Roger W. Coon

Introdução

1. Inferências equivocadas de críticos dos “empréstimos literários” feitos por Ellen White:

a. Ela não poderia ser uma profetisa verdadeira

(1) Crença implícita: inspiração verbal/mecânica

(a) Pressuposição: Profetas verdadeiros não necessitam de assistência literária; eles obtêm suas mensagens diretamente do Senhor

b. Ela era incapaz de escrever tudo aquilo que lhe tem sido creditado

c. Ela não foi a verdadeira autora dos trabalhos a ela atribuídos; seus auxiliares é que o foram

2. Categorias dos livros de Ellen White:

a. Livros escritos como tais

b. Compilações

c. Simplificações (texto original parafraseado, utilizando-se vocabulário mais simples)

d. Condensações (texto original mantido, mas com redução de volume)

e. Resumos (extratos do texto original – parágrafos resumidos em capítulos)

I. Precedentes Bíblicos

1. Porventura os escritores bíblicos empregaram assistentes literários?

a. Desejamos examinar Ellen White à luz da Bíblia; não desejamos ver a Bíblia à luz de Ellen White

A. Velho Testamento

1. Jeremias:

a. Identidade do secretário: Baruque (Jeremias 36:4 a 6, 17 e 18 27 e 32)

b. Necessidade deste elemento: “Estou encarcerado” (Jeremias 36:5). Aparentemente o profeta estava na prisão nesta oportunidade.

c. Preocupação pública: “Como escreveste isto?” (36:17)

B. Novo Testamento

1. Paulo:

a. Identidade dos secretários:

(1) Romanos: Tércio (Romanos 16:22)

(2) I Coríntios: Sóstenes (?) (I Coríntios 1:1)

b. Necessidade:

(1) Aprisionamento (?)

(2) Deficiência visual (?) (cf. o “espinho” de Paulo em II Coríntios 12:7)

(3) Mãos que manifestavam defeito permanente em virtude das torturas infligidas pelos perseguidores (?) (cf. II Coríntios 11:24 a 27)

c. Como ele o fez? (Podemos apenas conjecturar quanto a este ponto)

(1) Em certas situações, provavelmente ele deu ao secretário o esboço geral e certas idéias que deveriam ser incluídas no texto

(a) Evidência: as qualidades retóricas variam de epístola para epístola; existem diferenças de estilo; diferenças estruturais (por exemplo, Hebreus 11 – teria este sido originalmente um sermão do apóstolo?)

(b) Isto de modo algum diminui a inspiração das mensagens 2. Pedro.

a. Identidade do secretário:

(1) I Pedro: Silvano / Silas/ (I Pedro 5:12)

b. Necessidade:

(1) Aprisionamento (?)

(2) Educação formal limitada em retórica

c. De que forma ele o fez? (Podemos apenas conjecturar em torno deste ponto)

(1) Pedro provavelmente forneceu a Silvano o esboço, e talvez um  conjunto de idéias a serem incluídas na epístola, permitindo que Silvano escolhesse o vocabulário, o estilo retórico, etc. 3 João.

a. De acordo com uma tradição da ilha de Patmos, João foi assistido por um dos sete primeiros diáconos: Prócoro (cf. Atos 6:5)

(1) Afirma-se que João ditou aquilo que contemplara em visão a esseassistente, o qual redigiu as mensagens.

b. Ainda necessito encontrar corroboração independente, de fontes inspiradas desta sugestão; mas ela representa uma interessante tradição da Igreja Greco-Ortodoxa.

II. Necessidade de Ellen White em Relação à Assistência Externa – Quatro Limitações

A. Limitações decorrentes da falta de preparo formal

1. Ellen White na verdade não foi uma pessoa “sem cultura”, exceto se considerar

a definição mais restrita de “cultura” – certo número de horas gasto no interior de uma sala de aula

(a) Quatro fontes para a sua “verdadeira” cultura:

(1) Ela lia amplamente; ao tempo de sua morte, a biblioteca particular possuía mais de 800 volumes.

(2) Viagens: viajou muito em três continentes (dois anos na Europa; nove anos no Pacífico Sul).

(3) Associação íntima com líderes eruditos, cujas mentes ela pôde “assimilar” (por exemplo, John N. Andrews, etc.)

(4) Aproximadamente 2.000 sonhos e visões proféticos distintos, nos quais manteve conversação com Jesus, Gabriel, etc.

2. Existiam, contudo, genuínas limitações devidas à educação formal limitada:

(a) Vocabulário

(b) Gramática e sintaxe

(c) Estilo

(d) Problemas técnicos: pronúncia, pontuação, uso de maiúsculas, etc.

B. Limitações resultantes de escrever rápido

1. O aspecto do “fluxo de consciência” de alguns escritos apressados

2. A preocupação da pós-visão: transferir tudo para o papel tão rápido quanto possível, enquanto o material ainda estivesse bem vívido na memória.

C. Limitações ocasionadas pelo cansaço/opressão mental, resultante de pesado fardo de ansiedade

D. Limitações geradas pela tentativa de retratar material difícil/complexo

III. Identidade de Seus Auxiliares Literários – Três Categorias

A. Pessoas da Família

1. O esposo Tiago White (seu primeiro auxiliar)

a. Recebeu treinamento como professor primário

b. Auxiliou-a na série Spiritual Gifts I-IV (1858 a 1864)

c. Ela escreveu o material

(1) Ele corrigiu os erros gramaticais; eliminou repetições desnecessárias (1ME, p. 50)

d. Ellen White não considerava o julgamento do esposo como sendo “infalível, nem suas palavras como inspiradas; mas sempre acreditei que ele fosse melhor qualificado para esse trabalho que qualquer outro dos nossos pregadores, em vista de sua longa experiência, e porque eu vi que ele foi especialmente chamado e adaptado ao trabalho. …” (1T, pp. 612,613)

2. A sobrinha Mary Clough (1876 e 1877)

a. A única não-adventista empregada nesse trabalho

b. Duas razões para esta experiência (que afinal se demonstrou insatisfatória)

(1) Ela almejava trazer Mary para a igreja remanescente

(2) Através de Mary ela esperava alcançar a mãe da moça – a irmã mais velha de Ellen, Carolyn Clough

3. O filho Tiago Edson White (1895 e 1896)

a. Trabalhou em Christ Our Saviour: um livro “simplificado” de Ellen White, com 158 páginas

(1) Capítulos daquele que viria a se tornar O Desejado de Todas as Nações

(1898), foram reescritos em vocabulário simples, básico, para a audiência de negros, em grande parte constituída de iletrados ex-escravos, que Edson mantinha no Mississippi.

(2) Em 1900 Marian Davis expandiu-o para 182 páginas; o livro foi rebatizado como Story of Jesus

b. Seu trabalho foi diretamente autorizado pela mãe (CARTA 86, 1895, citada The Publishing Ministry, p. 209)

B. Equipe Empregada em Casa
(Estas pessoas eram pagas com o resultado dos direitos autorais de livros publicados)

1. Marian Davis [1847 a 1904]

a. Trabalhou durante 25 anos com Ellen White (1879-1904)

b. Assistente-chefe no projeto O Desejado de Todas as Nações; também colaborou em A Ciência do Bom Viver Educação

c. Ellen White identificou-a como “minha editora” – “seu trabalho é diferente do de todos os demais” (CARTA 61ª, 1900)

2. Senhorita E. J. Burnhams

3. Senhorita Fannie Bolton

4. Senhorita Sarah Peck

5. Senhorita Maggie Hare

6. Senhorita Minnie Hawkins

7. “Irmã Tenney”

8. Senhora W. P. Caldwell

C. Colegas Profissionais

1. J. H. Waggoner

2. J. N. Loughborough

3. Dr. David Paulson (em A Ciência do Bom Viver)

4. W. W. Prescott (em O Grande Conflito)

5. H. Camden Lacey

6. E. R. Palmer

IV. Ellen White como Autora: seu papel na produção de O Desejado de Todas as Nações

A. Fontes de Material

1. Visões provenientes de Deus

2. A Bíblia

3. Escritos não-inspirados

a. Obras de referência:

(1) Harmonias dos Evangelhos

(2) “Histórias Bíblicas”

(3) Dicionários Bíblicos

b. Biografias de Cristo

c. Literatura devocional em geral

B. Tarefa Redacional

1. Evolução do formato do livro:

a. 1858: Spiritual Gifts, Livro I: mais de 50 páginas sobre a vida de Cristo

b. 1876 a 1877: Spirit of Prophecy, vol. II e III: mais de 640 páginas sobre a vida de Cristo

c. Década de 1890: emergem três livros:

1. O Desejado  de Todas as Nações: 835 páginas – biografia básica de Jesus (1898)

2. Parábolas de Jesus: 421 páginas – comentário sobre as parábolas (1900)

3. O Maior Discurso de Cristo: 152 páginas – comentário sobre o Sermão do Monte (1896)

2. “Ingredientes” reunidos:

a. Artigos de periódicos

b. Correspondência: referências incidentais

c. Transcrição de sermões

d. Capítulos de livros

C. Tarefas de Revisão/Desenvolvimento

a. Revisão do material temático agrupado por tópicos

b. Correções

c. Escritos adicionais – basicamente “inserções” e “acréscimos”:

(1) Ampliações

(2) Esclarecimentos

(3) Expansão de declarações anteriores

(4) Material “ponte” utilizado para estabelecer vínculos em pontos de “lacuna” da narrativa total

D. Autoridade/Comando: Ellen White assumia total responsabilidade

a. Aprovação final da última revisão/edição antes de o manuscrito ser enviado à casa publicadora

b. Cabia-lhe a escolha do título do livro a partir de sugestões feitas pelo editor

c. Revisões subseqüentes: relacionadas com edições posteriores de determinado livro

E. Sentimentos subjetivos do autor

a. Condições físicas relacionadas com as demandas da tarefa de escrever

b. Reações psicológicas/emocionais

(1) Devidas às limitações literárias

(2) Devidas às limitações inerentes a uma pessoa finita que tenta

Comunicar adequadamente conceitos infinitos

V. Função dos Auxiliares Literários

A. Assistentes Gerais (Equipe Remunerada)

1. Instruídos a empreender as seguintes Tarefas:

a. Corrigir erros gramaticais

b. Eliminar repetições desnecessárias

c. Transposições internas: agrupamento de parágrafos e seções de acordo com o melhor arranjo

d. Clarificação de idéias que Ellen White poderia haver expressado inicialmente de modo vago

e. Transposições externas (permitidas a uns poucos auxiliares principais, de longa experiência): transposição de seções/parágrafos/sentenças de um manuscrito para outro, onde pensamentos idênticos poderiam ser expressos mais claramente

f. Preparação do índice dos livros

2. Proibições a estes auxiliares:

a. Modificar o sentido de qualquer coisa escrita por Ellen White

b. Acrescentar novas idéias/pensamentos originadas do assistente

(1) Testemunho de Marian Davis a G. A. Irwin em 23 de abril de 1900, negando as alegações de que os assistentes escreviam os materiais de Ellen White

(2) Testemunho de Marian Davis a G. C. White em 9 de agosto de 1897, Concernente à impossibilidade de o editor preparar o texto original

B. Colegas Profissionais

1. Lacey: rearranjou idéias, reescreveu pequenos trechos

2. Waggoner, Loughborough: clarificaram conceitos doutrinários/teológicos

3. Prescott: rearranjou seqüência de eventos (em O Grande Conflito: citações históricas, pesquisa geral)

4. Paulson: clarificou conceitos/fraseologia da área médica, de modo a tornar a apresentação mais aceitável a profissionais médicos

C. Marian Davis

(“minha editora”, cujo trabalho era “de natureza diferente”)

1. Planejamento:

a. Geral – objetivo e plano do volume

1. A quem o livro deveria servir; audiência

2. Quanto espaço (ou extensão) dedicar a cada assunto

3. O melhor relacionamento entre os tópicos

b. Específico

1. Cronologia dos eventos de acordo com a harmonização dos Evangelhos

2. Escopo/conteúdo de cada capítulo específico

(a) Algumas sugestões eram aceitas por Ellen White

(b) Outras sugestões não eram aceitas por Ellen White

2. Reunião do material: preparação de 30 “livros para recorte”

a. De livros (meia dúzia de volumes encadernados, principalmente)

b. De manuscritos não-publicados

c. De cartas/correspondências: parágrafos ou mesmo sentenças isoladas

d. De sermões transcritos

e. De jornais/diários

3. Arranjo: “clarificação e agrupamento”

a. Categorias gerais, por tópicos

b. Tudo o que se relacionasse com determinado assunto

4. Transposições:

a. Justaposição de capítulos

b. Nova redação de sentenças de abertura de capítulos, a fim de eliminar a impressão de textos de diário ou narrativa de viagens

c. Novo arranjo de frases em capítulos/parágrafos, mediante a substituição de pequenas sentenças

5. Substituições menos significativas de palavras:

a. Exemplo de relutância em efetuar modificações menores para as quais havia recebido autorização, com subseqüente exasperação face a Ellen White e GCW (CARTA 64ª, 1889)

6. Supressões:

a. Palavras desnecessárias ou repetitivas

b. Detalhes extra-bíblicos, ou coisas que superficialmente pareciam contradizer o relato bíblico (a fim de afastar preconceitos desnecessários por parte de leitores não-adventistas)

c. “Foi-me mostrado” – expressão retirada de livros agora preparados para público em geral (pela mesma razão)

7. Conferência e revisão junto com Ellen White:

a. Sugestão de lições adicionais a serem expostas em determinado capítulo

b. Sugestões de ampliações/clarificações adicionais que se fizerem necessárias

c. Sugestão de materiais “pontes” a fim de suprir lacunas

8. Não assumiu a redação original de textos

9. Avaliação de seu trabalho por parte de Ellen White


Para estudo adicional: Robert W. Olson, How the Desire of Ages Was Written (Washington: White Estate, 1979), 47 páginas.

Apêndice

Os materiais que aparecem a seguir provêm do SDA Biblie Commentary e do SDA Bible Dictionary (volume 8 da série do Comentário), e dizem respeito à questão da assistência literária empregada pelos seguintes autores bíblicos:

1. Jeremias

2. Paulo

3. Pedro

1. Jeremias

2. Autoria – Jeremias foi o autor de pelo menos a maior parte do livro. A redação efetiva foi realizada por seu secretário de confiança, Baruque, filho de Nerias (veja capítulo 36:4, 28 e 32). Baruque pode também haver feito a reunião, edição e preservação do material do livro, e possivelmente terá contribuído no que tange às narrativas biográficas nele contidas. Sua posição como “escriba” e secretário de Jeremias, implica em que Baruque possuía bom nível de instrução. De acordo com Josefo (Antiquities x. 9. 1), Baruque provinha de uma família distinta de Judá. Parece que seu irmão era o camareiro-mór de Zedequias, o qual foi com o rei para Babilônia (veja Jeremias 51:59). Seu elevado caráter e influência são demonstrados pelo fato de que os remanescentes, que desejavam fugir para o Egito, acusaram Baruque de estar influenciando o profeta contra eles (veja o capítulo 43:3), bem como pelo fato de alguns escritos espúrios haverem sido emitidos posteriormente em seu nome. Um destes escritos, o livro de Baruque, é encontrado entre os apócrifos. Mantendo-se sempre leal a Jeremias, dirigiu-se com este para a terra do Egito quando o profeta foi forçado a acompanhar o remanescente de Judá até aquele país (veja o capítulo 43:5 a 7). – 4 BC, p. 343.

Jeremias 36

1. No quarto ano de Jeoaquim, filho de Josias rei de Judá, veio esta palavra do Senhor a Jeremias, dizendo:

2. “Toma o rolo, o livro, e escreve nele todas as palavras que te falei contra Israel, contra Judá e contra todas as nações, desde o dia em que te falei, desde os dias de Josias até hoje.

3. “Talvez ouçam os da casa de Judá todo o mal que Eu intento fazer-lhes, e venham a converter-se cada um do seu mau caminho, e Eu lhes perdoe a iniqüidade e o pecado”.

4. Então Jeremias chamou a Baruque, filho de Nerias; escreveu Baruque no rolo, segundo o que ditou Jeremias, todas as palavras que a este o Senhor havia revelado.

5. Jeremias ordenou a Baruque, dizendo: “Estou encarcerado; não posso entrar na casa do Senhor.

6. “Entra, pois, tu, e, do rolo que escreveste, segundo o que eu te ditei, lê todas as palavras do Senhor, diante do povo, na casa do Senhor, no dia de jejum; e também as lerás diante de todos os de Judá que vêm das suas cidades.”

Comentário

1. Quarto ano de Jeoaquim. Ou seja, cerca de 604 A. C. (veja o capítulo 25:1). Depois que Jeremias proclamou a mensagem franca registrada no capítulo 19, o profeta foi aprisionado (veja o capítulo 20). Foi durante e após este aprisionamento que ocorreram os eventos do capítulo 36 (veja Patriarcas e Profetas, pp. 462 a 437 – paginação do original). – 4BC, p. 481

17. E perguntaram a Baruque, dizendo: “Declara-nos, como escreveste isto? Acaso te ditou o profeta todas estas palavras?”

18. Respondeu-lhes Baruque: “Ditava-me pessoalmente todas estas palavras, e eu as escrevia no livro com tinta.”

Comentário

17. De que forma escreveste? Os príncipes desejavam ansiosamente saber quem era responsável pela mensagem do profeta. Teria Baruque utilizado suas próprias palavras ao expressar os pensamentos do profeta, ou representavam aquelas palavras as do próprio profeta? A resposta de Baruque revelou que as palavras eram diretamente as de Jeremias (verso 18).

18. Ele pronunciou. Em linguagem moderna, ele diria que o profeta ditou suas mensagens ao secretário.
(Nota do tradutor: é assim, aliás, que o texto aparece em nossa versão Almeida Revista e Atualizada).

27. Então veio a Jeremias a palavra do Senhor, depois que o rei queimara o rolo, com as palavras que Baruque escrevera ditadas por Jeremias, dizendo:

28. “Toma outro rolo, e escreve nele todas as palavras que estavam no original, que Jeoaquim, rei de Judá, queimou.”

Comentário

27. Então veio … a palavra do Senhor. Provavelmente enquanto o profeta e Baruque estavam escondidos (versos 19 e 26).

28. Todas as palavras que estavam no original. No segundo rolo não deveria faltar coisa alguma que havia sido incluída no primeiro (veja o verso 32).

32. Tomou, pois, Jeremias o outro rolo e o deu a Baruque, filho de Nerias, o escrivão, o qual escreveu nele, ditado por Jeremias, todas as palavras do livro que Jeoaquim, rei de Judá, queimara no fogo; e ainda se lhes acrescentaram muitas palavras semelhantes.

 Comentário

32. Se acrescentaram. Não apenas foi escrita toda a mensagem do primeiro rolo, mas foram acrescentadas mensagens adicionais, semelhantes, ao segundo rolo. – 4BC, p. 482

Baruque (bâr’uk(. [Heb. Barûk, “bendito”. O nome aparece também nos óstracos de Samaria].

1. Escriba e associado íntimo do profeta Jeremias. Josefo afirma que ele provinha de uma família eminente (Ant. x. 9. 1). No quarto ano de Jeoaquim Baruque copiou, ditadas por Jeremias, uma série de profecias denunciatórias, e no ano seguinte leu-as de público (Jeremias 36:1 a 20). Os príncipes informaram o rei a respeito deste fato; o monarca, enquanto o rolo era lido em sua presença, cortou-o em pedaços e o queimou, ordenando ainda que o profeta e seu escriba fossem presos. Estes escaparam da ira do rei pelo fato de se esconderem (versos 21 a 26). Ali Jeremias tornou a ditar e Baruque reescreveu as profecias anteriores, acrescentando muitas outras (versos 27 a 32). Em conexão com a redação do rolo Baruque ficou tão desanimado que o Senhor lhe enviou uma mensagem especial de conforto (capítulo 45:1 a 5).

Quando Jeremias comprou um campo de seu tio, em Anatote, durante o cerco final de Jerusalém, confiou ele a escritura a Baruque (Jeremias 32:6 a 16, 43 e 44). Baruque encontrava-se com Jeremias em Mispa, depois da queda de Jerusalém, e foi mais tarde acusado de estar influenciando Jeremias no sentido de dissuadir as pessoas de irem para o Egito, após o assassinato de Gedalias. Os poucos judeus forçaram-no, junto com Jeremias, a acompanhá-los até o Egito (capítulo 43:1 a 7), onde se encerra a história de sua vida. Mais tarde, os judeus consideraram-no como autor de vários livros. – SDA  Bible Dictionary, 117.


 Fontes: SDA Bible Commentary, volume 4, SDA Bible Dictionary , volume 8

2. Paulo

I. Romanos

16:22 – Eu, Tércio, que escrevi esta epístola, vos saúdo no Senhor.

Tércio / Grego Tertios, do Latim tertius, “terceiro”. / O escriba que escreveu a epístola de Paulo aos Romanos, e que incluiu sua própria saudação à igreja em Roma (Romanos 16:22). – SDA Bible Dictionary, 1084.

Comentário

22. Tércio. Secretário de Paulo, a quem o apóstolo agora permite enviar uma saudação em nome pessoal. Parece que em geral Paulo ditou suas cartas a um escriba, tendo depois acrescentado a saudação de punho próprio (veja I Coríntios 16:21; Colossenses 4:18; II Tessalonicenses 3:17; veja Gálatas 6:11).

No Senhor. Isto indica o tipo de assistentes que Paulo empregava. Tércio não era apenas um escriba, mas também um companheiro de fé, e deve ter acompanhado com grande interesse as instruções de Paulo aos cristãos romanos. – 6BC, pp. 651 e 652.

II. I Coríntios

Comentário (“Introdução”)

2. Autoria. Exceto por parte de críticos ultra-radicais que chegam ao ponto de questionar até mesmo a existência de Paulo, a autoria paulina desta epístola tem sido geralmente aceita. Efetivamente, junto com II Coríntios, Romanos e Gálatas, crê-se que seja a mais autêntica das cartas de Paulo. O nome do autor aparece tanto ao início quanto no fim desta epístola (I Coríntios 1:1 e 2; 16:21). A carta foi ditada a um amanuense, ou secretário, com exceção da saudação que aparece no final do livro, a qual Paulo escreveu “de próprio punho” (capítulo 16:21). A razão exata pela qual ele utilizou secretários, não é conhecida, mas parece ter sido este o seu costume (veja Romanos 16:22; Colossenses 4;18; II Tessalonicenses 3:17). Uma das sugestões é que o apóstolo sofria de deficiências visuais (veja Gálatas 6:11). – 6BC, p. 655.

I Coríntios 1:1 – Paulo, chamado pela vontade de Deus, para ser apóstolo de Jesus Cristo, e o irmão Sóstenes.

Comentário

Sóstenes [Grego Sõsthenes, “de boa força”].

1. O chefe da sinagoga em Coríntio, quando Paulo foi acusado na presença de Gálio. Quando este se recusou a condenar Paulo, Sóstenes foi maltratado tanto por seu próprio povo quanto pelo público grego (Atos 18:17), provavelmente porque seu desempenho como acusador foi considerado fraco.

2. Um cristão cujo nome aparece em I Coríntios 1:1 como a pessoa que, junto com o apóstolo Paulo, envia esta epístola. Pode tratar-se do mesmo Sóstenes descrito em 1, e, neste caso, deve haver-se convertido após os eventos descritos em Atos 18. De acordo com uma tradição cristã posterior, ele foi um dos Setenta. – SDA Bible Dictionary, p. 1036.

Sóstenes. Não é certa a sua identificação. Possivelmente trate-se do mesmo dirigente da sinagoga de Corinto, mencionado em Atos 18:17. A tradição que o considera como um dos Setenta discípulos (Lucas 10:1), não possui fundamento. Sóstenes pode ter sido o amanuense de Paulo, tal como Tércio o foi na epístola aos Romanos (veja Romanos 16:22). O fato de o nome de Sóstenes aparecer na abertura da epístola, não o torna co-autor da mesma. Era costume de Paulo mencionar o nome de seus associados.

Irmão. Designação comum dos cristãos naquele tempo (veja Romanos 16:23; etc.). O nome “cristão” ainda não era comum (veja Atos 11:26). – 6BC, pp. 659 e 660.

I Coríntios 16:21 – A saudação, escrevo-a eu, Paulo, de próprio punho.

Comentário

21. Próprio punho. Aparentemente Paulo tinha o costume de utilizar um secretário para escrever suas cartas às igrejas. Concedia autenticidade às epístolas assinando seu próprio nome e expressando suas saudações aos irmãos (cf. Colossenses 4:18; Tessalonicenses 3:17). Esta assinatura constituía prova de que o conteúdo da epístola era verdadeiramente seu, ao mesmo tempo em que representava uma indicação de seu amorável interesse pela igreja. Ele havia sido perturbado por aqueles que, forjando cartas, atribuíram a autoria destas a ele (veja II Tessalonicenses 2:2), e sua assinatura tinha em vista frustrar os desígnios destes homens. – 6BC, p. 818.

 

III. Gálatas

Capítulo 6:11 – Vede com que letras grandes vos escrevi de meu próprio punho.

Comentário

11. Com que grandes letras. … Não está claro se Paulo se refere aqui a toda a epístola ou apenas aos versos 11 a 18 do capítulo 6. A maioria das epístolas de Paulo foram ditadas a um escriba, ou amanuense (cf. Romanos 16:22). Entretanto, alguns anos antes desta oportunidade ele iniciou a prática de acrescentar uma breve seção escrita de punho próprio, como garantia da genuinidade de suas cartas (veja I Coríntios 16:21; Colossenses 4:18). Aparentemente, cartas haviam sido forjadas em seu nome (veja II Tessalonicenses 2:2; 3:17). Aqueles que consideram que Paulo escreveu toda a epístola sem o auxílio de um escriba, sugerem que não havia um secretário cristão adequado disponível para a tarefa. Entretanto, crê-se, de modo geral, que a epístola aos Romanos foi escrita mais ou menos ao mesmo tempo em que a que foi enviada aos Gálatas, e ao escrever a primeira, Paulo utilizou os serviços de um escriba de nome Tércio (Romanos 16:22). A crença mais comum é que Paulo escreveu pessoalmente apenas a seção de encerramento de Gálatas. Se, efetivamente, toda a epístola foi escrita diretamente pela mão de Paulo, terá sido a única – além da carta a Filemon – escrita nestas condições, de tal modo que a probabilidade aponta contra esta última hipótese.

O fato de Paulo escrever em “grandes letras” sugere que, pelo menos no encerramento da epístola aos Gálatas, seu secretário não estivesse presente. O grande nível de preparo acadêmico de Paulo exclui a hipótese de que o apóstolo não soubesse escrever bem. Alguns têm sugerido que sua dificuldade em escrever decorresse de dificuldades visuais (veja II Corintios 12:7 a 9; Gálatas 4:15); outros, que suas mãos teriam sofrido dano mais ou menos permanente face aos maus tratos sofridos de seus perseguidores (cf. II Coríntios 11:24 a 27). – 6BC, p. 987.

 

IV. Colossenses

Capítulo 4:18 – A saudação é do próprio punho: Paulo, Lembrai-vos das minhas algemas. A graça seja convosco.

Comentário

18. Saudação … de … Paulo. Aparentemente neste ponto Paulo tomou a pena da mão de seu escriba e escreveu sua saudação de despedida (veja I Corintios 16:21; Gálatas 6:11). A expressão retrata sua afeição e acrescenta um toque final de genuinidade e autoridade pessoal a sua carta. – 7BC, p. 219.

 

V. II Tessalonicenses

Capítulo 3:17 – “A saudação é de próprio punho: Paulo. Este é o sinal em cada epístola; assim é que eu assino.”

Comentário

17. Saudação. Grego aspasmos (veja Colossenses 4:18; I Tessalonicenses 5:26). A referência é feita à bênção apostólica (II Tessalonicenses 3:18), mas a saudação adquire significado especial pelo fato de ser escrita pela mão de Paulo (cf. I Coríntios 16:21; Gálatas 6:11; Colossenses 4:18; Filemon 19). O autógrafo pessoal não era comum em cartas ditadas, mas ele pode haver assumido significado especial nesta epístola em vista de possível perigo de cartas forjadas (veja II Tessalonicenses 2:2). Mesmo que não existisse tal perigo, a visão do texto final escrito de punho próprio haveria de propiciar recepção ainda mais afetuosa por parte dos Tessalonicenses.

Sinal. Grego semeion, “sinal” ou “marca” (veja Lucas 2:34), referindo-se não tanto à saudação, e sim ao fato de haver ela sido escrita pelo punho de Paulo.

Em cada epístola. Isto mostra que era costume de Paulo autografar todos os seus escritos, embora ele não mencione o fato em todas as cartas. – 7BC, pp. 281 e 282.

VI. Pedro

I Pedro 5:12 – Por meio de Silvano, que para vós outros é fiel irmão, como também o considero, vos escrevo resumidamente, exortando e testificando, de novo, que esta é a genuína graça de Deus; nela estai firmes.

Comentário

Silas. [Grego Silas, provavelmente do aramaico She’ila, equivalente ao Hebraico Sha’ûl, “Saul”]. O nome Silas ocorre nos escritos de Josefo e em inscrições gregas. Sua forma latina, também confirmada por inscrições, é Silvanus, do qual a forma grega neotestamentária é Silouanos. [Cidadão romano (Atos 16:37 e 38) e companheiro de Paulo durante a segunda viagem missionária (capítulos 15:40 a 18:22)]. Uma vez que a comparação entre Atos 18:5 e II Coríntios 1:19 mostra que ele também era chamado Silvano, ele é sem dúvida o Silvano de I Tessalonicenses 1:1; II Tessalonicenses 1:1; I Pedro 5:12. Ele era um líder na igreja (Atos 15:22) e profeta (verso 32). Após o Concílio de Jerusalém, ele – junto com Judas Barsabás – foi escolhido para acompanhar Paulo e Barnabé na tarefa de levar cartas do Concílio aos membros gentios de “Antioquia e Síria e Cilícia”, explicando as decisões tomadas pelo Concílio (versos 22 e 23). Chegando a Antioquia, Silas e os demais expuseram suas mensagens, e Silas e Judas, sendo profetas, exortaram e fortaleceram a igreja local (versos 30 e a 32). Mais tarde Silas foi escolhido por Paulo para acompanhá-lo na segunda viagem missionária (versos 40 e 41). Em Filipos, Paulo e Silas foram aprisionados, açoitados e lançados na prisão (capítulo 16:17 a 24). Um terremoto provocou a sua libertação, e pelo fato de serem cidadãos romanos, receberam um pedido de desculpas por parte dos magistrados (versos 25 a 40). Mais tarde Silas e Paulo foram a Tessalônica e Beréia (capítulo 17:1 a 10). Silas permaneceu ali com Timóteo, enquanto Paulo prosseguiu até Atenas (versos 14 e 15). Mais tarde Silas e Timóteo uniram-se a Paulo em Corinto, onde gastaram algum tempo pregando (cf. Atos 18:5; II Coríntios 1:19). Nada sabemos com respeito à vida posterior de Silas, exceto – conforme possivelmente seja indicado por Atos 18:5 e II Coríntios 1:19 – que ele tenha sido o secretário que redigiu a primeira epístola de Pedro (I Pedro 5:12). – SDA Bible Dictionary, p. 1039.

Comentário

12. Por meio de Silvano. A epístola foi escrita pela mão de Silvano, que tanto pode ter sido o secretário de Pedro quanto o portador da epístola (veja a página 547). A comparação entre Atos 18:5 e II Coríntios 1:19 confirma a crença de que Silvano é uma outra forma do nome de Silas. A razão para esta diferença de formas ainda não foi exposta de modo conclusivo, mas é possível que Silas fosse a forma hebraica do nome, ao passo que Silvano fosse a sua forma romana. Portanto, o secretário de Pedro pode ter sido o Silas que acompanhou Paulo em sua segunda viagem missionária.

Silas parece ter sido um cristão judeu que ocupava elevada posição na igreja de Jerusalém, e que se convenceu da necessidade de evangelizar os gentios. Demonstrou-se fiel companheiro de Paulo tanto na prosperidade quanto na adversidade (veja Atos 15:22., 40 e 41; 19:19 e 37; 17:10 e 14; 18:5; I Tessalonicenses 1:1). Se – conforme normalmente se supõe – a primeira epístola de Pedro foi escrita em Roma (veja a página 548), Silas pode ter-se unido a Pedro ali, algum tempo depois de haver trabalhado com Paulo em Corinto (Atos 18:5).

Tem sido sugerido que Pedro escreveu de próprio punho a conclusão da carta (cf. Gálatas 6;11; II Tessalonicenses 3:17).

Fiel irmão. A expressão literal [conforme aparece na versão Almeida Revista e Atualizada é “para vós outros … fiel irmão]. A partir do artigo definido, pode-se inferir que Silvano era bem conhecido dos crentes, e pode, portanto, haver ministrado em favor dos mesmos na Ásia Menor (veja o capítulo 1;1). O artigo também pode ser interpretado num sentido possessivo, “nosso”, implicando em que Pedro desta forma recomenda Silvano a seus ouvintes, em vez de estar destacando uma qualidade já conhecida por parte destes.

Para vós outros. A frase pode ser compreendida como estando a modificar “Por meio de Silvano” – “ por meio de Silvano … para vós outros”. A epístola fora redigida e, possivelmente, levada à igreja, por Silvano.

Como também o considero. Esta cláusula apóia a interpretação sugerida acima – “nosso irmão”. Pedro desejava que seus ouvintes conhecessem o valor que ele próprio atribuía a Silvano, de modo que eles também o tivessem em elevada estima. Compare com a recomendação que Paulo faz de Tíquico (Efésios 6:21). – 7BC, pp. 588 e 589.


Fonte: SDA Bible Commentary,  volumes 6 e 7, SDA Bible Dictionary  (volume 8)

ASSISTENTES LITERÁRIOS DOS AUTORES INSPIRADOS

Por Robert W. Olson

1º de junho de 1986

1. Alguns profetas utilizaram o trabalho de secretários na redação de seus livros.

(a) Jeremias 36:18 – Baruque

(b) Romanos 16:22 – Tércio

(c) I Pedro 5:12      – Silvano

2. As epístolas pastorais revelam diferenças substanciais em relação a todas as demais cartas de Paulo.

(a) Aos secretários de Paulo foi concedida, aparentemente, considerável liberdade de trabalho. As epístolas pastorais, por exemplo, utilizam vocabulário bastante diferente do das demais cartas de Paulo. Existem 902 palavras diferentes, usadas nas três epístolas pastorais. Destas, 306 não ocorrem em nenhuma das demais cartas paulinas. Existem 112 diferentes partículas ou enclíticas (palavras não-traduzíveis) nas demais cartas do apóstolo, mas nem mesmo uma só ocorre nas epístolas pastorais. (William Barclay, comentário sobre as Epístolas Pastorais, página 11.)

(b) De que modo podem ser explicadas estas diferenças? “As diferenças … podem ser devidas à probabilidade de haver ele empregado diferentes escribas, os quais exerceram certa liberdade na escolha da fraseologia” – 5 BC, p. 185.

3. A primeira e a segunda cartas de Pedro são também um tanto diferentes entre si, sob o ponto de vista literário.

(a) Michael Green: “O grego de I Pedro é polido, culto, cheio de dignidade; acha-se entre os melhores do Novo Testamento. O grego de II Pedro é grandioso; assemelha-se mais à arte barroca” – The Second Epistle General of Peter and the General Epistle of Jude, pág. 16.

(b) De que modo se explicam estas diferenças?

William Barclay: “Ou ele [Silvano] corrigiu e aperfeiçoou o grego de Pedro, necessariamente inadequado; ou uma vez que Silvano era um homem bastante eminente pode muito bem ter ocorrido que Pedro lhe tenha dito o que desejava dizer e o tenha deixado em liberdade para escolher a forma de dizê-lo, aprovando depois o resultado final e acrescentando ao conjunto os últimos parágrafos de cunho pessoal. …

“Quando Pedro diz que Silvano foi seu instrumento ou agente na redação da carta, temos em mãos a razão da excelência do grego utilizado. O pensamento é o de Pedro; mas o estilo é o de Silvano” – The Letters of James and Peter, pp. 169 a 171.

(c) Allen A. McRae: “Tampouco podemos excluir a idéia de que em certas ocasiões o autor tenha dado ao assistente uma idéia do que ele desejava, dizendo-lhe que o transformasse em forma escrita. Em tal caso, ele conferiria o trabalho a fim de assegurar-se de que era efetivamente aquilo que ele desejava dizer, e assim poderia ser considerado genuinamente como o autor. O Espírito Santo poderia haver orientado todo o processo, de modo que o texto afinal redigido representasse as idéias que Deus desejava chegassem ao Seu povo.

“Provavelmente Paulo quase não tenha utilizado este último procedimento, uma vez que possuía elevado nível educacional e deve ter sentido confiança em sua habilidade para expressar-se em grego. Mas deve ter sido diferente nos casos de João e de Pedro. Os estilos da Primeira e da Segunda epístolas de Pedro diferem de modo tão considerável, que alguns críticos sugerem que uma delas é fraudulenta. Pode ser ainda que Pedro tenha escrito uma das cartas em grego (II Pedro?) e, quanto à outra, haja expressado seus pensamentos em aramaico, deixando a redação final por conta de um assistente mais versado em grego (I Pedro). Este assistente pode então haver escrito as idéias de Pedro utilizando seu próprio estilo, efetuando posteriormente alterações, de acordo com as sugestões do apóstolo. Desta forma, as duas cartas apresentariam diferenças de estilo; ainda assim, sob a direção do Espírito Santo, ambas estariam expressando os pensamentos de Pedro tão verdadeiramente como se Pedro houvesse ditado cada palavra. João Calvino sustentava este ponto de vista, mas não manifestava qualquer dúvida de que ambas representavam corretamente os pensamentos de Pedro” – Christianity Today, 10 de outubro de 1980, pág. 34.

(d) “Embora seja um fato que a linguagem de II Pedro é diferente daquela utilizada na primeira epístola, isto pode ser razoavelmente explicado pela probabilidade de que Pedro, sendo um residente iletrado da Palestina, cujo idioma materno era o aramaico, tenha sem dúvida empregado ajuda de um secretário para redigir, em grego, a epístola que ele estava escrevendo. Se Paulo, que se sentia, perfeitamente à vontade com o idioma grego, fez uso do auxílio de secretários, o que é bastante evidente, muito mais lógico seria esperar que Pedro, cujo idioma materno era o aramaico, também assim procedesse e que tal secretário haja exercido influência decisiva na redação, em grego, de sua epístola. Portanto, dois secretários diferentes podem muito bem haver redigido para ele as duas epístolas diferentes” – 5BC, p. 186.

4. O Evangelho de João e o Apocalipse também apresentam diferenças literárias.

(a) “O vocabulário e o estilo literário do Apocalipse são notavelmente diferentes daqueles queocorrem no Evangelho Segundo João. O primeiro exibe um grau incomum de liberdade face aos padrões ordinários de expressão e de sintaxe do grego, ao passo que a linguagem do Evangelho se conforma ao bom estilo grego” – 8BC, p. 914 (SDA Bible Dictionary)

(b) Roger R. Nicole: “O autor do Apocalipse utilizou neste livro uma forma de grego pesadamente marcada por hebraísmos, expressões que seriam consideradas incorretas em termos dos padrões gramaticais gregos. Para citar apenas um exemplo, Apocalipse 1:4 apresenta  ἀπὸ a)po\  o( ὢν, que seria equivalente a ‘daquele que é’”! – Inerrancy and Common Sense (Grand Rapids: Baker Book House, 1980), pág. 82.

(c) Como explicar?

“Não é difícil explicar as diferenças literárias e lingüísticas observáveis entre o Apocalipse, escrito provavelmente quando João se encontrava sozinho em Patmos, e o Evangelho, escrito com o auxílio de um ou mais companheiros de fé, em Éfeso” – 7BC, p. 720.

5. À semelhança destes autores bíblicos, Ellen White também necessitou ajuda literária. Razões:

(a) Ela possuía apenas uns poucos anos de educação formal. Em 1876 ela escreveu: “Não sou um erudito. Não posso preparar meus próprios escritos para o prelo. … Não sou um gramático” – 3ME, pág. 90.

(b) Seus escritos nem sempre possuíam a mesma qualidade. Guilherme C. White:

“Por vezes, quando Mamãe se encontra descansada e livre, seus pensamentos são apresentados numa linguagem que é não apenas clara e forte, como também bonita e correta; outras vezes, quando ela se acha cansada e oprimida com pesados fardos e ansiedade, ou quando o assunto é de  difícil exposição, aparecem repetições e incorreções gramaticais” – CARTA a G. A. Irwin, 7 de Maio de 1900.

(c) Ellen White não dispunha de tempo para efetuar edição detalhada.

“Tenho devotado pouco tempo a estes livros, pois as palestras, a redação de artigos para os periódicos e a redação de testemunhos particulares que visam enfrentar e reprimir os erros que estão aparecendo, mantêm-me ocupada” – CARTA 114, 1896.

Há que se considerar ainda o tempo empregado em entrevistas pessoais.

(d) Ela era freqüentemente interrompida enquanto escrevia.

“Ela [Fannie Bolton] deveria declarar-me qual a causa de toda essa desavença, mas tudo o que ela conseguiu dizer é que por vezes deixou frases incompletas. Lembrei-a de que sou freqüentemente interrompida enquanto escrevo, e isso pode ocorrer em meio a uma sentença; quando retomo o trabalho, prossigo em frente, não percebendo que a sentença ficou incompleta. Mas eu lhe havia dito que quando isto ocorresse, ela poderia tanto trazer-me o problema quanto riscar a frase e prosseguir. Escrevendo tanto quanto escrevo, não é de surpreender que fiquem por vezes sentenças incompletas” – CARTA 103, 1895, dirigida a Marian Davis.

6. Guilherme C. White descreve os limites traçados por sua mãe para os “copistas” ou assistentes literários:

“Os copistas de mamãe são incumbidos do trabalho de corrigir erros gramaticais, eliminar repetições desnecessárias e agrupar parágrafos e seções em sua melhor ordem. …

“Os auxiliares mais experientes de mamãe, tais como as irmãs Davis, Burnham, Bolton, Peck e Hare, que estão muito familiarizadas com seus escritos, estão autorizadas a tomar uma sentença, parágrafo ou seção de um manuscrito e incorporá-lo a outro manuscrito em que o mesmo pensamento tenha sido expresso, mas não de modo tão claro. Mas nenhum dos auxiliares de mamãe está autorizado a acrescentar ao manuscrito pensamentos de sua própria mente” – Guilherme C. White, carta a G. A. Irwin, 7 de maio de 1900.

7. Ellen White descreve o trabalho de Marian Davis, sua principal assistente na preparação de livros:

(a) “Estimado irmão [G. A. Irwin]: O irmão viu minhas copistas. Elas não modificam minha linguagem. Esta permanece assim como a escrevi.

“O trabalho de Marian é de ordem bastante diferente. Ela é a minha editora. Fannie jamais foi minha editora. De que modo são preparados meus livros? Marian não pretende obter reconhecimento [literário]. Ela trabalha da seguinte forma: Toma os meus artigos que são publicados nas revistas, e arquiva-os em livros em branco. Ela  possui também uma cópia de todas as cartas que escrevo. Ao preparar um capítulo de livro, Marian se recorda de que escrevi algo sobre aquele ponto especial, e que poderá tornar o assunto mais convincente. Ela inicia a pesquisa e, ao encontrá-lo, se ela percebe que efetivamente o capítulo ficará mais claro, acrescenta o material.

“Os livros não são produções de Marian, mas inteiramente minhas reunidas de todos os meus escritos. Marian possui um vasto campo de ação, e sua habilidade em organizar as matérias é de grande valor para mim. Evita que eu tenha de vasculhar grande quantidade de material, o que não teria tempo de fazer” – CARTA 61ª, 1900.

(b) “Marian toma posse avidamente de cada carta que escrevo aos outros, de modo a encontrar sentenças que ela possa utilizar na vida de Cristo” – CARTA 41, 1895; 3ME, pág. 117.

(c) Marian tinha permissão para trocar algumas palavras:

“Mary, Willie [Guilherme C. White] está em reunião de manhã cedo até tarde da noite, ideando e planejando para a realização de melhor e mais eficiente obra na causa de Deus. Nós só o vemos à mesa.

“Marian recorre a ele em pequenas questões que, segundo parece, ela poderia resolver por si mesma. Ela é nervosa e apressada, e ele está tão extenuado que tem de cerrar os dentes e controlar os nervos da melhor maneira que pode. Conversei com ela e lhe disse que precisava resolver por si mesma muitas coisas que estava levando a Willie.

“A mente dela está em cada ponto e suas conexões, e a mente dele tem avançado a custo através de uma variedade de assuntos difíceis até ficar com o cérebro num turbilhão, e então seu espírito de modo algum se acha preparado para tratar dessas pequenas minúcias. Ela mesma tem de arcar com algumas dessas coisas referentes a sua parte na obra, e não apresentá-las a ele, nem afligir-lhe o espírito com elas. Às vezes penso que ela acabará matando a nós dois, desnecessariamente, com suas coisinhas que pode resolver tão bem por si mesma como se as apresentasse a nós. Quer que vejamos toda pequena modificação de uma palavra. Estou bastante cansada deste assunto” – CARTA 64ª, 1889 (3ME, pp. 92 e 93).

8. Marian Davis descreve seu trabalho:

(a) “Tenho tentado começar tanto capítulos quanto parágrafos mediante sentenças curtas, e efetivamente simplificar sempre que possível, eliminar qualquer palavra desnecessária, e tornar o trabalho, conforme tenho dito, mais compacto e vigoroso” – Em carta a Guilherme C. White, aos 11 de abril de 1897, referindo-se a O Desejado de Todas as Nações.

(b) “Durante mais de vinte anos tenho estado vinculada ao trabalho da irmã White. Durante este período jamais fui solicitada a escrever um testemunho a partir de instruções orais ou a localizar os pontos em questão em matérias já escritas” – CARTA a G. A Irwin (incluída na CARTA 61ª de Ellen White, em 1900).

(c) Quando C. H. Jones insistiu em que o manuscrito fosse completado imediatamente, Marian escreveu a Guilherme C. White:

“A irmã White sente-se constantemente atormentada com o pensamento de que o manuscrito deveria ser enviado imediatamente aos impressores. … A irmã White parece inclinada a escrever, e não tenho dúvidas de que ela trará à luz muitas coisas preciosas. Tenho a esperança de que isto poderá ser utilizado no livro. Há uma coisa, porém, que nem mesmo o mais competente editor poderia fazer – ou seja, preparar o manuscrito antes que ele tenha sido escrito” – 9 de agosto de 1897, Arquivo de correspondências Recebidas do White Estate.

9. Ellen G. White submetia seus manuscritos a outras pessoas, objetivando apreciação crítica.

(a) “Todas as minhas publicações são rigorosamente examinadas. Desejo que coisa alguma apareça sob forma impressa sem cuidadosa investigação. Obviamente não desejaria que homens que não possuem experiência cristã ou aos quais falte habilidade para apreciar méritos literários, fossem colocados como juízes a respeito do que é essencial para ser trazido perante o povo, como puro mantimento joeirado de toda palha. Apresentei todos os meus manuscritos de Patriarcas e Profetas e de [Spirit of Prophecy] Volume IV ao comitê de livros para exame e apreciação crítica. Coloquei também estes manuscritos nas mãos de alguns de nossos ministros, para exame. Quanto mais apreciação crítica em relação a eles, tanto melhor será o trabalho” – CARTA 49, 1894, escrita a W. H. Littlejohn; MR n° 778.

(b) “Gostaria que ao longo de toda a sua leitura, o irmão observasse os pontos em que os pensamentos estejam expressos de tal modo que se tornariam especialmente criticáveis por parte de pessoas com formação médica; por bondade, conceda-nos o benefício de seu conhecimento no tocante a como expressar os mesmos pensamentos de modo mais acurado” – Guilherme C. White a David Paulson, referindo-se ao manuscrito de A Ciência do Bom Viver, em 15 de fevereiro de 1905.

10. Ellen G. White lia todas as matérias depois que estes assumiam sua forma final.

(a) “Desejo escrever palavras que possam remover da mente de qualquer um de meus irmãos a impressão de que não li, antes de sua publicação, as páginas que, em Testimony for the Church, vol. 9, fazem referência ao trabalho nos domingos.

“Li a matéria antes que ela fosse levada aos impressores, e tenho-a lido várias vezes no livro, e não consigo perceber nela qualquer coisa que permita dizer que ali se está apregoando a guarda do domingo. Tampouco o conselho ali expresso contradiz a Bíblia ou testemunhos anteriores” – CARTA 94, 1910.

(b) “Antes que qualquer documento fosse enviado pelo escritório, era ele lido pela senhora White em sua forma final, e nenhuma alteração era efetuada por qualquer de seus auxiliares depois que ele fosse desta forma aprovado e aceito por ela” – D. E. Robinson, “How the Books of Mrs. E. G. White Were Prepared”, pág. 4; DF 107g.

(c) “Encontro pela manhã, sob a minha porta, vários artigos copiados pelas irmãs Peck, Maggie Hare e Minnie Hawkins. Todos devem ser lidos criticamente por mim. … Todo artigo que escrevo para ser editado por meus auxiliares, tenho de lê-lo sempre, antes de enviá-lo para publicação” – CARTA 84, 1898.

(d) “Leio tudo aquilo que é copiado, a fim de verificar se tudo está da forma como deveria estar. Leio todos os manuscritos de livros antes de enviá-los ao impressor. Assim, você pode perceber que o meu tempo acha-se totalmente ocupado” – CARTA 133, 1902.

11. Ellen White cria que seus livros, em sua forma final, eram inspirados por Deus.

“Em meus livros, é declarada a verdade, ancorada num ‘Assim diz o Senhor. ‘ O Espírito Santo traçou estas verdades sobre a minha mente e coração, tão indelevelmente quanto a lei foi traçada pelo dedo de Deus sobre as tábuas de pedra” – Colporteur Ministry, pág. 126 (1906).

18. Saudação de Paulo. Aparentemente neste ponto Paulo tomou a pena da mão de seu escriba e escreveu sua saudação de despedida (veja I Corintios 16:21; Gálatas 6:11). A expressão retrata sua afeição e acrescenta um toque final de genuinidade e autoridade pessoal a sua carta. – 7BC, p. 219.