Cristo asperge sangue literal em Sua ministração no santuário celestial?

Alberto R. Timm

No cerimonial típico do Antigo Testamento, a ministração do sangue dos animais sacrificados era geralmente restrita ao próprio altar de holocausto, localizado no pátio do santuário. O sangue podia ser aspergido “em redor sobre o altar” (Lv 1:5 e 11), posto “sobre os chifres do altar” (Lv 4:25, 30 e 34; 8:15; 9:9; 16:18), escorrido “na parede do altar” (Lv 1:15; 5:9) ou derramado “à base” daquele altar (Lv 4:7, 18, 25, 30 e 34; 5:9; 8:15; 9:9). Porém, nos casos especiais de pecado “por ignorância” de algum “sacerdote” ou de “toda a congregação de Israel”, parte do sangue de um novilho sacrificado era levada para dentro do Lugar Santo, aspergida sete vezes “diante do véu do santuário” (Lv 4:6 e 17) e posta “sobre os chifres do altar do incenso” (Lv 4:7 e 18). O restante do sangue era derramado “à base do altar de holocausto” (Lv 4:7 e 18). Já no cerimonial anual do Dia da Expiação o sangue do novilho e o do bode para o Senhor eram aspergidos no Lugar Santíssimo sobre o “propiciatório” e “diante dele” (Lv 16:14 e 15).

Por sua vez, no cerimonial antitípico do Novo Testamento, o sangue de Cristo deveria ser “derramado” sobre a cruz e o monte Calvário, por ocasião de Sua morte, para “remissão” dos nossos pecados (Mt 26:28; Mc 14:24; Lc 22:20; Jo 19:34). Após Sua ascensão, Cristo entrou no santuário celestial “uma vez por todas”, pelos méritos do Seu próprio sangue, havendo obtido “eterna redenção” (Hb 9:12). A Bíblia nos diz também que é o sangue de Cristo que “nos purifica” ainda hoje “de todo pecado” (1 Jo 1:7; ver também Rm 3:24-26; 5:9).

O sangue de Cristo foi vertido literalmente na cruz do Calvário como evidência concreta de Sua morte vicária pela nossa salvação (ver Rm 6:23). Mas isso não implica que devemos crer que Cristo só poderia ministrar em nosso favor no santuário celestial (Hb 4:14-16; 8:1 e 2) se esse mesmo sangue fosse recolhido da superfície do Calvário e transportado para um recipiente especial desse santuário. Algumas pessoas chegam a sugerir que o sangue de Cristo, para ser aspergido literalmente já por quase dois mil anos, vem sendo multiplicado no Céu de forma sobrenatural; ou, então, que o próprio Cristo continue abastecendo esse suposto recipiente com novo sangue vertido ainda hoje de Suas veias ou artérias. Tais teorias especulativas conspiram, em realidade, contra o fato de que é apenas o sangue de Cristo vertido na cruz do Calvário, não multiplicado e nem renovado, que pode nos redimir de nossos pecados (ver 1 Co 1:17-25; 2:2; Gl 6:14; Hb 7:27; 9:14 e 28).

Não resta a menor dúvida de que são os méritos da morte de Cristo na cruz e a eficácia de Seu sacerdócio no santuário celestial que nos asseguram a salvação presente e eterna. No Apocalipse, Cristo é descrito metaforicamente como o “Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo” (Ap 13:8) e como estando “vestido com um manto tinto de sangue” (Ap. 19:13). Além disso, somos instados pelo próprio Cristo a comer a Sua carne e a beber o Seu sangue para obtermos vida eterna (ver Jo 6:53-56; 4:14). Também os vencedores que estarão com Cristo no Seu reino da glória são descritos no Apocalipse (7:13-15) como aqueles que “lavaram suas vestes e as alvejaram no sangue do Cordeiro”.

É obvio que esses textos não significam que devemos beber literalmente o sangue de Cristo e lavar literalmente nossas roupas com esse sangue. O que precisamos realmente é apossarmo-nos pessoalmente dos méritos do sacrifício de Cristo na cruz do Calvário. De modo semelhante, cremos que, desde Sua ascensão até o final dos tempos, Cristo ministra no santuário celestial os méritos do Seu sangue vertido na cruz, sem que isso exija a presença literal desse sangue naquele santuário.


Fonte: Sinais dos Tempos, setembro/outubro de 2002. p. 30 (usado com permissão)