Ángel Manuel Rodríguez
É verdade que 1 Pedro 3:3, 4 deveria ser traduzida “Sua beleza não deve vir tanto do adorno exterior… mas ao contrário ela deve ser aquela do seu eu interior”?
A tradução que você cita infere que Pedro não está condenando ou rejeitando o uso de joias para adorno pessoal pelos Cristãos, exceto nos casos onde ele não esteja acompanhado por uma vida de serviço para o Senhor. Em outras palavras, o uso de joias para adorno pessoal necessariamente não é incompatível com um estilo de vida Cristão; o uso moderado pareceria aceitável.
Você está levantando uma questão sobre base bíblica para o padrão Adventista a respeito do adorno pessoal, mais especificamente, o uso de joias. Tenho trabalhado neste tópico durante algum tempo, e durante este ano espero que os resultados de minha pesquisa estarão disponíveis àqueles interessados nela. Aqui tratarei de sua pergunta específica sobre 1 Pedro.
1. O Problema da Tradução: O que temos aqui é uma frase de negação seguida por uma frase contrastante. Este tipo de construção é introduzido por um advérbio negativo (“não”) e finalizada por uma partícula adversativa (“mas, melhor”). Isto é o que temos no Grego: “Não seja seu adorno consistindo do exterior… mas do seu eu interior…”
Em outros lugares o Novo Testamento Grego permite uma tradução desta construção semelhante a esta que você encontrou. Ela poderia ser traduzida por “não tanto [isto]… como [isto],” implicando que a primeira parte da sentença não é totalmente negada (e.g., Mc 9:37).
Mas a mesma construção também pode ser traduzida por “não isto… mas isto,” rejeitando totalmente o primeiro elemento (e.g., Mt 5:17). A questão é: Como podemos decidir o significado da construção em Pedro 3:3, 4?
A construção do Novo Testamento nesta passagem, “Não [isto]…” é uma frase negativa no imperativo. O seguinte “mas [isto]” introduz o assunto contrastante, e ele significa “mas pelo contrário.” Desse modo o primeiro elemento é totalmente negado. Portanto, a tradução que você encontrou é uma interpretação que introduz no texto o que não está ali.
2. Joias Para Adorno: Meu estudo de materiais bíblicos indica que na Bíblia, as joias têm diferentes propósitos e funções. Neste caso em particular Pedro está tratando de joias cujo propósito básico é o adorno. Ele não está se referindo a outros usos funcionais de joias.
3. O Fundamento da Ordem de Pedro: Estava Pedro ponderando a atitude para com as joias como adorno encontrado na sociedade Greco-Romana? Se sim, então seu conselho era aplicável apenas para a igreja de seus dias e não para a igreja hoje. Naturalmente, ainda podemos manter os princípios por trás de sua ordem, mas não a ordem específica.
Felizmente, o próprio texto nos informa a fonte de sua ordem: “Pois era assim que também costumavam adornar-se as santas mulheres do passado, que colocavam sua esperança em Deus” (verso 5, NVI). Pedro volta ao Velho Testamento em busca de apoio.
4. A Natureza do Adorno Verdadeiro: Em oposição ao adorno exterior específico que Pedro rejeita, ele identifica o adorno que agrada a Deus. Ele é uma beleza interior que consiste de um “espírito dócil e tranquilo, o que é de grande valor para Deus” (verso 4, NVI). O critério último para o adorno apropriado é aquele que é precioso à vista de Deus.
O espírito dócil é baseado na esperança no Senhor (Mt 5:5; cf. Mt 11:29). Um espírito tranquilo se refere a uma disposição de tranquilidade como resultado de estar em paz com Deus. Sua ausência gera distúrbio pessoal e social.
Pedro está sugerindo que existe um tipo de adorno externo que é uma expressão de orgulho e autoconfiança em vez de uma expressão de submissão e dependência do Senhor. Quando contrastado com um “espírito… tranquilo,” tal adorno se torna uma expressão de uma atitude inquieta, um símbolo de uma necessidade, até mesmo uma busca por paz interior que não é satisfeita, mas que deve ser encontrada plenamente através do evangelho. Por esta razão este adorno é incompatível com os frutos da mensagem Cristã.