DIA DO ESPÍRITO DE PROFECIA / SÁBADO DA HERANÇA – 15 DE NOVEMBRO DE 2008
FACE A FACE
por David Birkenstock
Diretor do Centro de Pesquisas Ellen G. White, na Universidade de
Helderberg, África do Sul.
Leitura Bíblica: Salmo 42: 1-4 (VARA)
“Como o cervo anseia pelas correntes das águas, assim a minha alma anseia por Ti, ó Deus! A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando entrarei e verei a face de Deus? As minhas lágrimas têm sido o meu alimento de dia e de noite, porquanto se me diz constantemente: Onde está o teu Deus? Dentro de mim derramo a minha alma ao lembrar-me de como eu ia com a multidão, guiando-a em procissão à casa de Deus, com brados de júbilo e louvor, uma multidão que festejava.”
INTRODUÇÃO
Desde o princípio, a Criação esteve repleta de sons e de todos os meios possíveis de comunicação. Em Seu desejo de comunicar-Se com Seus filhos, Deus os encontrava à tardinha, “na viração do dia”, para conversar com eles, orientá-los e guiá-los. Ele deu a Adão e Eva um belo lar, em um esplêndido jardim, e então disse que TUDO ERA BOM. “O livro da Natureza, que estendia suas lições vivas diante deles, ministrava uma fonte inesgotável de instrução e deleite. Em cada folha da floresta, ou pedra das montanhas, em cada estrela brilhante, na terra, no mar e no céu, estava escrito o nome de Deus. Tanto com a criação animada como com a inanimada, ou seja, com a folha, flor e árvore, e com todos os viventes desde o leviatã das águas até ao animálculo em um raio de luz, entretinham os habitantes do Éden conversa, coligindo de cada um o segredo de seu viver.” (Educação, p. 21). Deus, que criou os seres humanos à Sua imagem, tinha prazer em comunicar-Se com eles e partilhar com eles as maravilhas da Criação.
Hoje vemos que os animais, insetos e todas as criaturas vivas têm as suas formas de se comunicar. A dança das abelhas indica às suas companheiras de trabalho onde o néctar pode ser encontrado; um pequeno pássaro canta o que aprendeu com seus pais; toda a natureza está repleta e energizada com os sons, com os perfumes e com as cores da comunicação. A gaivota prateada, por exemplo, comunica-se com seus pintinhos por meio de uma mancha vermelha no bico e, em resposta, os pintinhos tentam bicar a mancha vermelha, fazendo com que a mãe regurgite o alimento para eles. A comunicação é verdadeiramente o elo comum que mantém toda a natureza em uníssono.
Karl Jaspers, o filósofo alemão, escreveu: “A mais importante realização do homem no mundo é a comunicação de pessoa a pessoa” (The Way to Wisdom – O Caminho da Sabedoria). Todo o nosso sucesso na carreira, na família, nas amizades e relacionamentos depende da comunicação. O fato é que necessitamos manter contato com os outros, necessitamos estar em contato com os nossos semelhantes se desejamos realmente agir como seres humanos. Temos uma necessidade inata de estar em contato com outras pessoas e nos comunicarmos com elas.
Um dos nossos mais distintos aspectos como seres vivos é o nosso potencial para a alegria, para nos divertirmos, para a emoção, entusiasmo, cuidado, interesse, e também para demonstrar a cordialidade e o calor humano; e isso só é possível através da comunicação. Apenas imagine o que seria a vida se de repente perdêssemos todas as invenções ligadas à comunicação: a palavra escrita, jornais, rádio, TV, fax, telefones, celulares, Internet… Sem comunicação, nosso mundo iria parar totalmente! A comunicação é vital para a existência humana, e se ela é tão vital para nós, quão importante deve ser para Deus. A forma preferida por Deus para Se comunicar é face a face. Essa foi a forma que Ele instituiu inicialmente para comunicar-Se com Adão e Eva no Jardim do Éden. “… nosso Pai Celestial dirigia pessoalmente a sua educação” (Educação, p. 21). – Isso era muito importante para Ele. Assim, Deus Se encontrava com eles no cair da tarde e os educava em todos os segredos do mundo criado. Que alegria e felicidade deve ter sido manter comunhão com Deus face a face! Ellen White relembra-nos de como todo o Céu expectante viu esse fato: “Todo o Céu tomou profundo e alegre interesse na criação do mundo e do homem. Os seres humanos constituíam uma nova e distinta ordem. Eles foram feitos ‘à imagem de Deus’ e era desígnio do Criador que enchessem a Terra.” – Review and Herald, 11 de fevereiro de 1902.
Adão e Eva é que deveriam cuidar do jardim. “Adão havia sido coroado rei no Éden e lhe foi dado o domínio sobre todas as coisas criadas por Deus.” (God´s Amazing Grace – A Maravilhosa Graça de Deus, p. 40, em inglês / Texto em português em: No Deserto da Tentação, p. 13). Para que Adão pudesse ser o rei desse perfeito domínio, Deus o instruiu naquilo que dele esperava para cuidar do jardim e de todos os animais que havia criado. Embora os anjos também tenham sido enviados para orientá-lo, era o próprio Deus que ensinava a Adão o que ele precisava saber. Adão e Eva tinham que aprender a como cuidar do jardim, e ao trabalharem nele, aprendiam os mistérios das plantas e das flores. Havia perfeita harmonia na Terra, e Deus estava satisfeito com Sua criação; aliás, é por isso que Ele declarou que “ERA MUITO BOM” (Gênesis 1:31). Então veio o pecado, e aquela perfeita harmonia foi perdida – inclusive a comunhão face a face com o seu Criador.
A COMUNICAÇÃO E A QUEDA
O desejo de Deus em nos guiar e salvar é tão intenso que Ele idealizou um meio para comunicar Seu planos a nós depois que o pecado começou a fazer parte desse quadro. Amós 3:7 nos diz: “Certamente o Senhor Deus não fará coisa alguma, sem ter revelado o Seu segredo aos Seus servos, os profetas.” Podemos ter a certeza de que Deus sempre fará conhecidos os Seus planos a nós quanto ao que acontecerá neste mundo e, portanto, nada temos a temer quanto ao futuro.
O objetivo deste sermão é analisar as maneiras pelas quais Deus continuou a Se comunicar com a humanidade e como, no plano e providência de Deus, virá o tempo em que a perfeita comunicação face a face será finalmente restaurada.
A entrada do pecado trouxe separação entre Deus e Seus filhos; não mais poderia haver uma comunhão face a face. Isaías 59:2 nos relembra: “Mas as vossas iniqüidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados esconderam o Seu rosto de vós, de modo que não vos ouça.” O pecado é o grande meio de separação entre as pessoas e Deus. Aquele era um momento de crise na história do mundo e precisamos examinar mais de perto para ver como Deus resolveu esse problema. Juntamente com a sentença que Deus pronunciou sobre a humanidade por causa do pecado, veio também a promessa de que um Salvador haveria de vir e restaurar-nos ao nosso devido lugar no Universo. Essa promessa de esperança traz consigo a certeza de que Deus iria continuar a se comunicar com a humanidade, embora em um nível diferente. O tempo revelou como isso iria acontecer. Deus iria comunicar-Se com o homem por meio de um Mediador, Jesus Cristo. O Senhor Jesus passaria a ser então a escada de Jacó para reconciliar o Céu e a Terra. Pelo sistema de adoração e sacrifícios, Deus iria ensinar aos caídos seres humanos que um substituto tomaria o lugar deles. Deus iria comunicar-Se conosco por meio dEsse Substituto e de Seus anjos. Não iria mais falar a nós face a face, mas por meio de Cristo, Seus anjos, Seu Espírito e por Seus servos, por Ele escolhidos. (Ver textos no Apêndice.)
COMUNICAÇÃO DURANTE A ERA PATRIARCAL
No tempo dos patriarcas, Deus continuou a falar com a humanidade por meio do sistema de sacrifícios por Ele instituídos; O Senhor enviou também Seu Filho e Seus anjos como Seus mensageiros para falarem diretamente ao Seu povo. Deus então chama algumas pessoas para serem a Sua voz no mundo. Após Adão e Eva terem deixado o jardim, logo eles começaram a ver os resultados e os efeitos do pecado, não somente na natureza, mas também em sua própria família. Mesmo diante do poderoso exemplo de Enoque, as pessoas estavam se tornando cada vez mais perversas e corruptas, até que Deus decidiu destruir a Terra pela água. Antes, porém, de trazer a destruição ao mundo, Ele chamou Noé para ser o Seu porta-voz e pregador por 120 anos! O pecado havia causado tamanha destruição na vida das pessoas que Deus viu que era melhor destruir toda a humanidade e todas as suas obras, e então começar tudo novamente com a família de Noé.
O chamado de Deus a Abraão demonstrou uma nova estratégia na comunicação com Suas criaturas caídas. Ele não somente chamou um homem, mas deu-lhe também a promessa de que teria uma descendência e deu-lhe a esperança de que seria o pai de uma grande nação. Essa nova nação deveria evangelizar as pessoas e manter vivos os propósitos de Deus no mundo. Não seria apenas mais um líder ou uma pessoa que seria chamada para ser o porta-voz de Deus, mas uma nação inteira deveria atender ao Seu convite (Gênesis 12:1-3). Dessa forma, Deus demonstrou qual era a Sua vontade para com todas as pessoas, especialmente aquelas que deveriam ser uma bênção no mundo, no lugar onde estivessem (Gênesis 12:2).
À medida que essa nação crescia, Deus escolheu falar a Seu povo de várias maneiras. Ele falou a José em sonhos, ao sumo sacerdote por meio do Urim e do Tumim, e então por meio de visões dadas aos profetas que foram chamados para serem Seus porta-vozes no mundo. No tempo dos juízes, o Senhor continuou a falar por meio dos líderes, e especialmente através dos Seus mensageiros, inclusive a pessoas como Débora, Samuel e outros. Depois que entrou na Terra Prometida, o povo desejou ser governado por um rei, como as nações à sua volta; foi nessa época que o papel dos profetas teve grande relevância.
Por que Deus continuou a Se interessar e a tentar comunicar-Se com Seu povo, a despeito de sua rebelião e pecaminosidade? Em 2 Crônicas 36:15, podemos ter uma idéia de como Deus Se sentiu em relação ao Seu povo: “E o Senhor, Deus de seus pais, falou-lhes persistentemente por intermédio de Seus mensageiros, porque Se compadeceu do Seu povo e da sua habitação.”
Os profetas não são apenas porta-vozes de Deus. São também conhecidos como videntes, alguém que prediz o que está para acontecer. Durante o tempo dos reis, os profetas exerceram um papel muito importante nos assuntos da nação. Nos dias do profeta Samuel, sabemos que havia as escolas dos profetas – escolas especiais que ensinavam os líderes espirituais da nação. Esses profetas tinham a responsabilidade de manter os reis e a família real nos caminhos de Deus, e até mesmo repreender os reis que não estavam vivendo em harmonia com as condições estabelecidas por Deus para a nação. É desse tempo que nos vem o tão conhecido texto de 2 Crônicas 20:20: “Crede no Senhor vosso Deus, e estareis seguros; crede nos Seus profetas, e sereis bem-sucedidos.”
A obra do profeta era dupla: receber as mensagens do Senhor e enviá-las. O hebraico tem três palavras para identificar a palavra “profeta”: “chozeh”, que significa profeta, vidente, ligado àquele que vê ou tem uma visão. A segunda palavra é “nabi”, que é mais freqüentemente usada para “profeta”, e significa: “aquele que fala com Deus”. A terceira palavra é “foeh”, que também é traduzida como vidente, ou aquele que sabe discernir a vontade de Deus, aquele que recebe visões para guiar a nação. A palavra no Novo Testamento Grego é “prophetes”, que significa “aquele que prediz”. Deus usou vários métodos para transmitir Sua mensagem aos profetas e eles tinham que interpretar e transmitir a mensagem ao povo.
Por esse tempo em que a nação estava sendo estabelecida, havia já alguns critérios para pôr à prova um profeta. Os falsos profetas estavam sempre assediando o povo de Deus. Moisés apresentou então um dos primeiros critérios para reconhecer um verdadeiro profeta: a predição que um profeta faz deveria acontecer, senão, não era o Senhor que havia falado (Deuteronômio 18:21 e 22). (A Bíblia fala, no entanto, da possibilidade de algumas profecias serem condicionais. Essas podem não se cumprir se as condições não forem preenchidas ou a situação for mudada; ver Jeremias 18:7-10 e o livro de Jonas.) Outro importante critério é que o profeta ensina a verdade e a obediência, conforme declarado por Moisés em Deuteronômio 13:1-4. Um profeta não nega a verdade dada anteriormente por outro profeta. Ele ensina a obediência à Deus e o cumprimento de Sua vontade. Uma idéia semelhante é dada em Isaías 8:20: os profetas genuínos falam em harmonia com a palavra e a vontade de Deus revelada. Com o passar do tempo, tornou-se muito claro que um profeta também tinha que ser um homem ou uma mulher de Deus, cuja vida estivesse em harmonia com suas crenças e, portanto, sua vida deveria produzir frutos de acordo com o seu ofício de profeta (Mateus 7:15-23).
Pela terna compaixão que tem por Seu povo, Deus Se revela durante os períodos de crise. O aparecimento dos profetas está freqüentemente ligado às maiores crises na história do mundo. Pense no dilúvio. Antes dele, Deus enviou Noé para advertir o mundo a respeito da iminente destruição. Pense em Israel, lá na escravidão do Egito, a quem Deus enviou Moisés para levá-los à Terra Prometida. Pense na severa opressão que houve no tempo dos juízes, e pessoas como Débora, e mais tarde Samuel, que foram enviados para aliviar e encorajar o povo. Olhe para os períodos de negra apostasia durante o reinado dos reis de Israel, quando Deus enviou homens como Elias para salvar a nação. Pense na época do declínio nacional e na graça de Deus ao enviar Isaías e Jeremias para encorajar o povo. Durante o cativeiro, encontramos Daniel e Ezequiel que transmitiram mensagens de coragem ao remanescente.
É muito claro nas Escrituras que Deus utilizou os profetas e que a escolha do Seu porta-voz não era limitada a gênero e genealogia, como era o caso dos sacerdotes e também do sumo sacerdote. Deus utilizou homens e mulheres para serem Seus porta-vozes. Em tempos de crise para a nação de Israel, Deus enviou Seus profetas para orientar, advertir, repreender e guiar a nação. Em algumas das épocas cruciais, Deus tinha inúmeros profetas trabalhando para guiar o povo, mas depois do cativeiro de Israel, houve um período de aproximadamente 500 anos em que o ofício profético esteve em silêncio. Quando chegou a plenitude dos tempos na história de Israel e na história do mundo, Deus enviou o Maior de todos os profetas, na Pessoa de Seu Filho, com a mais pura mensagem vinda do Céu. (Hebreus 1:2).
O ENSINO, A VOZ PROFÉTICA NA IGREJA CRISTÃ PRIMITIVA
A voz profética foi ouvida novamente quando chegou o tempo em que o Messias deveria nascer e então ser estabelecida a Igreja Cristã. Vemos a voz profética na maravilhosa obra de João Batista, que alertou o povo para a vinda do Messias, quando finalmente O batizou e O revelou ao povo como o Cordeiro de Deus (João 1:36). João foi o meio utilizado por Deus para comunicar esperança ao Seu povo e chamar as pessoas ao arrependimento. Os ministérios tanto de João como de Jesus foram acompanhados de sinais e milagres que confirmavam a mensagem que pregavam na mente de uma incrédula nação judaica.
Jesus entregou a tarefa de pregar a mensagem nas mãos de um grupo de pessoas muito especial. Esse grupo, integrado pelos apóstolos, líderes e crentes, deveriam ir a todo o mundo. Eram eles que, sob a guia do Espírito Santo, deveriam falar ao mundo sobre o preço que havia sido pago por sua redenção e que a salvação estava então disponível gratuitamente a toda a humanidade. Eles deviam proclamar a vontade de Deus de unir o Céu e a Terra novamente, após o conflito final entre o Bem e o Mal. Na Cruz, Satanás reconheceu que era um inimigo derrotado. Ele iria, porém, continuar enganando o mundo para segui-lo, procurando mantê-lo contra Deus. Jesus, por Sua vida e ministério, deu a maior revelação de quem é Deus. Ele foi, de fato, o Maior de todos os profetas (Hebreus 1: 2 e 3).
Deus levantou grandes e poderosos profetas por meio do ministério de Paulo, Pedro, João e muitos outros líderes na Igreja. Eles ensinavam claramente que o dom profético deveria continuar até o fim dos tempos na Igreja. Em Sua compaixão e cuidado, Deus iria levantar profetas novamente para liderar Sua Igreja em tempos de crise. O apóstolo Paulo esperava que o dom profético estivesse com o povo de Deus até o final dos tempos, e em seus escritos ele advertiu a igreja de Corinto a não deixar faltar nenhum dos dons (1 Coríntios 1:7). Paulo assegurou também aos gálatas que o fruto do Espírito (Gálatas 5:22) era algo que devia ser revelado pelo cristão e que com ele Deus concede os dons do Espírito a todos quantos Ele escolher (1 Coríntios 12:11) para serem uma bênção para a Igreja. Mesmo com o passar do tempo, Jesus esperava que o dom profético continuasse até o fim dos tempos, pois ele advertiu a igreja do tempo do fim que se acautelasse contra os falsos profetas (Mateus 24:24). Uma advertência contra os falsos profetas significa que haveria também profetas genuínos, que deveriam se distinguir daqueles que eram falsos, senão, a advertência seria dada contra a existência de todos os profetas, e não dos falsos. Portanto, necessitamos dar cuidadosa atenção às palavras de Paulo em 1 Tessalonicenses 5:20: “Não desprezeis as profecias.”
Fica claro que a última igreja de Deus na Terra deveria ter o dom profético. De fato, esse dom deveria ser uma das marcas da igreja remanescente, conforme está registrado em Apocalipse 12:17 e 19:10. Os discípulos na estrada de Emaús estavam consternados e desanimados ao caminharem à sombra da crucifixão, pensando que tudo estava perdido. Então Jesus aproximou-Se e abriu a mente deles para os eventos ocorridos naquele dia e lhes trouxe novo ânimo e conforto. De maneira semelhante, depois da confusão e desespero que se seguiu ao desapontamento de 22 de outubro de 1844, Deus Se aproximou de Seu povo por meio do dom profético para encorajá-los e adverti-los do que estava para vir e preparar um povo para encontrar-se com o seu Deus.
OS ADVENTISTAS DO SÉTIMO DIA E O DOM PROFÉTICO
A Igreja Adventista do Sétimo Dia, que surgiu depois do grande desapontamento de 22 de outubro de 1844, passou a crer firmemente no papel e lugar que o dom profético deveria ocupar na Igreja. O grande desapontamento destruiu a fé de muitos que haviam acreditado no retorno de Cristo em outubro daquele ano. Muitos desistiram da sua fé. Vários grupos emergiram do desapontamento, todos buscando uma forma de superar os eventos que os haviam deixado desconsolados. Um desses grupos tornou-se o precursor da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Era a esse grupo que Ellen Gould Harmon, com a idade de 17 anos, revelou o que Deus havia lhe mostrado.
Ela era muito doente, tímida, e de maneira nenhuma agia como alguém que tinha o desejo de se promover, mas como alguém que tinha uma mensagem para o povo, mostrada a ela por Deus em visão. Ela viu-se a si mesma como a mais fraca dos fracos e uma serva do Senhor. Ela nunca reivindicou para si mesma o ofício do dom profético, mas viu o seu papel, a sua função, como a luz menor que leva outros à Palavra de Deus e ao Salvador. Ao comunicar-Se com essa tímida adolescente que encorajou o povo a reestudar a Bíblia e a orar para que Deus lhes revelasse a verdade, o Senhor mais uma vez aproximou-Se de Seu povo. A perplexidade e a tristeza converteram-se em esperança e coragem. Logo esses primeiros adventistas estavam partilhando a sua alegria e esperança na Verdade Presente ao mundo inteiro.
A jovem Ellen tinha ainda que lutar contra o sentimento prevalecente entre os líderes mileritas, de que todo fenômeno carismático, como visões e transes deveriam ser rejeitados (Douglass, A Mensageira do Senhor, p. 39). Igualmente preocupantes eram as divisões que se alastravam e o temível fanatismo dentro do movimento milerita, após o desapontamento (ibidem).Ellen era uma frágil e doente adolescente que dificilmente podia falar pouco mais alto que um sussurro. Ainda assim, lhe foi dada uma visão em dezembro de 1844, sendo-lhe dito que devia partilhar essa mensagem com os primeiros crentes. Nessa época, devido à sua humilde e inabalável fidelidade à vontade de Deus para que ela fosse Sua mensageira, Ellen tornou-se o ponto de integração para os cuidadosos estudantes da Bíblia que desejavam conhecer o certo e o errado a respeito do desapontamento de 1844. Desse humilde começo, foi formada a Igreja Adventista do Sétimo Dia entre os anos de 1860 a 1863.
Os pioneiros da Igreja estavam muito atentos a qualquer coisa que pudesse indicar que essas manifestações do dom profético não eram genuínas. Ellen Harmon era, portanto, submetida a rigorosos testes feitos por médicos, ministros e outros líderes; no entanto, ela passou em todos os testes bíblicos como sendo uma genuína profetisa, com todos os direitos, e a sua experiência correspondeu às descrições bíblicas referentes às condições físicas dos profetas em visão. Há inúmeros relatos de testemunhas oculares que a observaram e se convenceram de que ela era uma genuína porta-voz de Deus. A direção e orientação que ela deu naqueles primeiros tempos confirmam as posições doutrinárias da Igreja, e a sua obra pessoal também credenciam suas palavras e testemunho. Ela se casou em 1846 com Tiago White, um ministro, e tornou-se então conhecida para os membros da Igreja como Ellen G. White.
Confrontada por essa manifestação do Espírito de Profecia, a igreja teve de desenvolver uma compreensão do papel dos dons espirituais nela, especialmente o do Espírito de Profecia. Os primeiros crentes fizeram isso realizando a pesquisa da Escritura em oração e seus achados permanecem em grande medida sem mudanças com uma das crenças fundamentais da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Esta crença reconhece a visão bíblica do Espírito de Profecia na igreja e como do dom foi manifestado na vida e obra de Ellen G. White e seus escritos. Por setenta anos seu ministério e escritos guiaram a igreja e hoje, 93 anos depois de sua morte, seus escritos ainda continuam a apontar a Bíblia à igreja de Deus, e ao Salvador que ela apresenta, o Senhor Jesus Cristo.
CONCLUSÃO
Na história da humanidade, Deus tem-Se revelado a Si mesmo por meio do dom profético em tempos de grande crise, em tempos de necessidade, em tempos quando tem alguma mensagem especial para dar à humanidade. Essa forma de comunicação por meio dos profetas não está limitada a apenas alguns períodos da história bíblica, mas foi manifestado através de toda a história humana. Embora tenha havido períodos em que a voz profética esteve silenciosa e temos pouco conhecimento do que aconteceu durante esses períodos, a Palavra de Deus nos afirma em Amós 3:7 que Deus não fará nada em nosso mundo sem antes revelar a Sua vontade aos Seus profetas. Em cada nova iniciativa, em cada nova época na história sagrada, Deus nos informa a respeito de Seus planos e intenções para o futuro.
Depois de dar Seu Filho para pagar o preço na cruz por nossa salvação, Deus não nos abandonará nesses últimos dias. Ele continuará a buscar e salvar todos aqueles que aceitarem Jesus e viverem em harmonia com os Seus ensinos.
Juntamente com os escritores da Bíblia, vamos nós também exclamar: “Maranatha! Vem, Senhor Jesus! Vem!” Vem e restaura a comunicação original com toda a humanidade. Queremos vê-Lo face a face!
Fonte: As citações bíblicas utilizadas para a tradução em Português foram extraídas da Versão Almeida Revista e Atualizada (VARA).
APÊNDICE DAS CITAÇÕES DE ELLEN G. WHITE
1. CRISTO – A NOVA FORMA DE COMUNICAÇÃO ENTRE O HOMEM E DEUS.
{CC 20} Depois da queda, Cristo tornou-Se o instrutor de Adão. Ele agiu em lugar de Deus para com a humanidade, salvando a raça da morte imediata. Ele tomou sobre Si o ofício de mediador. Foi dada a Adão e Eva a prova pela qual, ao voltarem à sua antiga lealdade e dentro desse plano toda a sua posteridade seria abraçada.
Sem a expiação do Filho de Deus não poderia ter havido nenhuma comunicação da bênção ou da salvação de Deus ao homem. Deus tinha que fazer cumprir a Sua lei. A transgressão dessa lei havia causado terrível separação entre Deus e o homem. Para Adão, em sua inocência, foi garantida a comunhão direta, livre e feliz com seu Criador. Após sua transgressão, Deus iria comunicar-Se com o homem por meio de Cristo e de Seus anjos. (Conflict and Courage, p. 20 – Conflito e Coragem, p. 20.)
2. O PECADO DO HOMEM – A IMPOSSIBILIDADE DE COMUNHÃO COM DEUS
O santo e infinito Deus, que mora na luz inacessível, não podia mais falar ao homem. Nenhuma comunicação poderia agora existir diretamente entre o homem e seu Criador.
Deus Se absteve, por algum tempo, da execução completa da sentença de morte pronunciada sobre o homem. Satanás exultou por ter quebrado para sempre a ligação entre o Céu e a Terra. Estava, porém, totalmente enganado e desapontado. O Pai entregou o mundo a Seu Filho para que Ele o redimisse da maldição e desgraça da falha e queda de Adão. Unicamente através de Cristo poderia o Senhor manter comunhão com o homem. (Confrontation, p. 10 – No Deserto da Tentação, p. 24.)
3. O HOMEM SALVO PELO SISTEMA SACRIFICAL
O homem caído, por causa de sua culpa, não podia mais aproximar-se de Deus com suas súplicas, porque a transgressão da lei divina colocara uma barreira intransponível entre o santo Deus e o transgressor. Um plano, porém, foi divisado em que a sentença de morte recaísse sobre um Substituto. No plano da redenção haveria derramamento de sangue, porque a morte deveria ocorrer como conseqüência do pecado do homem. O animal a ser sacrificado como oferta prefigurava a Cristo. Ao matar a vítima, o homem veria o cumprimento das palavras de Deus: “Certamente morrerás.” Gên. 2:17. O jorrar do sangue da vítima significaria também a expiação. Não havia nenhuma virtude no sangue de animais; mas o derramamento do mesmo apontaria para um Redentor que um dia viria ao mundo e morreria pelos pecados dos homens. Assim Cristo vindicaria completamente a lei de Seu Pai. (Confrontation, p. 10 – No Deserto da Tentação, p. 25 e 26.)
4. DEPOIS DA ENTRADA DO PECADO, DEUS SE COMUNICA ATRAVÉS DO ESPÍRITO SANTO
Antes que o pecado entrasse no mundo, Adão gozava plena comunhão com seu Criador. Desde, porém, que o homem se separou de Deus pela transgressão, a raça humana ficou privada desse alto privilégio. Pelo plano da redenção, entretanto, abriu-se um caminho mediante o qual os habitantes da Terra podem ainda ter ligação com o Céu. Deus Se tem comunicado com os homens mediante o Seu Espírito; e a luz divina tem sido comunicada ao mundo pelas revelações feitas a Seus servos escolhidos. “Homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo.” II Ped. 1:21. (O Grande Conflito – Introdução.)
5. JESUS COMO MEDIADOR E A ESCADA ENTRE O CÉU E A TERRA
Até o tempo da rebelião do homem contra o governo de Deus, tinha havido livre comunicação entre Deus e o homem. Mas o pecado de Adão e Eva separou a Terra do Céu, de modo que o homem não podia ter comunhão com seu Criador. Todavia, o mundo não foi deixado em uma solitária desesperança. A escada representa Jesus, o meio designado para a comunicação. Não houvesse Ele com Seus próprios méritos estabelecido uma passagem através do abismo que o pecado efetuou, e os anjos ministradores não podiam ter comunhão com o homem decaído. Cristo liga o homem em sua fraqueza e desamparo, à fonte do poder infinito. (Patriarcas e Profetas, p. 184.)
6. A COMUNHÃO DEVERIA SER PARA SEMPRE
Aquela comunhão com Seu criador, face a face e toda íntima, era o seu alto privilégio. Houvesse ele permanecido fiel a Deus, e tudo isto teria sido seu para sempre. Através dos séculos infindáveis, teria ele continuado a obter novos tesouros de conhecimentos, a descobrir novas fontes de felicidade e a alcançar concepções cada vez mais claras da sabedoria, do poder e do amor de Deus. Mais e mais amplamente teria ele cumprido o objetivo de sua criação, mais e mais teria ele refletido a glória do Criador. (Educação, p. 15.)
7. DEUS COMUNICOU-SE ATRAVÉS DE CRISTO – DA ENCARNAÇÃO EM CRISTO
Desde o pecado de Adão, estivera a raça humana cortada da direta comunhão com Deus; a comunicação entre o Céu e a Terra fizera-se por meio de Cristo; mas agora, que Jesus viera “em semelhança da carne do pecado” (Rom. 8:3), o próprio Pai falou. Dantes, comunicara-Se com a humanidade por intermédio de Cristo; fazia-o agora em Cristo. Satanás esperara que, devido ao aborrecimento de Deus pelo pecado, se daria eterna separação entre o Céu e a Terra. Era, no entanto, agora manifesto que a ligação entre Deus e o homem fora restaurada. (O Desejado de Todas as Nações, p. 116.)
8. A IMPORTÂNCIA DA COMUNICAÇÃO
Poder para Comunicar – A extensão da utilidade de um cristão é medida pelo poder de comunicação que recebeu e que se tem tornado uma experiência de vida para ele. A Educação não pode ser completa se os estudantes não obtêm um conhecimento real de como usar a faculdade da fala e como tirar melhor vantagem da educação que obtiveram. O jovem deve começar ainda bem novo a aprender a maneira própria de falar. (The Voice in The Speech and Song – A Voz na Fala e no Canto, p. 43.)
9. A PALAVRA – UM CANAL DE COMUNICAÇÃO COM DEUS
A Palavra de Deus é um canal de comunicação com o Deus Vivo. Aquele que se alimenta da Palavra será frutífero em toda a boa obra. Descobrirá minas da verdade, nas quais deverá trabalhar para encontrar o tesouro escondido. Quando estiver sendo perseguido pelas tentações, o Espírito Santo trará à sua mente as palavras exatas para enfrentar a tentação, no momento em que forem mais necessárias, e então poderá usá-las eficientemente. (The Faith I Live By, p. 8 – A Fé Pela Qual Eu Vivo, p. 8.)