Divertindo as massas

Benjamin McArthur

“Há diferença entre recreação e divertimento. A recreação, na verdadeira acepção do termo – recriação – tende a fortalecer e construi. O divertimento, por outro lado, é as energias que são necessárias para o trabalho útil, e desta maneira se revela um estorvo ao verdadeiro êxito da vida”. Educação, p. 207.

A América passou por mudanças fundamentais em sua história na última metade do século dezenove. Crescimento era a ordem do dia. A nação expandiu-se por todo continente, auxiliada pelo sistema ferroviário que ligava o Atlântico ao Pacífico. O aumento populacional superou a casa dos 50 milhões em 1880, centros urbanos cresciam numa tremenda rapidez devido em parte à imigração em massa européia. Além disso, o comércio americano e a indústria tinham entrado em fase épica de expansão, com produção industrial se multiplicando muitas vezes. Considerando estes desafios da escala adicionados em cima destes desafios do tipo: América estava sendo transformada da predominância rural e nação agrícola para uma América urbana e industrial.

Não é de se surpreender, muitos que cresceram num período anterior encontraram estes desafios perturbadores. Para Ellen White (como para muitos outros) um dos motivos do grande aumento de interesse era a nova predominância dos divertimentos comerciais na vida americana.

Divertimentos populares-teatrais, shows de circo, atividades esportivas e inúmeros outros entretenimentos, por conseguinte, não eram ovos, obviamente para o fim do século dezenove. De várias maneiras eles tinham sido apreciados por séculos. Mas na década que se seguiu a Guerra Civil estes divertimentos tomaram uma nova dimensão, tornando-se parte da vida americana em uma intensidade jamais vista.

As razões para a explosão do entretenimento são prontamente entendidas. Diversão comercial era, primeiro e principalmente, um resultado da urbanização. Nas sociedades rurais as pessoas dependiam de si mesmas e de seus vizinhos, para a recreação. Caça, pesca, repetições de tiro e corridas de cavalo eram os passatempos favoritos que eram claramente relacionados com as habilidades da vida diária. Reuniões comunitárias, para festas de descascar milho, construção de casas e celeiros, e feiras rurais proviam oportunidades para música, dança, bebidas e fofocas. Entretenimentos rurais eram fortemente enraizados nos padrões do trabalho e da sociedade agrícola da qual eles procediam.

A cidade, por contraste, encorajava uma estrita separação em suas recreações de outros aspectos da vida. Alguém pode dizer que a especialização similar econômica (na qual está o coração da vida urbana) conduzia para uma especialização similar no domínio do entretenimento. Os habitantes das cidades preferiam organizar seu próprio entretenimento, começaram procurando por outros que providenciassem entretenimento para eles. Atores, menestréis maquiados, apresentadores de circo, atores de variedades e atletas constituíam um grande grupo de especialistas em entretenimento, sem mencionar os proprietários do teatro do exército, diretores e promotores por trás dos bastidores. A indústria da diversão tornou-se um grande negócio.

A vida urbana estimulava outros tipos de diversões. A natureza intensiva e repetitiva do trabalho em escritório e fábrica pedia um relaxamento através de uma busca de prazer precisavam do estímulo de um jogo de baseball, um melodrama ou um show em Coney Island. E o trabalho semanal, embora longo pelos padrões de hoje estavam diminuindo para a maioria dos americanos urbanos, cerca de 70 horas semanais, na década de 1850 para cerca de 60 horas no final da década de 1880.

Além disso, o meio feriado do sábado e o feriado do dia do trabalho oferecia lazer previamente desfrutado aos domingos. E para a próspera classe média, as férias de verão tornaram-se uma instituição popular nos anos que se seguiram a guerra civil. Em resumo, a vida urbana providenciou igualmente a oportunidade e o incentivo ao divertimento.

No fim do século dezenove a sociedade americana oferecia muitas atividades de lazer, mas o espaço permite discutir apenas algumas delas. Examinaremos vários tipos de peças teatrais (melodramas, variedades e menestréis), o circo, e atletas profissionais e amadores. Numa breve consideração serão tratados também outros divertimentos no qual Ellen White comenta diretamente, tais como ciclismo e o desconceituado ambiente de clubes (com piscinas), jogos de boliche, salões de dança e bares.

Nos palcos dos teatros americanos alguém poderia ver uma grande quantidade de ofertas. A maioria dos atores respeitáveis estava nas peças, particularmente aqueles clássicos do drama inglês por Shakespeare, Sheridan ou Goldsmith.

Embora Shakespeare fosse popular (geralmente de forma resumida), os favoritos dos espectadores eram os melodramas envolventes, nos quais fluíam das penas dos dramaturgos do século dezenove em números incontáveis. Estas peças eram previsíveis em enredo e estrutura (como os dramas de televisão hoje), diferindo entre si somente dos romances sobre as quais as tramas se configuravam. Cada peça tinha um herói e uma heroína, um vilão, uma ingênua e sua jovem adorável, alguns caracteres étnicos ou por outro lado engraçados para um realce cômico, e atores extras para que houvesse um rodízio entre o grupo.

No mundo do melodrama, a virtude triunfava sobre o vício. Distinções entre o certo e o errado, o bom e o ruim eram claramente delineados. Não havia questionamento quanto à bondade ou perversidade de cada personagem. O melodrama não pretendia apresentar aos seus espectadores dilemas morais, mas ao invés disto, reafirmar e dividir extensamente os padrões Vitorianos de moralidade.

O melodrama mais popular era indubitavelmente a adaptação de Uncle Tom’s Cabim de Harriet Beecher Stowe. Produzida inicialmente em 1852, sua maior popularidade na verdade, veio depois da guerra civil, quando companhias teatrais se dedicavam exclusivamente a apresentá-la em excursões pelo país. Uncle Tom’s Cabim exemplificou o sentimentalismo extremo que formava o centro do apelo melodramático. A polêmica contra a escravidão era acrescida de separações familiares, crueldade, injustiça e cenas de morte dramáticas. Isto mexia com a emoção da audiência, acumulando crises sobre crises até a última catarse no clímax da cena. A escravidão pode ter acabado, mas continuou por longo tempo a mostrar a difícil luta na alma da nação.

Com a passagem dos anos o Show de Uncle Tom’s teve que aperfeiçoar o enredo para manter sua audiência, os shows tinham algumas vezes dois Uncle Tom’s, Simon Legree e Little Eva, esperando dobrar o interesse do público. Alguns shows também determinaram elaborar mecanismos teatrais pela qual, na cena da morte de Little Eva, ela seria levantada em direção aos céus, acompanhada de anjos que a rodeavam.

Os anos entre 1850 e 1920 são freqüentemente considerados a época de ouro do teatro americano. Companhias de atores formados em Nova Iorque, saíam então pelo país, viajando de trem de cidade em cidade, apresentando para duas grandes audiências em elegantes teatros e pequenas audiências em modestos salões. Alguns dos grandes nomes do staff teatral apresentavam-se durante esses anos. Edwin Booth (irmão mais velho de John Wilkes Booth) era talvez o melhor ator de tragédia a pisar no palco americano, mais conhecido por sua participação no Hamlet. Ainda mais apreciado era Joseph Jefferson III, que passou a maior parte de sua carreira apresentando Ripe Van Winkle. Entre as atrizes expoentes, Mary Anderson chamava a atenção por sua beleza e maneiras refinadas. Sua carreira como uma personagem de Shakespeare terminou voluntariamente com seu casamento. John Drew, Ethel Barrymore, Malde Adams e William Gillette eram algumas das outras estrelas que o público procurava avidamente ver.

Atores e atrizes sofriam debaixo do estigma de sua profissão. Eles eram ensinados a serem um grupo de indivíduos altamente emotivos. A vida de pretender ser outra pessoa, se dizia, produzia instabilidade e tendência para o álcool.

Mais do que isso, o teatro e seus representantes eram associados com a imoralidade. A incidência de divórcio e novo casamento era alta entre os atores numa época quando este tipo de coisas eram raras. Sua reputação maliciosa era complementada por esta tendência das peças do final do século dezenove, de representar ator romântico mais ternamente e de tratar tais com problemas como o divórcio. Isto tudo era muito humilhante para os padrões modernos, mas para contemporâneos tal linguagem e reação indicavam libertinagem. Consequentemente, cidadãos respeitáveis geralmente não tinham contato com atores. Mas se eles não se associavam com atores em sua vida particular, o público amava assisti-los no palco. À medida que o século dezenove chegava ao seu fim a herança puritana de hostilidade para com o teatro diminuía. A parte dos cristãos conservadores a maioria dos americanos haviam abandonado seu preconceito e aceito o entretenimento teatral. O crescimento da respeitabilidade do drama era complementado pela remoção de prostitutas das galerias; através do século prostitutas tinham no teatro um lugar conveniente para oferecer seu negócio. A tendência da nova geração do teatro era encorajada particularmente por mulheres da classe média que os estavam patrocinando.

Além das peças, algumas vezes os teatros apresentavam shows de menestréis. O show do menestrel era uma contribuição genuinamente americana para o mundo do entretenimento – homens brancos que enegreciam suas faces e assumiam comportamento estereotipado dos negros. Menestréis apareceram na década de 1830, formados pela popular dança “Jin Crow”, de Thomas Rice; que surgiu nas décadas de 1840 e 1850 como o show mais destacado nos teatros. Christy Minstrels de E. P. Christy, Virginia Minstrels de Dan Emmete e o Ethiopian Serenaders estavam entre as principais troupes, mas havia grande número de companhias viajando pelo país. A guerra civil e o fim da escravidão reduziram muito pouco a demanda do entretenimento dos “caras negras” nas décadas de 1870 e 1880 as maiores companhias já montadas, tais como United Mastadon Minstrels de Harverly, percorreram o circuito. Um número destas últimas companhias de menestréis era composto por negros genuínos, que obtiveram aplauso e relativa prosperidade através do humor auto-depreciativo.

O show do menestrel era rápido e composto tanto por comédia como por um musical. Embora os últimos shows variassem em sua forma, os menestréis eram mais autênticos, tinham uma ordem bem definida. Os cinco ou mais apresentadores, em excelente traje, sentavam em cadeiras diante da audiência. O interlocutor com sua linguagem empolgada e hilariante servia como líder e mestre de cerimônia, enquanto os dois homens finais, Sr. Tambo e Sr. Bones, com pompa atiçavam o público com trocadilhos. Após pronunciar este diálogo vinha um dos apresentadores com um discurso político, sem sentido e descabido.

Além da parte falada, havia música para completar o show. Músicas sentimentais e cômicas eram apresentadas. Algumas das melodias mais apreciadas na América foram, escritas originalmente para o show de menestréis, incluindo “Carry Me Back to Old Virginny” de James B. Bland, “Dixie” de Dan Emmet, e melodias familiares de Stephen Foster.

O show de menestréis geralmente mantinha um ar de decência, evitava grosserias encontradas em outros entretenimentos. Compunha um pouco da genuína essência americana e tem influenciado subsequentes formas de entretenimento. Por tudo isso, deve se reconhecer que os menestréis eram baseados em uma insidiosa caricatura da cultura negra. Seu humor era uma medida de racismo presente na vida americana.

Outra forma teatral que começou na década de 1870 e continuou popular até a década de 1929, era o teatro de variedades. O teatro de variedades emergiu do show pouco respeitável burlesco de anos anteriores. O proprietário de teatro e pioneiro deste tipo de show, Tony Pastor, reconheceu que se ele encenasse um entretenimento mais refinado, ele poderia atrair famílias e ampliar sua audiência. Sua previsão provou ser verdadeira; seu teatro rapidamente se tornou centro de entretenimento familiar.

Imitadores em Nova Iorque e em outras cidades seguiram seu exemplo e na década de 1890 uma rede de teatros de variedades cobriu todo o país. Nova Iorque tinha trinta e uma casas teatrais (de variedades) em 1910 e Chicago tinha 30, demonstrando sua enorme popularidade. Teatros suntuosos eram construídos, utilizando ricas roupagens e ornamentos dourados para aumentar as fantasias dos clientes.

A marca distintiva deste tipo de entretenimento era a variedade. Apresentações de animais, acrobatas, ilusionistas, comediantes, pequenas história, cantores, menestréis, ciclistas e skatistas – quase tudo que alguém pudesse imaginar – eram vistos nos palcos do teatro de variedades. O sagaz administrador do teatro arranjava a conta do nono ato de forma que o interesse da audiência fosse mantido e crescesse a um clímax exatamente antes do ato final.

O segredo do grande sucesso do teatro de variedades era o seu formato contínuo, ou seja, um show se apresentava continuamente do meio-dia até a noite, passando por um show completo várias vezes. Isto permitia aos espectadores ir e vir ao lazer, talvez ajustando uma hora de diversão dentro do horário de trabalho, negócios e compras. O modesto preço desencorajava apenas uns poucos.

A rápida cadência do show refletia uma similaridade com a agitação da vida urbana. Os espectadores, muitos deles recém-chegados na cidade, inconscientemente aprendiam dos apresentadores como deveria vestir-se, falar e, em geral, relacionar-se com a vida urbana. O teatro de variedades, então tinha uma significativa função educacional, indicando que o entretenimento, estava passando a ser mais que simples diversão para tornar-se uma importante influência para o público americano.

Um primo deste entretenimento teatral era o circo. O circo moderno evoluiu da combinação de muitos entretenimentos que tinham existido por séculos: exibição de animais selvagens e exóticos, apresentação eqüestres, acrobatas e ilusionistas. No final do século dezoito, alguns destes grupos intinerantes tinham surgido e juntamente com palhaços, fantasias, e shows complementares, o circo como nós conhecemos havia nascido.

A idade de ouro do circo data do último quarto do século dezenove, quando em torno de quarenta circos excursionaram pelo país, liderados pelos grandes, O Maior Show da Terra de P. T. Barnum e Circo de Londres de James A. Bailey. O circo de Barnum era um exército de trabalhadores para montar e desmontar o show. A habilidade administrativa no decorrer dessa operação detalhada era tão grande que os oficiais militares americanos vinham para estudá-la na esperança de duplicar sua eficiência.

Como outros entretenimentos, o circo sofreu um problema de imagem causado por batedores de carteira e ladrões que se misturavam entre os espectadores, e a reputação geralmente baixa que a sociedade atribuía ao pessoal do circo.

Poucos eventos poderiam se igualar ao entusiasmo pela visita do circo à cidade. Sua chegada era anunciada por um desfile pela avenida principal da cidade, uma demonstração para estimular o apetite de cada criança e dos pais. Aqueles que se reuniam sob a grande cobertura eram raramente desapontados. Os espectadores estavam fascinados pela profusão de entretenimentos que ocorriam simultaneamente em três lugares diferentes: domadores de leões, treinadores de cavalos, acrobatas desafiando a morte, palhaços dando cambalhotas e os elefantes de sempre, cuja simples presença era uma fascinação constante.

Fora da tenda principal, espectadores poderiam freqüentar outros shows exóticos simultâneos, as barracas de doces e limonada a absorver a atmosfera carnavalesca. Mais do que qualquer outro divertimento da época, o circo envolvia o espectador numa atmosfera fantástica e remota. Em nossos dias a televisão e filmes exóticos estão presentes todos os dias, mas para os americanos do século dezenove, o circo providenciava experiências visuais de coisas desconhecidas para eles.

Paralelamente ao teatro e ao circo, os americanos desenvolveram um gosto pelos esportes. Obviamente, certos esportes eram populares, há muito tempo, mas partiu da metade do século, a América passou por uma revolução nos esportes que se tornou na obsessão nacional que conhecemos hoje.

O cenário esportivo tornou-se notável por sua variedade e por sua perfeita organização, que foi o ponto característico dos primeiros fogos. Baseball profissional e futebol (americano) amador, em especial, deram evidência da nova importância à competição atlética na vida nacional.

As origens do baseball americano são desconhecidas. A lenda de Abnder Doubleday sobre a invenção do jogo é exagerada; mais provavelmente, o esporte desenvolveu-se a partir dos antigos jogos infantis ingleses. De alguma forma, o nosso baseball surgiu na metade da década de 1840, quando Alexander Carwright organizou um time amador estabeleceu as normas de jogo. Nas décadas de 1850 e 1860, ligas foram formadas, e clubes amadores viajavam num circuito de cidades para competirem uns com os outros. Embora tenha começado como um jogo elitizado, o baseball tornou-se o passatempo favorito do Exército da união durante a guerra civil e foi desta forma democratizado. O jogo conquistou o coração masculino americano e rapidamente tornou-se o passatempo nacional mais aclamado.

Mas com o crescimento do jogo e o aumento da pressão para a vitória, veio a prática da contratação de habilidosos jogadores, e o profissionalismo insinuou-se dentro do outrora jogo amador. Em 1869 o Cintinnati Red Stockings tornou-se o primeiro time de baseball completamente assalariado. Seu extraordinário sucesso (eles conseguiram um 50-0-1 recorde em 1870) encorajou outros times a seguir seu exemplo. O profissionalismo, no entanto trouxe seus próprios problemas. Apostas floresceram como um resultado negativo do jogo, ao ponto de os apostadores serem vistos como controlando os jogadores. Além disso, brigas ocorriam entre espectadores e jogadores e a competição dominical provocou a oposição do elemento religioso nacional. O baseball ficou obscurecido.

A liga nacional, estabelecida em 1876, começou a melhorar a imagem manchada do baseball. Ela baniu apostas nos clubes esportivos, providenciou proteção policial durante os jogos, e terminou com as competições dominicais. A liga também trouxe ordem administrativa para a situação então caótica. O baseball entrou numa nova fase de prosperidade e apoio do público. Grandes parques nas cidades como Boston, Baltimore, Philadélfia e Nova Iorque acomodavam milhares; aqueles que não podiam atender à competição, liam reportagens sobre elas nas páginas esportivas dos jornais. A era moderna de espectadores em massa do esporte havia começado, proclamando um fenômeno que se igualaria aos grandes jogos de Roma.

Embora o profissionalismo veio para dominar o baseball, os esportes amadores de forma alguma estavam em declínio. Em realidade, foi nas últimas décadas do século que a convicção dos efeitos positivos nos atletas amadores atingiu seu clímax. Por alguns anos muitos observadores tinham advertido que os Americanos estavam se tornando calmos, nas palavras que um dos escritores: “Uma raça pálida, descorada, esquelética, pernas compridas e finas, anãs.” Para verificar esse declínio, um evangelho do preparo físico começou a ser pregado, e os americanos responderam participando em atividades de grupo e individuais.

Em nenhum lugar houve um impacto tão grande no surgimento de esportes amadores como nas Escolas (3º Grau) Americanas. Os tradicionais hábitos sedentários dos estudantes tomaram forma de atletismo enérgico, à medida que ginásios alteravam o aspecto físico do Campus e a educação física foi incorporada ao programa acadêmico. Competições inter-escolares como: softball, baseball e remo tornaram-se o ponto central da vida estudantil, defensores do esporte escolar notaram um melhoramento geral na saúde estudantil, uma diminuição no consumo do fumo e álcool, e uma redução na violência estudantil, o que eles atribuíram ao interesse atlético.

Nenhum esporte simbolizou melhor o novo espírito de jogos competitivos no Campus, do que o futebol (americano). O futebol escolar apareceu no início de 1870 em vários Campings do Leste. Os primeiros jogos continham elementos do futebol (inglês), e do rugby, mas na década de 1880, Walter Camp, o pai do futebol Americano, sistematizou as regras e deu ao jogo sua forma característica. Ligas Escolares como Yale, Princetown, Penn e Havard dominaram o jogo sendo desafiadas somente pelos times do Centro-Oeste de Michigan e Chicago.

Além de elaborar as regras o treinador Walter Camp providenciou o futebol com seu código desportivo. O ideal de Camp descrevia o cavalheiro amador que jogaria vigorosamente mais limpo, que se esforçasse para ganhar, mas que permanecesse dentro das regras, que fosse cortês para com os rivais e aplaudisse seu bom jogo, que jogasse não por dinheiro, mas por satisfação pessoal.

Porém, a elevada filosofia de esporte amador de Camp parecia freqüentemente estar ausente da realidade do futebol escolar. O futebol tornou-se um grande observador esportivo em seu próprio direito, e com ele veio uma intensificada ênfase na vitória. Um espírito de profissionalismo incorporou-se ao jogo, à medida que os times saíam à procura dos melhores jogadores, e os treinadores submetiam os atletas às longas sessões de treinamento. Na década de 1890 o jogo tinha provocado muitas críticas por assumir a atitude de “ganhar a qualquer custo”, a contratação de atletas para competições supostamente amadoras, e a tremenda influência que o programa atlético exercia nas escolas.

Acima de tudo, o futebol (americano) foi criticado por sua brutalidade. O estilo do jogo nos primórdios dependia da força física. Modalidade de jogos, tais como: o do “objeto voador”. Lançavam os jogadores uns contra os outros, sem a proteção do estofamento e do capacete, o futuro da competição estava em jogo, após algumas mortes ocorridas. O Presidente Theodore Roosevelt, embora um defensor do esporte, exigiu que mudanças fossem feitas para tornar o jogo seguro. Reformadores, liderados novamente por Camp, preservaram o futebol (americano) escolar pela interdição de jogos violentos, introduzindo o passe do atacante, dando ao árbitro maior autoridade para controlar o jogo, impondo regras contra o profissionalismo. Os perigos do futebol (americano) não foram totalmente removidos, no entanto, e as críticas continuaram.

O mundo com altos-e-baixos dos esportes competitivos poderia ter atraído maior atenção, mas uma calma revolução nos esportes estava também se desenvolvendo, algo que envolvia um grande número de pessoas. O crescimento no lazer e a nova ênfase em atividades externas resultaram no florescimento dos esportes participativos na última metade do século dezenove. Jogos de tênis (no gramado), golfe, arqueria, patinação no gelo, croquet, e ciclismo captaram a imaginação pública. O crescimento do ciclismo, em particular, merece maior consideração.

O ciclismo tornou-se popular no fim da década de 1870 e na década de 1880. É de surpreender a sua aceitação popular considerando o perigo inerente das rodas altas e das perigosas pistas traiçoeiras da corrida. No início da década de 1890, no entanto, mudanças no modelo da bicicleta tornaram-na um veículo mais seguro. A nova “bicicleta segura”, com suas duas rodas de igual tamanho com pneus e os freios aperfeiçoados, encorajou relutantes ciclistas a tentar sua sorte. Entretanto, a indústria ciclística instituiu uma campanha promocional em massa enaltecendo a aventura do ciclismo. Igualmente importante, o preço das bicicletas baixou de $125 nos primeiros modelos para moderados $35 ou $50.

O resultado foi uma paixão pelo ciclismo que alcançou seu auge entre 1893 e 1896. O número de ciclistas aumentou de uma estimativa de 150.000 em 1890 para 4 milhões em 1896. Os fabricantes de bicicletas multiplicaram-se, porém a demanda ainda continuava pedindo uma produção maior. A paixão pelo ciclismo atravessou camadas sociais, a medida que membros da “sociedade” adotaram o ciclismo, e proeminentes figuras literárias e públicas tiveram seus passeios sobre duas rodas. Mulheres ansiosamente adotaram o ciclismo como uma forma respeitável de exercício numa época quando suas oportunidades para recreação física eram limitadas.

A bicicleta tornou-se o assunto da poesia, da ficção e da música, e a imprensa popular trouxe artigos de médicos, que definiam o ciclismo como um antídoto à vida sedentária. O aspecto social do ciclismo era importante. A maioria dos ciclistas pertencia a clubes locais que promovia passeios no campo pelas redondezas. O placar e ainda mais, os ciclistas com bonés e calções de seus clubes treinando, tornou-se uma cena comum durante esses anos. Havia também uma organização nacional de ciclismo, a Liga Americana de Ciclistas, que promovia, com sucesso, melhores pistas.

Apesar de intensa a paixão ciclística teve vida curta. No final da década de 1890, as vendas tinham caído, e o interesse nacional no ciclismo declinou. O público havia descoberto um novo veículo, com quatro rodas ao invés de duas, e embora a fascinação com a bicicleta tivesse sido temporária, o romance com o carro que não precisava de cavalos provou ser duradouro.

Os divertimentos descritos até aqui – teatros, circos, esportes – todos alcançaram respeitabilidade geral. Mas menção deve ser feita também ao submundo do entretenimento, aqueles lugares de diversão dos quais as pessoas respeitáveis afastaram-se. Estes incluem salões de danças, piscinas, casas que mostravam melodramas de baixo nível, boliche, salões de concerto e bares. Tais lugares proliferaram nas cidades no final do século dezenove e sua presença induziu muitos americanos a criticarem contra os males da vida urbana.

Havia alguns salões de dança e de concertos comparavelmente honráveis, mas muitos eram quartéis de prostituição e de jogos de azar. Contava-se muitas histórias de jovens de ambos os sexos, induzido-os ao vício nestes estabelecimentos. As salas de bilhar e de boliche, era dito, eram um refúgio estritamente masculino para criminosos e gangs adolescentes. Pela reputação muitos eram associados com jogos de azar, álcool, fumo e linguagem profana.

Se as casas de baixo nível geralmente necessitavam de sórdidas associações com outros lugares, elas, entretanto, exerciam sua própria influência decadente. Esses lugares ofereciam aos clientes o bizarro e o espetacular. Monstros, animais e homens eram as atrações favoritas: gêmeos siameses, mulheres tatuadas, engolidores de espadas, contorcionistas e serpentes encantadas estavam entre elas. Casas medicinais ofereciam jarras de vidros com partes anatômicas disformes ou doentes, e figuras humanas em cera com horrendas deformidades. Os clientes horrorizados seriam então confrontados com uma palestra oferecendo conselhos medicinais falsos e frascos caros de medicamentos patenteados que eles comprariam sem relutância. Esses lugares gradualmente desapareceram no século vinte, mas suas exibições tornaram-se o padrão que caracterizava os carnavais e os parques de diversão.

No mundo dos esportes, corridas de cavalo e boxe eram largamente difundidas, mas ganharam péssima reputação. Corridas de cavalo haviam sido por longo tempo o esporte dos reis, e havia permanecido um alto interesse entre a abastada aristocracia americana no esporte. Mas a crescente influência dos apostadores obscureceram-nas.

O boxe encontrou ainda menos favor aos olhos do público. A devassidão do esporte, particularmente no início quando os combatentes sem os acessórios (usados hoje) socavam-se até que um não pudesse mais levantar, violavam a sensibilidade da maioria das pessoas civilizadas. Além do mais, o prêmio da luta era dominado por apostadores e outros foras da lei. Em muitos lugares autoridades estaduais e locais baniram os jogos de boxe, e consequentemente, as competições tinham que ser mantidas em lugares secretos.

A ascensão de John L. Sullivan, o grande pugilista Irlandês-Americano, na década de 1880, popularizou o boxe de uma forma jamais vista. “O garoto forte de Boston” tornou-se o maior herói do esporte da época, embora não o fosse até seu sucessor, o Sr. Jim Corbett que introduziu as regras do Marquês de Queensberry, que começou a espalhar sua espalhafatosa brutalidade.

É evidente nesta breve descrição que a medida que o século dezenove chegava ao seu fim, os americanos tivessem uma variedade de entretenimentos a escolher e eles liberalmente desfrutavam de muitos deles. Não deveria se pensar, no entanto, que velhos preconceitos quanto ao divertimento tinham desaparecido por completo. Em realidade foi enquanto o lazer e os entretenimentos comerciais aumentavam que se proliferava o debate sobre suas próprias peculiaridades. Assim, concluindo esse capítulo nós devemos considerar a forma que os guardiães morais da América responderam a este crescimento.

A resposta dominante para a maioria dos entretenimentos era de desaprovação. Esta reação negativa surgiu de duas fontes: a pressão da desaprovação religiosa que advertiu contra o encantamento de entretenimentos imorais, e a preocupação mais difundida na classe-média de que as atividades de lazer distraíssem as pessoas de um trabalho e de uma produção sérios. A época Vitoriana exaltava a ética do trabalho e para os arautos da cultura americana – ministros, autores, editores – o crescimento do lazer atribuía um desafio à necessidade de disciplina para construir a nação.

Contudo, à medida que o século dezenove chegava ao seu fim, com cidades surgindo e as pessoas procurando um descanso do trabalho penoso, líderes culturais e religiosos começaram a admitir que a vida moderna requeria recreação moderadamente, o lazer poderia ser benéfico, era o que se dizia agora aos americanos. A questão então tornou-se a seguinte: Quais entretenimentos eram saudáveis e quais não eram?

Duas qualidades gerais marcam os entretenimentos não-saudáveis: profissionalismo e comércio. O profissionalismo significava que participantes assalariados, fossem eles atores ou atletas, divertissem uma audiência passiva. Essa tendência rumo à uma “condição de espectador”, como rotulada por um comentarista, era tida como degradando o caráter nacional. Comercialismo excessivo também enfraqueceu a fibra moral do público, pelo fato de promotores apelarem para o denominador comum mais baixo em sua busca de maiores lucros.

Desde que a maioria dos grupos teatrais incorporou ambos os traços, eles [não] permaneceram totalmente fora da preocupação dos líderes religiosos. Na verdade, as denominações Metodista e Batista, 1877 e 1889, respectivamente, deram declarações formais contra a audiência teatral. Além disso, a crescente freqüência da recreação sabática (dominical) despertou outras obsessões. Organizações religiosas lutaram contra o baseball, apresentações teatrais, aberturas de museus e mesmo piqueniques no Domingo. Consequentemente, embora reconhecendo o valor do entretenimento, líderes culturais estavam apreensivos com a maioria dos divertimentos e sentiram que eles deveriam ser reformados.

No âmago do programa dos reformadores, estava seu conceito do termo recreação. Eles tinham o significado literal, “re-criação”, como significando lazer no verdadeiro sentido da palavra: a renovação das forças para trabalhar mais.

A recreação era valiosa não por si própria, mas somente à medida que capacitasse o indivíduo novamente para a tarefa de servir a Deus e ao homem. Desta forma os divertimentos aceitáveis seriam aqueles que construíssem o corpo e a mente e não aqueles que meramente se divertissem.

Em termos práticos, esta crença tinha várias formas. Significava incentivar a participação nos esportes ativos de modo que, as qualidades dos esportistas e das atividades em grupo pudessem ser desenvolvidas. Também significava cultivar uma apreciação por boa leitura, palestras, recitais e museus – diversões que enobrecessem.

Mesmo o drama poderia ser benéfico se grupos amadores apresentassem peças de mérito. A promoção dessas atividades era encabeçada por várias organizações da época. As organizações YMCA (Young Men’s Cristian Association) e YWCA (Young Woman’s Christian Association) abriram centros de recreações em cidades do interior como alternativas saudáveis para “cafés” e clubes; estabelecimentos recreativos (tais como a Hull House de Jane Addams, em Chicago), provia clubes sociais para os habitantes da maioria da populosa vizinhança; associações de parques infantis inspirados por governos municipais para construir redes de parques onde crianças se divertiam com brincadeiras supervisionadas; grupos filantrópicos tais como a Fundação Russel Sage gastavam milhares de dólares fazendo um levantamento da situação do entretenimento e oferecendo sugestões de melhoramento. Estes grupos fizeram muito para expandir as oportunidades para recreação nas cidades americanas, mas o “problema do divertimento”, como foi colocado, não estava terminado.

Em suma, a sociedade americana estava conseguindo o seu primeiro gosto amargo dos divertimentos espirituosos, mas ainda sentindo o peso na consciência a respeito de sua recreação. Havia, talvez, certa inevitabilidade a respeito do desenvolvimento dos entretenimentos comerciais. Uma população apertada em cidades e pressionada por uma intensiva jornada de trabalho, procurava estímulos em suas horas de lazer, providos pelos entretenimentos anteriormente mencionados. Não obstante permanecia uma difundida apreensão a respeito do caráter de tais entretenimentos e seu impacto sobre o público, uma preocupação que continua até hoje.

 

NOTA BIBLIOGRÁFICA

A mais importante declaração de Ellen G. White sobre o tópico de esportes e entretenimentos é encontrada no capítulo Recreação do livro Educação (pp. 209-213). Aqui ela faz a distinção entre recreação e divertimento, uma distinção que forma a base para todas as suas outras declarações. Nessa passagem ela define a natureza e o valor da verdadeira recreação e identifica as falhas de esportes tais como futebol (americano) e boxe. Outra declaração significativa está no capítulo oitenta do livro O Lar Adventista, “Como nos Divertiremos?” (pp. 498-505). Novamente ela contrasta o perigo das diversões tais como: corridas de cavalos e futebol (americano) com atividades positivas tais como passeis familiares. Sua mais importante declaração sobre o teatro, o circo e festas encontram-se em Testemonies vol. 8 (pp. 51,52 e 66) feita no contexto da paixão ciclística de Battle Creek e no vol. 4 (pp. 652 e 653).

Ellen White, obviamente, tratou de muitos desses tópicos inúmeras vezes. O índice de seus escritos nos dá uma lista completa.


 

Fonte: Benjamim McArtur, “Amusing the Masses”, em Gary Land, ed., The World of Ellen G. White (Washington, DC: Review and Herald Publishing Association, 1987), pp. 177-197. Traduzido por Denise Lehr Unglaub; Revisado por Alberto R. Timm.