Alberto R. Timm

Existem duas teorias básicas a respeito do controvertido voto que Jefté fez no contexto de sua vitória sobre os amonitas (ver Juízes 11:29-40). Alguns comentaristas (A. Clarke, Keil-Delitzsch, G.  L. Archer, J. J. Blanco, etc.) procuram inocentar a Jefté, afirmando que o cumprimento do seu voto não significou a morte de sua única filha, mas simplesmente a dedicação dela ao Senhor, como virgem, pelo resto de sua vida. Os defensores dessa posição argumentam: 1) O fato de Jefté haver sido usado pelo “Espírito do Senhor” na batalha contra os amonitas o impediria de fazer um voto contrário à vontade de Deus (ver Deuteronômio 12:31; 18:9 e 10); 2) A enunciação do voto em Juízes 11:31 sugere que se fosse um animal quem primeiro saísse da casa, este seria oferecido “em holocausto”, mas se fosse uma pessoa, esta seria simplesmente dedicada ao “Senhor” (ver Romanos 12:1); 3) A expressão “jamais foi possuída por varão” (Juízes 11:39) significa que a filha de Jefté continuou vivendo como virgem; 4) Se Jefté a houvesse realmente sacrificado,  o nome dele não apareceria entre os heróis da fé, em Hebreus 11:32.

Em contrapartida, autores como Josefo, Lutero, Matthew Henry, Jemieson-Fausset-Brawn, A. C. Hervey, H. A. Hofner Jr., E. J. Hamlin, etc., argumentam que a linguagem do próprio texto não deixa dúvidas de que Jefté realmente ofereceu sua filha em sacrifício. A favor dessa posição, pode-se mencionar: 1) Jefté certamente estava familiarizado com a prática de sacrifícios humanos das nações circunvizinhas (ver Juízes 11:1-3, 24); 2) O fato de haver sido usado pelo “Espírito do Senhor” na vitória sobre os amonitas não o tornou infalível em suas demais decisões; 3) Juízes 11:31 sugere claramente que a pessoa que primeiro saísse da casa de Jefté seria dedicada ao Senhor “em holocausto”; 4) A reação de Jefté em Juízes 11:35 seria exagerada se a questão envolvida fosse apenas a dedicação de sua filha em celibato ao Senhor; 5) Não faria sentido chorar “a sua virgindade” por “dois meses” (Juízes 11:38) já que a moça continuaria virgem; 6) O próprio texto declara que Jefté fez com sua filha “segundo o voto por ele proferido” (Juízes 11:39); 7) Os heróis da fé mencionados em Hebreus 11 não eram pessoas que nunca pecaram, e sim pessoas que alcançaram a vitória sobre os seus pecados (ver, por exemplo, Êxodo 2:11-15; Juízes 13:16; 2 Samuel 11:12).

Embora a questão permaneça aberta à discussão, parece que a posição de que o voto de Jefté foi um ato indevido e precipitado, que acabou custando a vida de sua filha, é a posição mais condizente com o relato bíblico do incidente.


Fonte: Sinais dos Tempos, setembro de 1998, p. 29 (usado com permissão)