Dr. Alberto Timm

 O congregacionalismo é a forma de organização eclesiástica que enfatiza a autoridade da igreja local em detrimento de qualquer estrutura organizacional acima desse nível. As congregações locais podem ter uma boa estrutura administrativa interna, mas são em grande medida independentes umas das outras. Essa independência gera um ambiente propício às discórdias doutrinárias entre as congregações, distanciando-as umas das outras e ofuscando a identidade da própria denominação. Nenhum movimento religioso com um conjunto de crenças bem definidas consegue manter a sua unidade doutrinária por muito tempo sob esse modelo organizacional.

Alguns dos primeiros líderes adventistas sabatistas refletiam o espírito antiorganizacional da Conexão Cristã, uma denominação congregacionalista americana que se opunha a qualquer tipo de organização acima do nível da igreja local. Mas com o crescimento do movimento adventista sabatista surgiu a necessidade de se estabelecer uma organização capaz de (1) preservar a unidade doutrinária da denominação em face das dissidências internas que começavam a surgir; (2) credenciar e assalariar os ministros da denominação; (3) assegurar legalmente as propriedades da igreja, e (4) sistematizar a missão da igreja, especialmente a penetração em novos territórios. Essa organização foi estabelecida e consolidada sob a supervisão e aprovação da voz profética de Ellen White. É certo que igrejas populistas, que não possuem um corpo doutrinário distintivo, podem até sobreviver sem uma estrutura organizacional sólida. Mas a Igreja Adventista do Sétimo Dia possui a missão impopular de restaurar e proclamar a última advertência ao mundo, contida nas três mensagens angélicas de Apocalipse 14:6-12. Pelo simples fato de guardar “os mandamentos de Deus” e ter “o testemunho de Jesus”, essa igreja acaba sendo o objeto especial da ira satânica (Apoc. 12:17). A estrutura organizacional adventista existe com o duplo propósito de manter a unidade doutrinária da denominação (mensagem) e facilitar o cumprimento da missão no mundo (métodos) em face das estratégias satânicas para desestabilizá-la nesses últimos dias. Existem revisões administrativas e institucionais que podem facilitar a organização no cumprimento de seus ideais. Mas jamais a denominação poderá se desfazer de sua organização sem acarretar sérios prejuízos para a sua unidade doutrinária e para o cumprimento de sua missão. Ellen White adverte: “Ninguém acaricie o pensamento de que podemos dispensar a organização. A construção dessa estrutura custou-nos muito estudo e orações, em que rogávamos sabedoria e as quais sabemos que Deus ouviu. Foi edificada sob Sua orientação, por meio de muito sacrifício e contrariedades. Nenhum de nossos irmãos esteja tão iludido que tente destruí-la, pois acarretaria assim um estado de coisas que nem é possível imaginar. Em nome do Senhor declaro-vos que ela há de ser firmemente estabelecida, robustecida e consolidada.” – A Igreja Remanescente, págs. 23 e 24.

Estamos vivendo nos dias finais da história da humanidade, quando a estrutura organizacional da igreja e seu ministério têm sido desafiados por inúmeras propostas alternativas provenientes de movimentos dissidentes. Mas não podemos nos unir a eles, pois “Deus tem na Terra uma igreja que é Seu povo escolhido, que guarda os Seus mandamentos. Ele está guiando, não ramificações transviadas, não um aqui e outro ali, mas um povo.” – Testemunhos Para Ministros, pág. 61. Alguns são tentados a imaginar que a igreja não triunfará enquanto o joio nela existente não for completamente eliminado (ver Mat. 13:24-30). A organização da igreja, composta por seres humanos falhos, não é perfeita e pode cometer equívocos. Mas “não há nenhuma necessidade de duvidar, de estar temeroso de que a obra não seja bem sucedida. Deus está à testa da obra, e porá tudo em ordem. Caso haja coisas necessitando serem ajustadas na direção da obra, Deus atenderá a isso, e trabalhará para endireitar todo erro. Tenhamos fé que Deus vai conduzir a nobre nau que transporta o Seu povo, em segurança, para o porto.” – Mensagens Escolhidas, vol. 2, pág. 390. Cremos, por conseguinte, que a proposta congregacionalista dos ministérios independentes é inaceitável para a igreja nos dias finais da história humana. Não podemos apoiar qualquer movimento dissidente que se vale de críticas destrutivas à liderança da igreja para desestabilizar a unidade denominacional (ver João 17:21; I Cor. 1:10).


Fonte: Revista do Ancião (julho – setembro de 2003)


PDF: Como funciona o congregacionalismo?