˜Ao deixar de trazer os dízimos ao Senhor, o povo fazia uma declaração religiosa importante. Negava o providencial e amorável cuidado de Deus por ele.˜

Ao deixar de trazer os dízimos ao Senhor, o povo fazia uma declaração religiosa importante. Negava o providencial e amorável cuidado de Deus por ele. Despojaram a Deus da honra e glória que Lhe pertence como Aquele que os preserva. Essa falta de fé é mencionada por Malaquias: “Vós dizeis: é inútil servir ao Senhor. Que aproveitou termos cuidado em guardar Seus preceitos?” (Malaquias 3:17).

Acusaram a Deus de não cumprir Sua parte do concerto, mas o Senhor respondeu, “Vós me roubais”.

Para um povo não totalmente comprometido com o Senhor, o dízimo é um desafio. Confia somente em si mesmo a preservação própria. Nessa situação particular, a condição financeira do povo era precária e considerava o dízimo desnecessário. Era para esses indivíduos que o Senhor disse, “provai-me nisto” (verso 10). Tal desafio constituía-se num chamado para avançar pela fé e fazer o que devia ser feito, crendo nas bênçãos prometidas por Deus (versos 10-12). No processo, o Senhor esperava que sua fé crescesse ao ponto de nEle confiarem inteiramente, reconhecendo que sua segurança financeira somente podia ser encontrada no Senhor.

Esse chamado divino não tem significado sem a experiência da conversão. O convite para deixar de roubar a Deus é introduzido com um chamado à conversão, “Tornai-vos para mim” (verso 7). O dízimo genuíno é possível somente para aqueles que se voltam ao Senhor pela fé, confiando nEle.

Para entender melhor a acusação de Malaquias nessa questão do dízimo, temos que colocar a passagem em seu contexto histórico e religioso.

É crença geral que Malaquias profetizou durante o tempo de Esdras e Neemias. Como a condição espiritual do povo e seus dirigentes é descrita da mesma maneira em Malaquias e Neemias 13, um grupo de estudiosos concluiu que Malaquias profetizou durante o tempo em que Neemias voltou à Pérsia (432 a.C ou pouco depois). Como vimos, esse foi um período de grande deterioração espiritual em Jerusalém. Malaquias descreveu a situação com mais detalhes que Neemias em suas duas prédicas contra o sacerdócio. Uma registrada em 1:6-14, a outra em 2:1-9.

O primeiro ataque contra o sacerdócio está baseado em sua falta de respeito para com o Senhor (1:6). Traziam sacrifícios defeituosos para Ele, vítimas com defeitos físicos (1:8) e mesmo doentes (1:3). Nem mesmo um governador aceitaria tais ofertas (verso 8). Os sacerdotes também eram condenados porque consideravam seu trabalho um fardo pesado, e ainda não seguiam os procedimentos corretos (verso 12).

A segunda passagem admoesta os sacerdotes a ouvirem ao Senhor (2:1). Não instruíam o povo de maneira correta, e violavam seu chamado ao sacerdócio (2:7, 8). Preservavam o culto em forma corrompida e exterior.

Somos tentados a levantar a questão: “Mereciam tais pessoas receber o dízimo?” Mas essa questão não foi levantada pelo profeta. Deus destinou responsabilidades específicas aos sacerdotes e eles foram julgados com base a elas e em sua atuação. Esperava-se do povo que cumprisse o que o Senhor lhes ordenara fazer, e Deus não aceitava escusas para violar a lei do dízimo em função do fracasso dos sacerdotes. Isso explica como Malaquias podia de um lado condenar os pecados dos sacerdotes, e de outro exigir que o povo trouxesse dízimo ao templo.

Malaquias reforça o que o resto do Velho Testamento ensina sobre a natureza e finalidade do dízimo. O dízimo pertence ao Senhor. Ele o usou para manter sacerdotes e levitas, e ninguém tinha o direito de retê-lo. Roubar a Deus era um pecado cometido contra o Senhor, não contra o templo ou o sacerdócio. (…)

“Você deve amar seu Deus com todo seu coração, toda sua alma e todas suas posses” (primeiro parágrafo do Shemá). Os Sábios do Talmud perguntam: “Por que está escrito ‘Todas suas posses’? A resposta: para algumas pessoas é mais difícil separar-se de seu dinheiro que se separar da própria vida”.12

“A famosa King James Version traduziu a expressão de Malaquias 3 como celeiro ou lugar onde cereais eram depositados, já que grande parte dos dízimos vinha em grãos. É bom que se diga que o autor não está discutindo quem deveria administrar o dízimo pois, sobre isto Deus já havia falado e instruído o povo.

Levar à “Casa do Tesouro” significa devolver o dízimo no lugar designado, ou seja, a igreja da qual a pessoa é membro ou frequenta. Mas, a questão crucial de nossos dias não é esta. Todos sabem onde levar o dízimo. A grande pergunta é: Quem deve administrar este dinheiro?

Em Gênesis 14:20 lemos que Abraão entregou o dízimo a Melquisedeque que era não apenas um rei, mas também sacerdote do Senhor. O ato de Abraão revela que o receptor do dízimo deve ser alguém separado por Deus para uma tarefa santa. Abraão obedeceu (e note bem, ele poderia usar o dízimo para o que quisesse, mas não o fez. Ele cria no plano de Deus) e deu o dízimo a quem de direito.

No sistema israelita Deus estabeleceu regras ainda mais claras a respeito do dízimo. O dízimo foi dado aos levitas como herança e deveria ser administrado por eles (Números 18:21 a 32). Tanto é que o doador não podia manipular a décima parte. A pessoa não devia separar o bom do defeituoso ou fazer qualquer substituição (Levítico 27:33). Por exemplo, em um rebanho o décimo animal que passasse sob o cajado do pastor pertencia ao Senhor, não importando a sua condição. O israelita também não dava seus dízimos e ofertas para simplesmente “pagar” o salário dos levitas. O dízimo era na verdade não oferecido para os levitas, “mas para o Senhor” (Números 18:26).”13

Fonte: Biblia.com.br

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11 Angel M. Rodriguez, Teologia dos Dízimos e Ofertas, p. 63-65.

12 Mário Moreno.

13 https://centrowhite.org.br/pesquisa/artigos/