Durante décadas, amigos, bem como críticos, têm debatido o uso de fontes literárias nos escritos de Ellen G. White. Os críticos têm dito que ela plagiou e violou os direitos autorais. Os amigos afirmam que não – seu uso de outras fontes deve ser classificado como “correto”. O debate foi tão intenso há três décadas, que F. D. Nichol, em seu livro Ellen G. White and Her Critics, dedicou 64 páginas para a discussão das várias questões envolvidas.

Antes de 1981, porém, não se dispunha de uma investigação completa feita por profissionais especializados. Os contendores de ambas as partes eram, em certo sentido, leigos – ministros, educadores, médicos. Mas agora, pela primeira vez, um advogado de primeira categoria despendeu cerca de 300 horas revisando a situação dos direitos autorais, de 1790 a 1915, estudou cuidadosamente as definições de plágio, examinou o uso que Ellen G. White não fez de outras fontes, e apresentou sua opinião: “Ellen G. White não foi plagiadora, e suas obras não constituem violação de direitos autorais”.

Não somos ingênuos a ponto de pensar que essa declaração extraordinariamente franca e inequívoca porá fim às discussões. Algum outro advogado, possuidor de credenciais igualmente respeitáveis, poderá estudar a questão e chegar a uma conclusão menos sólida ou mesmo diferente. Mesmo quando discutem com base nos mesmos dados, os advogados muitas vezes discordam. Se não fosse assim, não haveria necessidade de tribunais e juízes. É claro que os juízes também divergem às vezes, e isso inclui os próprios magistrados do Supremo Tribunal Federal.

A opinião do Dr. Ramik, contida em 27 páginas, cita muitos casos judiciais que tratam de violação de direitos autorais e plágio. Dedicamos bastante tempo lendo e estudando esses casos. No caso de Emerson v. Davies et al., o juiz Story, que segundo o Dr. Ramik “é reconhecido como o mais influente na área de direitos autorais no período em questão”, concluiu que “a questão não é se o material usado é inteiramente novo, e jamais foi usado antes; ou mesmo se o material já foi alguma vez usado com o mesmo objetivo. A verdadeira questão é se o mesmo plano, disposição e combinação de materiais já foi usado antes com o mesmo propósito ou com qualquer outro propósito… . O autor pode ter reunido detalhes para o seu plano e disposição, ou para uma parte deles, de fontes existentes e conhecidas. Pode haver tomado emprestado de outros muito de seu material, mas se este se acha combinado de forma diferente do que foi usado antes, e com tanto mais razão, se seu plano e arranjo constituem verdadeiros aperfeiçoamentos das idéias existentes, ele merece o direito autoral do livro que incorpora tal aperfeiçoamento”.

No caso de Lawrence v. Dana et al., o juiz Storrow reconheceu: “Poucos juízes têm concebido regras mais seguras sobre o tema do que o juiz Story. Ele afirma que… se o material colhido é tanto que o valor do original é apropriado substancialmente ou em quantidade danosa, por outro autor, isto, do ponto de vista da lei, é suficiente para constituir violação; que, ao decidir questões desse tipo, os tribunais devem ‘observar a natureza e os objetivos das seleções que foram feitas, a quantidade e valor dos materiais usados, e o grau em que seu uso poderá prejudicar a venda ou diminuir os lucros, ou anular os objetivos da obra original”.

O advogado Ramik comenta: “A maneira de usar, a extensão do material usado, a intenção envolvida e o dano causado são todos fatores determinantes da existência ou não de plágio”.

Ele cita a decisão do juiz Story no caso Emerson v. Davies et al.: “Penso que se pode deixar assentado como conclusão lógica das autoridades, em casos desta natureza, que a verdadeira prova de pirataria (violação dos direitos autorais) ou não, é esclarecer se o acusado usou, de fato, o plano, a disposição e ilustrações do autor queixoso, como modelo de seu próprio livro, com alterações e variações que têm apenas por objetivo dissimular o seu uso, ou se sua obra é fruto de seu próprio trabalho, habilidade e uso de materiais e fontes comuns de conhecimentos franqueados a todos, e as semelhanças são ou acidentais ou resultantes da natureza do assunto. Em outras palavras, é preciso determinar se o livro do acusado é uma imitação berrante ou evasiva da obra do autor queixoso, ou se trata de uma compilação original, feita de boa fé, de outras fontes comuns ou independentes”.

A Questão de Inspiração

Para os editores da Review, esforços passados ou presentes para qualificar Ellen White como plagiadora ou infratora dos direitos autorais, nunca chegaram a impressionar. A maioria surgiu como fruto de compreensão errônea do processo de revelação-inspiração. Em relação com este fato, é importante reconhecer que o estudo do Dr. Ramik não trata da questão de ter ela ou não violado os direitos autorais, precisamos determinar por nós mesmos se cremos que ela foi totalmente inspirada por Deus, como o forem os antigos profetas e apóstolos.

Foi ela inspirada? Baseados no peso da evidência, respondemos “sim”.

  1. Aplicamos os numerosos testes bíblicos de um profeta genuíno para Ellen White, e cremos que ela satisfaz aos requisitos mais do que plenamente.
  2. Provamos individual e coletivamente o valor de seus conselhos em nossos respectivos ministérios nos vários continentes ao redor do mundo. Já os provamos, bem como a sua obra. Ellen White e seus escritos resistem ao teste do pragmatismo.
  3. Seus escritos alimentam nossa alma como nenhum outro, exceto as Escrituras.

Além disso, seus escritos estão de acordo com a Bíblia; enaltecem a Jesus Cristo com nosso Salvador, nosso substituto e exemplo; são acompanhados de um poder sobrenatural para mudar vidas; são de uma qualidade que se autentica por si mesma; e têm sido solidamente aceitos durante décadas, pela comunidade adventista do sétimo dia.

Em nossa opinião, não é possível assumir uma posição de neutralidade com respeito à Ellen White e seus escritos. Ou a aceitamos como enviada a Deus, ou a rejeitamos enviada de Deus, ou a rejeitamos por considerá-la emissária de Satanás. Ela mesma tomou esta atitude, e escreveu: “Se estais totalmente persuadidos de que Deus não tem falado por intermédio de nós, por que não agis de conformidade com vossa fé e nada mais tendes a ver com um povo que se acha sob tão grande engano como este povo está? Se tiverdes sido movidos segundo os ditames do Espírito de Deus, então vós estais certos e nós errados. Ou Deus está ensinando a Sua Igreja, reprovando os seus erros e fortalecendo a sua fé, ou não está. Esta obra é de Deus ou não o é. Deus nada faz de parceria com Satanás. Minha obra nesses últimos trinta anos ou traz o cunho de Deus ou o cunho do maligno. Não há meio-termo neste caso”. – Testemumonies, vol. 4, pág. 230.

Escrevendo ao “irmão G”, a Sra. White disse: “Se nos rendermos a Deus, escolheremos a luz e rejeitaremos as trevas. Se desejarmos manter a independência do coração natural, e recusarmos a correção de Deus, levaremos obstinadamente adiante nossos propósitos e ideias, como o fizeram os judeus, a despeito da mais clara evidência, e estaremos em perigo de  um engano tão grande como o que sobreveio a eles; e em nossa cega insensatez poderemos chegar aos extremos que eles chegaram, e ainda assim nos vangloriarmos de que estamos fazendo a obra de Deus.

“Irmão G. ,  senhor não ficará por muito tempo onde se acha agora. O caminho que o irmão iniciou separa do povo a quem Deus está provando a fim de purificá-lo para a vitória final. Ou o irmão se unirá a este movimento, e trabalhará zelosamente para responder a oração de Cristo, ou se tornará mais e mais incrédulo. Questionará um ponto após o outro da fé estabelecida do movimento, passará a confiar mais e mais em sua própria opinião, e se obscurecerá mais e mais com respeito à obra de Deus para este tempo, até confundir a luz com as trevas e as trevas com a luz”. – Idem, pág. 231.

Nos dias de Jesus o povo rejeitou o amado Filho de Deus primeiramente porque recusou as provas que o Espírito Santo lhes deu, e olharam em torno de si para ver o que os líderes pensavam dEle. Quando os guardas do templo forma enviados para prendê-Lo, voltaram sem Ele, e explicaram seu fracasso dizendo: “Jamais alguém falou como este homem” (S. João 7:46). Eles ficaram profundamente convencidos de que Ele não era uma pessoa comum. Mas quando os líderes eclesiásticos perguntaram ironicamente: “Porventura creu nEle alguém dentre as autoridades, ou algum dos farizeus:” (verso 48), eles rejeitaram a evidência da razão  e de seus próprios sentidos. A prova que aplicaram foi simplesmente a credibilidade da fonte. Eles parecem ter assumido a posição de que se um assunto é verdadeiro, este será aceito pela maioria, ou pelo menos, pela classe dirigente – governantes, sacerdotes, mestres e outros. No entanto, a Sra. White faz a seguinte observação incisiva:

“Aqueles aos quais é pregada a mensagem da verdade, raras vezes perguntam: ‘É verdade?’ mas sim: ‘Por quem é ela defendida?’ Multidões a avaliam pelo número dos que a aceitam; e faz-se ainda a pergunta: ‘Creu qualquer dos homens eruditos ou dos guias religiosos?’… não é um argumento contra a verdade que grande número de pessoas não estejam dispostas a aceitá-la, ou que ela não seja recebida pelos grandes do mundo, ou mesmo pelos guias religiosos”. – O Desejado de Todas as Nações (Ed. Popular), pág. 443.

Pensamos novamente no testemunho pessoal do Dr. Ramik, um leigo católico, o qual declarou que em sua opinião, o problema dos críticos de Ellen White é que eles centralizam sua atenção nos seus escritos, deixando de lado ou recusando aceitar a mensagem de Ellen White. Os eruditos liberais há muito tempo vêm se preocupando mais com os texto da Bíblia, com a metodologia dos profetas, o cenário histórico e cultural, e outros fatores associados com a comunicação de Deus à humanidade, do que em pesquisar a Palavra de Deus com reverência, para  ouvir a voz de Deus e então obedecer aos seus reclamos. Aparentemente muitos críticos de Ellen White estão seguindo o mesmo caminho batido que tem levado multidões ao ceticismo.

O fato de a Associação Geral ter solicitado à firma Diller, Ramik & Wight investigar a questão legal de ter a Sra. White violado ou não os direitos do autor, fornece evidências adicionais de que a Igreja deseja a verdade, e continuará buscando-a a despeito das consequências. Mas nunca nos esqueçamos de que a fé será sempre um elemento essencial para o cristão, quer se trate dos escritos da Bíblia ou de Ellen White.

O Dr. Johns disse: “Para os que querem crer, não há necessidade de provas; e para os que querem duvidar, não há provas que bastem”. E a maneira como reagimos à tentativa divina de alcançar nossa alma através da moderna mensageira de Deus, bem pode determinar nosso destino eterno. – K. H. W.


Fonte: Artigo da Revista Adventista, Junho/1982.