Sábado da Herança – 26 de outubro de 1996
O Ministério Corretivo do Espírito Santo
Juan Carlos Viera
Ex – diretor do White Estate (EUA)
I. Introdução
A. De acordo com o apóstolo Paulo, em II Timóteo 3: 16, os escritos inspirados são úteis para:
1. Ensino 2. A repreensão 3. A correção 4. A educação na justiça.
B. Dos vários ministérios desempenhados pelo Espírito Santo, por meio de Seus servos os profetas, o ministério da correção é o mais difícil de ser aceito. É especialmente difícil aceitar quando ele afeta nossa crença ou comportamento pessoal.
II. Ministério Corretivo nos Tempos Bíblicos
A. Correção para todas as nações.
1. Em Seu amor, Deus enviou profetas para transmitir Sua reprovação a Seu povo.
a. Nos tempos do Velho Testamento, profetas como Elias, Jeremias, Oséias e Amós cumpriram sua função ao conclamar o arrependimento da nação inteira.
b. No Novo Testamento, João Batista, foi uma das vozes corretivas de Deus para a nação toda.
2. Vez por outra, Deus enviou um profeta para transmitir sua reprovação a outras nações: Jonas 1-4.
B. Correção para a igreja cristã nos dias do Novo Testamento.
1. Para toda a igreja: as cartas pastorais, como as cartas de João e Pedro, não apenas continham conselhos e encorajamento mas também correção e reprovação à igreja como um todo.
2. Para uma única igreja com problemas específicos: por exemplo, a carta de Paulo aos Coríntios trata do mau uso dos dons espirituais (I Coríntios 12-14).
C. Correção para o comportamento ou crença individual.
1. De acordo com II Samuel 12:1-7, Deus enviou um profeta para corrigir o comportamento de outro profeta. Assim como outros seres humanos, os profetas são passíveis de cometer erros.
2. Espírito Santo deu a Pedro uma visão para corrigir sua má compreensão sobre os gentios (Atos 10, 11).
Os profetas não são infalíveis. Algumas vezes eles necessitam de correção em questões doutrinárias a fim de poder comunicar a verdade de Deus ao povo.
III. Ministério Corretivo do Espírito Santo por Intermédio de Ellen G. White.
A. A mensageira do Senhor não gostava de transmitir testemunhos de reprovação.
“Senti por anos que se pudesse ter o poder da escolha e ainda agradar a Deus, preferiria morrer a ter uma visão, pois cada visão me põe sob a grande responsabilidade de transmitir testemunhos de reprovação e de advertência, que são contra meus sentimentos, causando-me indescritível aflição de alma”. (Carta 2, 1874, citado em Manuscript Releases, vol. 8, pp. 238, 239).
B. Muitas vezes Ellen White tinha que corrigir os erros doutrinárias e más interpretações da Escritura.
“Por esse tempo o fanatismo se apoderara de alguns dentre os que tinham abraçado a primeira mensagem. Sustentavam-se graves erros de doutrina e de prática religiosa, e alguns estavam prontos a condenar fosse quem fosse que não partilhasse o seu modo de ver. esses erros me foram revelados em visão, enviando-me o Senhor a esses filhos desviados para que lhos declarasse; no desempenho dessa missão, porém, defrontei dura oposição e rijas exprobações.” (Testemunhos Seletos, vol. II, p. 271).
C. Algumas vezes Ellen G. White tinha que corrigir problemas pessoais e corporativos em uma igreja local, tal como:
1. A Igreja de Bushnell, em Michigan. No dia 27 de julho de 1867, Tiago e Ellen White visitaram a igreja. Na reunião da tarde, a Mensageira do Senhor falou aos irmãos que vira muitos deles em visão, dois anos antes. Ela começou a apresentar testemunhos pessoais em frente da congregação toda. Um após outro confirmaram a precisão de seus testemunhos e confessaram seus pecados. Houve um verdadeiro espírito de reavivamento nessa igreja. [A história completa encontra-se no Apêndice A];
2. A Igreja de Washington, New Hampshire. Uma experiência semelhante ocorreu em dezembro de 1867, na igreja de Washington, New Hampshire. Em uma reunião de cinco horas a Mensageira do Senhor apresentou testemunhos sobre pecados ocultos na congregação. Novamente, seguiu-se um espírito de reavivamento. No Natal, treze filhos das famílias presentes entregaram suas vidas a Cristo. Pouco tempo depois, outros cinco jovens também entregaram seu coração a Cristo como resultado desse reavivamento. [A história completa encontra-se no Apêndice B].
IV. O Ministério Corretivo do Espírito Santo nos Dias Contemporâneos
As mensagens recebidas nos primeiros tempos da mensagem são instruções seguras nos dias finais da história da terra.
“Por meio do Seu Santo Espírito a voz de Deus nos tem vindo continuamente em advertências e instruções, para confirmar a fé dos crentes no Espírito de Profecia. Tem vindo repetidamente a ordem: Escreve as coisas que te tenho dado para confirmar a fé do Meu Povo na atitude que eles tomaram. O tempo e a provação não anularam as instruções dadas, mas através de anos de sofrimento e sacrifício têm estabelecido a verdade do testemunho comunicado. As instruções dadas nos primeiros tempos da mensagem, devem ser conservadas como instruções dignas de confiança para se seguirem nesses seus dias finais”. (Mensagens Escolhidas, vol. 1, p. 41).
A. Os princípios envolvidos nos conselhos dados a outros podem ser aplicados a nossa própria situação.
“Vi que todos devem fazer um exame minucioso de consciência para saber se não têm cometido os mesmos erros pelos quais outros foram repreendidos, e se as admoestações feitas a outros não se aplicam também ao seu caso. Em caso afirmativo, devem sentir que esses conselhos e advertências se estendem também com eles, e fazer deles uma aplicação tão prática como se tivessem sido dirigidos a eles pessoalmente”. (Testemunhos Seletos, vol. II, p. 276).
V. Conclusão
A. A experiência do antigo Israel lembra-nos de que quando o povo acata os profetas de Deus, eles prosperam; mas quando não o fazem, o resultado é a apostasia e ruína nacional. No Monte Carmelo, Elias desafiou os israelitas a decidirem a quem seguiriam (I Reis 18:21).
B. Anos mais tarde, sob o ataque de inimigos estrangeiros, Rei Josafá admoestou seu povo em II Crônicas 20:20:
“Ouvi-me, ó Judá, e vós, moradores de Jerusalém! Crede no Senhor vosso Deus, e estareis seguros; crede nos seus profetas, e prosperareis.”
C. A pergunta continua para nós hoje: A quem seguiremos?
1. Se você e eu desejamos estar estabelecidos em nossa própria experiência e prosperarmos espiritualmente, devemos ouvir os profetas de Deus.
2. A decisão é nossa. Qual será ela?
Apêndice A*
O Reavivamento da Igreja de Bushnell (1867)
Na tarde de sexta-feira, do dia 19 de julho de 1867, Tiago e Ellen White atrelaram seus cavalos e se dirigiram para Bushnell, Michigan. Nenhum deles havia em estado Em Bushnell antes. A. W. Maynard, o ancião da igreja nas proximidades de Greenville, onde os Whites então viviam, juntamente com S. H. King, o ancião da igreja de Orleans, havia sugerido que fosse realizada uma reunião em um bosque em Bushnell.
Três anos antes, um evangelista havia estabelecido um grupo de trinta crentes em Bushnell. Infelizmente, ele os deixou antes que estivessem firmados em sua nova fé. Sem uma devida liderança, seguiu-se o desencorajamento e a apostasia. Alguns dos homens voltaram a usar o tabaco. A cada vez um ou dois nomes eram cortados do rol da igreja. Até a metade do verão de 1867, apenas dez ou doze pessoas ainda estavam assistindo às reuniões, no sábado, em Bushnell. O minguado grupo de desencorajados guardadores do sábado reuniu-se na manhã de sábado do dia 13 de julho. Apenas sete compareceram. Eles decidiram que essa seria sua última reunião. Mas quando chegou a notícia de que os Whites estariam com eles no próximo sábado, decidiram realizar pelo menos mais uma reunião. Foram feitos os devidos preparativos em um bosque próximo. Tiago e Ellen White chegaram em Bushnell, na tarde da sexta-feira e foram hospedados na casa de Stephen Alchin. No sábado, pela manhã, ao dirigirem-se para o bosque, encontraram cerca de 60 crentes no local, 20 deles de Bushnell. Os demais eram de Greenville e Orleans. Esse foi um ótimo sábado.
Enquanto se dirigiam para o bosque, no domingo pela manhã, Tiago White comentou que provavelmente pregaria para as árvores e talvez para 25 pessoas. Para sua surpresa, encontrou não menos de 125 atentos ouvintes. A reunião foi um grande sucesso. Os membros de Bushnell, criando coragem pediram a Tiago e Ellen White para voltarem para as reuniões do próximo sábado e domingo.
Assim, todos os guardadores do sábado estavam ali na manhã do sábado de 27 de julho. Após Tiago e Ellen White terem falado, Ellen, com a Bíblia em mãos, começou a discorrer sobre um texto da Escritura. Fez então uma pausa. Pondo sua Bíblia de lado, a Sra. White começou a falar àqueles que haviam aceitado o sábado naquele lugar. Ela não os conhecia e tampouco seus nomes, mas dirigiu-se a várias pessoas. Tiago White assim descreveu o fato:
Ela indicou cada irmão e irmã por sua posição, como o que está próximo àquela árvore, ou sentado sob tal árvore ou sentado próximo ao irmão ou irmã das igrejas de Greenville ou Orleans, a quem ela conhecia pessoalmente e a quem chamava pelo nome.
Ela descreveu cada caso peculiar, afirmando que o Senhor lhe havia mostrado seus casos dois anos atrás e que, enquanto ela estava falando sobre o verso bíblico, essa visão veio-lhe à mente, como um relâmpago em uma noite escura, revelando distintamente cada objeto ao redor. —Signs of the Times, 29 de agosto de 1878.
A Sra. White falou por uma hora, mencionando pessoas diferentes. Ao concluir, o irmão Strong, que conhecia pessoalmente cada membro do grupo de Bushnell levantou-se e perguntou às pessoas mencionadas por Ellen White se as coisas que ela falara sobre eles era verdade. “Se as coisas eram verdadeiras ou não; se não fosse verdade, ele e todos os presentes, queriam saber; e se fossem verdade também queriam saber e desde aquele dia estabeleceu-se a fé nos testemunhos”. Idem. O relato diz que “as pessoas por ela mencionadas levantaram-se uma a uma e testificaram que seus casos foram descritos melhor do que o teriam feito elas mesmas”. — Idem. Tiago White comenta:
Não foi suficiente para aquele grupo de pessoas inteligentes saber que o testemunho dado naquele dia estava correto em cada aspecto do caso de cada pessoa a fim de que sua fé fosse plenamente estabelecida. Tivesse o testemunho errado em um simples particular e teria destruído a fé de todos os presentes. Porém, desde aquele momento eles estabeleceram sua fé e todos ficaram a favor da terceira mensagem angélica. —Idem.
No domingo de manhã, três foram batizados, e a igreja de Bushnell foi formalmente organizada e nomeados seus oficiais. Nos anos seguintes, vários obreiros denominacionais vieram dessa igreja.
Fonte: Adaptado de Arthur L. White. Ellen G. White, Volume 2, The Progressive Year 1863-1875, pp. 189-1919; Arthur L. White, Notes and Papers Concerning Ellen G. White and The Spirit of Prophecy, ed. 1974, pp. 334-335; e Tiago White, Signs of the Times, 29 de abril de 1878, p. 260.
Apêndice B*
UM NATAL COM A SRA. WHITE
A maioria das pessoas não escolheriam a época do Natal para visitar Washington, New Hampshire – local da primeira congregação de adventistas guardadores do sábado. Na verdade, a estrada suja que levava ao histórico local da velha igreja já não é nem mesmo mantida nos meses de inverno. Contudo, durante a semana do Natal de 1867, Tiago e Ellen White, acompanhados de John N. Andrews, visitaram esse local para realizarem reuniões de reavivamento. A igreja de Washington, na primavera de 1844, Rachel Oakes (posteriormente Preston), uma adventista do sétimo dia batista, havia apresentado pela primeira vez a verdade do sábado. Frederick Wheeler, o metodista guardador do domingo, com quem ela partilhou a doutrina do sábado, serviu como ministro ali, algumas vezes. E William Farnsworth, um fazendeiro local, com 22 filhos, tornou-se o primeiro a aceitar publicamente o sábado quando o pastor Wheeler apresentou-o à congregação. Mas todas essas coisas haviam ocorrido há cerca de um quarto de século. Entrementes, o pastor Wheeler havia se mudado para o Estado de Nova Iorque. Como sua partida a condição espiritual da congregação de Washington deteriorou-se. Os cultos regulares foram descontinuados e, pelo menos, um dos membros, William Farnsworth, voltou a seu velho hábito de mascar tabaco. As reuniões de reavivamento iniciaram no sábado anterior ao Natal. Algumas foram realizadas na igreja e algumas na casa de Cyrus Farnsworth, o irmão mais novo de William. A reunião da segunda-feira de manhã ocorreu na igreja e durou cinco horas. Durante essa reunião, Ellen White dirigiu-se a pessoa por pessoa na congregação. Ela destacou os problemas em suas vidas que haviam-lhe sido mostrados em visão. Uma jovem irmã, “amada de Deus, mas mantida em servil escravidão”, recebeu o conselho de que deveria manter sua individualidade e não submeter as suas convicções a um marido inconverso. A condição apóstata de outra jovem foi mostrada como resultado de sua associação com outro jovem inconverso. Um homem presente naquele dia não havia sido aceito na irmandade da congregação local. Ellen White salientou que “Deus que vê os corações” se agradava mais de seu comportamento do que da vida de alguns na igreja que estavam se recusando aceitá-lo como membro. À medida em que a reunião prosseguia, o jovem Eugene Farnsworth, de 19 anos, pensou quem dera ela pudesse atacara o caso de meu pai. Quase que em resposta a seu desejo, a Sra. White voltou-se para seu pai, dizendo em essência, “Vi que seu irmão é um escravo do tabaco. Mas o pior de tudo é que ele está agindo como um hipócrita, tentando enganar seus irmãos fazendo-os pensar que ele o abandonou, como prometera quando se uniu à igreja”. Eugene sabia que seu pai estava mascando tabaco novamente. Como haviam trabalhado juntos na mata, ele vira o sinal das nódoas marrons, a despeito da branca neve que seu pai havia chutado para esconder as manchas dele. Eugene não foi o único jovem na igreja que havia se desencorajado devido à vida inconsistente dos membros mais velhos. Mas ao Eugene ver que os vários pecados ocultos eram apontados por Ellen White, convenceu-se de que havia presenciado o dom de profecia em ação.
Ao concluir sua mensagem, Ellen White sentou-se dando oportunidade para a resposta das pessoas. Uma após outra levantaram-se reconhecendo a veracidade das revelações. Isso foi seguido por arrependimento e confissão.
Durante as reuniões, que foram do sábado à quarta-feira, dia de Natal, Tiago, Ellen White e J. N. Andrews empenharam-se pela conversão dos jovens presentes. Ao os jovens verem seus pais confessando seus erros, muitos deles foram visivelmente tocados. Na reunião da manhã do Natal, 15 jovens manifestaram seu desejo de serem cristãos. Posteriormente, cinco outros, não presentes naquela manhã, também foram convertidos. Vários jovens desejaram ser batizados imediatamente, e assim foi cavado um buraco no gelo, nas proximidades de Millan Pond, e 12 deles foram batizados. Os outros seis aguardaram até a primavera. Desse grupo de 18 jovens, pelo menos nove finalmente se tornaram obreiros na igreja. Eugene Farnsworth tornou-se ministro, enquanto que outros tornaram-se obreiros bíblicos e missionários. Os resultados dessas reuniões, realizadas na época do Natal de 1867, perduram para a eternidade.
Fonte: extraído de [Adventista Scrapbook], James Nix, “A White Christmas”, Adventist Review, 22 de setembro de 1990, pág. 38.
*História mencionada na página 12 do segundo sermão de Juan Carlos Viera.