quanto nos regozijaríamos de ver manifesto entre nós mais do fogo e da intensidade do interesse adventista visto em 1844. Desejamos essa experiência revivida em nosso meio. Desejamos que esse espírito de sacrifício dê vida e impulso à obra. Com a gloriosa teoria da verdade que possuímos, se este espírito estivesse permeando todo o corpo, logo ouviríamos o alto clamor da mensagem em todas as direções. Exatamente aqui está o elemento que está faltando.Esperamos dar uma pálida idéia aos leitores da “Review” do que ocorreu naquele interessante período.
Fonte: Review and Herald, 10 de fevereiro de 1885.
“Antes da Passagem do Tempo em 1844”
Os adventistas nunca podem esquecer as experiências desse ano. Nada de natureza semelhante foi jamais observado na história desse povo. O Pai Miller já estava trabalhando há uns dez anos na proclamação das evidências da breve volta de Cristo.
Outros obreiros preeminentes haviam se associado a ele na obra. Durante dois ou três anos antes de 1844, a doutrina vinha atraindo grande atenção. Era comentada nos jornais, e os colaboradores adventistas eram em toda parte bem-vindos nas igrejas ortodoxas, pois grandes reavivamentos se seguiam a seus labores. Os cristãos mais fervorosos das várias seitas eram favoráveis à doutrina, e amavam o espírito que a acompanhava. Eruditos e teólogos eminentes davam atenção a ela escrevendo artigos que eram impressos nos principais jornais, alguns da mesma classe de pessoas que se opunham à doutrina. Mas as respostas de seus defensores eram consideradas triunfantemente bem-sucedidas, e certamente a oposição só aumentava a intensidade do interesse.
À medida que o tempo se aproximava, a influência do movimento foi se tornando mais extensa. Era o assunto geral de interesse – o principal tópico de conversação através de extensas partes do país. O interesse mais intenso prevalecia entre os próprios adventistas. Os argumentos apresentados pelo Sr. Miller e seus colaboradores pareciam tão claros para eles que tinham perfeita confiança que tinham perfeita confiança em que a vinda do Senhor estava de fato exatamente diante deles. Sentiam em sua alma que iriam contemplar o Senhor num futuro muito próximo.
Mal podemos compreender, nesta época de fria formalidade, o espírito de trabalho em prol dos inconversos, e o interesse sentido pela salvação de almas. O poder do Espírito de Deus estava presente em suas reuniões, de forma que muitos que vinham por mera curiosidade ou como escarnecedores, eram levados a se entregar a Deus e a se humilharem, confessando seus pecados com o mais profundo arrependimento e amargo choro, e depois a se regozijarem de todo o coração quando o Senhor derramava Sua bênção sobre eles. É pouco provável que qualquer pessoa que ouvisse os cânticos naquele tempo se esquecesse deles. Parecia haver um poder peculiarmente solene e penetrante, uma doçura celestial que encantava o ouvinte e abrandava o coração. Muitos iam para as reuniões para ouvir os cânticos. A pregação era muito solene, e foi-se tornando cada vez mais solene à medida em que o tempo se aproximava. A obra prosseguiu com grande poder em 1843 e 1844, em todas as direções, especialmente nos estados do leste deste país. Temos abundantes evidências para mostrar que ela se estendeu mais ou menos a todas as partes do mundo. Não procuraremos neste artigo dar um relato geral ou passo a passo da obra da primeira mensagem durante esse interessante período. Éramos muito jovens para ter mais do que um conhecimento local. A biografia do Pai Miller apresentará muitos fatos interessantes, e também os excelentes livros do pastor White, “Life Incidents” ou “Life Sketches”, que estão à venda em nossos escritórios e depósitos. Cremos que todos os leitores da “Review” devem examinar estas obras. Todos os que são crentes na presente obra devem estar completamente familiarizados com a primeira mensagem angélica. Mencionaremos apenas algumas coisas que observamos pessoalmente.
Lembramo-nos distintamente de uma série de sermões adventistas feita por Columbus Green em Waterbury, Vermont, cremos que no princípio de 1843. Foram apresentados na igreja metodista da aldeia. Nunca conseguirei me esquecer da impressão de solenidade daquelas reuniões e da pregação do Sr. Green, embora fosse na época só um garoto. O recinto estava lotado de pessoas, e havia um silêncio sepulcral exceto pela voz do orador. Seu semblante estava muito pálido e suas palavras tinham a solenidade do Juízo enquanto ele discursava sobre os falsos pastores e sua terrível sorte no Dia do Senhor. Enquanto o orador estava retratando estas coisas em ardentes palavras, o Sr. Stone, o ministro congregacionalista do local, o qual não tinha nenhuma apreciação pela doutrina do Advento, se levantou no meio do auditório, com olhar de desafio, e ficou de pé como se aceitasse que as observações se aplicavam a ele próprio. O Sr. Green falou ainda mais fervorosamente, e com linguagem terrivelmente precisa descreveu a sorte que aguardava os que pertenciam àquela classe de falsos pastores. Embora mais de quarenta anos tenham se passado, a cena é tão vívida como se tivesse acontecido ontem. Também nos lembramos distintamente de uma reunião campal realizada pelos adventistas em Cabot, Vermont, à qual meus pais estavam presentes. O pastor Shipman e um grande número de outros destacados pregadores estavam ali. Foi uma reunião muito grande. Lembramo-nos da pregação feita da grande plataforma no bosque, e do mar de cabeças com o rosto voltado para cima em fervor e solenidade. Lembramo-nos muito distintamente das pequenas reuniões nas tendas, e do fervoroso labor pelas almas durante essas reuniões que se realizavam no intervalo regular dos cultos.
Diferentemente de nossas reuniões campais, quase o tempo todo entre os cultos regulares era preenchido pelas reuniões nas pequenas tendas. Alguém começava a orar ou cantar, e vários começavam a se unir a este. Trabalhava-se em favor de alguma alma que ainda estava nas trevas, e fervoroso clamor subia a Deus em seu favor, até que a pessoa se entregava e buscava a Deus por si mesma; quando vinha a vitória, havia grande regozijo. Havia confissões mais cabais e sinceras do que geralmente vemos hoje em dia. Estas reuniões continuavam em muitos lugares, e muitas almas eram convertidas desta maneira. Podia-se sair para o bosque bem cedo e se veriam muitas pessoas ajoelhadas aqui e ali, orando fervorosamente pela bênção de Deus. A voz de orações podia ser ouvida em muitas direções. Havia total ausência de leviandade e de conversação trivial. Fervor, devoção e amor pela vinda de Cristo estavam presentes em toda parte. Oh! Que mais destas coisas prevalecessem em nossa época. Lembro-me das reuniões que ocorreram justo antes da passagem do tempo. Em minha cidade natal os adventistas não tinham um local próprio para suas reuniões. Então adaptaram um grande salão no andar superior da fábrica de amido de propriedade de “Parker e Butler”, ambos diáconos da igreja batista e zelosos adventistas. Ali se realizavam reuniões constantemente, e grandes multidões afluíam. Pouco antes da passagem do tempo realizavam-se reuniões quase o tempo todo. A maioria dos crentes deixou suas colheitas nos campos sem serem realizadas, dando aos pobres liberdade para suprir suas necessidades. Achavam que era uma negação de sua fé armazenarem mantimentos para outra estação quando criam que o Senhor voltaria dentro de poucas semanas.
Lembramo-nos de um fazendeiro rico e muito econômico que tinha um grande pomar. Ele foi ao pomar pouco antes da passagem do tempo, e vendo muitas maçãs no chão, juntou-as e as colocou dentro de casa. À noite sua consciência o perturbou tanto pelo que ele havia feito, que ele se levantou e as jogou para fora. Este foi, sem dúvida, um caso extremo. Mas mostra algo da intensidade do espírito que prevalecia. O tempo marcado chegou na última semana de outubro. Quase nenhum crente desenterrou suas batatas naquele ano até que o solo se congelou; mas sofreram pouca perda com isso, pois o tempo continuou ameno. As batatas colhidas cedo naquele ano apodreceram, enquanto que as que foram deixadas na terra até mais tarde foram salvas. Pouco antes da passagem do tempo, as reuniões se realizavam constantemente. Não havia excitação fanática entre os crentes onde eu estava, mas um sentimento muito solene e humilde, sendo que cada um estava ansioso sobre como seu caso estaria no Juízo. As pessoas se tornaram muito honestas naquela época. Eram confessados pecados que ninguém sonhava houvessem sido cometidos. Muitos que haviam pensado que o batismo por aspersão era tão bom quanto o por imersão, acharam que era melhor descer às águas como seu Senhor fez, embora não tivesse sido feito nenhum esforço especial para que fizessem isto. Coisas que antes ninguém conseguia fazer com que as pessoas cressem, elas passaram a ver sem necessidade de muitos argumentos. Não havia quaisquer “túnicas de ascensão” ou qualquer tolice semelhante. Mas muitos estavam ansiosos de ter túnicas de caráter que passassem no teste do Julgamento. Durante a noite da passagem do tempo, as reuniões continuaram durante toda a noite. Havia um bêbado barulhento gemendo pelas redondezas, e tornando a noite assustadora.
Mas os crentes estavam orando fervorosamente para que Deus os guardasse, escudasse e salvasse. Se jamais os homens deram evidência de honestidade e verdadeira fé, o fizeram então. Todo o seu coração estava na obra. Esperavam que a porta da graça estivesse se fechando. Lágrimas e fervorosos apelos pedindo a aceitação de Deus eram ouvidos por toda parte. Mas a manhã chegou, o Senhor não veio. Mesmo assim, muitos continuaram a esperá-Lo por dias. Mas logo todos perceberam que haviam sido desapontados, e seu coração ficou muito triste. Só quem pode compreender o amargor deste desapontamento foi quem passou por ele.
Fonte: Review and Herald, 17 de fevereiro de 1885.
“O Amargo Desapontamento que se Seguiu à Passagem do Tempo”
A transição das gloriosas e comoventes experiências dos poucos meses anteriores à passagem do tempo para as amargas realidades do desapontamento foi muito grande.
Ninguém pode compreendê-la exceto aqueles que passaram por ela. Antes da passagem do tempo os adventistas atraíam a atenção por onde iam. Grandes congregações assistiam a suas pregações. A imprensa estava cheia de notícias sobre o trabalho deles, e eles eram vistos por todos os observadores. As pessoas estavam em maior ou menor grau convencidas de que havia verdade no que pregavam, e muitos sentiam um certo grau de ansiedade pela hipótese de que tudo aquilo pudesse ser verdade. A última classe achava que devia observar o assunto minuciosamente.
Mas quando o tempo passou, tudo mudou. Os que não tiveram fé no movimento sentiram-se, é claro, triunfantes. “Eu disse!” “Vocês eram um bando de tolos e fanáticos!” e expressões semelhantes, eram comuns. Os que haviam temido que a doutrina pudesse ser verdadeira agora estavam, é claro, muito longe de achar isso, e mostravam zelo extra em denunciá-la, agora que o tempo havia passado. Um grande número que havia professado crer nela lhe deram as costas logo que possível, e lançaram sua influência com os inimigos dos fiéis.
As mais ridículas e tolas histórias sobre os adventistas vieram à tona, e eram ditas com tanta confiança que muitos acreditavam serem verdadeiras. Foi aí que se originou a história do “manto da ascensão”, logo depois da passagem do tempo, quando se cria em quase tudo de ruim sobre esta pobre classe desprezada. Nunca houve uma mentira mais ridícula e vergonhosa do que esta. Qualquer pessoa que estivesse realmente familiarizada com a crença desse povo sabia que nada poderia ter sido mais contrário aos verdadeiros conceitos da vinda de Cristo do que supor que o fato de colocarem qualquer tipo de veste exterior teria qualquer influência sobre sua salvação. Eles esperavam ser transformados num momento da mortalidade para a imortalidade. O que a forma da veste poderia ter a ver com isto? Durante semanas após isto em alguns lugares era muito desagradável sair em público. Os meninos nas ruas gritavam: “Quando você vai subir?” “Você não subiu ainda!” e exclamações semelhantes. Os pobres crentes foram de fato desprezados e olhados por cima, e considerados os mais tolos dos homens. Mas o que lhes era mais difícil suportar era o fato de que eles próprios não conseguiam entender a razão do desapontamento. Em vez de serem levados para as mansões do alto, foram deixados à mercê de inimigos ímpios e professos cristãos formais, que olhavam para eles como tolos fanáticos. Mas o que podiam eles dizer? Como podiam enfrentar a onda de censura que vinha de todas as direções? Não podiam explicar o assunto. Este lhes parecia completamente escuro. Havia os mesmos gloriosos argumentos nos quais sua alma se havia regozijado. Não conseguiam ver uma única falha neles; mas o Senhor não tinha voltado. Eles achavam que não iria demorar muito, mas não tinham qualquer evidência sobre a qual sua alma podia se ancorar. Estavam em dúvida. Muitos de seus irmãos vacilaram, e alguns voltaram para as igrejas que haviam deixado quando o clamor de “Caiu Babilônia!” soara alguns meses antes. Mas houve muitos que jamais poderiam fazer isto. Sentiam que Deus os havia guiado, e renunciar a sua experiência do Advento era para eles como o renunciar a tudo em sua experiência cristã. Não haviam seguido a Palavra de Deus o melhor que podiam? Não haviam visto os prometidos frutos do Espírito em conexão com a obra? As mesmas evidências ainda não continuavam claras como sempre? Para onde podiam voltar? Para um mundo ímpio? Para uma igreja formal, fria, opositora, que odiava a doutrina que lhes parecia gloriosa? Não! Não podiam fazer isto. Precisavam se conservar onde estavam até que Deus lhes desse luz para prosseguir adiante. Houve alguns textos da Escritura que lhes foram muito preciosos nesta altura. “Ouvi a palavra do Senhor, vós os que a temeis: Vossos irmãos, que vos aborrecem e que para longe vos lançam por causa do vosso amor ao Meu nome, e que dizem: Mostre o Senhor a Sua glória para que vejamos a vossa alegria, esses serão confundidos” (Isa. 66:5). “Com efeito, tendes necessidade de perseverança, para que havendo feito a vontade de Deus, alcanceis a promessa. Porque ainda dentro de pouco tempo aquele que vem virá, e não tardará; todavia, o Meu justo viverá pela fé, e: Se retroceder, nele não se compraz a Minha alma” (Heb. 10:36-38), e textos correspondentes, que pareciam ter sido deixados de propósito para os cansados e expectantes que estavam passando por esta amarga experiência, predita pelo escritor do Apocalipse, quando a igreja comeu o “livrinho” que foi doce em sua primeira experiência, mas depois se tornou amargo (Apoc. 10:9, 10).
Outra causa de tristeza para eles foi o fato de que logo após a passagem do tempo influências desintegradoras penetraram no próprio corpo dos crentes. Estes começaram a manifestar aqui e ali uma classe de pessoas fanáticas, que trouxeram uma influência perturbadora. Estes afirmavam ter grande luz do Senhor. Oravam longamente e em voz alta, liam muito a Bíblia, mostravam semblante acabrunhado, e em muitos casos agiam de maneira extravagante. Afirmavam ter luz e santidade superior, mas não tinham muita disposição para trabalhar com as próprias mãos, embora aceitassem de bom grado que outros trabalhassem por eles.
Por outro lado, antes de terem transcorrido muitos meses após a passagem do tempo, grande número de adventistas começaram a perder a fé nos pontos de vista que haviam defendido no passado. Alguns começaram a marcar novas datas para a vinda do Senhor; outros tentaram derrubar as datas que haviam sido aceitas de maneira geral no passado.
Inclinações para a popularidade e para o mundo começaram a se manifestar em muitos dos crentes, especialmente entre aqueles que tentavam derrubar os antigos marcos da fé.
Todas estas coisas foram uma fonte de grande provação e perplexidade entre os fiéis e fervorosos que acreditavam na veracidade do grande movimento do advento. Estes passaram por um angustioso estado de ansiedade, e não sabiam em que direção se voltar. Por um lado, parecia que seus irmãos e muitos dos ministros dirigentes em quem haviam confiado estavam retrocedendo para o mundo e perdendo a fé nas grandes verdades da mensagem, e que tinham pouco do Espírito do Senhor consigo.
Por outro lado, os fanáticos pareciam tão extravagantes em seus métodos e ideias que eles nem sabiam o que pensar destes. Muitos até os acolheram em casa, temendo rejeitá-los, mas sem saber se estes eram filhos de Deus ou não. Porém os observavam detalhadamente, e os deixava revelarem-se até poderem estar mais certos. Parecia ainda não haver uma trombeta que tivesse um “sonido certo”. Então ouviam vários tons para ver se conseguiam averiguar a procedência destes. Estudavam muito a Bíblia, e clamavam fervorosamente a Deus. Não podiam renunciar ao passado, mas estavam incertos quanto ao presente, e ansiosos quanto ao futuro.
Sua posição era em muitos aspectos a mais probante pela qual passou o povo de Deus desde a ressurreição de nosso Senhor. Assemelhou-se em muitos aspectos à experiência pela qual os discípulos passaram após o Senhor ter sido crucificado. Mas aqueles que haviam aguardado a segunda vinda do Senhor tinham de esperar mais algum tempo antes da verdadeira luz começar a brilhar. Dificilmente se viu, durante meses, muitos dos antigos adventistas sorrirem. Sua perplexidade era muito grande. Mas Deus tinha bênçãos reservadas para eles quando os de coração dobre fossem joeirados. A luz ainda brotaria.
Fonte: Review and Herald, 24 de fevereiro de 1885.
“A Porta Fechada e Assuntos Afins”
Talvez não haja nada ligado ao movimento do advento que nossos inimigos mais tentaram usar para nos desacreditar do que a doutrina da porta fechada. Propomo-nos a examinar este assunto detalhadamente, e dar os fatos relacionados com ele, para benefício daqueles dentre nosso povo que não estão familiarizados com o assunto. Veremos que eles são muito diferentes do que nossos inimigos fazem crer. Declaramos quão fervorosos e devotados os crentes eram antes da passagem do tempo, e a amarga reação que se seguiu. Antes tudo era zelo, fervor e atividade, mas depois se seguiram tristeza, desapontamento e perplexidade. O amargo ódio contra a doutrina da breve volta de Cristo manifestado por muitos membros de igreja, que foi semelhante ao dos judeus contra os discípulos porque estes criam no primeiro advento de Cristo, era forte evidência para os crentes de que o Espírito de Deus havia Se retirado deles. Os crentes haviam feito o máximo para advertir o mundo, e sabiam que Deus os havia abençoado em sua obra. Sabiam que a doutrina estava fundada sobre a rocha da verdade eterna _ a Palavra de Deus. Portanto, sabiam que aqueles que se opunham amargamente à obra estavam lutando contra Deus. Quando o tempo passou, houve um sentimento geral entre os crentes fervorosos de que seu trabalho pelo mundo estava feito. Dia a dia eles ainda estavam esperando, vigiando e ansiando pelo aparecimento do Salvador, não sabendo por que Ele demorava. Nesta época ninguém dava crédito aos conceitos deles sobre o advento, nem manifestava o menor interesse em ouvi-los. Eram considerados fanáticos porque não haviam renunciado a sua crença após o desapontamento.
A grande mudança, manifestada no espírito quase demoníaco dos opositores, e em seus próprios sentimentos no que diz respeito a trabalhar pela salvação de almas, juntamente com o peso de certos textos da Escritura, os levou à conclusão de que seu trabalho pelo mundo estava feito. O Sr. Miller e outros criam que a porta seria fechada um pouco antes de Cristo voltar. Numa carta escrita para J. V. Himes em 6 de outubro de 1844, ele disse: “Tenho forte opinião de que o próximo dia do Senhor [domingo] será o último que os pecadores terão dentro do tempo de graça. E dentro de dez a quinze dias a partir daí verão Aquele a quem odiaram e desprezaram, para sua vergonha e horror eterno”. Isto era muito natural em vista de textos como Apocalipse 22:11 e 12: “Continue o injusto fazendo injustiça, continue o imundo ainda sendo imundo; o justo continue na prática da justiça, e o santo continue a santificar-se. E eis que venho sem demora”. Sem dúvida o tempo de graça se encerrará pouco tempo antes do aparecimento de Jesus. Quando terminou o clamor da meia-noite e o tempo passou, eles acharam que fora feito o grande teste. Este era o sentimento universal na época. Sua intensa preocupação pelas almas havia cessado. O espírito satânico que prevalecia ao redor deles tornava o assunto ainda mais claro à mente deles. Depois que o tempo passou, o Sr. Miller em outra carta endereçada ao pastor Himes, diz: “Fizemos nossa obra em advertir os pecadores e em tentar despertar uma igreja formal. Deus em Sua providência fechou a porta. Só podemos nos estimular uns aos outros a ser pacientes e diligentes em confirmar nossa vocação e eleição. Estamos agora vivendo no tempo especificado em Malaquias 8:18 (também Dan. 12:20, Apoc. 22:10-12). “Nesta passagem não podemos deixar de ver que um pouco antes de Cristo voltar, haveria uma separação entre os justos e os injustos, entre os justos e os ímpios, entre os que amam a Sua vinda e os que a odeiam. E nunca, desde os dias dos apóstolos, foi traçada tal linha divisória como a que foi traçada em relação ao sétimo mês judaico. Desde esse tempo eles dizem que não têm confiança em nós. Temos necessidade de paciência depois de termos feito a vontade de Deus, a fim de que alcancemos a promessa.”
Em outra carta publicada no Advent Herald, ele diz: “De fato cri, e devo confessar que ainda creio, que fiz minha obra em advertir os pecadores, e isto no sétimo mês”. George Needham, outro eminente ministro do movimento do advento, diz na Voice of Truth de 19 de março de 1845: “Estou e fui convencido desde o décimo dia do sétimo mês que nossa obra pelo mundo e pelas virgens néscias já foi feito. Ou chego a esta conclusão, ou preciso negar que aquele glorioso movimento foi obra de Deus. Isto jamais poderei fazer. As virgens néscias foram aos velhos estabelecimentos onde se vende óleo, e estão nos chamando para segui-las, e o mundo está com elas para comprar um pouco de óleo, e nós vamos a elas com a esperança de lhes fazer qualquer bem? “Não, para que não morramos”.
J. B. Cook, outro eminente membro do movimento do advento, diz no “Advent Testimony”: “Se a causa e o povo do advento forem dignos da interposição divina, ou se esta é a época de esperarmos o Senhor, então estamos no momento da porta fechada dentro daquela representação da história do Advento. Minha linguagem para muitos tem sido: Creio na porta fechada, exatamente como você a experimentou“. Demos estas citações de adventistas eminentes, nenhum dos quais esteve no que chamamos de a terceira mensagem angélica. Poderíamos citar muitos outros que expressaram sentimentos semelhantes, e que desempenharam papel importante no grande movimento de 1844. Não pode haver dúvida de que durante meses após a passagem do tempo o sentimento geral era de que a obra de advertir o mundo estava terminada. Eles sentiam isto porque: (1) Criam que a proclamação no passado tinha sido um cumprimento da profecia, um solene anúncio de que “é chegada a hora do Seu juízo”, e que o Senhor havia abençoado assinaladamente o movimento e aqueles que estavam ligados a ele. Não podiam questionar a veracidade deste movimento sem negar sua fé. (2) A atitude assumida por aqueles que rejeitaram a mensagem foi amarga e ímpia, como a daqueles que rejeitaram a Cristo; o que para os adventistas constituía clara evidência de que aqueles haviam rejeitado importante luz e verdade. Portanto, sentiram que Deus os havia rejeitado. (3) Sua própria posição e sentimentos tornavam o assunto ainda mais claro. Tinham antes sentido uma intensa preocupação por todas as classes de pessoas, e trabalharam incessantemente para adverti-las e salvá-las, empregando liberalmente seus recursos e estando dispostos a fazer qualquer sacrifício para efetuar isto. Sentiam em sua alma que era o Espírito de Deus que os impelia a fazer isto. E agora se sentiam de maneira completamente diferente. Sua preocupação se fora, e acharam que sua obra estava terminada. Além disso, não havia ninguém que desejasse ser objeto de seu trabalho. Nestas circunstâncias, seria estranho que sentissem que “fechou-se a porta”, como a Palavra de Deus disse que ocorreria a certa altura? Como podiam sentir de outra forma, a menos que jogassem for a toda a sua maravilhosa experiência? Mas à medida que os meses foram transcorrendo após a passagem do tempo, os crentes começaram a duvidar e a renunciar a sua experiência passada. Homens eminentes, como George Storrs, o fizeram, e dentro de seis meses grande número de pessoas havia se desestabilizado. Os líderes começaram a olhar à sua volta em busca de algum terreno novo sobre o qual se firmar. Em vez de esperarem pacientemente, e encontrarem a verdadeira luz na explicação bíblica do santuário celestial e da terceira mensagem angélica, demonstraram sua falta de verdadeira fé ao removerem os antigos marcos do advento e renunciarem ao grande movimento como fanatismo. A verdadeira fé sempre se mostra em tempos de trevas e perseguição, perplexidade e impopularidade. Para a maioria deles houve uma grande falta de fé, como o resultado demonstrou. Sem dúvida esta foi a razão pela qual Deus permitiu que passassem por esta experiência. Durante seis anos seguidos alguns adventistas mudaram a data do término dos 2300 dias de Daniel 8. O resultado trouxe desapontamento e confusão entre eles. Mas os crentes verdadeiros e fiéis não participaram desta tola obra. Muitos dos velhos colaboradores começaram a falar de saírem para “re-despertar as igrejas dormentes” que haviam rejeitado a luz. Mas seu sucesso não foi encorajador. Em 1843 e 1844 altos brados foram levantados para se renunciar à obra de Deus como sendo um erro, mesmerismo, etc. Em 29 de abril de 1845, houve um grande encontro de adventistas em Albany, New York. Estavam presentes colaboradores importantes e mais de cinquenta pregadores. Foram formados planos para trabalharem, como haviam feito antes da passagem do tempo. Condescendeu-se com fortes expressões relativas ao grande movimento do passado. Pessoas presentes afirmaram que o pastor J. V. Himes disse: “O movimento do sétimo mês produziu mesmerismo de dois metros de profundidade”. Aquilo que eles próprios haviam no passado reconhecido como sendo o Espírito de Deus impelindo-os a trabalhar e a se sacrificar em Sua causa; aquilo que havia produzido uma solenidade e uma profundidade de experiência espiritual que não se via há séculos, era agora denunciado como mesmerismo.
A partir desse ponto a grande massa do corpo adventista começou a perder seu poder. Penetrou a desordem em seu meio. Morderem-se e devorarem-se uns aos outros tornou-se a ordem do dia, e logo o grande corpo de mais de 50.000 adventistas que saiu das igrejas populares ao clamor de “Caiu Babilônia!” começou a se desintegrar, a se dividir em ramificações, e gradualmente a desmoronar, até que perderam em grande parte sua influência para levar as pessoas a crerem na vinda de Cristo. Como as virgens tolas, perderam o óleo _ o Espírito de Deus _ tomaram posição contra a obra adventista do passado, contra o sábado e a verdadeira obra de Deus, e seu procedimento tem sido muito triste e desanimador.
Mas havia almas sinceras espalhadas aqui e ali que não queriam, não podiam segui-los neste procedimento. Ainda oravam por luz, se apegavam aos antigos marcos da fé, e criam que Deus abriria o caminho diante deles.
Fonte: Review and Herald, 3 de março de 1885.
O Desenvolvimento Gradual das Verdades da Terceira Mensagem Angélica
A transição do desapontamento posterior à passagem do tempo em 1844 para a plena luz do sistema de verdades que encontramos na “terceira mensagem angélica”, foi um pouco lenta. Não nos é possível ver como poderia ser de outra forma. Foi muito grande a mudança da forte expectativa do imediato aparecimento do Senhor para a posição de “espera” e “vigilância” que eles depois ocuparam. E foi ainda maior a mudança para a plena compreensão do assunto do santuário, da proclamação mundial da terceira mensagem, da obra de nossa nação segundo o revela a profecia, e de verdades semelhantes.
Estas verdades, quando plenamente compreendidas, operaram uma completa mudança nas pessoas no de que diz respeito a suas atitudes e concepções do dever. Em vez de sentirem que sua obra pelo mundo estava concluída, como ocorreu quando o tempo passou em 1844, viram sua necessidade de grande atividade e fervor, ao compreenderem que os 144.000 deviam ser selados com o selo do Deus vivo, e que a mensagem devia ir a “muitos povos, nações, línguas e reis”.
Notemos o desenvolvimento gradual que resulta nesta grande mudança. Como vimos em artigos anteriores, desenvolveram-se várias classes entre os adventistas dentro de alguns meses após a passagem do tempo. À medida em que os meses transcorreram e eles começaram a procurar um terreno em que se firmar, o grande corpo de adventistas renunciou ao grande movimento do passado, e tomou a posição de que ele fora falso, promovido por um espírito de mesmerismo, e de que ele não era na verdade um cumprimento de profecia, mas um grande erro, embora cometido em sinceridade. Começaram a marcar novas datas, e a readaptar as velhas datas confiáveis. Ao fazer isto, demonstraram sua verdadeira falta de uma fé que persevera.
Mas houve muitos que não puderam ignorar assim sua preciosa experiência e jogar fora a sua fé. Criam firmemente que o grande movimento de 1844 era um cumprimento de profecia, e que o “clamor da meia-noite” havia soado, que os 2300 dias haviam terminado, e que a primeira e a segunda mensagens haviam sido dadas. Criam que haviam chegado ao tempo da paciência dos santos _ o tempo de espera, de vigilância. Ali estavam, procurando fervorosamente que raiasse uma luz adicional, a fim de que pudessem compreender seu dever. Quão fervorosamente oraram e pesquisaram sua Bíblia ninguém jamais saberá, exceto aqueles que passaram por aquela experiência. Eles não eram objeto de simpatia da grande massa de adventistas que renunciaram aos antigos marcos. Em muitos lugares passaram a fazer reuniões separadas. Achavam que o Espírito de Deus era ofendido pelo procedimento daqueles que renunciaram a sua experiência passada.
Ocorreu isto em Waterbury, Vermont, onde meu pai morava. Ele tinha reuniões em sua casa, embora o local regular de reuniões dos adventistas estivesse a centenas de metros de distância. Alguns crentes de outras cidades se reuniam ali, e sentiam que Deus os abençoava com o velho espírito do advento à medida em que O buscavam com humildade. Foi assim em muitos lugares. Em 1846 O. R. L. Crozier, um ministro pertencente ao movimento do advento, escreveu um notável artigo sobre o santuário, que foi publicado no Day Star, um periódico adventista. Neste artigo foram apresentados muitos dos pontos da verdade agora sustentados por nós sobre esse assunto. Não foi de maneira alguma esclarecida a totalidade do assunto sobre o santuário e a expiação, mas havia muita verdade daquele artigo, o que levou à investigação adicional.
Em pouco tempo aqueles que estavam procurando luz do Senhor investigaram cabalmente este grande assunto central no plano da salvação, e compreenderam suas várias implicações. Isto lhes proporcionou grande alívio, pois através do assunto do santuário receberam uma explicação do grande desapontamento. “Até duas mil e trezentas tardes e manhãs, e o santuário será purificado” agora brilhava com luz celestial. Através dos tipos do Velho Testamento eles viram que nosso Senhor e Salvador havia entrado em Sua última e final obra, que a purificação do santuário era a mesma coisa que o juízo investigativo, e que esta era a época para o apagamento dos pecados dos livros memoriais de Deus. Podiam agora compreender tudo sobre seu desapontamento, e a obra que tinham pela frente se abriu diante deles.
Antes dessa época, a questão do sábado havia começado a ser agitada entre eles. Já em 1844 uma irmã batista do sétimo dia de nome Preston havia abraçado a doutrina do advento em Washington, New Hampshire, onde havia um grupo significativo de crentes. Por meio de tratados, etc., e trabalhando com o povo, um bom número havia começado a guardar o sábado do Senhor. Este foi o meio através do qual o sábado foi pela primeira vez introduzido entre os adventistas. Deste pequeno começo a verdade do sábado já se espalhou até os limites mais remotos da Terra.
Depois da passagem do tempo, vários começaram a pregar o sábado. O pastor T. M. Preble o ensinou durante algum tempo, e chamou a atenção dos crentes para ele num panfleto sobre o assunto, datado de 13 de fevereiro de 1845. Mas, por não ter visto a reforma do sábado sob a mensagem do terceiro anjo, renunciou a ela, tendo se tornado depois um severo opositor dela. O mesmo ocorreu com o pastor J. B. Cook e alguns outros ministros adventistas que depois a abandonaram pela mesma causa. Mas a verdade sobre este assunto foi assim trazida perante muitas almas sinceras, que a defenderam mais firmemente.
Em 1845, o pastor José Bates começou a ensinar o sábado bíblico, e outros o aceitaram como fruto de seus labores. Mais ou menos nesta época o pastor Tiago White e esposa também o aceitaram. Eles, juntamente com o pastor Bates, estiveram durante pouco tempo sozinhos em ensiná-lo publicamente, mas a partir deste ponto o crescimento da causa foi bastante rápido.
Enquanto estas verdades estavam sendo propagadas, começou a brilhar luz sobre a terceira mensagem angélica. A partir deste momento houve um trabalho a fazer. Em conexão com estes assuntos a luz raiou sobre outros, como a obra seladora dos 144.000, a obra de nosso próprio governo segundo revelada na profecia e, em resumo, no espaço de poucos anos a partir da passagem do tempo nossa presente teoria da verdade estava completamente desenvolvida.
O que é notável sobre isto é que nunca houve quaisquer doutrinas de qualquer importância apresentadas nesta mensagem que desde então fomos forçados a abandonar. Mais luz tem brilhado sobre vários pontos, e novas verdades têm sido acrescentadas de tempos em tempos, mas não tivemos de passar pela experiência mortificante dos adventistas do primeiro dia. Eles têm estado mudando constantemente de uma coisa para outra, alguns aceitando uma doutrina, outras porções de suas fileiras aceitando outra, e gradualmente, em confusão e desordem, se dividindo em facções. Mas em nossa causa desde o princípio tem havido crescente luz e união em fé e prática.
Este movimento era muito pequeno e insignificante em seu princípio, mas cresceu de maneira constante até agora, quando está fazendo dez vezes mais para propagar as verdades da doutrina do advento pelo mundo do que todos os outros grupos de crentes adventistas juntos. Eles eram em número de 50.000 em 1845. Esta obra, então, mal tinha começado. Naquela época ridicularizavam este “insignificante movimento”, desprezavam as “visões” e mal nos davam atenção, mas a escala agora mudou significativamente. Aquelas visões que eles tratavam com tanto desprezo demonstraram ser uma maravilhosa fonte de luz e bênção para esta obra, e sua influência nunca foi tão grande quanto hoje. E o melhor de tudo é que Deus tem estado conosco ao longo de todo o caminho, e ainda está pronto a ajudar-nos na disseminação destas verdades. Transcorreram talvez seis ou sete anos desde a passagem do tempo antes que todos os pontos da verdade presente estivessem plenamente desenvolvidos e compreendidos, e antes que os crentes na terceira mensagem percebessem, como o fazem agora, a importância de sua obra e seu dever de torná-la conhecida ao mundo. Demorou mais ou menos esse mesmo tempo para que a opinião pública estivesse em condição de apresentar qualquer esperança de sucesso na proclamação destas doutrinas, devido ao desprezo em que o nome do Advento era tido por causa do grande desapontamento. A partir dessa época, porém, a Providência abriu o caminho diante daqueles que pregam Sua verdade. Em nosso próximo artigo falaremos da doutrina da “porta fechada”, e sua relação com a obra da terceira mensagem.
Fonte: Review and Herald, 10 de março de 1885.
“A Doutrina da Porta Fechada Entre os Crentes na Terceira Mensagem Angélica”
Chegamos agora a um ponto muito interessante. Nossos inimigos afirmam que desde o princípio desta obra, que chamamos a “terceira mensagem angélica”, até 1851, os que se empenharam nela criam que não havia salvação para os pecadores, e que as visões da Srª. E. G. White ensinavam a mesma doutrina. Portanto, dizem eles, as visões não são confiáveis, e a obra em si está desacreditada. Estas acusações têm sido repetidas vez após vez, e algumas almas têm sido enganadas e desta forma lançadas nas trevas. Com o intuito de ajudá-las e de salvar outras deste mesmo destino, propomo-nos a examinar estas acusações detalhadamente e ver se há alguma verdade nelas. Admitiremos toda a verdade que elas contenham, e exporemos o erro. Se esta for a verdade de Deus, podemos ser justos. Se ela não resistir ao teste do exame cuidadoso e de um pleno conhecimento dos fatos, quanto mais cedo os que a defendem ouvirem a verdade, melhor para eles. Eles, dentre todas as pessoas, são os mais interessados em conhecer a verdade.
Nada jamais pode ser ganho pela ocultação de qualquer fato ou pelo engano. Cremos que sempre é melhor admitir toda a verdade que há em qualquer assunto do que escondê-la. A honestidade é a melhor política. Ao dizer isto, contudo, desejamos que se compreenda que não temos qualquer idéia de que haja alguma coisa ligada ao surgimento desta mensagem que alguém pudesse querer esconder. A fim de podermos ser plenamente compreendidos ao entrarmos no exame deste assunto, declararemos brevemente as posições que pretendemos defender com as provas mais evidentes, a saber:
1. Que, em comum com o grande grupo de adventistas na passagem do tempo em 1844 e alguns meses depois, os que depois viriam na crer na terceira mensagem acharam que “sua obra pelo mundo estava concluída”. Eles acharam que o tempo de graça havia se encerrado e que o Senhor viria “muito em breve”.
2. Que enquanto a maior parte dos adventistas após seis meses da passagem do tempo haviam renunciado ao movimento de 1844 como sendo um erro, e tinham ido trabalhar para “reerguer as velhas igrejas”, outros crentes se apegaram a ele como um cumprimento de profecia, e procuraram fervorosamente a luz e a encontraram na grande verdade do santuário, nas mensagens, etc. Estas explicavam o desapontamento, e sua obra agora se abriu diante deles.
3. Que por estarem familiarizados com estas verdades eles agora tinham um conhecimento inteligente da “doutrina da porta fechada”. No final dos 2300 dias em 1844 Cristo mudou Sua ministração do lugar santo para o santíssimo, e iniciou a obra de Julgamento, Sua obra última e final. Nesta mudança a porta do primeiro compartimento foi fechada, e a porta do santíssimo foi aberta. Isto é trazido à luz em Apocalipse 3:7 e 8 e outros textos. Todos os crentes na mensagem reconheceram esta mudança, e ainda a reconhecem. Foi uma mudança de fato, e levou à descoberta de importantes verdades.
4. Eles tinham, portanto, muita coisa a dizer sobre uma “porta fechada”, porque reconheciam, assim, o movimento passado como genuíno, diferentemente dos adventistas que haviam renunciado completamente a ele. Também criam que aqueles que haviam rejeitado a primeira mensagem e se oposto grandemente a ela, haviam sido rejeitados por Deus, e até 1851 tinham muito a dizer sobre a “porta fechada”, pois até aquela época seus esforços para evangelizar tinham estado em grande parte confinados àqueles que haviam crido na doutrina do advento em 1844.
5. Mas que sua crença na “doutrina da porta fechada” “não” era de molde a proibir a salvação daqueles que não haviam rejeitado a primeira mensagem, ou daqueles que só tinham chegado à idade da razão após a passagem do tempo, pois muitos exemplos podem ser achados onde eles trabalharam pela salvação de tais pessoas.
6. Que a visão da Sra. E. G. White que é tão frequentemente citada está em perfeita harmonia com estas posições.
7. E, finalmente, que as próprias Escrituras estão em perfeita harmonia com este tipo de porta fechada e que, em realidade, vários textos ensinam a mesma coisa. Já consideramos com bastante amplitude o primeiro ponto, relativo ao grande corpo de adventistas após a passagem do tempo. Mostramos que Guilherme Miller e outros ministros e homens em posição de liderança creram plenamente, durante alguns meses, que sua obra pelo mundo estava concluída. Estavam esperando que o Senhor viesse “imediatamente”, e estudaram cuidadosamente os textos que falam do encerramento do tempo de graça pouco antes do aparecimento de Cristo. Citaremos as palavras do Sr. Miller no Advent Herald de 11 de dezembro de 1844: “Fizemos nossa obra em advertir os pecadores e em tentar despertar uma igreja formal. Deus em Sua providência fechou a porta. Só podemos nos estimular uns aos outros a ser pacientes e diligentes em confirmar nossa vocação e eleição. Estamos agora vivendo no tempo especificado em Malaquias 8:18 (também Dan. 12:20, Apoc. 22:10-12). Nesta passagem não podemos deixar de ver que um pouco antes de Cristo voltar, haveria uma separação entre os justos e os injustos, entre os justos e os ímpios, entre os que amam a Sua vinda e os que a odeiam. E nunca, desde os dias dos apóstolos, foi traçada tal linha divisória como a que foi traçada em relação ao sétimo mês judaico. Desde esse tempo eles dizem que não têm confiança em nós. Temos necessidade de paciência depois de termos feito a vontade de Deus, a fim de que alcancemos a promessa.” Vemos aqui como estes textos que mostram que a porta da graça se fechará antes da vinda de Cristo eram apropriados para os crentes desapontados naquela época. Mas após alguns meses esta posição foi abandonada, e a maioria deles renunciou totalmente ao movimento de 1844. Aqui eles entraram em trevas. Quem pode dizer o que poderia ter acontecido se todo aquele grande grupo tivesse permanecido fiel até que a luz sobre a terceira mensagem tivesse raidado totalmente? Se os filhos de Israel podiam ter ido imediatamente para Canaã se tivessem sido fiéis a Deus, quem pode dizer que se o grupo de adventistas tivesse todo se apossado da terceira mensagem, e soado a advertência pelo mundo todo, a obra não poderia ter-se encerrado há muito tempo? Mas eles mostraram sua falta de fé, e renunciaram à verdade do passado. Aqueles dentre eles que não renunciaram assim a sua fé, mas esperaram pela luz, defendiam na época os mesmos conceitos sobre a porta fechada que os outros. Mas quando a verdade do santuário foi compreendida, bem como as verdades da mensagem presente, raiou na mente deles nova luz em muitas direções. Agora eles tinham algo pelo qual trabalhar. Seus primeiros esforços naturalmente se dirigiram aos antigos crentes que haviam conhecido a obra de Deus na primeira mensagem. O Pai Bates e o Pastor e a Sra. White viajaram muito em busca destes fiéis em diferentes partes do país. Muitos receberam a mensagem com a maior alegria. Ela explicava as dificuldades deles, e lhes dava algo sólido sobre o qual colocar os pés. Ninguém, exceto aqueles que passaram por aquela experiência, podem compreender sua alegria quando eles viram a clara luz. Durante vários anos não houve interesse entre os descrentes em geral de ouvir sobre a doutrina do advento. O estigma que repousou sobre o movimento no passado impedia isto. O principal pensamento era encontrar aqueles que amavam a doutrina do advento, e colocar a verdade presente diante deles. Portanto, a providência de Deus parece moldar os labores deles inteiramente na direção dos que já eram crentes, não na direção dos descrentes.
Novamente, em todas aquelas localidades onde moravam os crentes do Advento, a doutrina tinha sido conhecida e a luz havia brilhado em menor ou maior grau. Consequentemente, as pessoas ali haviam sido testadas quanto a ela. Aqueles que haviam rejeitado a doutrina estavam na mesma posição que os judeus que rejeitaram obra de João Batista. Cristo disse que estes “rejeitaram, quanto a si mesmos, o desígnio de Deus”. Os crentes na terceira mensagem não sentiam preocupação por esta classe; e como não viam nenhum interesse na verdade entre o povo em geral, acharam, muito naturalmente, durante certo período após a passagem do tempo, que todos ao redor deles haviam rejeitado a luz; e portanto não fizeram qualquer esforço especial para colocá-la diante deles. Estavam fervorosamente empenhados em resgatar seus irmãos das teorias de marcação de tempo dos adventistas do primeiro dia e em tentar firmar-lhes a fé na obra, conservando, ao mesmo tempo, sua própria fé aquecida e fervorosa.
Fonte: Review and Herald, 17 de março de 1885.
“A Doutrina da Porta Fechada Entre os Crentes na Terceira Mensagem Angélica”
Quando a luz sobre o santuário celestial foi vista pelos crentes, muitas coisas foram explicadas quanto a sua posição e desapontamento, e entre outras coisas, a “porta fechada”. Não dizemos que todos compreenderam plenamente o significado do assunto a princípio. Teria sido irrazoável esperar tanto. Mas isto forneceu a chave que gradualmente revelou todo o assunto. Tentaremos explicar o processo passo a passo.
Ao eles compreenderem que a purificação do santuário no final dos 2300 dias não era a purificação da terra pelo fogo, mas a purificação do templo de Deus no Céu – o antítipo daquele que foi construído por Moisés – e que sua purificação era a remoção ou apagamento do pecado – o juízo investigativo – em relação à última obra de nosso grande Sumo Sacerdote antes de Ele voltar à Terra, raiou grande luz na mente deles sobre muitos assuntos. No tipo terrestre a ministração, ou serviço, se encerrava no primeiro compartimento do santuário quando o sumo sacerdote começava sua obra no lugar santíssimo. Isto era significado pelo fechamento da primeira porta e abertura da segunda, que dava para o lugar santíssimo.
Os crentes estavam pesquisando sua Bíblia muito cuidadosamente, e Apoc. 3:7-11 se tornou para eles um texto muito convincente: “Ao anjo da igreja em Filadélfia escreve: Estas coisas diz o santo, o verdadeiro, aquele que tem a chave de Davi, que abre, e ninguém fechará, e que fecha, e ninguém abrirá: Conheço as tuas obras, eis que tenho posto diante de ti uma porta aberta, a qual ninguém pode fechar, que tens pouca força, entretanto, guardaste a minha palavra e não negaste o meu nome. Eis farei que alguns dos que são da sinagoga de Satanás, desses que a si mesmos se declaram judeus e não são, mas mentem, eis que os farei vir e prostrar-se aos teus pés e conhecer que eu te amei. Porque guardaste a palavra da minha perseverança, também eu te guardarei da hora da provação que há de vir sobre o mundo inteiro, para experimentar os que habitam sobre a terra. Venho sem demora. Conserva o que tens, para que ninguém tome a tua coroa”.
Filadélfia significa “amor fraternal” – uma descrição apropriada do afetuoso e terno interesse que os crentes tinham uns pelos outros na gloriosa experiência de 1844. Esta linguagem se aplica ao tempo exatamente anterior à volta de Cristo: “Venho sem demora”. “Aquele que tem a chave de Davi” deve ser o Filho de Davi, nosso Salvador. Diante dos crentes é colocada uma “porta aberta” e uma “porta fechada”. Eles não haviam negado Seu nome. Mas havia outra classe que afirmava ser o verdadeiro povo de Deus, “judeus”, mas que se opunham a eles, e que ainda seriam humilhados, quando o resultado provasse que os crentes estavam certos e eles, errados. “Vossos irmãos, que vos aborrecem e que para longe vos lançam por causa do vosso amor ao meu nome e que dizem: Mostre o SENHOR a sua glória, para que vejamos a vossa alegria, esses serão confundidos”. Isa. 66:5. Estes crentes haviam chegado ao tempo da “perseverança dos santos” que é mencionada sob a terceira mensagem angélica: “Aqui está a perseverança dos santos”. Apoc. 14:12. Não havia como se enganarem a respeito de sua posição. Eles eram crentes na breve volta de Cristo. Diante deles estava colocada uma “porta aberta e uma porta fechada”. Quão belamente isto foi explicado pela mudança de ministração de nosso grande Sumo Sacerdote, no “décimo dia do sétimo mês” de 1844. Nada mais pode explicar isto. Nunca conhecemos ninguém mais que tentasse fazê-lo.
Cada ponto deste texto é exemplificado na experiência do Advento, da passagem do tempo em diante, e a isto se aplica. Este texto lança luz especial sobre a natureza da porta fechada. Ele apresenta uma “porta aberta” de acesso a todos os verdadeiros crentes, enquanto que reconhece uma mudança na posição e ministração de Cristo ao Ele entrar em Sua última obra. Se esta é uma mudança real, certamente deve ser reconhecida pelo verdadeiro povo de Deus na Terra, que pelo Espírito é guiado a toda a verdade. Aqueles que estavam seguindo a luz do santuário e da última mensagem, a reconheceram; enquanto que a grande massa dos adventistas, que haviam renunciado à obra no passado, e os membros das igrejas populares, não a reconheceram. A “porta aberta” e a “porta fechada” são até hoje aceitas por todos os crentes que têm uma fé inteligente na verdade presente. Estes conceitos levaram a uma modificação da fé dos crentes relativa ao encerramento da porta da graça, ideias estas que eles sustentavam em comum com outros adventistas quando da passagem do tempo, e que haviam continuado a sustentar até que raiou esta nova luz sobre o santuário. Eles ainda tinham muito a dizer sobre uma “porta fechada”, mas agora a associavam a uma “porta aberta”. Ao estudarem o exemplo do sumo sacerdote típico, aprenderam que o tempo de graça continuava no tipo “após” ter sido iniciada a ministração no santíssimo. Quando ele ministrava diante do Senhor e fazia expiação pelo povo, carregava consigo o peitoral do juízo, que continha os nomes das doze tribos de Israel. Aqueles cujo coração era humilde e penitente eram aqueles por quem era feita a expiação. Portanto, no antítipo: os crentes vieram a compreender que todos os que se arrependiam de seus pecados e reconheciam a verdadeira obra de Deus, teriam o benefício da expiação do grande Sumo Sacerdote em Sua obra final.
Não dizemos que todos compreenderam isto imediatamente. A plena luz se desenvolveu gradualmente. Havia pessoas cuja idade da razão havia chegado após a passagem do tempo, ou que não haviam rejeitado a luz, cuja mente foi despertada para buscar a Deus. Dizemos positivamente que não pode ser encontrado nem um único caso deste tipo no qual tenham sido dadas evidências de sinceridade e a pessoa tenha sido rejeitada pelo corpo de crentes em qualquer momento após o surgimento desta mensagem. Nunca ouvimos sequer uma insinuação de algum caso assim. Se houve tais pessoas antes do pleno desenvolvimento da luz como a temos agora no presente, enquanto os crentes ainda defendiam o que chamavam de a “porta fechada”, o interesse dessas pessoas era explicado com base na suposição de que seus nomes foram “levados no peitoral do juízo”, ou que de alguma outra maneira Deus fez provisão para seu caso. Nenhuma alma honesta jamais foi rejeitada. Mas não deve ser esquecido que houve muito poucos além dos adventistas que manifestaram interesse nesse estágio da obra, tão grande era a impopularidade da doutrina do advento. Portanto, a atenção deles não foi chamada para a plenitude do assunto do santuário, o que mostra que todos os que não rejeitaram a luz podem vir se quiserem, enquanto a obra de julgamento está em progresso.
Mas os crentes chegaram a esta compreensão gradualmente. Não parecem ter compreendido antes de 1850 ou 1851 que sua futura obra devia ser em grande parte em favor daqueles que não faziam parte dos velhos crentes no Advento. Até então ela havia sido quase inteiramente confinada a eles. Eles haviam defendido esta “doutrina da porta fechada” modificada, e tinham muito a dizer sobre ela, porque ela era para eles um ponto de grande importância, uma vez que mostrava a distinção entre as duas classes de adventistas – aqueles que haviam renunciado ao movimento de 1844, e aqueles que ainda criam nele. Os primeiros estavam tentando “reerguer” as igrejas populares, marcando novas datas e desacreditando as velhas datas, e descartando essa gloriosa obra como “fanatismo”. Os últimos afirmavam que esta era uma mensagem dada por Deus, predita da maneira mais clara na profecia, e como parte da última grande advertência que devia encerrar o tempo de graça. A doutrina da porta “aberta” e da porta “fechada” do santuário celestial foi a própria pedra angular da verdadeira arcada do Advento – a chave que desvendou todo o mistério, e deu luz sobre a posição dos crentes. Porque se Cristo mudou Sua ministração do santo para o santíssimo no outono de 1844 então, de fato, “é chegada a hora do Seu juízo”. A primeira mensagem foi uma mensagem dada por Deus, e a terceira mensagem precisa segui-la, agora que a primeira e a segunda foram dadas. A grande massa dos adventistas deve portanto estar como as “virgens néscias”, nas trevas. Portanto, verificamos que os primeiros crentes na verdade presente muitas vezes se referem, em suas controvérsias com os líderes dos adventistas do primeiro dia, à “porta fechada” até 1850 ou 1851. Eles dirigiam a atenção de seus opositores a seus próprios pronunciamentos após a passagem do tempo, e lhes mostravam quão contraditórias eram suas posições atuais. Provavam-lhes que eles haviam na realidade renunciado à verdadeira fé no Advento.
Temos diante de nós ao escrever um grande panfleto de 48 páginas, com colunas duplas, chamado Advent Review, publicado em 1850 por Hiram Edson, David Arnold, George W. Holt, Samuel W. Rhodes e Tiago White (comissão editorial) em Auburn, N.Y. Ela está quase inteiramente cheia de artigos e citações dos principais ministros adventistas – Guilherme Miller, J. V. Himes, S. Bliss, A. Hale, J. Marsh, J. B. Cook, e muitos outros. Como foi declarado nas observações introdutórias, este panfleto foi publicado para mostrar quem tinha “deixado a fé original”. E é mostrado claramente, com as próprias palavras deles, quando comparadas às posições que haviam tomado, que todos estes líderes, exceto o Sr. Miller, que já havia falecido, haviam abandonado aquela “fé original”, e que os crentes na terceira mensagem eram os únicos que ainda se mantinham fiéis àquela velha fé. Vemos assim o significado da doutrina da “porta fechada” entre os crentes após o santuário ter sido compreendido. Toda vez que era mencionada por eles, deve sempre ser considerada em conexão com a “porta aberta” na qual eles também criam. Para mostrar que eles criam numa porta fechada até 1850 ou 51, daremos no próximo artigo alguns extratos de sua própria publicação, “The Present Truth”, publicada de julho de 1849 a novembro de 1850, e o primeiro volume da “Review and Herald”, o primeiro periódico publicado sob este nome, datado de “Paris, Maine, novembro de 1850”, sendo que o primeiro volume terminou em 9 de junho de 1851. Nestes extratos apresentaremos fatos desconhecidos para muitos dos que abraçaram a verdade dentro dos últimos 25 anos.
Estes fatos têm relação com aquele interessante período de transição da primeira e segunda mensagens para a terceira mensagem angélica. Os que se opuseram a nós tentaram fazer parecer que temos medo de que os fatos relacionados à “porta fechada” venham à luz. Prometemos dar estes extratos que eles consideram mais objetáveis, e colocar ao lado destes, fatos que explicam plenamente essas passagens.
Fonte: Review and Herald, 24 de março de 1885.
“A Doutrina da Porta Fechada Entre os Crentes na Terceira Mensagem Angélica”
Começaremos agora a dar citações sobre a doutrina da “porta fechada”, mostrando que os crentes na mensagem defenderam esta crença até 1850 ou 51. No Vol. 1, No 6, da “Review and Herald,” publicada em Paris, Maine, em fevereiro de 1851, é dada uma carta que um irmão escreveu para seu filho. Ela começa da seguinte forma: “Desde a apresentação da verdade aceitei o sábado do sétimo dia e a porta fechada como sendo meu último refúgio nesta época escura e tenebrosa”. E mais ou menos na metade ele diz: “Desde que eu aceitei o ‘clamor da meia-noite’, a ‘porta fechada’ e a terceira mensagem angélica como sendo meu último refúgio, como declarei a princípio.” Mas em que tipo de “porta fechada” este irmão crê? Os opositores diriam: “É claro que se ele crê numa porta fechada, isto excluiria todas as conversões”. Mas o que ele diz sobre isto? Algumas linhas abaixo desta última citação, ele diz o seguinte: “Meu tempo e sua paciência poderiam se esgotar se eu fosse lhe apresentar todo o assunto relacionado à porta fechada. Basta dizer que em minha opinião ela não exclui todas as conversões. Mas realmente exclui aqueles que rejeitaram inteiramente todas estas mensagens. “Creio que os nomes registrados no ‘livro da vida do Cordeiro’ foram trazidos no décimo dia do sétimo mês; que Ele então levou o nome deles diante do Pai como o antítipo do ‘peitoral do juízo’”. É razoável supor que estes conceitos estavam de acordo com as opiniões daqueles que as publicaram na “Review”, ou não teriam sido ali publicadas. A seguir damos uma citação da “Review” de janeiro de 1851, de meu próprio querido pai, que aceitou a verdade em 1850. Ela é tirada de uma carta que ele escreveu para o pastor Joseph Marsh, editor do Advent Harbinger, um dos principais periódicos dos adventistas do primeiro dia. O pastor White a publicou na “Review”. Nesta carta para o Sr. Marsh, meu pai dá algumas razões para se aceitar a verdade presente. Ele diz: “Na passagem do tempo (1844) cri que a porta foi fechada; mas não estava sozinho nesta crença. Você, e quase todos os outros crentes adventistas, durante meses após a passagem do tempo, creram que a obra pelo mundo estava concluída.” Aqui ele cita trechos do Sr. Miller e outros para provar que esta era a crença deles. Então pergunta: “Se não tivemos o clamor da meia-noite, quando, e onde, e como podemos tê-lo?” Depois fala da Conferência de Albany, do efeito que ela teve sobre o grupo de crentes, e da confusão e frieza que sobrevieram. E conclui assim: “Temos outra verdade probatória diante de nós, a saber, a terceira mensagem angélica; e temo que ela será um teste rigoroso demais para alguns dos líderes do movimento do Advento. Líderes não gostam de ser liderados. Mas o Senhor abaterá os elevados e exaltará os humildes. Os últimos serão os primeiros, e os primeiros, últimos. “Fui grandemente abençoado ao conhecer os irmãos do sábado e da porta fechada. Eles conservam o passado e defendem nossa posição atual. Creio que eles têm a verdade, e que Deus os está guiando por Seu Espírito”.
Mas em que tipo de porta fechada ele cria? Numa carta escrita para o irmão e a irmã White, publicada na “Review” de janeiro de 1851, ele diz: “Desde que me converti à porta fechada e ao sábado, tenho saído nesta cidade e em algumas das cidades vizinhas … para tentar tirar de outras mentes um pouco do preconceito que eu próprio já senti tão profundamente. … Aprendi, tanto por minha conversa com outros quanto por minha experiência passada, que a porta fechada tem sido o grande banco de areia no qual os adventistas têm encalhado seu barco e ido a pique”.
Então ele fala das posições contraditórias deles sobre as mensagens, o clamor da meia noite, etc., e diz: “Vocês vêem como todos estes têm evitado a porta”. Depois ele ainda fala dos movimentos entre eles, e de como eles estavam “dispersos pelas montanhas”, etc., e então diz: “Eles supõem que a porta fechada excluiria de qualquer grau do Espírito de Deus todos os inconversos, tivessem ou não tido luz, fossem jovens ou velhos. Creio que se esta classe pudesse ter a verdadeira porta fechada e a terceira mensagem angélica expostas diante deles, alguns veriam a verdadeira linha da profecia e se regozijariam de novo na luz. Tenho me esforçado para procurar aqueles que não renunciaram a nossa experiência passada nestas mensagens, e tentado mostrar-lhes o que é o santuário e o que é a porta fechada; que o santuário mencionado em Dan. 8:14 está sendo purificado. – E. P. Butler”.
Sabemos por experiência pessoal que papai, em seu conceito da porta fechada, estava neste tempo em perfeito acordo com o irmão e a irmã White. Mostraremos os conceitos do pastor White sobre este assunto através de uma citação de suas próprias declarações. Apenas dois meses depois disto, no número de abril da “Review and Herald”, à página 64, há uma carta de M. M. Truesdail, na qual ele faz a pergunta: “A porta fechada exclui todas as conversões?” O pastor White responde:
“Conversão, no sentido mais estrito, significa uma mudança do pecado para a santidade. Neste sentido prontamente respondemos que ela não esclui todas as conversões; mas cremos que aqueles que ouviram a mensagem do ‘evangelho eterno’ e a rejeitaram, ou recusaram ouvi-la, são por ela excluídos. Não temos nenhuma mensagem para estes. Eles não têm ouvidos para ouvir-nos, a menos que rebaixemos tanto o padrão da verdade que não houvesse salvação nele. Mas há aqueles que podem ser convertidos.
“1. Irmãos errantes. Cremos que há muitos na igreja Laodiceana que ainda serão convertidos, pois o apóstolo diz em sua epístola aos irmãos que esperam: ‘Meus irmãos, se algum entre vós se desviar da verdade, e alguém o converter, sabei que aquele que converte o pecador do seu caminho errado, salvará da morte a alma dele, e cobrirá multidão de pecados’. Tiago 5:19 e 20.
“2. Filhos que não tinham idade suficiente para, com entendimento, receber ou rejeitar a verdade quando nosso grande Sumo Sacerdote encerrou Sua mediação no lugar santo no final dos 2300 dias, são passíveis de conversão do pecado para a santidade. Seus nomes foram levados sobre o peitoral do juízo, e eles são objeto da mediação de Jesus. Os caminhos de Deus são imparciais. Ele dará a todo ser inteligente uma chance de ser salvo.
“3. Quando Elias pensou que estava sozinho, Deus lhe disse: ‘Conservei em Israel sete mil … que não se dobraram a Baal’. Cremos que Deus conservou para Si uma multidão de preciosas almas, e algumas ainda nas igrejas. Estas Ele irá manifestar ‘em Seu próprio tempo’. Elas estavam vivendo à altura de toda a luz que tinham quando Jesus encerrou Sua mediação pelo mundo, e quando ouvirem a voz do Pastor na mensagem do terceiro anjo, aceitarão alegremente toda a verdade. Estas serão convertidas à verdade, e de seus erros. Mas achamos que não temos mensagem alguma para estes agora; porém, ‘aquele que tem ouvidos para ouvir, ouça’. Nossa mensagem é para os Laodiceanos; contudo algumas destas almas ocultas estão sendo manifestas”. Vemos aqui os conceitos dos líderes da mensagem claramente expressos quanto à “porta fechada”. Não pode ser encontrada uma declaração do irmão ou da irmã White anterior a esta época, pelo que pudemos encontrar de um cuidadoso exame deste primeiro volume da “Review” ou nos diferentes números da Present Truth, que contradiga esta definição da porta fechada. Até esta época eles ainda achavam que sua principal obra ou mensagem era para os antigos crentes do Advento, que haviam entendido o assunto dos 2300 dias, a gloriosa experiência de 1844, etc. Por razão semelhante os discípulos, após a crucifixão, trabalharam pelos judeus vários anos antes de se voltarem para os gentios, que não sabiam nada da obra passada. Contudo crianças que chegavam à idade da razão podiam ser alcançadas e, como diz o irmão White, Deus “dará a todo ser inteligente uma chance de ser salvo”. Palavras nobres e sensíveis foram estas. Portanto somos forçados a concluir que ele cria que aqueles que não haviam rejeitado a luz não foram deixados de fora pela doutrina da porta fechada, segundo eles a concebiam. “Cremos que Deus conservou para Si uma multidão de preciosas almas, e algumas ainda nas igrejas. Estas Ele irá manifestar ‘em Seu próprio tempo’”. (Esta ênfase é dele.) Parece que as ideias deles quanto à porta fechada excluíam a todos exceto os crentes no Advento? Nossos opositores dizem isto; mas nós sabemos a verdade. Mas alguns dizem que o pastor White usou em certos números da Present Truth outra linguagem inconsistente com estas declarações. Citaremos as próprias palavras às quais eles se referem, da página 79 do número 10 de Present Truth, publicada em Oswego, N.Y., em maio de 1850: “Quando chegamos àquele ponto de tempo [1844] toda a nossa compaixão, preocupação e orações pelos pecadores cessaram; e o sentimento e testemunho unânime era que nossa obra em favor do mundo estava concluída para sempre. Os ramos vivos na Terra compartilharão dos sentimentos da ‘Videira Verdadeira’ no Céu e agirão de comum acordo com esta. A razão pela qual os ramos vivos acharam que sua obra pelo mundo estava concluída, foi porque os 2300 dias haviam terminado, e havia chegado o tempo para Jesus fechar a porta do lugar santo e passar para o santíssimo, a fim de receber o reino e purificar o santuário.
“‘Mas’, diz o objetor, ‘a porta da misericórdia só vai se fechar quando Jesus voltar’. Não lemos na Bíblia sobre uma porta chamada porta da misericórdia; nem ensinamos que tal porta se fechou em 1844. ‘A misericórdia de Deus dura para sempre’. Ele ainda é misericordioso para com Seus santos e sempre o será; e Jesus ainda é seu advogado e sacerdote.
Mas o pecador a quem Jesus havia estendido os braços todo o dia, e que havia rejeitado as ofertas de salvação, foi deixado sem um advogado quando Jesus saiu do lugar santo e fechou a porta em 1844. A igreja professa que rejeitou a verdade também foi rejeitada. … Diz o objetor: ‘Creio que Jesus ainda está sobre o propiciatório’. Em resposta a esta asserção frequentemente repetida, deixem-me dizer: Jesus nunca esteve sobre o propiciatório e nunca o estará. O propiciatório está no lugar santíssimo, onde Jesus entrou no final dos 2300 dias. Sua posição é sobre a arca dos dez mandamentos; e sobre ele estão os querubins da glória. Diante do propiciatório Se encontra nosso grande Sumo Sacerdote, pleiteando Seu sangue por Israel. Se a porta (representada pela porta na parábola) só é fechada quando Jesus descer do Céu em chama de fogo, então onde se darão a batida à porta e as palavras: ‘Senhor, Senhor, abre-nos a porta’? É evidente que a porta é fechada antes do segundo advento, e que os descrentes ignoram o fato de que ela foi fechada; portanto batem à porta fechada e dizem: ‘Senhor, Senhor, abre-nos a porta’. Quando o grande dia da ira de Deus chegar, e os descrentes se aperceberem de sua situação perdida, não baterão com a esperança de serem admitidos. Não, não! Fugirão em busca de abrigo nas rochas e nas montanhas.” Damos estas citações extensas do irmão White para representar de maneira razoável as mais fortes expressões que pudemos encontrar em todos os seus escritos primitivos sobre o assunto da porta fechada. Não nos propomos a seguir o exemplo de opositores que escolhem algumas passagens, as mais fortes expressões que podem encontrar na linguagem dele, e talvez deixem fora a conexão e outras passagens que explicariam o que ele quis dizer. Mas damos citações que cobrem todas as fases do assunto. Vamos examinar cuidadosamente esta linguagem: 1. Ela ensina que no final dos 2300 dias a ministração de nosso grande Sumo Sacerdote mudou no santuário, e portanto uma porta foi fechada e outra aberta. Os adventistas do sétimo dia ainda crêem nisto. 2. Que esta mudança de serviço e ministração constitui uma mudança “real” na obra de Cristo. O exame dos livros de registro no alto começou. O juízo investigativo, o apagamento de pecados e sua remoção dos registros da vida de todos os filhos de Deus, começou, como preparo para a colocação desses pecados sobre a cabeça do bode emissário antitípico, Satanás. Esta é, de fato, uma obra importantíssima, e deve ser reconhecida pelo povo de Deus que estará pronto para a vinda de Cristo. Os adventistas do sétimo dia ainda crêem nisto.
3. Como declaramos vez após vez nestes artigos, quando os crentes chegaram a este ponto importante em 1844 houve um sentimento universal entre eles de que sua “obra em favor do mundo estava concluída”. Nestas circunstâncias, como poderiam ter pensado de outra forma? Teríamos razão de esperar qualquer coisa menos que isto quando esta importante transição ocorreu no ministério de Cristo? Seria razoável supor que, depois de pregar uma mensagem tão solene como a que estavam dando, ainda continuariam a sentir exatamente a mesma preocupação de antes pelos pecadores que haviam rejeitado sua mensagem? Se tivessem se sentido assim, isto teria provado que na verdade não tinham nenhuma confiança em sua própria pregação.
4. Será notado pelo leitor cuidadoso que nestas citações as únicas classes das quais o irmão White fala como tendo sido “rejeitados” são o pecador “a quem Jesus havia estendido os braços todo o dia, e que havia rejeitado as ofertas de salvação”, e “a igreja professa que rejeitou a verdade”. Em resumo, as próprias classes a quem a mensagem de advertência havia sido pregada, mas que a haviam rejeitado. Nestas declarações não se pode encontrar uma só palavra que dê a entender que os que ainda não haviam chegado à idade da razão ou os que não haviam rejeitado a luz estivessem incluídos entre os que são deixados de fora da porta. Os adventistas do sétimo dia ainda crêem que os que deliberadamente recusaram o chamado se perderão. “Nenhum daqueles homens que foram convidados provará a Minha ceia”. Lucas 14:24.
Vemos, portanto, que estas citações, que são as mais fortes que nossos oponentes podem mencionar, falham completamente em provar o que eles desejam provar com elas, a saber, que o pastor White ensinava que não havia salvação para ninguém exceto aqueles que haviam estado na primeira mensagem. Estas palavras estão em perfeita harmonia com a citação que demos, escrita menos de um ano depois, na qual ele expressamente declara sua crença de que uma “multidão de preciosas almas” ainda seriam alcançadas. É bem sabido que os crentes nesta época criam firmemente que 144.000 almas seriam seladas “com o selo do Deus vivo” (o santo sábado), e seriam trasladadas de entre os vivos quando Cristo viesse. Supostamente havia cerca de 50.000 adventistas que tinham saído das igrejas em 1844. Muitos destes desistiram após a passagem do tempo. Todos podem ver, portanto, que estes crentes esperavam que mais de 100.000 teriam de ser reunidos de fora dos antigos crentes adventistas. Quão absurdo, portanto, que nossos oponentes afirmem que estes guardadores do sábado achassem que ninguém exceto os antigos adventistas pudessem ser salvos após 1844! Estes eram evidentemente a “multidão” a quem o irmão White se referiu na citação anterior. Para tornar estas posições ainda mais enfáticas, introduzimos citações do irmão David Arnold, um dos mais velhos e fiéis irmãos, publicadas em dezembro de 1849, apenas cinco meses após o primeiro número da Present Truth ter sido impressa, e quatro meses antes destas citações do irmão White terem sido escritas. Na página 45 do número de dezembro de 1849, encontramos estas passagens: “Cristo de fato encerrou Sua ministração ou mediação diária, ou contínua, no primeiro compartimento do santuário celestial e ‘fechou a porta’ [ênfase do autor] que ninguém pode abrir, e abriu a porta do segundo compartimento ou santíssimo, que ninguém pode fechar (ver Apoc. 8:7 e 8); e passou para dentro do segundo véu, levando perante o Pai, no peitoral do juízo, todos aqueles por quem agora está atuando como Intercessor”.
Indagamos: Quem são estes por quem Ele está atuando? Citamos novamente: “ ‘Mas’, diz o objetor, ‘isto não deixa a geração atual, que chegou à idade da razão após aquele tempo, sem um intercessor ou mediador, e não os deixa desprovidos dos meios de salvação?’ Em resposta a esta objeção eu diria que, como eles estavam naquele tempo num estado de inocência, tiveram direito a um registro no peitoral do juízo, tanto quanto aqueles que haviam pecado e recebido perdão, e portanto eles são objeto da intercessão atual de nosso grande Sumo Sacerdote”.
Isto foi escrito cinco anos após a passagem do tempo em 1844. Deve ter havido mais de cem milhões de pessoas que haviam atingido a idade da razão durante este cinco anos após 1844. A posição do irmão Arnold, a qual sabemos que o irmão White endossava na época pelo fato de tê-la publicado, fazia provisão para a possível salvação de todos estes. O mesmo princípio, embora ele não o tenha aqui mencionado, daria os mesmíssimos privilégios a todos os que não haviam negligenciado a luz. A questão inteira, segundo os conceitos dos primeiros crentes, revolvia em torno da natureza da obra de Cristo no lugar santíssimo. Eles criam, como vemos claramente, que os que chegaram à idade da razão após Cristo ter mudado Sua ministração, eram objetos de Sua graça. Ele pleiteia por eles, bem como por aqueles que aceitaram a verdade antes. Seus nomes estavam incluídos entre os que foram levados no peitoral do juízo. Não há nada que eu possa achar em seus escritos que proibiria a idéia de que qualquer pessoa que não houvesse rejeitado a luz possa ser trazida à presença de Deus por nosso grande Sumo Sacerdote, por quem Ele pleiteraria exatamente da mesma forma. Admitimos que não se dizia muita coisa sobre este ponto na época, pois todo o trabalho deles era dirigido às “ovelhas perdidas da casa de Israel” – os crentes na primeira mensagem.
Era, sem dúvida, ordem de Deus que aqueles que haviam estado familiarizados com as verdades do grande movimento de tempo, e que haviam sido batizados com o espírito deste movimento, devessem ser os primeiros a ouvir a terceira mensagem angélica; assim como era que aqueles que haviam ouvido João Batista e Cristo devessem ouvir a pregação dos apóstolos após o dia de Pentecostes. Eles deviam formar o núcleo de um grande trabalho, e estariam mais firmemente ancorados nas verdades da mensagem do que poderiam estar os novatos. Seriam capazes de ajudar a moldar os novos crentes no espírito da obra. Portanto, Deus dispôs as coisas de tal forma que eles ouvissem primeiro a última mensagem de advertência. Isso, como o irmão White diz, foi a primeira preocupação que sentiram. Só depois começaram a trabalhar por aquelas “multidões” que ainda deviam ser trazidas. Esta linguagem do irmão Arnold, publicada antes da citação que demos do irmão White, é prova positiva de que os líderes da obra não criam numa porta fechada que excluiria a todos excetos os antigos crentes adventistas. Conquanto eles cressem numa “porta aberta” e numa “porta fechada”, ninguém era excluído exceto aqueles que haviam rejeitado a luz da verdade. Em nosso próximo artigo apresentaremos provas ainda mais positivas disto.
Fonte: Review and Herald, 31 de março de 1885.
“A Doutrina da Porta Fechada Entre os Crentes na Terceira Mensagem Angélica”
No artigo nº 8 demos citações mostrando que a chamada doutrina da “porta fechada” foi defendida pelos crentes em 1850 e 51. Mas também provamos claramente que ela apenas excluía aqueles que rejeitaram a luz. Citamos, da linguagem usada pelo pastor White, as mais fortes expressões que nossos oponentes podem encontrar pelas quais tentam fazer parecer que ninguém exceto os crentes de 1844 podiam ser salvos. Vimos quão completamente eles falharam em provar sua posição. Apresentaremos agora outras evidências confirmando nossas declarações. À página 72 de Present Truth, publicada em Oswego, N.Y., em abril de 1850, temos o seguinte item: “Uma obra muito interessante está ocorrendo agora entre os filhos do ‘remanescente’ nesta cidade. A salvação deles tem sido o principal assunto de nossas reuniões nos últimos dois sábados, e Deus tem nos abençoado maravilhosamente. A verdade tem tido bom efeito sobre nós, bem como sobre nossos filhos. Na segunda-feira à noite tivemos uma reunião para benefício especial deles, e o Espírito do Senhor foi derramado em nosso meio. As crianças todas estavam curvadas diante do Senhor, e pareciam sentir a importância de guardar os mandamentos, especialmente o quinto, e buscar salvação através de Jesus Cristo. Esta foi uma das reuniões mais interessantes que já testemunhei.” Como esta matéria parece ser o editorial (pois não há assinatura nela), deve ter saído da pena do pastor White. Isto foi publicado apenas um mês antes do artigo de sua pena que continha a longa citação que mencionamos na semana passada, e que contém aquelas fortes declarações sobre a porta fechada as quais os opositores dizem provar que ele cria que não havia salvação para ninguém exceto os antigos crentes adventistas. Aqui o vemos labutando, sem dúvida em conexão com sua esposa, com o mais profundo interesse pelas queridas crianças que estavam “buscando salvação”. Esta havia sido a principal obra deles durante duas semanas. Tinha sido uma grande bênção para eles e para as crianças.
Contudo nossos oponentes concluem pelo que ele publicou um mês mais tarde, que ele cria que nenhuma dessas crianças podia ser salva, porque não haviam sido crentes em 1844. Eles estavam labutando com todas as forças pela salvação daqueles que eles achavam que não podiam ser salvos! Esta pode ser a conclusão deles, mas certamente não é a nossa. Sabemos, portanto, que eles não defendiam os conceitos da porta fechada que os opositores lhes atribuem.
No número de novembro da Present Truth, páginas 84 e 85, temos um relato da conversão de jovens, e o batismo de um que deve ter sido jovem demais para ser um crente em 1844. Esta passagem ocorre numa carta de S. W. Rhodes, que era um eminente obreiro nessa época, e mostra em que tipo de porta fechada eles criam.
Na última página do último número da Present Truth, numa carta do pastor José Bates, encontramos o seguinte: “Nossa reunião em Waitsfield foi abençoada por Deus. O irmão e a irmã Butler vieram de Waterbury com os irmãos Chamberlain e Churchill; os irmãos Hart e Bailey vieram de Northfield; e os que eram do local, com a família do irmão Lockwood, compuseram nossa reunião. O irmão Butler finalmente se rendeu à verdade.” Lembramo-nos pessoalmente dessa ocasião como se fosse ontem, embora tenha ocorrido em 1850. Mamãe vinha guardando o sábado há um ano. Papai se opunha muito a isto, embora tivesse sido um crente dedidido no grande movimento do Advento no passado. A luz sobre o assunto do santuário o levou a aceitar o sábado. Notamos esta reunião porque é mencionado o nome do irmão Churchill. Seu caso foi um dos primeiros casos de conversão do mundo para a verdade presente que ocorreram após 1844. Como dissemos, o trabalho deles até então tinha sido quase exclusivamente em favor das “ovelhas perdidas da casa de Israel” – os velhos crentes no Advento. Eles viam que os descrentes não mostravam qualquer interesse nas verdades que lhes eram tão preciosas, e portanto sua atenção era dirigida para aqueles que amavam a fé adventista, e trabalhavam ardentemente por eles. Isto, evidentemente, estava na providência de Deus. Heman Churchill, de Stowe, Vermont, aquele aqui mencionado, não se havia empenhado no movimento do Advento de 1844. Ele havia se casado, depois disso, com uma filha da irmã Benson, uma adventista de 1844. Lembro-me bem dele quando veio de Waterbury, Vermont, e freqüentava a reunião na casa de meu pai, onde alguns se reuniam de tempos em tempos. Eles ficaram bastante surpresos a princípio de que alguém que tivesse sido um descrente manifestasse interesse na doutrina do Advento. Ele não foi repelido, mas acolhido. Era fervoroso e zeloso; e ao discernirem nele sinceridade, aceitaram-no como um verdadeiro converso. Não posso me lembrar da data exata em que ele começou a buscar a Deus, embora me recorde claramente de sua presença nas reuniões em Waterbury, Vermont. Mas sabemos por esta carta do pastor Bates que foi antes da reunião realizada no outono de 1850; pois nessa ocasião ele estava presente à reunião mencionada em Waitsfield, Vermont, como um crente. O irmão Bates o chama de “irmão”. Sua conversão foi extensivamente propalada. Ora, se nossos oponentes estivessem corretos em suas declarações de que os crentes defendiam uma porta fechada que excluía inteiramente a todos exceto os antigos adventistas, como é que Heman Churchill poderia ter sido recebido como um verdadeiro converso? Isto é evidência positiva de que as afirmações deles são inverídicas. Não há um só exemplo que possa ser encontrado na história primitiva desta causa onde qualquer pessoa que manifestasse sinceridade em buscar a Deus tenha jamais sido repelida. Eles ficavam muito felizes com qualquer evidência de que pessoas assim desejassem a bênção de Deus. De uma carta recebida recentemente do irmão Ira Abbey, de North Brookfield, N.Y., cujo nome é assinado na declaração feita no final deste artigo, tomo a liberdade de extrair a seguinte citação: “Depois da passagem do tempo eu fui um decidido crente na porta fechada. Mas quando a terceira mensagem angélica foi pregada, eu, com minha esposa, a aceitamos. Entre 1846 e 1850 o irmão e a irmã White vieram a nossa casa, e eram muito zelosos pelas crianças e por aqueles que não haviam rejeitado a verdade. Trabalhavam pelos inconversos, e nunca me lembro de ouvir a irmã White dizer que não havia esperanças para os inconversos; mas havia esperanças para os apostatados e para aqueles que não haviam rejeitado a verdade.”
Esta é uma citação de uma carta particular e não foi escrita para publicação, mas o testemunho é tão claro que nos aventuramos a inseri-la. Apresentamos a seguir o trecho de uma declaração escrita por Marion C. Truesdail, e assinada por ela e por cinco outras pessoas: “Durante a visita da srta. Harmon (agora sra. White) a Paris, Maine, no verão de 1845, contei a ela os detalhes de uma querida amiga minha cujo pai a havia impedido de frequentar nossas reuniões; consequentemente ela não havia rejeitado a luz. Ela respondeu sorridente: ‘Deus nunca me mostrou que não há salvação para tais pessoas. São só aqueles que tiveram a luz da verdade apresentada a eles e intencionalmente a rejeitaram.’ A resposta da sra. Harmon coincidiu com minha ideia de uma porta fechada, e com justiça nenhuma outra resposta poderia ser derivada dela.”
O fato aqui apresentado é certamente decisivo quanto à natureza da porta fechada em que eles criam já em 1845. Apresentamos agora uma declaração muito explícita e abarcante que cobre toda esta experiência da porta fechada experimentada pelos crentes na terceira mensagem angélica antes do ano de 1851. Há um bom número de testemunhas vivas que aceitaram a verdade naquela época, que sabem se estas declarações são verdadeiras ou não. Por que o testemunho delas não deveria ser considerado nesta conexão? Obtivemos as assinaturas de várias pessoas, todas as quais aceitaram a verdade já em 1850, e todas estavam no movimento de 1844: “Nós, abaixo assinados, tendo estado bem familiarizados com o movimento do Advento em 1844 e a passagem do tempo, e tendo também aceitado as verdades da terceira mensagem angélica jé em 1850, com prazer subscrevemos aqui nosso nome à seguinte declaração quanto à doutrina da porta fechada sustentada pelos crentes na terceira mensagem angélica desde o tempo de seu surgimento até a última data mencionada, e daí em diante. “Eles criam, em harmonia com Apoc. 8:7 e 8 e outros textos, que no final dos 2300 dias de Dan. 8:14 Cristo encerrou Sua obra no primeiro compartimento do santuário celestial, e mudou Sua ministração para o santíssimo, e entrou na obra de julgamento, mudando Sua relação neste aspecto em relação ao plano da salvação. Aqui uma porta foi aberta e uma porta foi fechada. “Eles criam que aqueles que tiveram clara luz sobre a primeira mensagem angélica e se voltaram contra ela, opondo-se decididamente a ela, foram rejeitados por Deus. Mas eles não criam que aqueles que não tinham tido a luz ou que aqueles que não tinham chegado à idade da razão antes de 1844, se buscassem a Deus com coração sincero, seriam rejeitados. “Embora eles cressem, com Guilherme Miller e a grande massa dos adventistas, imediatamente após a passagem do tempo, que sua obra pelo mundo estava concluída e que o Senhor voltaria muito rápido, contudo após a luz sobre o santuário e a terceira mensagem ter explicado seu desapontamento eles não criam que a misericórdia havia se encerrado, exceto para aqueles que haviam rejeitado a luz.”
· J. B. Sweet, South Saginaw, Mich.
· Samuel Martin, West Ridge, N. H.
· Ira Abbey, North Brookfield, N. Y.
· Sra. R. B. Abbey, North Brookfield, N. Y.
· Sra. Diana Abbey, North Brookfield, N. Y.
· Sra. L. B. Abbey, North Brookfield, N. Y.
· Herman S. Gurney, Memphis, Mich.
· Ann E. Gurney, Memphis, Mich.
· Wm. Gifford, Memphis, Mich.
· Sra. Mary S. Chase, Battle Creek, Mich.
· Sra. S. M. Howland, Battle Creek, Mich.
· Sra. F. H. Lunt, Battle Creek, Mich.
· Sra. Melora A. Ashley, Battle Creek, Mich.
· Sra. Caroline A. Dodge, Battle Creek, Mich.
· Sra. Sarah B. Whipple, Battle Creek, Mich.
· Sra. Uriah Smith, Battle Creek, Mich.
· Sra. Paulina R. Heligass, Moline, Kan.
· R. G. Lockwood, St. Helena, Calif.
· Sra. R. G. Lockwood, St. Helena, Calif.
· Ruben Loveland, North Hyde Park, Vt.
· Sra. Belinda Loveland, North Hyde Park, Vt.
Aqui está um argumento ao qual será difícil responder – mais de uma vintena de testemunhas vivas testificam clara e enfaticamente do que sabem concernente à doutrina da porta fechada. Por outro lado, nossos oponentes que armam tal escândalo sobre a porta fechada não tiveram qualquer conhecimento prático do assunto. Não estavam no movimento e todo o conhecimento que têm foi obtido de segunda mão, enquanto que as testemunhas citadas eram pessoas ativas na mensagem, e sabem do que estão falando. Demonstramos sem sombra de dúvida que nossos oponentes acusam falsamente os primeiros crentes quando dizem que eles ensinavam que não havia salvação exceto para aqueles que eram crentes no advento antes de 1844.
Fonte: Review and Herald, 7 de abril de 1885.
“O Término do Tempo de Graça para Aqueles que Rejeitam a Luz”
Conquanto tenhamos provado que os primeiros crentes na terceira mensagem angélica não criam numa porta fechada que excluía aqueles que não haviam rejeitado a luz, admitimos livremente o tempo todo que eles de fato criam que aqueles que haviam obstinadamente rejeitado a verdade não seriam salvos. Alguns podem achar que este é um ponto de vista descaridoso. Propomo-nos, portanto, a considerar neste artigo o que a Bíblia ensina relativamente ao término do tempo de graça para as pessoas antes do final de sua vida natural.
Entendemos que Deus concede a todo homem uma certa medida de luz, que varia em diferentes eras e países, de acordo com as circunstâncias. Quando esta luz é deliberadamente rejeitada, Deus retira Seu Espírito, e essa pessoa não mais sente a atuação dEle em sua vida. Não precisamos dizer que a pessoa poderia se salvar se arrependesse. Mas em tais circunstâncias ela nunca deseja se arrepender. O verdadeiro arrependimento é causado pela obra do Espírito de Deus no coração como reprovador. João 16:7 e 8. Não podemos duvidar que milhões selem seu destino eterno desta maneira.
Os antediluvianos encerraram seu tempo de graça antes de o dilúvio vir. O Senhor disse: “Meu Espírito não agirá para sempre no homem”. “Resolvi dar cabo de toda carne, porque a Terra está cheia da violência dos homens: eis que os farei perecer juntamente com a Terra. Faze uma arca de tábuas de cipreste”. Gên. 6:3, 13 e 14. Eles não quiseram ceder aos rogos do Espírito; portanto Deus os rejeitou, e retirou deles Seu Espírito. Isto ocorreu muito tempo antes da chuva começar a cair. O mesmo ocorreu com Sodoma e Gomorra. Eles haviam ultrapassado a linha da misericórdia de Deus antes de cair sobre eles fogo do céu. Em muitas das experiências dos filhos de Israel os mesmos princípios foram ilustrados. Quando eles murmuraram, e criticaram, e se rebelaram vez após vez, chegaram por fim a um ponto onde passaram da medida. Números 13 e 14 contém uma ilustração enérgica. Os espias retornaram com um relatório mau, e o povo creu neles e disse: “Levantemos a um para nosso capitão, e voltemos para o Egito”. Não quiseram ouvir o conselho de Calebe e Josué. Deus lhes disse: “Levareis sobre vós as vossas iniquidades quarenta anos, e tereis experiência do Meu desagrado”. “Não entrareis na terra, pela qual jurei que vos faria habitar nela, salvo Calebe, filho de Jefoné, e Josué, filho de Num”. A ordem havia saído, e o destino temporal deles foi fixado. Podemos esperar que alguns deles tenham se arrependido de seus pecados e venham a se salvar; mas havia sido tomada a decisão de que eles nunca veriam a terra da promessa, e nunca entraram nela. Suas vagueações são um tipo das vagueações de muitos outros que imitam a conduta deles na vida espiritual. Vez após vez somos advertidos pelo exemplo deles, para que não falhemos também, como eles falharam. O mesmo é verdade quanto à história posterior dessa nação. As dez tribos conhecidas como “Efraim” (porque esta era a principal tribo) apostataram até que a misericórdia de Deus foi retirada. “Como vaca rebelde se rebelou Israel. … Efraim está entregue aos ídolos; É deixá-lo”. Oséias 4:16 e 17. Os terríveis resultados que se seguiram provaram que a mão protetora de Deus havia sido retirada. Judas Iscariotes passou de seu limite de graça algum tempo antes de sua morte. Quando Cristo disse a seu respeito: “Melhor lhe fora não haver nascido”, seu dia de graça havia passado. Nosso Salvador ensina que aqueles que blasfemam contra o Espírito Santo não têm perdão, “nem neste mundo nem no porvir”. Mat. 12:31 e 32. E São Paulo nos fala de uma classe de pessoas que “estão crucificando para si mesmos o Filho de Deus, e expondo-O à ignomínia”, e que é “impossível outra vez renová-los para arrependimento”. Heb. 6:6.
Quem pode duvidar que os governantes judaicos que haviam visto as poderosas obras de Cristo, que haviam conspirado contra Ele e O mataram, e disseram: “Seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos” haviam transposto o limite da misericórdia? Seu julgamento demorou anos, mas afinal os apanhou nas terríveis calamidades que vieram sobre o povo. Deus esperou porque havia almas honestas a serem tiradas dentre os rejeitados. Todo o mundo ímpio vai passar do limite do tempo de graça antes do aparecimento de Cristo. Quando nosso Salvador encerrar Seu ministério como sacerdote, Ele o anunciará com estas solenes palavras: “Continue o injusto fazendo injustiça, continue o imundo ainda sendo imundo; o justo continue na prática da justiça, e o santo continue a santificar-se. E eis que venho sem demora”. Apoc. 22:11 e 12. O tempo de graça de todas as pessoas estará então terminado para Aqui vemos os princípios gerais sobre os quais Deus conduz Seu governo moral. Ele envia ofertas de graça aos que perecem. Suplica-lhes que venham e sejam salvos. Mas se estas misericórdias são desprezadas e Seu terno amor desdenhado, por fim Ele cessa de pleitear por eles. Abandona-os ao seu próprio caminho. Estes dirão: “Passou a sega, findou o verão, e nós não estamos salvos”. Jer. 8:20.
Há uma classe a quem o Senhor dirá: “Mas porque clamei, e vós recusastes; porque estendi a Minha mão, e não houve quem atendesse; antes rejeitastes todo o Meu conselho, e não quisestes a Minha repreensão: também Eu Me rirei da vossa desventura, e, em vindo o vosso terror, Eu zombarei”. “Então Me invocarão, mas Eu não responderei; procurar-Me-ão, porém não Me hão de achar”. Prov. 1:24-26, 28. Quem pode negar que há muitos destes cujo tempo de graça praticamente terminou, no que diz respeito a qualquer esperança de alcançá-los? Se estas coisas são verdade sobre princípios gerais, é ainda mais claro que aqueles que rejeitam advertências especiais rejeitam sua própria salvação. Assim nosso Salvador, ao falar da obra de João Batista (Lucas 7:29 e 30), declara: “Todo o povo que O ouviu, e até os publicanos, reconheceram a justiça de Deus, tendo sido batizados com o batismo de João. Mas os fariseus e os intérpretes da lei rejeitaram, quanto a si mesmos, o desígnio de Deus, não tendo sido batizados por ele”. “Os publicanos reconheceram a justiça de Deus” ao aceitarem a obra dAquele cuja missão tinha sido predita pela profecia.
Quando Ele veio, como o profeta disse que viria, eles O receberam. Foram achados em harmonia com a obra de Deus. “Mas os fariseus e os intérpretes da lei rejeitaram, quanto a si mesmos, o desígnio de Deus”, ao rejeitarem esta mesma obra. É um assunto sério ser encontrado em desarmonia com a obra de Deus predita pela profecia. Quando obstinadamente rejeitamos esta obra, rejeitamos a Deus, o Autor da obra, e, portanto causamos nossa própria rejeição. Ouça o doloroso clamor de nosso Salvador enquanto contempla a cidade condenada: “Jerusalém, Jerusalém! Que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados! Quantas vezes quis eu reunir os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das asas, e vós não o quisestes! Eis que a vossa casa vos ficará deserta”. Mat. 23:37 e 38. “Ah! Se conheceras por ti mesma ainda hoje o que é devido à tua paz! Mas isto está agora oculto aos teus olhos”. Lucas 19:42. Aqui o querido Salvador, chorando em angústia, contempla-os encerrando cegamente seu tempo de graça, e Ele não pode salvá-los.
Como estes princípios claros se aplicam à experiência de 1844? Aqui estava um dos mais importantes movimentos já preditos na profecia. Ele anunciou ao mundo que chegara a “hora do Seu juízo”, que o maior período profético da Bíblia se encerrara, que Cristo logo apareceria em glória, e que o grande dia da ira de Deus estava para começar. Esta mensagem de advertência foi a todas as partes da Terra. Milhares se empenharam em sua proclamação, e dezenas de milhares a aceitaram. Ela saiu com um poder não visto na igreja há séculos. Multidões de pecadores e céticos foram convertidos por ela. Ela trouxe todas as marcas de uma genuína mensagem enviada pelo Céu. A proclamação feita naquela época marcou a transição de nosso grande Sumo Sacerdote da obra geral de pleitear pelo homem diante do Pai, para a obra especial de apagar os pecados de todo o Seu povo dos livros memoriais de Deus, e encerrar o tempo de graça para sempre. Nenhum evento na obra de nosso Salvador poderia ser de maior importância do que isto. Reis e profetas haviam aguardado por esta obra de julgamento com o maior interesse. Não era este um movimento tão importante quanto o de João Batista? Sua mensagem foi proclamada por um só homem, no prazo de alguns meses, ao longo de um território de tamanho menor que alguns de nossos estados, para uma população comparativamente pequena. Esta mensagem foi pregada por milhares de pessoas. Chegou às mais remotas partes da Terra, e foi o cumprimento de muitas profecias importantes. Milhões e milhões a ouviram. Aqueles que rejeitaram a mensagem de João rejeitaram o conselho de Deus contra sua própria alma. Quão mais evidente, então, que o mesmo efeito se seguisse à rejeição desta luz maior! Esta mensagem de tempo, baseada sobre a profecia, foi a primeira de uma série de três que constituem a advertência final ao mundo, e nos levam à vinda de Cristo. Apoc. 14:6-16. Elas estão intimamente ligadas, cada uma apresentando aspectos do mais profundo interesse para a humanidade. A mesma série é apresentada em uma das parábolas do Salvador. Lucas 14:16-24. “Certo homem deu uma grande ceia e convidou muitos. À hora da ceia, enviou o seu servo para avisar aos convidados: Vinde, porque tudo já está preparado. Não obstante, todos, à uma, começaram a escusar-se. Disse o primeiro: Comprei um campo e preciso ir vê-lo; rogo-te que me tenhas por escusado. Outro disse: Comprei cinco juntas de bois e vou experimentá-las; rogo-te que me tenhas por escusado. E outro disse: Casei-me e, por isso, não posso ir.
“Voltando o servo, tudo contou ao seu senhor. Então, irado, o dono da casa disse ao seu servo: Sai depressa para as ruas e becos da cidade e traze para aqui os pobres, os aleijados, os cegos e os coxos. Depois, lhe disse o servo: Senhor, feito está como mandaste, e ainda há lugar. Respondeu-lhe o senhor: Sai pelos caminhos e atalhos e obriga a todos a entrar, para que fique cheia a minha casa. Porque vos declaro que nenhum daqueles homens que foram convidados provará a minha ceia.” Aqui estão representados os três chamados para a ceia das bodas do Cordeiro. Estes correspondem às três mensagens. O servo é enviado “à hora da ceia”, que é no final do dia. No primeiro chamado, é dada uma desculpa. Algum objeto mundano é mais importante para eles do que serem convidados para a ceia. A mensagem apelativa corresponde à terceira na série de Apoc. 14. Suas verdades são muito claras, mas muito impopulares, e contrárias a nossos interesses mundanos; e ninguém senão aqueles cuja consciência os compele, darão ouvidos a ela.
Marquem as solenes palavras: “Porque vos declaro que nenhum daqueles homens que foram convidados provará a Minha ceia”. A rejeição desse solene chamado de juízo é a rejeição “quanto a si mesmos, [do] desígnio de Deus”, da mesma forma que no tempo de João Batista. “Vossos irmãos, que vos aborrecem e que para longe vos lançam por causa do vosso amor ao Meu nome, e que dizem: Mostre o Senhor a Sua glória para que vejamos a vossa alegria, esses serão confundidos”. Isa. 66:5. “Mas se aquele servo, sendo mau, disser consigo mesmo: Meu Senhor demora-Se”, “será punido com muitos açoites”. A classe de pessoas que clama: “Paz e segurança” quando os servos fiéis estão dando a mensagem do Senhor, não estará preparada. “Assim como foi nos dias de Noé, será também nos dias do Filho do homem”. Aqueles que recusaram a luz foram rejeitados por Deus.
Estes e muitos outros textos demonstram claramente que terríveis consequências se seguem à rejeição da luz relativa à vinda de Cristo. É então de admirar que os crentes em 1844 deram importância à luz que Deus lhes havia dado? É de admirar que tenham concluído que aqueles que odiaram e rejeitaram a luz trouxeram a desaprovação de Deus sobre si mesmos? Como poderiam ter chegado a outra conclusão? Não podiam, a menos que admitissem ao mesmo tempo que a verdade que amavam não tinha nenhuma importância. Isto não podiam fazer sem agirem como tolos e condenarem sua gloriosa experiência. Viram o mesmo espírito em seus opositores que caracterizou os antigos judeus que rejeitaram a pregação de João. Portanto, chegaram à mesma conclusão quanto a eles que Cristo ensinou quanto à oposição dos judeus, e assim creram que estes foram rejeitados por Deus.
Em toda a nossa extensa familiarização com esta obra, viajando do Maine à Califórnia, de Minnesota ao Texas, e vendo muitos milhares de crentes em nossas grandes reuniões campais, ainda não conhecemos ninguém que tenha se oposto obstinadamente às primeiras mensagens e que tenha aceito a terceira. Portanto, o resultado prova que a posição tomada pelos crentes estava certa. Aqueles que rejeitaram a luz de Deus foram rejeitados por Ele.
Fonte: Review and Herald, 14 de abril de 1885.