Ángel Manuel Rodríguez
Você poderia explicar por que a Bíblia às vezes se refere a ossos como “regozijando-se”?
Tentarei responder sua pergunta, discutindo algumas das passagens bíblicas nas quais ossos humanos são mencionados. Este aspecto da anatomia humana desempenha um papel importante na compreensão bíblica da natureza humana. De acordo com as Escrituras, somos uma unidade indivisível de vida física, mental, emocional e espiritual. Dentro deste entendimento os ossos têm funções diferentes, além de ser a estrutura do corpo.
1. Ossos e Vida: Os ossos humanos estão bem escondidos, cobertos por tendões e carne (Ez 37:3-10). Eles são um símbolo apropriado da vida interior, ou como a base da própria vida e suas emoções. Esta vida foi criada por Deus (Jó 10:11), mas pode ser ameaçada pelas forças do mal. Emoções como terror, medo e tristeza se manifestam através da agitação dos ossos (Jr 23:9), desarticulando-os e quebrando-os, não fisicamente, mas no sentido de deixar a pessoa toda sem força emocional ou física (Sl 31:10). Quando a pessoa está com medo e dor emocional, o ser interior – os ossos de uma pessoa – é roubado da paz; figurativamente os ossos estão podres, incapazes de sustentar a plenitude da vida (Jó 30:17; Pv 12:4). O pecado não confessado cria culpa e causa ruptura na condição interna da pessoa; o osso/pessoa interior vive em aflição (Sl 32:3) e não temshalom(Sl 38:3). Somente Deus pode fortalecer nossa vida interior, e isso acontece quando os ossos/pessoa ora ao Senhor (Sl 35:10).
2. Ossos e Morte: Os ossos são os últimos restos mortais de uma pessoa e, portanto, estão associados à morte. Neste caso, o termo ossos é frequentemente usado em um sentido literal. Os ossos secos são concebidos como uma extensão da pessoa, e nesse sentido, evocam uma lembrança dela em outros. Em tais casos, eles devem ser tratados com respeito e ser enterrados (1Sm 31:13; 2Sm 21:12). Durante a guerra não há respeito pelos mortos, e, consequentemente, os ossos deixados no campo ou retirados dos túmulos tornam-se “esterco sobre o solo” (Jr 8:2, NVI; veja também Am 2:1; Sl 53:5). Esta é uma expressão não só de vitória sobre o inimigo, mas de total desprezo. Os ossos também podem designar um cadáver (Gn 50:25, 26; Am 6:10). Uma ferida mortal danifica os ossos (Sl 42:10); e quando os ossos são cobertos apenas pela pele a pessoa está morrendo (Jó 19:20; Sl 22:17; 102:5). Ossos ligados à morte também são uma fonte de impureza; quem os toca torna-se impuro (Nm 19:16). Como uma fonte de impureza os ossos também podem profanar altares se forem espalhados em torno deles (Ez 6:5) ou queimados sobre o altar (1Rs 13:2; 2Rs 23:14, 16, 20). Uma pessoa doente que se sente perto da morte poderia descrever a experiência como o ataque de um leão que quebra os ossos de sua vítima(Is 38:13).
3. Ossos e Parentesco: Todos os seres humanos possuem ossos, e isso leva à ideia de mesmice. Os seres humanos estão ligados uns aos outros pelo fato de que todos eles são de carne e ossos. Esta ideia remonta a quando Adão identificou Eva como “osso dos meus ossos, e carne da minha carne” (Gn 2:23) – eles eram iguais. O conceito é particularmente aplicado aos parentes. Davi perguntou a Amasa: “Você não é meu osso e minha carne [Hebraico,cetsem, “osso”]?” (2Sm 19:13). As tribos de Israel disseram a Davi: “Nós somos seu osso e sua carne [Hebraico,cetsem, “osso”]” (2Sm 5:1). Devido a essa ênfase na mesmice, o termo Hebraico cetsem (“osso”) também era usado para expressar tempo (“no osso deste dia” significa “no mesmo dia” [Gn 7:13; Dt 32:48]), ou concordância de objetos (“como o osso dos céus” significa “como os próprios céus” [Êx 24:10]).
Sim, os ossos podem se alegrar porque eles representam a pessoa toda, cujo ser interior é impactado por aquilo que a pessoa faz e experimenta. Essa alegria é ameaçada pela doença, dor, culpa e tristeza perturbando o bem-estar interior e, finalmente, trazendo a vida a um fim. Antecipamos o momento em que Deus fará com que nossos “ossos” vivam de novo e não morramos mais.