Estudo Bíblico: Pressuposições, Princípios e Métodos                         

     1. Preâmbulo

Esta declaração é dirigida a todos os membros da Igreja Adventista do Sétimo Dia, tanto para não-especialistas como para eruditos no estudo da Bíblia, com o propósito de prover orientação sobre como estudá-la.

Os adventistas do sétimo dia reconhecem e apreciam as contribuições dos eruditos da Bíblia que, ao longo dos anos, desenvolveram métodos proveitosos e fidedignos de estudos das Sagradas Escrituras, consistentes com os seus ensinos e reivindicações. Os adventistas estão prontos a aceitar e seguir as verdades bíblicas, valendo-se de todos os métodos de interpretação que se coadunem com o que as Escrituras dizem de si mesmas. Esses métodos  encontram-se esboçados nas pressuposições detalhadas a seguir.

Nas últimas décadas, o método mais destacado no estudo da Bíblia é conhecido como o método crítico-histórico.  Os eruditos que usam esse método, como classicamente formulado, operam com base em pressuposições que, sem estudar primeiramente o texto bíblico, rejeitam os relatos confiáveis dos milagres e outros eventos sobrenaturais narrados na Bíblia.  Mesmo um uso modificado desse método, que retenha o princípio crítico, subordinando a Bíblia à razão humana, é inaceitável para os adventistas.

O método crítico-histórico minimiza a necessidade de fé em Deus e a obediência aos Seus mandamentos.  Além disso, uma vez que tais métodos obliteram o elemento divino da Bíblia como um livro inspirado (incluindo sua resultante unidade) e depreciam ou discordam da profecia apocalíptica e das porções escatológicas das Escrituras, instamos com os estudiosos adventistas da Bíblia a evitarem o uso de pressuposições e resultantes deduções associadas com o método crítico-histórico.

Em contraste com o método crítico-histórico e suas pressuposições, cremos representar valiosa ajuda declarar os princípios de estudo da Bíblia consistentes com os ensinos das próprias Escrituras, que preservem sua unidade e se fundamentem na premissa de que ela é a Palavra de Deus.  Tal abordagem nos levará a uma experiência satisfatória e compensadora com Deus.

    2.  Pressuposições Originadas de Afirmações das Escrituras

a) Origem

b) Autoridade

   3. Princípios Para Abordar a Interpretação das Escrituras

  4.  Métodos de Estudo da Bíblia

Cuide em não basear um ponto doutrinário importante numa versão ou tradução da Bíblia.  Os mais eruditos usarão os textos gregos e hebraicos, que os habilitam a examinar também as variantes dos antigos manuscritos bíblicos.

(1) Análise da mensagem de um livro;

(2) Método de analisar verso por verso;

(3) Estudo que busque uma solução bíblica para um problema existencial específico, satisfação bíblica para uma necessidade específica ou resposta bíblica para uma questão específica;

(4) Estudo de temas (fé, amor, segunda vinda e outros);

(5) Estudo de palavras;

(6) Estudo biográfico.

(1) A Bíblia reclama o poder de Deus para predizer o futuro (Isa. 46:10).

(2) As profecias têm um propósito moral.  Não foram escritas meramente para satisfazer a curiosidade acerca do futuro.  Alguns dos propósitos das profecias são: fortalecer a fé (João 14:29) e promover santidade de vida e preparo para o advento (Mat. 24:44; Apoc. 22:7, 10 e 11).

(3) O foco de  muitas profecias é Cristo (tanto o Seu primeiro como o Seu segundo advento), a Igreja e o tempo do fim.

(4) As normas para a interpretação de profecias encontram-se na própria Bíblia:  A Bíblia marca as profecias de tempo e seu cumprimento histórico.  O Novo Testamento cita cumprimentos específicos de profecias do Antigo Testamento acerca do Messias; e o próprio Antigo Testamento apresenta indivíduos e acontecimentos como tipos do Messias.

(5) A aplicação no Novo Testamento de alguns nomes literais do Antigo Testamento torna-se espiritual como, por exemplo, Israel representa a Igreja; Babilônia a religião apostatada, etc.

(6) Existem dois tipos gerais de literatura profética: As profecias não-apocalípticas, como encontradas em Isaías e Jeremias, e as profecias apocalípticas, como  encontradas em Daniel  e no Apocalipse.  Esses diferentes tipos têm características distintas:

(7) Profecias apocalípticas são altamente simbólicas e devem ser interpretadas de acordo.  Na interpretação de símbolos, os seguintes métodos podem ser usados:

(8) A estrutura literária de um livro, muitas vezes, contribui para a sua interpretação.  A natureza paralela das profecias de Daniel é um exemplo disso. Relatos paralelos nas

Escrituras apresentam algumas vezes diferenças em detalhes e ênfase (comparar Mat.21:33 e 34; Mar. 12:1 a 11; e Luc. 20:9 a 18; ou II Reis 18 a 20 e II Crôn. 32). Ao estudar tais passagens, primeiro examine-as cuidadosamente para estar seguro de que os relatos paralelos realmente se referem ao mesmo evento histórico.  Muitas das parábolas de Jesus podem ter sido ditas em  diferentes ocasiões, a diferentes auditórios e com palavras diferentes.

Em casos onde parece haver diferenças em relatos paralelos, deve-se reconhecer que a mensagem total da Bíblia é a síntese do todo de suas partes.  Cada livro ou autor comunica aquilo que o Espírito lhe indicou que escrevesse.  Cada um faz sua própria  contribuição especial para o enriquecimento, diversidade e variedade das Escrituras (O Grande Conflito, pp. 5 e 6).  O leitor deve permitir que cada escritor bíblico surja e seja ouvido, ao passo que simultaneamente reconhece a unidade básica da auto-revelação.

É possível não se conseguir conciliar pequenas diferenças em detalhes que sejam irrelevantes à mensagem principal e clara da passagem.  Em alguns casos, o escrutínio terá que ser interrompido até que mais informações e melhores evidências estejam disponíveis para resolver uma aparente discrepância.

Expressões tais como “o Senhor endureceu o coração de Faraó” (Êxodo 9:12) ou “um espírito maligno enviado de Deus” (I Sam. 16:15), os Salmos imprecatórios, ou os “três dias e três noites” de Jonas, comparados com a morte de Cristo (Mat. 12:40), comumente são mal compreendidos por serem interpretados hoje de um ponto de vista diferente.

Um conhecimento prévio da cultura do Oriente Próximo é indispensável para se compreender tais expressões.  Por exemplo, a cultura hebraica atribui a um indivíduo a responsabilidade por atos que ele não cometeu, mas permitiu que ocorressem.  Por esta razão, os escritores da Bíblia comumente creditavam a Deus como tendo executado ativamente o que no pensamento ocidental Ele permite ou não evita que aconteça, por exemplo, o endurecimento do coração de Faraó.

Outro aspecto das Escrituras que confunde a mente moderna é a ordem divina a Israel para empenhar-se em guerra e destruir nações inteiras.  Israel era originalmente organizado como uma teocracia, um governo civil através do qual Deus governava diretamente (Gên. 18:25).  Tal governo teocrático era peculiar.  Já não mais existe e não pode ser considerado como um modelo direto para a prática cristã.

As Escrituras registram experiências e declarações de pessoas que Deus aceitou mas que não estavam em harmonia com os princípios espirituais da Bíblia como um todo; como por exemplo, em incidentes relacionados com o uso de álcool, poligamia, divórcio e escravidão.  Embora a condenação de tais costumes sociais arraigados não esteja explícita, Deus não endossou ou aprovou necessariamente tudo que Ele permitiu e suportou na vida dos patriarcas e em Israel.  Jesus tornou isto claro em sua declaração sobre o divórcio (Mat. 19:4 a 6 e 8).

O espírito das Escrituras é de restauração.  Deus opera pacientemente para levantar a humanidade caída, das profundezas do pecado para o ideal divino.  Consequentemente, não precisamos aceitar, como padrão, os atos de homens pecadores como registrados na Bíblia.

As Escrituras representam o desenrolar da revelação de Deus ao homem.  O sermão de Jesus na montanha, por exemplo, amplia e expande certos conceitos do Antigo Testamento. O próprio Cristo é a revelação suprema do caráter de Deus para a humanidade (Heb. 1:1 a 3).

Embora exista uma abarcante unidade na Bíblia, desde o Gênesis até o Apocalipse, e ainda que toda a Escritura seja igualmente inspirada, Deus escolheu revelar-Se ao homem através de pessoas humanas e encontrá-las onde estavam em termos de dons espirituais e intelectuais.  Deus não muda, porém ele progressivamente desdobra Sua revelação aos homens à medida que estejam capacitados a compreendê-la (João 16:12; The Seventh-Day Bible Commentary, vol. 7, p. 945;  Mensagens Escolhidas, vol. 1, p. 21).  Toda experiência ou declaração das Escrituras é um registro divinamente inspirado, mas nem toda declaração ou experiência é necessariamente normativa para o comportamento cristão de hoje.  Tanto o espírito como a letra da Escritura devem ser compreendidos (I Cor. 10:6 a 13;  O Desejado de Todas as Nações, p. 150;  Testemunhos Seletos, vol. 1, pp. 436 a 438).

  5.   Conclusão

Na “Introdução” de O Grande Conflito (p.8), Ellen White declara:

“A Escritura Sagrada com suas divinas verdades, expressas em linguagem de homens, apresenta uma união do divino com o humano.  Assim, é verdade com relação à Escritura, como foi com relação a Cristo que  ‘o Verbo Se fez carne e habitou entre nós’”. (João 1:14).

Da mesma maneira como é impossível aos que não aceitam a divindade de Cristo compreender o propósito de Sua encarnação, é também impossível para aqueles que veem a Bíblia meramente como um livro humano, compreender sua mensagem, apesar de seus métodos cuidadosos e rigorosos.

Mesmo eruditos cristãos que aceitam a natureza divino-humana da Escritura, mas cuja abordagem metodológica os leva a demorar-se grandemente nos aspectos humanos da Escritura, correm o risco de esvaziar a mensagem bíblica do seu poder, relegando-a a um segundo plano, enquanto se concentram no meio de transmissão da mensagem.  Esquecem-se que o meio e a mensagem são inseparáveis e que o meio sem a mensagem é como uma concha vazia que não pode atender às necessidades espirituais da humanidade.

Um cristão consagrado usará apenas os métodos capazes de fazer total justiça à dupla, a inseparável natureza das Escrituras, aumentando sua capacidade de entender e aplicar a sua mensagem e de fortalecer sua fé.


Esta declaração foi aprovada e votada pela Comissão Executiva da Conferência Geral dos Adventistas do Sétimo Dia, na sessão do Concílio Anual no Rio de Janeiro, Brasil, 12 de outubro de 1986.